Toque quente como no passado

2514 Words
Aquela mesma malícia presente em um sorriso juvenil, era algo da qual jamais se esqueceria. O toque quente de suas mãos, pareciam ser capazes de sentir o batimento acelerado de seu coração. Não importava o quanto tentasse, ela sabia que iria fraquejar quando o encontrasse. Empurrara o peitoral do rapaz dispensando de sua ajuda para ficar em pé. No entanto, ele a pressionara ainda mais contra seu corpo. — Continua sendo teimosa, não? — Sussurrava ele, arqueando a sobrancelha para aqueles olhos azulados — Diga-me onde devo levá-la para curar de tuas feridas. Ele se levantara a mantendo em seus braços, como se o peso não o incomodassem. Maybelle o encarara ainda estupefata e sem saber o que lhe dizer. Não. Mesmo que as palavras estivessem prontas em sua língua, o nó na garganta não a permitiria pronunciar algo. Somente de manter contato visual com aquele âmbar, já se sentia confusa o suficiente para não saber o que dizer. Havia tanto o que lhe perguntar. — Ei, quem és tu e o que fazes com essa dama? Maybelle olhara por cima do ombro encontrando Luka junto de Klyn. O príncipe encarava furiosamente para que o rapaz desconhecido, que se quer lhe direcionara a atenção. A caçadora se remexera nos braços do rapaz, que tornara a lhe apertar. Porém as feridas ainda lhe doíam e sangravam, deixando escapar de um gemido. — Estais ferida, Maybelle? — Luka aproximou-se segurando a bainha da espada que carregava em seu cinto, fitando furiosamente para o desconhecido — Solte-a imediatamente. — Ou o quê? — Ou o matarei aqui mesmo. Desembainhando a espada, o príncipe apontara a lâmina contra o pescoço do desconhecido. Maybelle suspirou e espreitara os olhos para o rapaz, que apenas alargava seu sorriso e sua malícia. — Está tudo bem, vossa alteza — Pronunciara após alguns instantes na troca de olhares — Contarei o que houve enquanto cuido de minhas feridas. — Estais ferida? Mas como… — Então, onde te levo, Belle? — Leve-me para a torre oeste — Apontara para a torre alguns metros atrás de si — E sem gracinhas. — Eh, que durona. Maybelle segurara a lâmina que o príncipe mantinha empunhada, e apertara contra o pescoço do rapaz, fitando-o furiosamente. — Faça alguma gracinha, e eu mesma corto de sua cabeça. — Onde fora parar a garota pelo qual me encantei? — Respondia o rapaz, passando a caminhar em direção da torre. Atrás de si, príncipe e Klyn os seguiam atentos e alarmados, sem soltarem de suas espadas. A caçadora de lobos fora ferida, havia um rapaz estranho a segurando, e toda a atmosfera entre eles era estranha. O que quer houvesse ocorrido enquanto o baile acontecia, não era um bom sinal. O rapaz desconhecido entrara na torre e subira as escadas seguindo as instruções de Maybelle. Mantivera-se em silêncio, fosse por ser sábio ou por não ter o quê dizer. Durante o trajeto a caçadora mantivera os olhos fechados para evitar excesso de contato, porém ter sua pele a tocando parecia lhe tirar a seriedade com facilidade. Se não bastasse sua presença inexplicável, ainda haviam chances de dois lobos estarem próximos ao castelo. Para sua preocupação não fazia ideia se o vilarejo também fora atacado. Considerou a calma de Luka e Klyn, pois não transpareciam nenhum terror de ataque. Pelo menos o pior cenário não parecia ocorrer. Chegado ao quarto da torre, o rapaz a sentara em uma poltrona sendo logo empurrado por Luka, que se aproximara de Maybelle. — Deixe-me cuidar de tuas feridas. — Luka ajoelhou-se para averiguar a mordida no ombro, arregalando os olhos com tamanho estrago na pele da moça. Maybelle percebera e lhe tocou gentilmente a mão. — Ficarei bem, vossa alteza. — Então, quem é você? — Questionava Klyn, apontando da espada novamente para o rapaz. — E o que faz aqui? O rapaz erguera as mãos em rendição, mostrando um olhar desinteressado para o serviçal. — Vim apenas salvá-la de alguns lobos. — Fostes atacada por lobos? — Gritara Luka ao passar um pano de algodão sobre as feridas, as limpando. — Dois apareceram da Floresta Uivante. Um deles consegui ferir o suficiente para que batesse em retirada. O outro também parece ter fugido quando Gayle apareceu. O rapaz abrira um enorme sorriso, espreitando os olhos para Maybelle. — Ora, ora, ainda lembra de meu nome. — Vocês dois se conhecem? Luka