- Se apresse Nirlian! - a Fátima diz andando com o passo apressado pelo corredor em direção a cozinha me fazendo revirar os olhos.
Sinto imensas saudades da casa dos meus pais, nada comparado ao castelo claro, mas pelo menos eu acordava um pouco menos cedo que isso.
- Ontem a senhora Merkel me chamou atenção por causa de corridas pelos corredores. - respondo e ela ligeira um pouco os seus passos.
Assim chegamos a cozinha e para a nossa sorte chegamos antes da senhora Merkel, ela não é má, só é muito rigorosa.
E a minha massa levedou imenso. Então já vou os posicionando para colocar assim que o fogo for aceso.
- Quando você fez essa massa? - a Fátima questiona.
- Ontem de noite. - respondo.
- É por isso que não estava tão apressada, porque isso não é o seu normal. - ela diz me provocando e eu reviro os olhos, enquanto os outros vão adentrando, fazendo a mesma questão que a Fátima.
E ganhei até elogio da senhora Merkel ao invés de sermão hoje.
- Meliá. - suba e trate da gestão do banquete do pequeno almoço.
A senhora Merkel diz e eu me sinto feliz na vida. Não vejo às testemunhas do meu crime e muito menos terei que aturar às chiliquentas.
- Os restantes tratem da gestão do almoço com os cozinheiros! - ela diz. - Brevemente trarei uma lista do que precisaremos para a cerimônia de amanhã, e os outros vão se dividir em grupos para tratar da limpeza milimétrica daqui do castelo, antes que a equipe de decoração de cerimônias chegue. - ela diz e nós assentimos.
E basicamente a minha sorte foi ficar na cozinha ajudando os cozinheiros do Reino.
Pelo menos não iria surtar com as princesas hoje.
Após ter o almoço pronto, o provador degustou de toda a comida preparada.
Sinto pena do estômago dele, mas acho que ele não se importa de comer tanto, afinal, dá a sua vida para ver se as refeições não estão envenenadas antes de se servir a realeza.
Nesse exacto momento, outro grupo entrou para a hora do chá e do jantar, e outros foram aturar os caprichos da realeza.
Hoje esse castelo está ao rubro, mais do que o habitual.
- Meliá e Nirlian preciso que informem ao responsável do armazenamento que venha abastecer a cozinha do castelo, uma supervisiona e a outra dita a lista. - ela diz e nós assentimos indo.
Enquanto andavamos pelo imenso caminho até lá, notamos uma agitaçãozinha diferente, e me lembrei das princesas.
- As princesas chiliquentas vão hoje, não é? - questiono e ela assente.
- Vão sim e agora. - ela responde parecendo tão feliz quanto eu.
- Elas não te chatearam durante às refeições? - a questiono.
- Eu só espero que o príncipe Alon não às escolha, porque não suportaria ter de servir uma delas todos os dias. - ela responde me fazendo rir.
Já estavamos cuidando do que nos foi ordenado, quando escutamos os portões do castelo sendo abertos e os guardas iniciando o cerimonial de despedida.
Aposto que se as trombetas fossem sopradas com palavras, seria...
- Aleluia. - eu e a Meliá falamos ao mesmo tempo e nos rimos.
Depois de um bom tempo, terminamos de ver se estava tudo no stock conforme a senhora Merkel ordenou.
Hoje o castelo estava ao rubro, amanhã será um dia muito importante para todo o Reino, e não há sequer como espreitar os treinos dos guerreiros, e nem ver o meu pai.
Você não aprende né, Nirlian?
Já está escurecer, e a Senhora Safira, a responsável pela organização de todos os sectores do castelo, veio chateada dizendo que os aposentos onde estiveram às princesas, ainda não estavam arrumados.
E por algum acaso, eu fui a solicitada para ir organiza-los, deve ser perseguição.
Aqui é quase impossível saber quantos trabalhadores existem nesse infinito Castelo, mas sempre arranjam uma bela forma da Nirlian ser mandada.
Depois de ter andado resmungando pelos magníficos e ricamente decorados e iluminados corredores do castelo, com alguns cavaleiros que guardavam os inúmeros cômodos rindo dos meus murmúrios, cheguei finalmente aos aposentos.
Entro primeiro no da princesa chiliquenta de cabelos escuros.
Não está tão desarrumado, pois de certeza as servas que cuidam dos banhos da realeza e as damas de companhia ajeitaram, mas enfim.
Arrumei tudo e fui ao quarto da princesa que mais implicou com a minha pessoa.
E estava semelhante ao quarto da outra princesa, a única e bastante diferença é que esse quarto cheira a um perfume demasiado forte.
- Santo Deus! - vou murmurando até deixar tudo como a realeza manda.
Saio do quarto, com o meu carrinho que empurrava os lençóis trocados e outros e vou caminhado pelo corredor.
- Nirlian! - a voz estrondosa do meu pai, seca a minha espinha.
Será que ele soube?
- Pai! - me viro para ele com a cara mais sorridente que consigo fazer, enquanto ele se aproxima de mim, com o seu porte robusto, e com passos decididos na minha direcção.
- Nirlian, quantas vezes eu tenho de dizer para não se aproximar do campo de treinos, principalmente sem a minha presença? - ele questiona furioso.
E faço a minha melhor cara, de gato.
- Muitas! - digo e ele suspira pousando seus olhos verdes, nos meus, com mais suavidade. - Me desculpe, não voltará mais a acontecer. - minto e ele suspira.
- Você diz isso sempre, filha. - ele diz, sabendo o meu discurso décor. - Diga graças à Deus, que a família real tem muito apresso por mim, e não lhe... - ele suspira. - Você sabe qual a gravidade disso Nirlian? - ele questiona frustrado.
- Sei pai, mas é totalmente injusto... - antes de eu continuar ele me interrompe.
- Se você não se comportar, não terei outra opção à não ser casar-te. - O QUÊ?
- Pai, casar não! Eu não quero. - quase choro.
- Pois então se comporte Nirlian. - ele diz. - Prefiro ver minha filha casada, do que eu mesmo prende-lá nas masmorras. - ele diz, agora com compaixão no olhar. - Entendido? - ele questiona.
Tenho uma vontade enorme de gritar.
- Entendido. - sai quase que em um murmúrio.
- Óptimo. - ele diz, relaxando os seus músculos tensos e depois sorri. - O Príncipe ficou impressionado. - ele comenta e parece que meu coração antes enraivecido, queria sair pela boca, e apareceram borboletas em meu estômago.
Ficou!
- Ficou? - questiono quase que retoricamente.
- Ficou. - ele confirma sorrindo e depois deposita um beijo em minha testa. - Agora, volte aos seus àfazeres. - ele diz e eu assinto.
- Bom trabalho, para o senhor! - desejo e depois continuo a minha caminhada pelos extensos corredores desse castelo, matutando e decidindo se salto de felicidade, ou choro de raiva, perante tanto machismo e injustiça.