Esther
Senti uma sensação estranha na pele, quando os lábios de Gabriel trocaram minha bochecha. Um arrepio se alojou pelo meu braço, subindo pelo minha espinha, aquecendo todo o meu corpo, esquentando meu rosto no local exato onde foi depositado o beijo. Vi Gabriel se afastando com um sorriso maroto no rosto, com certeza, constatando o meu embaraço por causa da sua ousadia.
Ele tinha um sorriso lindo, que me fez perder o fôlego, me hipnotizando e fazendo segui-lo com os olhos até passar pela porta da igreja. Aquela despedida fez meu coração acelerar, com a promessa de que sempre nos veríamos, achei que estava ficando louca. Afinal, acabamos de nós conhecer e ele se sentiu na liberdade de me beijar e eu senti que foi algo correto de se fazer.
Ele se foi, mas seu cheiro ficou comigo, fazendo passar uma eletricidade inexplicável pelo meu corpo, algo que eu nunca tinha sentido antes, coloquei minha mão no meu rosto no local do beijo, sentia queimando com se seu calor corporal permanecesse ali. Será que tenho alergia dele? Seus cabelos loiros, liso na raiz e encaracolado nas pontas, lhe dar um aspecto de anjo, contrastando com seus olhos azuis da cor do céu claro sem nuvens. Talvez ele seja um anjo de Deus enviado para a terra, devia ser por isso das reações do meu corpo, o anjo estava me purificando dos meus pecados.
— Ele é um bom rapaz — disse meu tio me assustando.
— Jesus! Que susto, tio. Que me m***r do coração?
Coloquei a mão no meu peito, verificando o acelerar das batidas do meu coração. Quase derrubei a imagem de nossa senhora Aparecida, no altar que fizeram na lateral da igreja, parecendo a basílica de nossa senhora. Eu esbarrei minha mão na imagem, quando me virei bruscamente ao ouvir a voz do meu tio.
Esse, por sua vez, estava com um sorriso divertido nós lábios, uma vez que suas teorias da conspiração tentava me fazer mudar de ideia, quando o assunto é minha vida pessoal. Dava até para perceber o que se passava na sua mente religiosa, mas eu não estava disposta a compactuar com os seus planos mirabolantes.
— Desculpe! É que eu vim dizer que você está dando pinta.
— Hã?
Olhei para ele como se eu fosse uma retardada, sem entender o que ele estava querendo dizer. Afinal, ele falava como se ainda vivesse no século passado.
— Vim dizer para você parar de babar o rapaz, pois, todo mundo já percebeu. — Olhei ao redor e a igreja estava vazia. — Meu Deus! Você estava babando mesmo pelo Gabriel.
Droga! Sem querer eu me entreguei. Não estava acostumada de um garoto me tratar com gentileza, sem segundas intenções. O infeliz do meu ex-namorado espalhou tudo o que ele fez comigo, para seus amigos, fora o vídeo que ele vazou na internet, desde então, só se aproximavam de mim pessoas que queriam algo a mais de mim, do que uma amizade.
Por isso, que tive que me mudar, nunca mais seria visita com bons olhos na minha cidade, apesar que ainda corria o risco de alguém encontrar o vídeo e repassar por aqui também. Por isso, que me surpreendi quando Gabriel me beijou, com carinho e sem malícia. Fiquei impactada com sua atitude ousada e sem um interesse malicioso. Porém, admitir aquilo para o meu tio, seria o fim, ele nunca mais me deixaria em paz.
— Ah, tio, vai para...
— Olha, estamos na igreja.
Fiz o sinal da cruz, pelo o que acabei de pensar em falar.
— Onde o Judas perdeu as botas...
Tio Léo riu da minha cara, com certeza devia ter passado várias bobagens na cabeça dele.
— Posso até ouvi os sinos tocando...
Ele devia estar alucinando. Ou suas orações faziam ver coisas onde não tem.
— Essa igreja não tem sino.
— Isso é só um detalhe e uma maneira de falar. Eu me referia...
Ergui a mão o fazendo parar de falar. Se o deixasse, ele daria um sermão digno de uma missa.
— Eu sei muito bem o que o senhor se referia, fique sabendo que estou fechada para balanço.
— Mas você não está gorda.
Olhei torto para ele e passou vários pensamentos pela minha cabeça, que seria pecado falar em voz alta.
— O que eu quis dizer...
Foi a vez dele levantar a mão me fazendo parar de falar.
— Eu sei o que você quis dizer, porém, você pode ter seus planos, mas Deus tem outros.
Lá vem ele e suas tentativas de me fazer mudar meus pensamentos, com relação ao que passei.
— Então, diga para ele me incluir fora do que quer que seja que ele planejou para mim, estou bem sozinha.
— Ah, minha querida sobrinha, há tanto o que aprender sobre Deus, sobre você mesma. — Revirei os olhos para aquela conversa. Ele me abraçou pelo ombro, me guiando para fora da igreja. — Qual é os seus planos, enquanto estiver morando aqui?
— Por quê? Vai conspirar com Deus contra mim?
Meu tio gargalhou alto, me contagiando e me fazendo rir também. Eu amava meu tio e o respeitava, mas isso não significava que ele poderia se intrometer na minha vida, dando a desculpa que era a vontade de Deus.
— Eu sou somente um humilde servo de Deus, só faço o que ele manda.
— Isso quer dizer que vai complicar a minha vida?
Outra gargalhada.
— Ou te trazer a paz e a felicidade de que tanto precisa.
Tradução, ele iria se intrometer na minha vida.
— Hum! Pretendo fazer o Enem e entrar na faculdade de moda, não sei ainda. Uma coisa de cada vez.
— Acho que tem um curso de moda na faculdade daqui da cidade.
— É, eu sei.
— Então, acho que tenho muito tempo para te convencer dos planos de Deus para você.
Eu não disse?
— Ou vou estar tão ocupada estudando, que não vou ter nem tempo de rezar um rosário.
— Deus dará um jeito! — Revirei os olhos por rebeldia, tem coisas que nem Deus podia fazer por mim. — Vamos! Vou te levar para o lugar que você vai morar.
— Pensei que eu iria morar com o senhor.
— Você não pode morar comigo, além de ser seu tio, sou padre e homem. Não será bem visto pelos fiéis.
— Hipócritas!
— Infelizmente, o ser humano é assim.
Sociedade Hipócrita, dizem amar o próximo, acolhe como eu filho de Deus, mas por trás crucificam as pessoas com se fossem o maior dos pecadores. Por isso que não quero me comprometer com trabalhos da igreja, se vazar o que sou de verdade, o que eu fui, serei mais uma a ser julgada por meus algozes.
— E a missa? A preparação do altar.
— Não se preocupe, o cerimoniário já chegou, ele vai cuidar de tudo.
Pelo menos, não precisarei me preocupar com isso, mas que meu tio deve ter planos para mim, que vou tentar fugir.
— Onde vou dormir, então?
— No convento!
— O que?