CAPITULO 2

1183 Words
Ao sair do quarto e descer as escadas, senti a tensão no ar. A sala de jantar estava repleta de membros da família, todos vestidos impecavelmente, como era esperado em ocasiões como essa. Don Salvatore Mancuso estava à cabeceira da mesa, com um olhar severo, mas seus olhos revelavam um traço de orgulho. Junto com ele seus quatro filhos legítimos. Massimo, o caçula, estava à esquerda do pai, e três cadeiras depois de Don Salvatore. Ele já havia feito dezoito anos e sua festa tinha sido memorável, um evento que ainda reverberava na memória de todos nós. Massimo era carismático e adorado por muitos, assim como seu pai. Na cadeira à frente de Massimo estava Luca, o terceiro filho de Salvatore com Lucrezia. Com seus vinte anos muito bem vividos em festas e farras italianas, Luca era conhecido pela sua personalidade extrovertida e sua inclinação para o lado mais extravagante da vida. Sentado do lado direito de Massimo, estava Matteo, o segundo filho do líder da família Mancuso. Com vinte e um anos, Matteo era responsável por todas as operações da família no Canadá, e sua reputação como um estrategista brilhante estava bem estabelecida. E, claro, sentado à direita de Don Salvatore, estava Dante Mancuso, o primogênito e o próximo líder da família. Com seus 25 anos, Dante era um homem de presença imponente, seus olhos cor de mel lembravam Lucrezia, mas sua fisionomia fechada e seu jeito eram inegavelmente de Salvatore. Era o maior orgulho do mafioso, e todos esperavam que ele liderasse a família com sabedoria e firmeza no futuro. No entanto, Dante não era apenas o primogênito da família Mancuso, ele era o meu maior rival. Desde a infância, ele sempre encontrava maneiras de deixar claro que eu não fazia parte da família de verdade. Ele foi quem me apelidou de "Bambi" quando éramos crianças, referindo-se ao filme "Bambi". Mas o apelido não era um diminutivo carinhoso, como Lucrezia costumava me chamar de "Bambolina". Para Dante, era uma maneira c***l de me lembrar que, assim como Bambi, eu havia perdido meus pais e que ele considerava isso uma fraqueza. Então, gradualmente, todos os irmãos passaram a me chamar assim, reforçando a exclusão e a diferença entre nós. Eu era a intrusa na família, a menina que não pertencia ao círculo interno. Dante, em particular, sempre encontrava maneiras de me lembrar disso, tornando minha relação com ele tensa e hostil ao longo dos anos. Enquanto me aproximava da mesa e ocupava o meu lugar, a cadeira a esquerda de Don Salvatore, o olhar de Dante se fixou em mim por um momento, e pude ver um leve sorriso sarcástico nos cantos de seus lábios. Ele sabia o impacto que suas palavras tinham sobre mim e parecia ter prazer em me lembrar de que eu era uma estranha na casa dos Mancuso. Don Salvatore quebrou o silêncio, direcionando a mim, sério. "Bambolina , minha querida, feliz aniversário!" Disse Don Salvatore, segurando meu rosto. "Obrigada, Don Salvatore." Agradeci enquanto segurava a mão dele e beijava seu anel, afinal ele era o líder da família. Ele se levantou, se aproximou e me deu um abraço afetuoso. Era um gesto que significava muito mais do que palavras poderiam expressar. Era um reconhecimento do vínculo que compartilhávamos, da jornada que percorremos juntos. Massimo, o caçula e sempre carismático, foi o primeiro a quebrar o silêncio. Com um sorriso caloroso, ele disse: "Parabéns, Bambi. Espero que este seja o início de uma nova e emocionante jornada para você." Eu sorri de volta para ele, agradecendo sinceramente. Massimo era gentil e simpático, um contraste marcante com o irmão mais velho, Dante. Logo depois, foi a vez de Matteo oferecer seus parabéns. Ele era um homem de poucas palavras, mas seu olhar sério transmitia respeito. Luca, com sua personalidade extrovertida, fez um brinde com uma taça de vinho, exclamando: "Aos dezoito anos de Bambi! Que você continue a nos surpreender com sua força e determinação." Cada parabéns aquecia meu coração, mas todos nós sabíamos que o momento mais tenso estava por vir. Dante, o primogênito e próximo líder da família Mancuso, permaneceu em silêncio, seu rosto sombrio e seus olhos fixos em mim. Don Salvatore olhou para o filho mais velho, uma expressão de expectativa em seu rosto, mas o silêncio de Dante chamou a atenção de seu pai, que o encarou com uma expressão séria. Don Salvatore não tolerava desrespeito ou insubordinação, mesmo de seu próprio filho. "Vamos, Dante, cumprimente Catarina," disse Don Salvatore com firmeza. No entanto, quando finalmente Dante quebrou o silêncio, suas palavras não foram de parabéns, mas de desdém. "Sei una bastarda", ele murmurou, encarando-me com desprezo. O insulto cortante ecoou na sala, e todos se calaram, chocados com a falta de respeito de Dante em um momento tão importante. Sei una bastarda era um insulto que Don Salvatore jamais permitiria em sua casa. Ele bateu na mesa com força, seu olhar furioso fixado em seu filho. "Peça desculpas, Dante," Don Salvatore ordenou com voz firme. Dante, por sua vez, manteve seu olhar desafiador e recusou-se a se desculpar. "Não vou pedir desculpas a ela," ele respondeu teimosamente. A tensão na sala era palpável, e eu podia sentir os olhares de todos sobre mim. Mas eu não me abalei. Afinal, eu sabia que aquele insulto era apenas um reflexo do ressentimento de Dante por não ter conseguido fechar o acordo com os Solncevskaja Bratva, ao qual eu havia contribuído. Com calma, respondi: "Tudo bem, Don Salvatore. Eu não esperava menos de alguém como Dante. Acredito que a gagueira de ontem ainda não passou... Zdra... Zdra...vstv... Zdra...uite! " Dante se levantou irritado da mesa e saiu da sala sem dizer uma palavra a mais. Don Salvatore suspirou, olhando para mim com uma mistura de preocupação e frustração. "Em algum momento, Bambolina, essa briga entre você e Dante precisa acabar," ele disse, passando a mão pelo cabelo grisalho. Eu concordei com um aceno de cabeça, não querendo estragar o dia com discussões familiares. Era um dia especial, afinal de contas. "Concordo plenamente, Don Salvatore o momento não é propício para discutir isso. Hoje deveria ser um dia de celebração." Don Salvatore sorriu para mim e disse: "Sim, vamos desfrutar do seu aniversário. ” Assenti com seriedade. "Sim, Don Salvatore. Acredito que também é o momento de falarmos sobre a Toscana. Eu posso ser uma valiosa aliada na expansão de nossos negócios naquela região." Minha solicitação de liderar as atividades da Ndrangheta na Toscana era ousada, mas eu estava determinada a mostrar que era digna desse desafio. Sim, normalmente esse território seria liderado pelo herdeiro, mas havia outros territórios tão importantes quanto para Dante liderar. E eu estava pronta para provar isso. “Depois, conversaremos sobre o cargo que você pediu como presente de aniversário." Disse Don Salvatore se levantando. “Agora preciso ir e verificar se os preparativos do seu baile de máscaras estão bem encaminhados.” Eu não podia deixar de sentir a tensão ainda presente na sala. Mas por ora, eu estava pronta para escrever o meu próprio futuro na história da nossa família.
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