BARBARA
O Ricardinho estava louco da droga, moleque tremia como uma vara verde.
Entrou numa rua aleatória e eu achei que ele fosse cortar pro um caminho que eu não conhecia, mas aí ele parou numa praça.
- Qual foi Ricardinho? Tá doido irmão?
- Aí Barbie, tô malzão. Não vô volta pra comunidade assim não que o Nando vai me mandar pro buraco – disse colocando a mão no peito.
- Porra... Tu é fraco memo hein. c*****o, e fica nessa postura de malvado criminoso na quebrada truta, qual que foi?
- Aê patroa tu não tá preocupada não? Vai sobra pra tu também!
Ele andava de um lado para o outro passando a mão na cabeça nervoso como se tivesse acabado de matar alguém e a polícia estivesse o perseguindo.
Pedi diversas vezes pra ele parar e me ouvir mas em vão. Dei um empurrão no meio do peito dele pra ele prestar a atenção em mim, segurei o rosto magrelo fixando o olhar dele em mim.
- TE ACALMA p***a!!! OLHA NO MEU OLHO c*****o E ME ESCUTA!
A respiração dele estava ofegante, parecia ter visto o próprio d***o na frente dele, o olhar fixo na neurose... - RESPIRA c*****o! - eu gritei de novo, e ele começou a tentar respirar certo pelo menos.
- Não vai acontecer nada c*****o, eu dei o meu papo pra você não foi? Que parte de é só você ficar com a p***a do bico fechado você não entendeu comédia?
- E se alguém reconheceu a gente Barbie, se alguém viu eu chupando a mulher do meu patrão, o Nando vai mandar rasga o meu corpo na bala!
- Mas tu é emocionado mesmo né não? Presta atenção, eu não vou falar nada pro Nando não, só que vou desenrolar um papo pra você, fica do meu lado c*****o, não me trai não porra... o que eu mandar você fazer, você faz!
- Eu entendi c*****o, eu vou fazer do jeito que você tá falando... mas mano, toma cuidado, o Nando é psico tá ligado? Ele metralha a gente pra fazer de exemplo!
- Deixa que com o Nando eu me viro c*****o, é só manter o bico calado e não ficar me olhando pagando de apaixonado na favela.
- E a gente tá junto? Por que se tá ligado que se você quiser eu quero e te protejo com a minha vida! - o emocionado começou a falar, deu três passos pra frente e segurou a minha mão.
Caí a gargalhada, claro... o cara se tremeu inteiro só de ter que fugir da favela e agora tava me oferecendo proteção... ah meu pai, proteção de cu é rola!
- Ih, acabei de falar de papo de emocionado carai, é isso que leva n**o pro microondas p***a, tá achando que pode com o Nando p***a!? - eu gargalhei de novo - então engole o choro aí, mantém a postura de bandido m*l que você vive fingindo que tem e me leva pra casa, logo logo te dou o papo, semana que vem tu vai me levar de novo no baile do Helipa
- Cê tá brincando com fogo... porra...
- Quem manda sou eu c*****o, faz o que eu tô mandando!
Ele ficou plantado no meio da praça, talvez decidindo qual seria, se ele ia morrer pela mão do Nando ou pela minha e eu fui me ajeitando na moto.
– E aí c*****o, travou? Sobe logo na moto p***a, quero ir pra casa.
O comédia ficou se enrolando e eu vi uma viatura se aproximando, tava ligada que seria enquadro na certa.
- Ricardinho, sobe agora na moto e sem dar pagar loucura, me passa logo a arma p***a.
- Vai meter bala em mim agora? - a expressão de susto daquele comédia era um show a parte. p**a que pariu.
- Anda logo porra.. Os homi tão vindo aí, quer ir pra cadeia?
O olho do magrelo estalou e ele deu um salto na moto e me passou a semiautomática 32 e eu ia enfiar na calcinha quando me dei conta que havia esquecido no barraco do Malvadão, o único lugar seguro naquela hora era comigo. Saltei da moto e enfiei no meio das pernas prendendo com a b***a, passar horas malhando a p***a da b***a pra ficar na nuca tinha valido a pena pra alguma coisa além de seduzir malandro na favela afinal.
Antes que eu dissesse algo para o Ricardinho a sirene tocou e os v3rme desceram da viatura.
- Ah droga Barbie... a gente tá fodido c*****o to chapado pra c*****o de droga...
- Relaxa que eu já resolvi isso, e para de pagar de emocionado c*****o, se controla p***a.
- Algum problema aqui senhores? - eles disseram e eu me vi mudando completamente a minha postura, eu passei de bandida vinda direto do centro da favela pra o que eu sabia fazer melhor... bancar a madame sonsa.