olhara para o rapaz de cima à baixo, apertando o pedaço de pano entre seus dedos. Cabelos negros espetados para cima, olhos cor de âmbar e felinos. Era alto e parecia ser forte, além de ter uma presença difícil de ignorar. — Muito bem, é claro. E você, por que rondas de minha Belle? — Sua… o quê? Faltas respeito com a senhorita! Não ouse chamá-la de maneira pessoal quando és um forasteiro aqui. — Oh… isso é interessante. — Ainda não me respondeu — Avisava Klyn fazendo um pequeno corte no pescoço de Gayle. — O que faz aqui? — Estou aqui por motivos pessoais e egoístas — Finalmente dizia, passando a ponta do indicador no pequenino corte limpando o filete de sangue, levando o dedo à boca — se não fosse por mim, ela teria sido morta pelo lobo. — Deveria te agradecer? — Questionava Maybelle inclinando-se para deixar o príncipe cuidar de sua ferida no ombro. — Está o deixando tocá-la por demais, Belle. Ele espreitava os olhos, e ela também. Ambos de cenhos cerrados como se estivessem furiosos um com outro. Apoiando-se em seus joelhos, Maybelle esforçara-se para se desligar das dores em seu corpo. Talvez a dor emocional fosse maior do que a física. — Deveríamos prendê-lo. — Não irá adiantar, ele sabe escapar. Vossa alteza, irei ver o médico e ele cuidará disso por mim, não há motivo para que esteja fazendo tal trabalho. — Muito bem pelo contrário, é o mínimo que devo fazer. Enquanto eu me divertia, tu estivestes lutando com lobos. — O príncipe levantou-se do chão e afagara os cabelos de Maybelle. — Mas chamarei o médico, pois precisará costurar de tua pele. Os cabelos macios e negros de Maybelle eram tocados pela mão grande e fria do príncipe. Seu pulso fora segurado pela força e quentura de Gayle, que havia se movimentado tão rápido quanto um raio. Passando a olhar por cima do ombro, Luka encontrara o âmbar arder em frieza. — Não a toque. — Como ousas… — Pode ser um príncipe, mas não sou do teu povo. Toque-a novamente, e eu o mato. — Eu sou do povo dele. E estou à serviço do rei para m***r qualquer lobo. — Qualquer um, hein? — Gayle soltara a mão de Luka e se agachara em frente da poltrona em que a caçadora estava sentada — Jamais conseguirá me m***r, Belle. — Não fale o que não sabes, Gayle. Não sou nenhuma garotinha frágil. — Não. Tornaste-te uma mulher, mas a fragilidade não lhe abandonara e muito menos seria uma fraqueza — Gayle erguera-se e aproximou-se da janela — Acostume-se com minha presença, pois não sairei do seu lado. Não novamente. — E se eu não quiser? — Não há escolha, precisarás de mim — Gayle subira na janela, olhando-a sobre o ombro com os olhos alegre — A farei minha novamente, e a protegerei custe o que custar. Não esperou por uma resposta, ele saltara da janela e desaparecera na escuridão da Floresta Uivante. Maybelle suspirara e apoiava a cabeça em seus braços. — Preciso descansar, mas antes quero relatar sobre os lobos ao rei. — O chamarei junto do médico. Klyn embainhara da espada e se retirara do quarto, deixando apenas Luka e Maybelle. Nenhum dos dois falou algo, tampouco era preciso. As pérolas azuladas tremiam como se fossem se afogar em lágrimas. Não era o momento ideal para lhe questionar sobre aquele rapaz. ? — Então, estávamos certos sobre alguma matilha rondar Grevers e Aurillon. Preocupo-me com isso, uma vez que atacaram agora existem grandes chances de ocorrer um novo ataque. — Deixar os soldados preparados é uma opção, vossa majestade. — Irei oficializar um treinamento para eles — Concordava o rei, acariciando a testa — Trata-se da mesma matilha? — Sim senhor. Reconheci um dos lobos, creio que fosse ele quem tirou a vida de meu pai. — Entendo. Mais um motivo para estarmos preparados. — O rei erguera a cabeça percebendo o silencio do príncipe, encostado em um canto e de olhar triste. Em seguida, fitara a caçadora que recebia dos tratamentos do médico real. — Fiquei sabendo que havia mais uma pessoa no reino. O conhecestes? Maybelle encarara o rei e então suspirou em derrota. Deveria saber que Klyn poderia ter contado alguma coisa enquanto trazia o rei para a torre. Imaginava que a presença de Gayle deixaria todos alarmados, já que era um desconhecido da qual conseguira entrar em Aurillon com facilidade sem ninguém perceber. Um ataque de lobos seria o suficiente para