capítulo 3

1615 Words
Às vezes me pergunto se havia feito a escolha certa. Estava presa há uma semana naquela mansão, e completamente entediada. Não via Dante, apenas Lucinda e os seguranças me faziam companhia, se é que posso chamar aqueles caras de companhia. Eles apenas ficavam me vigiando com caras feias. Estava ansiosa e inquieta. Tinha saudades do trabalho no hospital, todos os dias havia alguém para cuidar, e aqui me sentia inútil, incapacitada de usar meus talentos. Eu não vim até aqui para ficar parada, e não é como se Dante fosse baleado todos os dias e precisasse de mim. Aceitar aquela ideia havia sido uma idiotice, estava arrependida agora, mas de qualquer forma não era como se eu tivesse alguma escolha. A forma que aquele homem me olhava, dizia que conseguia tudo o que queria. — A Senhorita está triste. — Lucinda comentou em pé ao lado da minha cama. Havia levado o meu café da manhã para lá, me recusava a comer sozinha naquela imensa mesa de uma casa que não era minha. E agora eu me encontrava segurando uma xícara de café, observando o mar lá fora. Devo estar com uma expressão horrível para aquela garota estar me olhando com tanta preocupação. — Ainda é difícil me acostumar. Preciso tomar um pouco de ar. — respirei fundo antes de voltar a olhar para a garota. — Quer sair hoje comigo? — Eu não posso sair de casa sem as ordens do senhor Moretti, e acredito que você também não. — É uma prisioneira? Porque eu não sou, apenas trabalho para ele. — Essa propriedade é diferente, ele é simplesmente o dono de tudo, somos revistados todos os dias quando entramos e saímos e escoltados até nossas casas. Bom, ao menos alguns dos empregados, porque eu trabalho aqui em tempo integral. — Você é jovem, por que está trabalhando aqui? — O dinheiro é bom, nenhum outro lugar paga dessa forma. O Senhor Moretti é generoso com os seus funcionários. Generoso? Talvez ele realmente seja generoso, mas haviam coisas que o dinheiro não poderia comprar, como a liberdade e os direitos trabalhistas, não se pode viver trancafiada em um local. — Você deve ter um dia de folga. — 1 vez por semana. — comentou forçando um sorriso de que estava tudo bem. Ela parecia realmente gostar do seu emprego e ganhar muito bem aqui, ela não teria nenhuma desculpa para falar m*l de seu patrão. Pelo visto ele trata bem os seus funcionários. — Então vamos sair no seu dia de folga. — Quer mesmo sair comigo? — Lucinda me olhou surpresa. Não entendi o motivo da sua indagação, mas ela parecia ser tão sozinha naquela casa. — É claro. Por que não? — perguntei confuso. Ela passou as mãos pelos cabelos presos e sorriu distraidamente. — Não tenho muitas amigas por aqui. Entendo o que quer dizer, mesmo ganhando dinheiro, morar aqui deve ser cansativo. — Bom, agora tem uma. Antes de mim, quem era a médica particular de Dante? Aproveitei para tirar informações, essa garota deveria trabalhar aqui por muito tempo então me passaria todas as informações possíveis, em uma casa os empregados sabem de tudo. — O Senhor Moretti nunca teve uma médica particular, ao menos não morando na mansão. Isso era estranho. Por que ele gostaria de uma médica logo agora e porque eu? É claro que confio na excelência do meu trabalho, mas ele havia me detestado. (...) À tarde pedi permissão a um dos seguranças para fazer um passeio pela cidade e um motorista estava me levando por um tuor. Eles não falavam diretamente comigo, apenas faziam telefonemas ao seu patrão e me guiavam quando decidiam o que fazer, isso era tão irritante que me tirava do sério. Mas ao menos eu estava saindo daquela casa de alguma forma. Inventei que iria fazer compras apenas para ter mais liberdade. Me sentia uma celebridade sendo escoltada e isso não fazia sentido nenhum porque eu era apenas a médica do homem. Apesar de estarem me seguindo, eles se mantiveram discretos. Caminhava pelo mercado aberto observando algumas crianças correndo, quando de repente senti minha bolsa ser puxada. Um adolescente havia a roubado e saído correndo. Fiquei em choque, ainda mais quando o segurança foi atrás dele. Algumas pessoas me olhavam pela comoção e outras ignoravam. O meu celular e um pouco de dinheiro estavam naquela bolsa, e mesmo o garoto tendo me assustado, eu só pensava no fato dele precisar roubar pessoas para sobreviver. O mundo do crime é uma opção, mas a maioria das vezes crianças e adolescentes são coagidas a fazer isso para sobreviver. — Desculpa moça. — o garoto voltou sendo arrastado pelos seguranças. Ele deveria ter 12 anos pelo o tamanho, estava com uma roupa rasgada, pele suja, os cabelos castanhos bagunçados já estavam