- De forma alguma. - Respondi dando um sorriso inocente.
- Qual o motivo de vocês estarem parado essa hora da madrugada aqui? - perguntou um dele, e logo mediu o Ricardinho. Cheio de palhaço tatuado pelo corpo, se eles juntassem dois mais dois a coisa ia ficar feia.
O Ricardinho ainda estava emocionado e eufórico e o cuzão ao invés de deixar eu falar se meteu na conversa.
- Tamo vindo de um baile senhor... mas tudo na limpeza.
- Baile? -o Ricardinho assentiu com a cabeça e o policial continuou – A garota é prostituta? - perguntou sem massagem, e minha vontade era sacar da pistola e atirar naquele cuzão do Ricardinho sem dó, como que o cuzão fala que a gente tava brotando de um baile, burro pra c*****o.
- Que isso senhor, ela é minha patroa – continuou falando o boca de sacola, se recusando mesmo a calar o bico.
O verme me encarou de cima em baixo, depois fez o mesmo com o Ricardinho que não conseguia disfarçar o nervosismo.
- Tá comendo a mulher do teu chefe rapa? - Perguntou o outro policial.
- Que isso seu senhor, né isso não.
Os policiais estavam sacando qual era e não iriam facilitar, se eu interrompesse naquele momento ia dar na cara que tínhamos algo a esconder eu precisava agir na hora certa.
- E essa moto aí? É roubada? Vocês tem passagem?
- A moto é minha senhor, pode checar. - Eu interrompi mas fui ignorada pelo policial, era o esquema de ser mulher na situação, ele viu, me mediu e logo o papo dele era de eu ser p**a, lógico, nunca que uma mina ia portar uma motona daquela na favela, a moto de certo que tinha que ser do magricelo emocionado que tava comigo.
- Tem passagem? - Ele insistiu com Ricardinho
- Não Senhor!
“ Uffa” - Fiquei aliviada, pelo menos da cana o comédia se livrou, se era verdade ou não eu estava pouco me fodendo, se ele caísse no errado que não me levasse junto de jeito nenhum.
Os Caras pediram os documentos dele pra checar e então mandaram ele ficar de joelho com as mãos atrás da cabeça revistaram o comédia e não acharam nada.
Mesmo assim eles não largaram do pé, tomou tanto tapa na cara que chegou a ficar com a veia do olho estourada. Fizeram o teste do bafômetro e acusou álcool.
Por sorte quando eles chegaram o Ricardinho ainda não tinha ligado a moto e eu sabia como sair dessa.
Eles foram metendo a algema no moleque e então eu intervi.
Estava na hora de deixar a gíria da quebrada de lado e ser profissional.
Esses filho da p**a nunca fazem o serviço direto e abusam do poder.
- Por que vocês estão algemando ele? - eu comecei interrompendo a ação deles, me olharam como se eu nem importasse, só mais uma mina em mais uma apreensão, e só Deus sabia se eles iam agir pelo certo e prender o moleque, ou se ele ia aparecer morto em alguma vala longe dali só por diversão.
- Não está claro, ele está bêbado! - um deles falou gritando.
- Desde quando isso é crime? - falei mais alto
- Dirigir alcoolizado é crime - disse mais firme, mas eu era braba de verdade, não era só apelido, e a resposta já estava na ponta da língua.
- Ele não estava dirigindo. Solta ele.
Um Dos policiais o mais marrento que devia ter cerca de uns 30 anos me encarou e se aproximou de mim tentando me intimidar.
- E ai garota, tá pensando que é quem? se vira aí que eu vou te revistar
- Mas não vai mesmo, eu conheço a lei.
O Cara deu uma gargalhada debochando de mim e encarou o outro policial que sorriu.
- Conhece a Lei? A lei sou eu, então baixa a bola e me obedece.
Eu sabia que se eu não pedisse permissão antes de abrir minha pochete ia levar bala na cara, eles atiravam primeiro e perguntavam depois, então fiz o certo.
- Se o senhor abrir minha bolsinha... vai encontrar um documento que vai interessar... se deixar eu mesmo pego.
- Você nem se mexe c*****o, onde que tá o tal documento? - disse o mais marrento
- Na bolsinha da frente, e é pra mexer só na bolsinha... não tem necessidade de passar a mão em mim, mesmo porque revista em mulher é só com policial feminina, ou eu estou errado e joguei anos na faculdade no lixo?
Ele parecia frustrado, eu peguei a dele mais rápido que ele gostaria.
