Gabriel
Entrei na igreja matriz Rosa Mística, depois de um dia exaustivo de trabalho com a cara enfiada nos projetos da construção de uma nova igreja no meu bairro, perto da minha casa. Já imaginava os trabalhos de evangelização que vamos fazer, os jovens daquele bairro precisavam muito de orientação para conseguirem sair das drogas. Um espaço para acolher pessoas com esse problema e que queira se ver livre das drogas, também será construído. Só era preciso da autorização do bispo para que as obras comecem. Não via a hora de mergulhar nesse trabalho, precisava ficar com a mente ocupada para não cair nas tentações que a vida me traz.
Antes de procurar o padre Leonardo para mostrar a planta da nova igreja e confessar os meus pecados, que são os mesmos... d***a! Estava cansado de cair no mesmo pecado sempre, não conseguia me afastar da tentação, até porque era a tentação que ia atrás de mim. Desde que terminei o namoro com a Joyce, ela vinha me perseguindo e aproveitava a oportunidade quando estava sozinho para me seduzir e acabava me entregando para ela. Claro que a culpa não era só dela, eu poderia ter resistido todas as vezes que ela veio me procurar, mas não sei porque eu sentia que a tentação era mais forte do que a minha vontade. Mesmo com todos os rosários rezado, eu sempre cedia a sua sedução, principalmente, quando apelava ficando somente de lingerie.
Me aproximei do sacrário e me ajoelhei, me sentindo o pior pecador da face da terra. Só queria ter forças para resistir à tentação, porém, não podia contar comigo mesmo, só tinha uma única pessoa que poderia me ajudar: era Jesus! Com a primeira carta de São Paulo aos coríntios capítulo sete na minha cabeça, eu peço a Deus que me ajude, que me mande um auxilio um conforto para poder superar essa tentação. Porque sei que a Joyce não vai desistir de mim tão cedo. Rezei o terço e meditei o capítulo da bíblia que será pregado hoje no grupo de jovens após a missa.
Meu coração bateu forte no peito depois que li o texto da Bíblia, como se fosse uma confirmação de que Deus iria mandar um auxílio para me ajudar a enfrentar essa tentação. Em agradecimento comecei a orar em línguas e sentir a presença do Espírito Santo.
— Obrigado, senhor, por ser tão misericordioso, por ser voltar para a angustia do seu filho e lhe trazer consolo. Espero ansioso por esse auxílio e prometo não o abandonar nunca.
Me levantei, fiz o sinal da cruz e fui procurar o padre para mostrar o projeto da nova igreja e me confessar com o coração mais leve, podia sentir a presença do Espírito Santo em mim. Fui até a casa do padre e encontrei uma garota que nunca tinha visto antes conversando com o padre.
Seu cabelo era escuro que contrastava muito bem com sua pele clara e olhos da cor cinza. Nunca tinha visto esse tipo de cor de olhos, nunca tinha visto essa garota tão linda, que não conseguia tirar os olhos dela. Por um momento, esqueci o que tinha vindo fazer aqui.
— Gabriel, que bom que você chegou. Quero te apresentar minha sobrinha, Maria Esther.
Maria Esther, que nome lindo! Duas grandes mulheres da Bíblia, de mudaram a vida de muitos. Uma precede a outra, mas ambas tiveram a mesma responsabilidade, de salvar o povo de Deus. Ela estendeu a mão para me cumprimentar e quando encostei a minha na sua, senti um choque passando por todo o meu corpo, como se eu tivesse colocado um dedo na tomada. Ela apertou a minha mão e a recolheu rapidamente, acho que ela sentiu essa eletricidade.
— Prazer! — disse ela, corando.
Achei isso lindo.
— A paz de Jesus! — digo a ela.
— Isso a paz!
Sorri vendo-a ficar mais vermelha, acho que vou gostar de vê-la envergonhada.
— Então... — disse o padre Léo. — Gostaria que você mostrasse para minha sobrinha o equipamento de música, ela sabe mexer nesses aparelhos e toca perfeitamente teclado.
— Tio! — repreendeu Esther.
— É mesmo! Hoje a Joyce não vai poder ver, vamos precisar de alguém para tocar na missa e no grupo de jovens.
— Eu não acho...
— Ela adoraria participar.
— Tio! Nós já conversamos sobre isso.
— Conversamos e combinamos que o melhor para você é ajudar na comunidade.
— Não combinamos, não.
— Ou você prefere passar o dia inteiro com as freiras.
Ela abriu a boca pasma com o que o padre Léo disse.
— Isso é chantagem!
— Não, isso são suas duas opções. Ou você passa o dia inteira aqui comigo ajudando na comunidade, ou vai passar o dia rezando com as freiras.
Esther ficou paralisada olhando para o tio por um tempo e depois bufou.
— Está bem! O que eu tenho que fazer?
— Você pode arrumar o altar para a missa, enquanto eu converso com o Gabriel.
— Tudo bem!
Ela saiu olhando rapidamente para mim e desviando o olhar em seguida. Eu a acompanhei com os olhos até ela fechar a porta da sacristia deixando o padre e eu sozinhos.
— Ela é linda, não é?
— Não sabia que o senhor tinha uma sobrinha.
— Pois é, ela está passando por uma situação delicada na sua vida e seus pais a mandaram para cá, para que eu pudesse orientá-la.
— Bom, se eu puder ajudar em alguma coisa...
— Vou precisar sim. Ela precisa de pessoas que a ajude a encontrar o caminho e você pode ajudar com o grupo de jovens.
— Será um prazer, padre!
Mostrei para ele a planta da nova igreja e o alojamento para as pessoas que precisarem de reabilitação. O padre Léo gostou do meu projeto e marcou uma reunião para conversar com o bispo. Depois me atendeu em confissão, ouvindo os mesmos pegados de sempre, mas o conselho era diferente dessa vez. Em vez de me aconselhar a resistir e me afastar da tentação, ele me deu um trabalho para me ocupar.
— Isso não é uma penitência... Bom... É uma penitência — disse o padre. — É algo concreto que vai deixar você ocupado, para não cair em pecado. Você já vai está ocupado com os trabalhos da construção da nova igreja e vai poder me ajudar com a minha sobrinha, a não ir para o caminho errado. De quebra vai estar com a mente ocupada e cansado para fazer qualquer coisa.
— É parece que vai funcionar.
— Vai funcionar, eu tenho certeza!
Me despedi do padre e procurei pela Esther para poder me despedir dela também. Encontrei-a olhando para a imagens da Nossa Senhora Aparecida, não percebendo a minha aproximação.
— Eu já estou indo, eu te vejo mais tarde, na missa?
Ela se virou para mim e eu mergulhei na cor cinza dos seus olhos. Agora um pouco mais de perto, percebi um pouco de azul contrastando com o cinza que saia ao redor das pupilas que estava em constante dilatação. Ela corou de novo, mas não deixou de me encarar.
— Sim, claro! Vou terminar de arrumar a igreja para a santa missa.
— Então, até daqui a pouco.
— Até!
Aproximei meu rosto para beija sua bochecha e ela inclinou um pouco a cabeça para um lado, onde depositei um beijo e de quebre inspirei seu cheiro. Ela cheirava a flores do campo, seu perfume e embriagou por um momento e logo me afastei para poder ir para casa, tomar o meu banho e voltar para tocar na missa. Sem parar de pensar como o cheiro dela era bom.