Meus pés clamam por piedade, de tanto que andei e exerci tarefas. Estou muito cansada e demasiado nervosa pelo que o meu pai disse mais cedo.
Tem vezes que acho, que eu não nasci para ser mulher, quer dizer, se eu fosse homem, poderia guerrear sem qualquer impedimento, sem correr o risco de vir um homem qualquer pedir a minha mão e arruinar a minha vida. Que embora não seja nada demais, mas é minha e gostaria de viver como eu bem quero, mas infelizmente não posso, porque é estritamente proibido.
Nesse preciso momento, estou ajudando a arrumadeira nova, a arrumar o local de leitura da biblioteca.
Ao que parece, ser criada é exercer todos os tipos de função, como se você fosse uma escrava.
- Eu não entendi a forma de organização dos livros. - ela diz encarando as inúmeras fileiras de estantes, abarrotadas de livros e estava a meia hora falando que não estava entendendo a forma de organização dos livros.
Se era por letras, cores, títulos, categorias, e eu estou sem paciência e exausta demais para a responder com paciência dessa vez.
- Pode deixar, nós já terminamos. - falo acabando de organizar a mesinha e ela me encara. - Eu guardo os livros, você pode ir saber se tem mais algum trabalho para você com a Senhora Safira. - digo, já a mandando embora, com paciência e calma, antes que eu pire.
- Tudo bem, muito obrigada! - ela sorri e esforço um sorriso também.
Até que enfim ela sai, me deixando sozinha.
Ela não tem culpa, é nova. Mas eu também não tenho culpa, e estou sem paciência, acabaria por respondê-lá de maneira desagradável.
Suspiro.
Sento no chão de tanto cansaço, com os livros que devem ser arrumados em meu colo, e observo atentamente cada estante, para entender como estava tudo organizado.
Levei uns minutos para entender que era por categoria e letra que eles estavam organizados.
- Boa... - murmuro, ao verificar a escada. Não está muito estável.
Vou colocando os livros que estavam mais perto de eu alcançar sem à escada.
E depois me aventuro já exausta, em levar os livros todos lá para cima.
Essas estantes são muito altas, devem ter por aí uns 15 metros ou mais de altura.
Sem exagero algum, tudo é alto demais por aqui!
A escada treme enquanto subo, e eu luto para me equilibrar e continuar segurando os dois livros contra o meu corpo.
Assim que alcanço os espaços vagos, os coloco e desço, esperançosa por um momento de descanso. Pelo menos era isso que eu pensava, até sentir a enorme escada balançar bruscamente, fazendo com que eu me desequilibrasse e estivesse agora no ar, com o coração ao rubro e esperando receber o baque mais f**o que já recebi assim que chegasse ao chão.
- Ah... - ia soltar um grito, mas minha voz se tonificou pela surpresa de braços fortes me segurarem, e meu corpo se arrepiar pelo contacto e pelo calor de um corpo músculoso contra o meu.
Ou talvez, fosse por depois reconhecer o cheiro do Príncipe.
Abro os meus olhos, já que os tinha fechado receando o baque, e me deparo com os olhos ricamente azuis e intimidantes do Príncipe encarando os meus, sinto meu rosto esquentar bruscamente, meu coração bater muito forte, e cócegas na minha barriga, sem contar com os inúmeros arrepios que tomaram o meu corpo.
Meus olhos traiçoeiros, descem do seu olhar profundo, e aprecio as suas belas e tão másculas feições, seus lábios rosados, algumas madeixas loiras de seu cabelo, caiam sob seu belo rosto.
Sinto sua mão que segura minha cintura, aperta-lá ligeiramente, provocando uma onda estranhamente prazerosa em meu ventre, fazendo com que eu subisse meu olhar para o dele novamente.
Bruscamente me desenvencilho dele, o que eu estou fazendo?
- Me desculpe, vossa alteza... - digo com meu rosto esquentando, organizando a roupa em meu corpo.
- Você está bem? - sua voz me deixa ainda mais sem jeito.
- Sim, muito obrigada. - tomo coragem e respondo o encarando.
- Por nada. - ele diz. - Não devia subir uma escada dessas, nessas condições, sozinha. - ele diz abanando um pouco a escada. - Poderias ter te machucado. - ele alerta, me encarando.
Sinto meu corpo em estado de ebulição.
Nirlian!
O que se passa comigo?
Alguém pigarreia, fazendo com que eu me vire para a tal pessoa, é o sanchler.
- Vossa alteza, a sua presença é requisitada no Conselho Real. - o Sanchler apressa-se em dizer, e observo o Príncipe enrrugar a sua testa, desentendido.
Devia ser pecado tanta beleza!
- Porquê, à essa hora? - ele questiona e o Sanchler passa o seu olhar para mim, como se estivesse dando à entender que estou à mais.
- Er... Com a vossa licença. - faço a vênia e saio sem ousar encarar novamente o belo príncipe.
Mas por curiosidade e demasiado interesse em saber o porquê o Conselho Real solicita a presença do Príncipe à essa hora, escuto por detrás da porta.
- Vossa alteza, soubemos que atentarão o nosso Reino amanhã, durante a cerimónia. - QUÊ!?
- E com que objectivo eles atacarão o Reino? - o Príncipe questiona.
- Receio que seja para... - o Sanchler é interrompido.
- Eles querem m***r os dirigentes para tomar o Reino. - o Príncipe diz em um raciocínio rápido.
- Nirlian! - ouço a voz da Fátima me chamando e me viro imediatamente para fazê-la se calar.
E vou até ela, com o que ouvi passando em minha mente.
- O que ainda fazia na biblioteca? - ela questiona assim que chego até ela.
- Arrumava os livros. - respondo. Não é totalmente mentira.
Mas não sei se devo contar a ela, sobre o momento estranho e demasiado íntimo que tive com o Príncipe.
Ou talvez, não a queira contar pelo medo que sinto desses sentimentos e sensações estranhas, e estritamente proibidas que senti com a presença do Príncipe.
Não posso criar ilusões, ou senão dessa vez vou à forca.
- E a arrumadeira nova? - ela questiona enquanto caminhamos em direcção aos nossos aposentos.
- Mandei-a ir, não estava arrumando muita coisa e eu estava sem paciência alguma, meus pés estão reclamando. - digo olhando para eles dentro das sandálias e ela faz o mesmo.
- Um banho no rio? - ela questiona sorrindo e eu sorrio de volta.
- Um banho no rio! - respondo e rimos, mas o meu cérebro pensava apenas no ouvi.