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1700 Words
2 Fred Dentro de uma carruagem preta, uma relíquia da nossa família, eu acompanhava meu pai, aliás, os restos de seu corpo que foram realocados dentro de um caixão de madeira maciça, com detalhes em ouro. Elegante e extremamente luxuoso, como sei que ele gostaria. O cortejo de carros caríssimos e uma orquestra consagrada na região de Toscana nos acompanhava rumo à maior catedral de Florença. No prédio ao lado da igreja um imenso outdoor estampava a imagem de Anselmo Coppola. Infelizmente os malditos abutres que se denominam paparazzis também marcavam sua desagradável presença. Na igreja o padre que havia se preparado para fazer uma cerimônia de bodas agora rezava pela alma daquele corpo que foi destroçado pelas mãos sujas dos seus inimigos. Minhas irmãs estavam inconsoláveis, pelo menos elas conseguiram ter o privilégio de se despedir, diferente de mamãe que estava internada em estado de choque numa clínica. Tudo culpa daqueles malditos vermes russos. Eles iriam pagar da maneira mais c***l por cada gota de sangue que derramou. Eu e alguns amigos íntimos do papai fizemos um discurso em sua c***l despedida. Antes de ser levado ao túmulo, Anselmo Coppola teve um funeral digno de uma grande autoridade. Sua morte repercutiu o mundo inteiro, nos jornais impressos e televisivos não se falava de outra coisa senão a morte do poderoso Anselmo Coppola , o Dom que impediu o fim da Cosa Nostra e elevou o patamar da máfia italiana nas últimas décadas. Não havia organização mais rica e poderosa neste planeta. O sonho da Bratva era alcançar um terço do nosso feito, do nosso faturamento anual trilionário. Mas tudo que eles iriam conseguir depois dessa desgraça seria o fim daquele clã imundo. Anselmo Coppola morreu, mas eu, Fred Coppola, estou mais vivo que nunca, com sangue nos olhos e pronto para tomar as rédeas de tudo que meu pai construiu daqui para frente. [...] Não há tempo para luto nem lágrimas. Depois do funeral seguimos para uma reunião de emergência e pela primeira vez eu estava sentado na cadeira do meio, lugar que até alguns dias pertenciam a papai mediante aquela mesa. — Um brinde ao novo Dom! — Dante Esposito, Capô capo de Nova York, ergueu o copo cheio de uísque. Os outros a mesa fizeram o mesmo. Assenti, grato pelo simples gesto, mas tratei logo de focar no que realmente importava. — Dante, a morte do meu pai é o sinal mais claro possível de que os russos não vão se contentar com a perda do território de Nova York. Eles vão fazer o que for preciso para ter a cidade de concreto de volta. — Sorri maquiavelicamente. — Já ordenei a morte de Aslan Usoian, para nossos espiões, ele pode se considerar um homem morto. Esses insetos vão conhecer as consequências de tirar a vida de um Coppolo. Vou iniciar uma dedetização para acabar com esses vermezinhos russos, vou exterminar um por um. — Já não era hora. — Dante afirmou enquanto degustava o uísque. — Ah Dante, fico tão feliz com sua lealdade. Tenho certeza que seu filho Luca também não deixa nada a desejar. Ele está solteiro, não é mesmo? — Sim, está. Mas é bom te lembrar meu caro amigo que na América não temos um bom histórico com casamentos arranjados, se é isso que você está pensando. — Esse é o maior problema da América. Eles querem ser os diferentões, homens modernos, mas a realidade é que vocês estão destruindo a nossa história, matando aos poucos os bons costumes da Cosa Nostra. Acima de tudo somos uma grande família de moral e valores. Eu não vou mais aceitar essa bagunça. Nossos homens se casando com qualquer uma, enfraquecendo nosso sangue, nossa genética de homens implacáveis e fortes. Cazzo! Isso é um absurdo! — Eu até concordo… — Seu filho vai se casar com Beatrice, minha irmã mais velha. Para a sorte dele ela é linda, educada e inteligente. Foi criada para ser uma esposa perfeita. — Irei falar com Luca. — Vou preparar um jantar de noivado. — Afirmei. — E você? Pelo o que eu saiba está solteiro. Cazzo, de onde se viu um Dom solteiro? — Fui pego de surpresa com a morte do meu pai, caro amigo. Me preparei a vida inteira para me casar com 30, ainda tenho 27… — Desculpe, mas um Dom solteiro não passa confiança e o respeito de um homem conservador que você tanto prega. Afinal de contas todos nós sabemos que você vive rodeado de putas. — Rodeado de putas? Acho que você está se equivocando Dante, só tenho contato com esse tipo de mulher na minha cama, por uma questão de necessidade apenas. Além disso, nesse quesito você não tem moral para me julgar já que também faz o mesmo sendo um homem casado. — Você pode fazer o que quiser, desde que esteja casado. É o tipo de status que engrandece a moral masculina. Quero que saiba que eu tenho uma filha solteira de 16 anos. — 16 anos? Eu posso ser pai dessa garota. Dante, eu não vou