Pegou o cartão da OAB na minha bolsinha, e na hora virou o cartão pro outro... analisando se era melhor me matar ali ou se era melhor deixar para lá.
Conhecimento era algo perigoso nesse mundo e era assim que os coxinha usavam o poder deles, para oprimir a galera que nem sabia dizer um direito básico.
- Isso aqui prova o que p*****a? Aprendeu algumas coisinhas na faculdade e já tá querendo peitar policial?
- Não quero peitar ninguém, só quero o que é meu direito... e eu sei que você não está fazendo cumprir a lei. Então, qual vai ser...vamos juntos para o DP e eu dou parte de vocês, ou você vai soltar o meu cliente pra gente seguir nosso caminho?
Cheio de fúria o cara estava prestes a me acerta um tapa na cara, mas primeiro colou a cara dele na minha e gritou.
- Tá pensando que é quem v***a? - disse cheio de ódio, o olho parecia que ia explodir, acho que aquele v3rme nunca foi desafiado por uma mulher na vida dele.
- Eu sou a Advogada dele, isso não ficou claro? Pensei que tivesse ficado quando eu disse MEU CLIENTE e você pegou a carteirinha da OAB...
O Ricardinho arregalou a bolota do olho de um jeito que eu nunca tinha visto antes, eu falei pros parceiro que eu ainda não tinha pego a OAB, seria só depois da festa de formatura, mas a verdade é que minhas notas na faculdade eram tão excelentes que eu consegui passar no teste ainda antes de formar, com isso eu consegui que eles me entregassem o diploma antes, eu também tive que arregaçar as pernas pro reitor mas isso era detalhe, se eu dissesse pro Nando que eu já tinha licença pra advogar ele já ia me por nos corre e não estava querendo gastar tempo com isso.
O Ricardinho já estava na minha mão mesmo e eu faria ele ficar quieto.
O policial debochou novamente e antes de meter um tapão na cara o parceiro gritou:
- Segura a onda, ela tá falando a verdade. A carteirinha tá aqui. Documento também
- Confere se não é falso. - ele disse sem tirar o olho de mim e era gostoso o policial viu? Se não fosse a atual conjuntura eu até deixaria ele me pegar na viatura.
- Eu não preciso conferir, eu sei que é verdadeiro. - O olhar do parceiro dele pra mim mudou, como se me conhecesse.
O policial arrogante que tinha na farda a identificação de “Soares” travou, ele caminhou até o amigo arrancou os documentos da mão dele foi até a viatura pra puxar minha ficha, ele estava disposto a f***r minha vida, O Policial que se aproximava de mim já não tinha fúria no olhar. Ele chegou perto tampando a visão do parceiro de do Ricardinho pra mim
- Que tipo de vida você está vivendo Barbara? - eu não conseguia me lembrar da onde ele tinha tirado tanta i********e, leu meu nome em um documento e emocionou? Será?
-
Qual é cara? Não tenho essas intimidades contigo! Só estou pedindo pra ir embora com meu parceiro ali, e já era... vocês seguem o caminho de vocês prendendo bandido de verdade, e eu acabo a noite dormindo confortável na minha cama. Troca justa!
- Barbara, confia em mim. Se estiver encrencada me avisa que eu posso te ajudar – continuou falando, o olho cheio de doçura me lembrou de algo que estava adormecido dentro de mim, mas que ainda sim, não me deu a informação toda claramente, era como uma nuvem na minha frente.
Eu lembrava sem lembrar.
- Vai meter suborno agora? Me deixa em paz e a gente evita confusão - continuei
- Você não me reconhece? - falou e me olhou mais forte nos olhos.
Olhei bem nos olhos dele, e não conseguia reconhecer apesar de ele me parecer familiar, o cara tinha cerca de uns 50 anos e estava bem em forma, a identificação da farda dizia “Viana” e lapso de memória me socorreu naquele momento, e finalmente algum neurônio começou a funcionar do jeito certo... mas antes de eu falar foi ele quem falou
- Eu sou o Viana, fui parceiro do seu pai, te conheço desde pequeninha.
- Mais um motivo pra você me deixar em paz – eu disse gelada, ele citar o meu pai me fez desmontar em um milhão de pedaços pelo chão, mas eu mantive a minha postura de durona, tentando não chorar ou gritar de tanta dor na frente daquelas pessoas.
- Me fala Barbara, você precisa de algo? - insistiu mais uma vez
- Você não acha que essa pergunta está uns sete anos atrasada? - eu falei olhando ele ainda mais fundo nos olhos.
Eu calei o desgraçado.
