Gabriel
Entrei no meu carro sentindo uma corrente elétrica passar pelo meu corpo, o cheiro do perfume de Esther me acompanhou o caminho inteiro até chegar em casa, podia sentir meu corpo aquecido e ao mesmo tempo um frio passava na barriga. A lembrança de seu rosto corado e seu olhos arregalados por causa da minha ousadia ao me despedir com um beijo, não saía da minha cabeça. Não sei o que tinha pensado naquela hora, mas foi tão natural que achei adequado dar aquele beijo. O resultado foi, seu cheiro não me abandonou em nenhum momento do meu trajeto e a sensação suave da pele do seu rosto, não saía da minha boca. Podia sentir uma alegria inexplicável transbordando no meu peito, algo que não conseguia sentir com ninguém, a não ser, quando estava em oração diante do sacrário.
Estacionei meu carro na vaga de sempre, percebendo que meu pai já chegou em casa, pelo fato, do seu carro estar estacionado em sua vaga. Trabalho com meu pai, na empresa de arquitetura da família, em que meu pai e meu tio são sócios e agora me ajuntei a eles e ficarei responsável pelo o projeto da nova igreja do bairro. Pretendo dar tudo de mim nessa empreitada, é a primeira vez que sou responsável por um projeto sozinho. Estou super empolgado para começar, só espero que o bispo aprove o projeto da nova igreja.
Entrei em casa encontrando os meus pais na sala assistindo tv e minha irmã sentada no chão tomando sorvete, abriram o sorriso assim que me viram. Eles estavam felizes por saber que serei responsável pelo projeto da construção da nova igreja.
— E aí, filho? Como foi a conversa com o padre? — perguntou meu pai.
Me aproximei dos dois no sofá, deixando minha pasta na mesinha de centro, cumprimentando mamãe com um beijo na testa, sentando ao seu lado e roubando uma colherada do sorvete da minha irmã.
— Ei, o sorvete é meu — protestou Gabriela.
— Ele adorou a planta da igreja, só falta a autorização do bispo. O padre Leonardo marcou um reunião essa semana com o bispo — digo ignorando a cara brava de Gabriela.
— Tenho certeza que será aprovado, o projeto é sólido e não encontrarão preço melhor que o nosso.
— Estou muito orgulhosa de você, meu filho, seu primeiro grande projeto — disse mamãe segurando minha mão para me dar confiança.
— Vocês sabiam que o padre tem uma sobrinha?
— É mesmo? — mamãe questionou curiosa. — Isso é novidade.
— Uma falsa puritana, tenho certeza — disse Gabriela com desdém.
— Gabriela, olha os modos, você nem a conhece.
— Nem preciso, só tem gente falsa na igreja, lobo em pele cordeiro.
— Não é porque seu namorado não valia nada que as outras pessoas também não vale.
— Que seja! — Gabriela deu de ombros e minha mãe revirou os olhos.
Gabriela namorava o coordenador do grupo de jovens, que a traiu com uma garota da igreja protestante. Quando descobrimos a traição, eles terminaram e o ex-namorado dela se converteu ao protestantismo. Gabriela não quis saber mais de ir a igreja.
— Acabei de conhecê-la, ela parece ser legal, ela vai passar a morar aqui na cidade.
— Como ela é?
Puxei na memória sua fisionomia, com a lembrança veio a sensação suave da pele do seu rosto nos meus lábios e seu cheiro, que ainda podia sentir nitidamente.
— Ela é linda!
— Ora, ora! Será que eu estou vendo certo? — A voz do meu pai me tirou do transe.
— O que?
— Parece que dessa vez, a Joyce vai sair de cena — debochou Gabriela.
— Rola alguma coisa entre você e a garota? — perguntou papai.
— Filho, ela é sobrinha do padre, você tem que tomar cuidado e respeitar a garota. — preocupou-se mamãe.
— Gente, acabei de conhecer a garota, não deu tempo nem para conversar com ela direito, não tinha como rolar alguma coisa.
— Ah, desculpa! É que a gente nunca te viu com essa cara, nem quando estava com a Joyce.
— Com que cara que eu estava.
— Com uma cara de bobo — acusou papai.
— Eu não estava com cara de bobo — defendi-me.
Será que estava?
— Ah, estava sim — disse Gabriela. — Do mesmo jeito que papai olha para mamãe.
É, parece mesmo que eu estava.
— Hei...! — repreendeu papai.
— Podem ficar tranquilos, não tem nada entre mim e ela — tranquilizei-os.
— Ainda.. — provocou Gabriela. — Ah, Joyce ligou, para variar.
Revirei os olhos, essa semana eu estava livre das invertidas da Joyce, ela ela tinha viajado para a fazenda dos avós dela, mas me ligava todos os dias dizendo que estava com saudades. Ela só fazia falta na missa e no grupo de jovens, porque ela tocava no ministério de música e no entanto, não tinha ninguém para substituí-la. Se não fosse isso, ela podia passar um ano com os avós dela, que ninguém sentiria falta.
— Ela falou alguma coisa?
— Não sei, não falei com ela. Quando percebi que era ela no telefone, eu desliguei. Ela não tem seu número, não?
— A bateria acabou, estou pensando seriamente mudar de número.
— Não adiantaria nada, ela acabaria descobrindo o seu novo número.
O pior que era verdade. Também não podia mudar meu número assim do nada, tenho vários contatos, não podia me dar o luxo de perde-los. Principalmente, agora que estou no começo da minha carreira de arquitetura.
— Que milagre é esse que ela não apareceu aqui te procurando essa semana? — perguntou mamãe.
— Ela está viajando, foi para a fazenda da vó dela.
— Tá com saudades dela, maninho? — debochou Gabriela.
— Por mim, ela ficaria morando com avó dela para sempre.
— Vai perder sua transa fácil?
— Gabriela, olha o seu linguaja — repreendeu mamãe.
— Mas é verdade, pergunta para o Gabriel.
Meus pais olharam para mim em questionamento, eu fiquei em silêncio e sem graça. Minha irmã tinha me flagrado com a Joyce no meu quarto, quando eles saíram de viagem, mês passado.
— Gabriel, vocês ainda estão juntos? — perguntou papai.
— Ah, pai, é complicado. Eu terminei com ela, mas ela insiste em querer voltar.
— E vocês acabavam... — Ele olhou para minha irmã como se o que falasse fosse um assunto proibido.
— Vamos lá, podem falar não fiquem com vergonha de mim — provocou Gabriela.
— Isso é conversar para homens.
— Não precisam se preocupar, eu já falei com o padre, ele soube me orientar — digo.
— O que um padre pode dizer que seu próprio padre não poderia.
— É que o senhor não acha que s**o antes do casamento seja pecado — disse Gabriela.
— Um homem precisa de ter experiências.
— E a mulher, não?
— É diferente.
— Diferente como? — perguntou mamãe contrariada, já vi que essa conversa não vai prestar.
— A mulher tem mais a perder em uma r************l, caso não haja compromisso.
— Bobagem! Quando nos casamos eu não era mais virgem.
— Porque eu fui responsável e assumir um relacionamento.
— E quem disse que você foi o único homem que já transei!?
— Como é?
Oh, d***a! Isso não vai dar certo...