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1030 Words
3 Luna Mais um plantão concluído com sucesso. Hoje foi muito mais cansativo que ontem, estou começando a ficar preocupada em como vou conseguir conciliar o trabalho com minha pós. Na época da faculdade e até mesmo no estágio tudo parecia muito mais fácil. Outras coisas também me perturbavam. Confesso que fiquei mexida ao saber que Vito, meu ex namorado estava esperando um filho. Um dia antes do seu casamento nos encontramos e, ele disse que estava disposto a não se casar, a largar tudo para ficar comigo. Mas eu não quis, me coloquei no lugar da noiva, pensei no quanto seria humilhante ser trocada pela ex do seu noivo faltando poucas horas para subir no altar. E sinceramente, eu nem tinha certeza se iria continuar com ele. Creio que ter crescido ao lado do meu pai me transformou numa mulher um pouco menos emotiva que as outras. Nunca fui muito romântica e também nunca tive dificuldade para dispensar um namorado, por mais apaixonada que eu estivesse. Mas saber que Vito além de ter se casado estava constituindo uma família me irritava. Que droga de amor é este que ele dizia sentir por mim? Ainda bem que o dispensei. Ele era só mais um homem falso e mentiroso como os outros. Que ele seja feliz com sua segunda opção e seu filho que está para nascer. Eu vou continuar focada em viver a minha vida. Porém, vou precisar mudar algumas coisinhas, já que minha melhor amiga está prestes a se casar também e, nem quer mais sair comigo. Estou precisando fazer novas amizades, renovar os contatinhos. Na próxima folga irei cuidar disso. Antes de tirar meu carro do estacionamento coloquei uma música eletrônica no último volume e segui para meu apê. Tentava me desfazer do cansaço chacoalhando o cabelo no ritmo das batidas, mas senti um clima estranho à minha volta, principalmente depois de olhar para os lados e ver que estava cercada por dois carros pretos. Calma Luna, isso é coisa da sua cabeça. Você vai acelerar e perceber que são só mais dois carros na estrada como o seu e qualquer outro. Segui minha intuição. Acelerei. Mas eles fizeram o mesmo. Meus batimentos descompassaram. Automaticamente peguei o telefone e liguei para meu pai, sem conseguir disfarçar o desespero. — Papa… Acho que estou sendo seguida. Tem dois carros pretos com vidros super escuros do meu lado… — Luna, filha. Por Dio, me passe a localização agora. Onde você está? — Eu passei todas as coordenadas para papai. — Cazzo! Estou indo para aí, mas meus homens que estão mais próximos vão te alcançar primeiro. — Tudo bem… — Engoli em seco quando um dos carros ao meu lado manobrou violentamente pela pista até conseguir bloquear minha passagem. Tive que frear bruscamente. O impacto da minha parada não planejada fez com que eu batesse minha cabeça contra o volante e ganhasse um corte no cenho. — Luna! Luna? O que houve filha? — Eles me cercaram papa! — Exclamei apavorada enquanto um homem alto, encapuçado, batia com força contra a porta do meu carro. Não demorou para abri-la e quando conseguiu ele pressionou um lenço úmido com um cheiro forte contra o meu nariz. Meu corpo ficou pesado, a sensação era de que todas as minhas energias se esgotaram. — Luna! Luna! — Eu ouvi os gritos de papai pela última vez antes de desfalecer por completo. [...] Minhas pálpebras estavam pesadas, eu me esforçava ao máximo para abri-las e mexer algum m****o do meu corpo, mas naquele momento nem ouvir eu tinha certeza se conseguia. Fiquei nesse estado vegetativo por um bom tempo e me senti aliviada quando gradativamente comecei a abrir os olhos e me mexer aos poucos. Com dificuldade me sentei sobre o colchão macio e reparei intrigada o lugar em que estava. Era uma suíte ampla, a decoração clássica lembrava os castelos e grandes casarões da Toscana no século XVIII. Por um segundo me senti uma princesa, mas as lembranças do que vivi nos últimos minutos antes de chegar aqui me fez entrar em pânico. Cazzo. O que houve? Onde estou? O que querem comigo? Corri na direção da porta. Bati, chutei com todas as minhas forças. Implorei por socorro até ficar rouca. Em troca recebi o silêncio ensurdecedor do lugar que eu não fazia a menor ideia de onde era. Ainda não satisfeita bati contra as enormes janelas de madeira, que só serviram para que eu conseguisse colecionar mais hematomas. Cazzo. Sempre odiei essa sensação de estar trancada. Sem ver a luz do sol. Sem respirar o ar puro. Isso não pode estar acontecendo. Quero voltar para casa. Quero meu pai. Meu pai… Eu falei com ele, ele vai me achar, tenho certeza… — Socorro! Socorro! O que querem comigo? Eu não tenho dinheiro! Cazzo! — Só parei de gritar quando me deparei com um espelho enorme, do qual eu conseguia me ver por inteira. Estava com a mesma roupa de ontem, até o sangue do corte no cenho continuava ali. Mais uma vez olhei para o quarto e quando avistei o lindo banheiro com uma banheira espaçosa foi impossível conter o desejo, a necessidade de tomar um banho. Depois dessa loucura e de todo esse estresse, o mínimo que eu merecia era um bom banho. Não resisti, enchi a banheira com a água superaquecida, acrescentei alguns sais que estava ao lado, me despi e finalmente entrei em contato com a água coberta pela espuma perfumada. Fechei meus olhos e iniciei um mantra para atrair positividade. Rezando, eu colocava toda minha fé que a qualquer momento papai arrombaria aquela porta para me salvar desse pesadelo. Eu ouvi um barulho. A porta estava abrindo. Por um momento eu tive certeza que era ele. Meu peito se encheu de felicidade e a esperança me cobriu por inteira. — Eu sabia. Obrigada, Dio! — Agradeci enquanto me levantava cuidadosamente para deixar a banheira. A espuma escorria vagarosamente pela minha pele e antes que eu conseguisse alcançar a toalha olhei para frente e me surpreendi com o que vi. — Você… — Disse chocada ao ver aquele criminoso da foto de papai materializado diante dos meus olhos.
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