Capítulo 2

2008 Words
Não consegui dormir aquela noite. A insônia e a ansiedade faziam-me debater na cama e a imagem do rosto de Dante Moretti não saia dos meus pensamentos. O sorriso presunçoso, olhar superior de quem sabia que estava no comando me fazia querer odiá-lo ainda mais. Homens com poder me deixavam em alerta e cautela, porque eles querem mandar e eu nunca deixaria que mandassem em mim. Fui criada por uma mãe rigorosa, mas que me ensinou tudo que sei e sou hoje. Sei o quanto um homem pode machucar e ferir o coração de uma mulher e os com poder em mãos são os mais perigosos, porque acham que podem te fazer submissa. Não sei quais as intenções de Dante comigo, mas se ele gostou do meu trabalho, não deveria ter agido daquela maneira, pensei que me odiasse depois do que falei com ele. Preciso apenas pensar que não tenho emprego e que logo não teria uma casa também. Iria contra todos os meus princípios, mas ele tinha razão quando disse que eu não tinha opções. Bufei de raiva não sabendo como resolver aquela situação. Odiava sentir medo, receio e tomar decisões precipitadas que me levariam ao erro. Mas também tinha um lado meu que não aceitava não enfrentar uma situação, não aceitava ficar na dúvida. Pela manhã eu já havia terminado de arrumar o restante das minhas coisas e me dei conta de que não tinha um contato de Dante. Foi então que tive a ideia de procurar na caixa que ele estava mexendo e como eu suspeitava havia um cartão com um número de telefone. Sorri com sua astúcia e inteligência, brigando comigo em seguida por estar admirando a falta de senso daquele homem. Pensei muito antes de ligar e tomar aquela decisão. Poderia estar louca e sendo impulsiva, poderia voltar para o Brasil, mas algo dentro de mim dizia que deveria aceitar aquela proposta, sempre agi pela emoção e não pela razão, mas hoje algo havia mudado. A tarde bateram na minha porta e dessa vez eu já sabia quem era. Ao abrir encontrei os seguranças de Dante, e eles apenas pegaram minha mala e me guiaram para fora do apartamento, não me deixaram levar mais nada porque disseram que eu tinha tudo o que precisava na mansão do Moretti. Sim, uma das exigências de Dante foram eu morar na sua casa. Eu teria que estar a sua disposição sempre que ele precisasse, estaria ao seu lado em viagens e onde quer que ele fosse. Seria sua médica particular, apenas sua. Acompanhei os homens até o carro preto que nos esperava na entrada do prédio. Eles conseguiram chamar atenção de todos os meus vizinhos, porque não eram nada discretos. Eram 2 homens, todos altos e de boa aparência e cara fechada. Não falaram comigo, e pareciam atentos a tudo que acontecia à nossa volta, até mesmo aos vizinhos curiosos. Eles eram os capangas de Dante e pareciam ser capazes de qualquer coisa. — Qual o nome de vocês? — perguntei incomodada com todo aquele silêncio. Tudo bem, eu só queria conversar para me distrair do nervosismo, ou quem sabe fazer amigos, que poderiam me ajudar um dia caso eu precisasse, até mesmo me dar mais informações. De onde eu vinha as pessoas costumavam ser mais receptivas e educadas, mas não podia esperar nada de bandidos como eles. É claro que não me dariam bom dia e nem seriam educados. Um deles abriu a porta do carro para mim, e pediu silenciosamente que eu entrasse. Respirei fundo me preparando para o que aconteceria depois que eu entrasse naquele carro. Poderia estar tomando a melhor decisão da minha vida, ou a pior. Os homens conversavam entre si durante o nosso trajeto, mas ignoravam minha presença com maestria. Me senti um tanto ofendida e insignificante, era como se não existisse ali. Eles notaram meu incômodo, mas pareciam fazer aquilo de propósito. O caminho foi longo até chegarmos em uma mansão em frente a praia. Não havia casas