Ele assim como todos abandonaram a filha e a viúva de um policial que for morto em operação. Se diziam parceiros, apareciam aos churrascos, bebiam com o meu pai, apareciam nos meus aniversários, viviam brotando na casa de praia da minha família, juraram que estavam ali pro que der e vier, no enterro encheram minha mãe de abraços e beijos falsos, e quando ela precisou de verdade, quando a morte do meu pai já era notícia velha, cada um foi viver sua vida... meteram o f**a-se na minha mãe, e esqueceram do parceiro.
Afinal de contas, ele já estava a sete palmos da terra, e quem liga pra que morreu?
Ele estava prestes a se justificar quando parceiro furioso se aproximou, a essa altura do campeonato ele já deveria saber quem e era.
- Então você é... - começou e eu fui obrigada a interromper, por que os meus sentimentos já me tomavam de assalto.
- Isso mesmo, eu sou essa pessoa aí que você viu. Eu sou advogada, nós estamos limpos e agora nos deixem, ir. - Eu o interrompi antes que ele desse com a língua nos dentes e disse em voz alta que eu era filha de policial. Essa era uma informação que omiti e nem Ricardinho iria ficar sabendo. Meu pai se foi, morreu e e agora eu sou cria da favela e não filha de policial.- Eu cortei o assunto impedindo o outro de falar abertamente que eu era filha de um policial, isso poderia selar a p***a do meu destino para sempre. Para todos os efeitos eu sou Bárbara, a Barbie da favela do Savério, nascida e criada na comunidade, e NUNCA nem ouvi falar de v3rme nenhum.
Esse segredo ia para a cova comigo, e nem o Ricardinho ia ficar sabendo.
O Viana anotou o número dele em um papel e me entregou, sussurrou que se eu me metesse em alguma encrenca e precisassem de ajuda era pra ligar pra ele, que ele me ajudaria pois tinha uma dívida muito grande comigo e com meu pai. O mesmo de sempre, todo mundo tem dívida o problema é que ninguém quer pagar.
Eu revirei os olhos mais peguei o papel para eles irem embora o mais rápido possível, eu já não aguentava mais pressionar aquela arma na b***a.
- Teu parceiro não pode dirigir. Eu levo vocês pra casa. - disse o Viana.
Eu sabia que o que ele queria mesmo era saber em que buraco eu havia me enfiado, mas eu não daria esse gostinho a ele e nem podia, todos os meus planos iriam por água abaixo.
- Relaxa, eu dirijo, eu não bebi e você já conferiu que eu tenho habilitação e a moto é minha. - Nessa hora eu estava grata pelo Nando me usar como laranja e colocar ela no meu nome.
Eles soltaram o Ricardinho e se foram, o comedia já queria meter o loco e vazar dali.
- Tá maluco p***a? Eles vão nos seguir, sossega o cu aí
- Barbie que p***a é essa de carteirinha de advogada, tu não ia pegar isso só ano que vem não? Mano, desenrola, cê tem mentido nesse tanto pro patrão por causa de que c*****o? Tem necessidade? Se ele descobre tu vai morrer porra...
- Fecha o bico sobre isso. Se os cara souber já vão me meter pra ir em cadeia e não to com tempo pra isso não. Tenho umas paradas pra resolver antes. Eu não tô podendo ficar livrando gente da cana não irmão, então segura essa informação... na hora certa todo mundo vai saber.
- Porra Barbie, tu só me mete em furada mina, c*****o, tô a algumas horas com você e já corri risco de tomar um tiro na boca pelo menos umas dez vezes c*****o.
Eu não respondi, só ofereci um sorriso...como que um bandido não gosta de perigo? Eu era viciada, total e completamente viciada na adrenalina que percorria meu corpo toda vez que eu escapava, mesmo que por um triz, de algum bagulho brabo mesmo.
Esperamos um tempo e então o chamei pra ir embora.
Ele subiu na moto, e por todo caminho ficamos em silêncio, era medo o que aquele comédia sentia, e eu ao contrário... na minha mente ficava borbulhando as imagens do Malvadão comendo aquela mina encostada na parede, aquilo era t***o de verdade p***a, só de pensar a minha b****a molhava inteira, eu pensei nele o tempo todo enquanto o vento batia na minha cara e a gente ia subindo lá pra cima no morro.
Ele ficou dentro de mim, sem nem entrar, o olhar dele foi como se tivesse me fodido ali naquela festa.
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TWIITER:
@abarbarabarbiee
Cuidado, pessoal, lá vem vindo a veraneio
Toda pintada de preto, branco, cinza e vermelho
Com números do lado, e dentro dois ou três tarados
Assassinos armados, uniformizados...
#enquadro #favela