adotar sua filha. — Você pode noivar junto com o Luca e se casar quando ela fizer 18. Revirei os olhos entediado com aquele assunto, diferente da maioria dos meus amigos eu não sentia a menor atração por mulheres muito novas. A maioria são birrentas e imaturas, sempre gostei mais das coroas. Até as vadias que pago são mulheres maduras, cheias de experiência. — Dante, quando sua filha fizer 18 voltamos com esse assunto. Eu não vou me comprometer com uma criança. — Ela sem dúvidas é a melhor opção para você, Fred. — Pietro, meu primo e um dos meus consigliere afirmou me deixando ainda mais irritado. Rapidamente fiz com que a mesa voltasse a focar no motivo da reunião. Ficamos longas horas discutindo medidas para nossa segurança e um contra-ataque de imediato contra a Bratva. Tínhamos muito trabalho pela frente e eu o chefe de toda organização não podia me dar o luxo de ficar lamentando a perda do meu pai. Porém, é impossível não me lembrar dos nossos momentos juntos. De quando ele me ensinou a atirar, a manusear facas, de quando ele me colocou na aula de boxe e logo no primeiro dia eu levei uma surra de outro garoto e, depois dele, quando cheguei em casa, inclusive fraturei algumas costelas e o braço esquerdo. De quando ele antecipou minha entrada na máfia e me fez cometer meu primeiro assassinato aos 7 anos de idade. Tudo muito cedo. Lembro que na época a dor e o medo me acompanhavam, nenhum dos meus colegas do colégio tinha um pai como o meu. Todos recebiam carinho, atenção e elogios. Enquanto eu estava mais para um saco de pancadas do Anselmo do que filho dele, mas com o passar dos anos, com o amadurecimento chegando de maneira precoce, todo medo e angústia que senti durante toda minha infância se transformaram em frieza, raiva e um desejo infame de descarregar toda minha frustração em tudo que via pela frente. Eu sentia prazer em torturar, decepar e ouvir meus inimigos suplicando por socorro, implorando por mais alguns minutinhos de vida. Eu entendi que durante todo aquele tempo papai estava trabalhando para fazer de mim um homem forte, frio e c***l como ele. Sei que a essa hora ele deve está orgulhoso de não me ver derramando uma única lágrima. Na verdade eu não estou sofrendo com sua partida, até porque vivi numa contagem regressiva para finalmente chegar o dia que eu fosse ocupar o seu lugar. Se eu tivesse o privilégio de me despedir do grande Anselmo Coppola agora, diria: Tenha uma boa passagem para o inferno, papa. [...] Depois de um dia longo e uma noite tensa, a manhã do dia seguinte não seria diferente. Havia acabado de tomar o banho matinal e agora estava na sacada da minha cobertura tomando uma xícara de capuccino, admirando a bela arquitetura de Florença quando meu telefone começou a chamar insistentemente. Por coincidência a campainha do meu apartamento também estava tocando, obviamente era alguém do meu prédio ou alguém afim de arrancar minha cabeça e fazer picadinho de mim como fizeram com o meu pai. Rapidamente peguei minha pistola de estimação, banhada a ouro e muito eficiente. Eu engatilhei a arma e ajustei meu roupão antes de verificar quem era no olho mágico. Giovanni. — Entre. — Disse enquanto abria a porta para meu mais fiel soldado. — Bon Diorno, Fred. Por acaso estava pensando em usar em mim? — Ele olhou para a pistola dourada que carregava. — Não seria uma má ideia. Fale logo o que te levou a interromper meu café. — Sei que não é o melhor momento, mas infelizmente, trago péssimas notícias. — Fale logo Giovanni. — Pietro foi preso pela manhã. Foi indiciado por associação ao tráfico humano. — Cazzo! Preso? Mas, quem foi o filho da p**a que ousou a prender um dos meus consilieres? — Adivinha. — Aquele delegado de merda que insiste em perseguir a Cosa Nostra, não é? — Ele mesmo. — Definitivamente uma pedra no sapato. Insuportável. — Devo matá-lo? — Matá-lo? Uma pessoa chata como ele merece sofrer antes de ir para o inferno. — Vamos pegá-lo arrancar dente por dente, depois arrancar a língua dele. — Pode ser, mas, isso soa tão clichê… Bom, ele é só mais um da dezena de homens da “lei” que cancelamos o CPF, acho que quero fazer diferente dessa vez. Ultimamente o clima anda tão tenso que tenho sentido a necessidade de me divertir. Me diga, por acaso esse i*****l tem esposa? — Não chefe. Olhei o histórico dele, e aparentemente trata-se de um viúvo que nunca superou a morte da mulher. — Um homem que nunca superou uma b****a, isso é uma piada Giovanni? — Não chefe. Mas ele tem uma filha. Uma médica lindíssima. — Médica, agora sim me interessei. Nunca estive com uma médica nem mesmo para fazer uma consulta. Pegue-a e leve-a para a fazenda do sul. Chegarei lá em breve. — Vou cuidar disso. Assenti, vendo meu leal soldado deixando meu apartamento para cumprir sua missão.
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