por perto, apenas ela, e era linda. Encarei fascina pela janela, me perguntando se estava fazendo a escolha certa. Iria morar no meio do nada, sem vizinhos, sem civilização, e ainda por cima compartilhar uma casa com um mafioso. Outra pessoa teria medo e fugiria daqui o mais rápido possível, fugiria dessa encrenca, eu apenas fiquei e esperei o que aconteceria. — A Senhorita pode sair. — um dos caras abriu a porta para mim. Franzi o cenho pela aquela gentileza repentina e sai do carro, observando tudo à minha volta. Não estava acostumada com tanto luxo. — O Senhor Moretti está esperando e ele não gosta de esperar — o homem avisou, quando percebeu que estava parada apenas observando o mar. Apenas assenti e o acompanhei para a entrada da mansão, eles trouxeram minhas malas e de repente me senti nervosa quando entramos no local. Haviam muitos seguranças andando pelo jardim, e algo que eu tinha certeza era que aquela casa estava bem protegida. Alguns caras me olharam de cima a baixo e não fizeram questão nem ao menos de murmurar um comprimento, apenas continuavam com suas expressões arrogantes e prepotentes. Se por fora a casa era esplêndida, por dentro era incrível, organizada, silenciosa e vazia. Era como se não houvesse moradores. É uma tristeza uma casa tão grande ser desperdiçada para poucas pessoas, meus primos amariam uma casa assim e ela não ficaria pequena para a minha família. — A Senhorita aceita um chá? — uma empregada apareceu na minha frente, assustando-me. Era uma garota jovem, que vestia preto e babado. Ela me encarava apreensiva, e um tanto animada, parecia eufórica. Era uma garota bonita, loira de olhos claros e o cabelo estava preso. — Qual o seu nome? — perguntei vendo um sorriso se formar em seu rosto. — Lucinda. — respondeu empolgada por talvez me ter alguém para conversar, alguém que se importe. — Lucinda obrigada, mas estou bem. Me chamo Paola. — Estendi a mão e ela logo recebeu o comprimento com empolgação. — Seja bem vinda Senhorita Paola, é bom ver outra mulher por aqui, o Senhor Moretti costuma contratar apenas homens. — Agradeço a recepção, algumas pessoas não foram tão gentis. — Olhei para os seguranças que ainda estavam parados com as minhas malas. — É bem normal isso por aqui, às vezes me pergunto se eles não são robôs. — cochichou a última parte. — Posso mostrar para a Senhorita que não sou nenhum robô. — o cara que estava segurando minha mala, olhou para a empregada com desafio. A garota corou. Observei o homem de cabeça raspada, corpo musculoso e olhar debochado. Estava nítido que tinha algo na forma que ele olhava para Lucinda, e ela sabia disso porque os dois estavam se encarando por tempo demais. O outro caro chamou seu amigo e pediu para que eu parasse de conversar e os seguisse, então eu fiz me despedindo de Lucinda. Subimos algumas escadas até que eles me deixaram em frente a uma porta preta alegando ser o escritório do seu chefe. Respirei fundo e bati esperando que me deixasse entrar. A porta se abriu antes que eu pudesse bater outra vez. O ranger da madeira fez-me respirar fundo e entrar na sala ouvindo o barulho dos meus saltos no local silencioso. Como a porta se abriu sozinha, presumi ser automática, a sala era enorme e encontrei meu alvo na sacada. As cortinas balançavam com o vento e era possível ouvir o barulho do vento batendo nas palmeiras. Dante estava parado com as mãos no bolso de uma calça branca. Parei por um instante o observando inteiro. Estava sem camisa, descalço, a calça mostrava o cós de sua cueca, levava um copo com alguma bebida na boca. Parecia despreocupado, como se não houvesse nenhum problema no mundo que ele não pudesse resolver. E eu realmente acredito que ele tinha tudo nas mãos, e era capaz de qualquer coisa para conseguir o que queria. Sabia