Enquanto eu brincava ali com o William, que ria todo feliz, o Neguinho estava sentado no sofá mexendo no celular, com a pior cara do mundo.
Rafa: Que foi em? - perguntei, e ele me olhou.
Neguinho: O que?
Rafa: Tá com essa cara estranha aí...na verdade, sua cara já é estranha, mas hoje tá pior. - falei, sorrindo de lado e ele fez careta pra mim.
Neguinho: Bagulho com a facção, nada demais não!
Balancei a cabeça, e voltei a brincar com o William. Ouvi passos vindo da escada, e quando olhei pra trás vi minha mãe descendo as escadas, ainda de pijama.
Neguinho: E aí, tia, tá bem, pô?
Ana: Tô tentando ir, né. - sorriu fraco, e olhou para o William. - Oi, meu amor!
O neném se levantou e foi correndo até a minha mãe, abraçando a mesma. Eu sorri de lado, e fiquei vendo eles brincando um com o outro.
Minha mãe levou o William para a cozinha, pra dar bolacha para o mesmo. Pensa em um menino que ama bolacha, meu pai! Toda hora quer estar comendo isso, e nem chega a enjoar.
Rafa: Neguinho...tu sabe que eu nunca te pedi nada, né? - olhei pra ele fazendo bico, e ele me olhou ja com careta.
Neguinho: Vem não, pô. O que tu quer? - guardou o celular, cruzando os braços.
Rafa: Me leva no curso hoje? Quero pegar busão não...
Neguinho: Pega Uber, pô.
Rafa: Sério, Wellington. Por favor, cara. Tu sabe que tenho medo de pegar Uber depois daquele dia...
Neguinho: Que horas, c*****o?
Rafa: As seis. - falei sorrindo, e ele respirou fundo. - Obrigado, nunca te critiquei!
A dois anos atrás fui assediada por um motorista do Uber. Sempre tive medo de andar de Uber e pá, com uma insegurança enorme, até que um dia fui praticamente obrigada a pegar um porque já estava atrasada para o curso, e o cara parou no meio do nada, e veio me assediando.
Nojento!
Graças a Deus não conseguiu nada. Meti dois murrão no nariz daquele desgraçado e consegui fugir, atrás de ajuda.
Mas desde esse dia tenho meio que um trauma.
Neguinho: Mas e aí, a tia continua do mesmo jeito?
Rafa: Sim! Não sai do quarto pra nada, nem pra ir ver como que a loja dela está. Eu que tenho que ficar indo lá todo sábado pra ver os lucros e pá.
Neguinho: Morte do Sinistro abalou ela demais pô. - fez careta. - Abalou todo mundo.
Balancei a cabeça concordando e fiquei em silêncio.
Meu irmão fazia falta até, sentia saudades de ficar implicando com aquele ogro, já até chorei um pouco pensando nele, mas nada se compara a dor que minha mãe ainda sente.
É mãe né!
E por mais dos erros do Rafael, ela amava aquele cara de um jeito que quando soube de tudo o que aconteceu, destruiu ela.
Mas enfim... não gosto de ficar lembrando de tudo o que rolou naquele dia, sinceramente acaba comigo, maneirin.
Neguinho: Aí Rafa...- me chamou, assim que me levantei do sofá. - Vou precisar daquela sua ajuda depois, pô, serin.
Rafa: c*****o Wellington, de novo? Pelo amor em. - fiz careta, e ele me olhou de cima a baixo, no maior deboche. Ala.
Neguinho: Tu tá falando do que? Praticamente todo dia tenho que te dar carona, p***a. Ih, tô te entendendo não!
Rafa: Ah, então agora vai querer cobrar as caronas com essas fotos? Ih, Neguinho...- cruzei os braços, e ele riu.
Neguinho: Vou, pô. Tô precisando agitar aquele lance com a Camila e pá. Sabe como é, né?! - piscou pra mim, e eu fiz careta.
Rafa: Não, não sei como é. Graças a Deus! - levantei as mãos para o alto, dando risada. - Mas ó, já que vai ser assim...todo dia as cinco e meia da tarde, quero você aqui na frente de casa pra me levar no curso. Vai ser meu motorista agora!
Neguinho: Tá se achando demais em, criança. - se levantou, ficando na minha frente. - Te dou essas caronas e tu me paga com essas fotos, deixar guardadas já pra caso alguma situação.
Rafa: Mas ainda vou querer meu dinheiro pelas fotos.
Ele balançou a cabeça, e deu maior gritão chamando o William pra ir embora.
E sim, até hoje ele continua me usando pra tirar aquelas fotos estranhas com ele, e claro...cada vez mais vou aumentando meu preço!
Ala, trouxa eu não sou!
Daqui a pouco compro meu iate, e vou de Ilhabela até Angra, que nem uma patroa mesmo! Ih, pô.