na hora de cortar. Meu segurança o segurava pelo braço enquanto estendia minha bolsa. Já vi muitas crianças nesse mesmo estado no Brasil, eram o que mais tinham, e isso me cortava o coração porque muitos deles eram meninos bons que só precisavam de uma oportunidade de vida. — Qual o seu nome? — perguntei devolvendo a bolsa para o meu ombro, olhando em volta para ter certeza de que ninguém estava nos olhando. Estavam ocupados demais com as suas vidas. — Kayo. — o garoto resmungou, não parecendo feliz com aquela situação. — Onde estão seus pais? — Não tenho pais. — respondeu simplesmente como se não houvesse importância alguma. Como imaginado, ou talvez ele esteja apenas mentindo para mim. — Onde você mora? E com quem? Desejei que ele me desse um lugar, mas já sabia a resposta. Crianças como ele viviam sozinhas ou em grupos nas ruas, e às vezes nem tinham um lugar fixo para dormir. — Com ninguém, eu moro nas ruas. Me soltem, eu já devolvi a bolsa — exigiu irritado. — Fique quieto garoto. — Me solte seu homem esquisito. Ele não estava gostando do interrogatório e muito menos de ser segurado daquela maneira. O homem estava sendo rude e apertando seu braço, talvez estivesse o assustando também Olhei para o segurança e pedi para que ele soltasse o menino, mas o homem sério fingiu não me ouvir. Naquele momento eu mesma estava pensando em dar um perdido naquele cara. Como pode ser tão i****a? — Está com fome Kayo? — tentei soar amigável e vi surpresa passar pelos olhos do garoto antes da ansiedade e confusão. Ele não estava acreditando que eu iria alimentá-lo. — Sim Senhora. — assentiu rapidamente. — Venha comigo. — O que quer comigo? — Apenas Venha. Me virei começando a caminhar pelas ruas estreitas da feira. Eles me seguiram, e o grandalhão chato falou algo sobre o garoto ser um ladrãozinho e merecer uma lição. — Deixe que eu cuido dele. É só um garoto com fome. Segurei a mão do menino, depois de uma batalha de olhares com o segurança que o soltou por impulso. Kayo deixou que eu segurasse sua mão e me seguiu no automático, olhando-me com desconfiança. Parei em algumas barracas e comprei frutas e pães, entendo uma sacola com comida o suficiente para ele se alimentar naquela semana. — Não roube mais pessoas, se estiver com problemas peça ajuda. — avisei entregando a sacola para ele. — Por que está me ajudando, moça? As pessoas costumam brigar quando me veem por perto. — perguntou confuso. — Você precisa, não é? Espero vê-lo mais por aí. Na próxima semana venho aqui de novo, espere por mim. Não adiantava nada ganhar dinheiro e não ajudar quem precisasse. Esse garoto precisava de mim e eu o ajudaria. — Qual o seu nome, moça? — perguntou curioso. — Paola. — respondi o vendo tentar repetir o meu nome. Apenas em ver que melhorei o seu dia, já me senti melhor. — Muito obrigada. — ele sorriu e não me deixou falar mais nada porque saiu correndo com a bolsa. Quando ele foi embora o segurança me olhou e balançou a cabeça como se eu fosse burra ou i****a. Não dei atenção para ele porque sua opinião não me importava. — Vamos embora. — pedi. Quando chegamos na mansão, Dante estava lá, já fazia um tempo que eu não o via porque estava viajando, mas cheguei no momento exato que estavam levando suas malas para o quarto. Ele se encontrava parado na sala quando cheguei. Estava sério como sempre, com um cigarro nos dedos. Tudo dizia que estava ótimo e não precisava de uma médica. Então o que queria comigo? — Venha, quero falar com você. — começou a caminhar deixando-me para trás. O acompanhei até o seu escritório em silêncio, curiosa. Fiquei em pé esperando ele dizer o que queria. Dante apontou para a poltrona à sua frente exigindo que eu me sentasse. Quis ficar em pé apenas para contrariar porque seu jeito mandão me irritava, mas pelo seu olhar sério resolvi me sentar porque talvez fosse um assunto importante. — O que pretende fazer nos próximos anos? — perguntou acompanhando com o olhar cada movimento meu. Chegamos em um assunto delicado, eu não deveria falar da minha vida para ele, apesar de ser meu patrão, era um assunto muito pessoal. Respirei fundo, lhe encarando com seriedade. — Trabalhar o máximo que puder aqui e depois voltar para o Brasil. Ficamos nos encarando em silêncio. Eu esperando por uma resposta e ele me olhando de uma forma estranha. Já estava incomodada e pronta para mandá-lo ir a merda. Eu deveria me preparar para o que viria a seguir, mas não imaginava que seria algo nesse nível e sem cabimento algum. — Case-se comigo. Dante Moretti estava louco, completamente pirado.

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