com quem estava lidando, não era boba. Homens como ele são respeitados, acham que tem o mundo nas mãos e que todos devem lamber os seus pés. Eu não lamberia os pés de Dante, mas ele precisava saber que tinha a minha confiança, e que eu não tinha medo dele, mesmo sabendo que poderia acabar comigo se quisesse, porque ele poderia me descartar e mandar de volta para o Brasil na hora que quisesse. Mesmo se não aceitasse esse trabalho, não havia para onde eu fugir, porque esse homem mandava em tudo aqui, era como um rei que apenas dava ordens e seus suditos obedeciam. Por isso eu estava sem um emprego e dentro da sua casa agora em uma situação sem volta, mas que de alguma forma ganharia algo ao meu favor. Isso era de certa forma curioso e assustador. E o mais engraçado era que mesmo parecendo ter tudo, os seus olhos não eram felizes. Eu conhecia alguém feliz quando via, e esse homem não era nenhum pouco feliz. Talvez seja porque era um criminoso, talvez seja porque seu sangue é r**m e cometer crimes seja apenas o que sabe fazer. — Gostou da casa? — perguntou de repente, sem me olhar. Se eu gostei da casa? Era uma mansão em frente ao mar. Tudo o que a Paola mais jovem sonhou, mas não dessa forma. Queria morar em um lugar tranquilo com a minha família depois que me formasse, e depois de muito trabalho duro me aposentar em um lugar como este. É silencioso e calmo, longe de toda correria da cidade. É o sonho de consumo de qualquer pessoa. Respirei fundo, antes de obedecer. O que era irônico porque eu odiava receber ordens e ironicamente este homem é o meu novo patrão. — É confortável. — Aproxime-se. Parece estar com medo. Eu não tinha medo de nada. Então parei a seu lado, atraindo seu olhar. E quando ele me observava eu me sentia estranha. Era como se me despisse com os olhos, olhos intensos demais para alguém como ele. — Doutora Chagas, seja bem vinda à mansão Moretti. — abriu um mínimo um sorriso erguendo seu copo em um brinde. Não sei se ele estava sendo irônico ou dizendo realmente a verdade, não gostava do seu sorriso e infelizmente era algo que teria que me acostumar de agora em diante. Esse homem me fez perder meu emprego, mas em compensação me deu a maior oportunidade da minha vida. Então eu poderia guardar a raiva que sinto por ele e fingir que poderia agir profissionalmente, quando na verdade queria socar a sua cara e tirar aquele sorriso i****a do seu rosto. — Obrigada. — fui o mais profissional que consegui ser. Mas a forma que ele me observava estava incomodando, era como se buscasse algo em mim para satisfazer seu ego, algo que eu não sabia o que era. Não quero lhe dar liberdade para pensar que poderíamos ter algo além do profissionalismo. Eu serei a sua médica particular e quero aparecer apenas quando for necessário. E quando ele não precisar de mim eu estaria trancada nessa maldita mansão, talvez tomando um banho de mar. Porque é isso que eu sou agora, a "prisioneira" de um mafioso. — Aqui não é uma prisão, você receberá o melhor tratamento possível e uma melhor proteção também. — Claro. Já que estamos conversados, vou me retirar, me chame quando precisar de mim. Lhe dei as costas e caminhei apressada para a saída da sala, desejando desaparecer dali o mais rápido possível. — Dá próxima vez, aprenda que eu digo quando se deve retirar ou não. — sua voz fria me fez parar próxima a porta. Apertei os punhos com força controlando meu temperamento forte, e apenas acenei com a cabeça indo embora dali. Talvez eu tenha tomado a pior decisão de todas. Como conseguiria conviver com esse homem sem manda-lo calar a boca? Ele era insuportável, e poderia se livrar de mim a qualquer momento porque era um bandido. O que diabos eu fui fazer da minha vida?
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