frustrar o rei, agora um garoto? — De certa forma, vossa majestade. — E ele é de confiança? O rei sustentava o olhar da caçadora para impedir que desviasse e mentisse para si. No entanto, Maybelle não sabia como lhe responder. Onze anos haviam se passado desde a última vez em que o vira. Da mesma forma como ela teria mudado, acreditava que Gayle também mudara. Infelizmente não sabia se era bom ou r**m. Conhecendo-o, era possível que ele fizesse o quem bem quisesse. Se ele disser que ficaria ao seu lado, era provável que faria de tudo para cumprir com suas palavras. Ou pelo menos ela acreditaria que ele faria. Não fazia a menor ideia de quais seriam suas intenções, e muito menos de quais foram os seus motivos para partir onze anos antes para agora retornar. Estava diante de um caminho escuro e frio, sem nenhuma luz para lhe guiar. Como poderia confiar nele? Abrindo de um sorriso doce, Maybelle retribuía o olhar do rei. — Talvez. — Muito bem. Deve estar cansada por hoje. Descanse e amanhã planejaremos melhor a situação. Caso esse rapaz volte, deixarei que cuide dele com suas mãos. — Mas pai… tens certeza disso? — Luka, tens outras coisas das quais para se preocupar. A Lua Cheia está para chegar. — Mas... — O príncipe suspirara e erguera a cabeça e os ombros — Sim senhor. — Pois bem, meus jovens, irei me recolher. Assim que o rei se retirou dos aposentos junto de Klyn e o médico, Maybelle relaxara na cama sentindo seu corpo permanecer tenso. Já havia enfrentado diferentes tipos de lobos em suas andanças, e sua principal lição era lidar com o medo de encarar aquelas presas. Não reclamaria de seu corpo, uma vez que era o instinto de humano falando mais alto. Ainda assim, era difícil lidar com as dores. Massageando as pernas suavemente, observara que o príncipe permanecera na torre. Suspirara pesado e alto para lhe chamar a atenção, mas nenhum olhar lhe fora direcionado. Mais um problema para lidar. — O que há, vossa alteza? — Ousara questionar, levando uns instantes para ouvi-lo suspirar. — Aquele cara… parecia a conhecer tão intimamente… Belle. — Maybelle — Corrigira ela, percebendo que Luka a olhava agora. — E é isso o que o incomoda? — Talvez. — Deveria estar incomodado com o fato de lobos terem entrado em seu reino, e não com um cara desconhecido. — Sabes muito bem o motivo de minha angustia, Maybelle. — Luka virou-se aproximando da cama em que a caçadora estava — Pode ignorar de meus sentimentos, mas isso não os tornarão inexistentes. Mais uma vez ela tinha o olhar sustentado. Assim como o rei, Luka sabia muito bem como fazer alguém lhe encarar para dizer a verdade, sem jamais fugir pela mentira. Tal pai, tal filho. Puxando a coberta sobre as pernas gélidas, Maybelle se acomodou na cama como se preparasse para contar algo terrível. Sua história de vida não deveria ser tão h******l assim. — Conheci Gayle antes de Grevers ser atacado pelos lobos. — Parece-me ser bem mais do que apenas se conhecerem. Vocês se envolveram, não é? Seu peito se apertara. Apertando os dedos em seu peito, Maybelle encolhera-se deixando seus cabelos esconderem a expressão mais frágil que havia em si. Conseguia se lembrar com exatidão todas as palavras, todas as carícias, todos os momentos em que estiveram juntos. Todas as vezes em que ele lhe sussurrara no ouvido com tamanha ousadia, mesmo sendo mais novo que ela. Junto das lembranças doces, haviam as lembranças mais amargas. O dia em que ele desaparecera sem deixar rastros, sem dizer adeus ou do porquê ter partido. Apenas deixara para trás uma garota apaixonada em meio à lágrimas, louca em sua procura. — Aquele i****a, acha que pode aparecer na minha vida desse jeito. O príncipe nada disse. A voz de Maybelle carregava tantos sentimentos e emoções, que era nítido compreender sua dor. Optara por manter os seus por quês apenas para si, pois naquele instante ela sofreria mais. Luka abraçara os ombros de Maybelle cuidadosamente, e lhe afagara os cabelos negros. — És uma mulher forte, minha cara Maybelle. Descanse por hoje e erga de teus ombros amanhã. Temos alguns lobos para chutar o traseiro. Ela rira sem levantar a cabeça. Permanecera encolhida nos próprios braços quando a presença de Luka se fora. Somente então se permitira chorar. O que lhe surpreendera fora perceber que não chorara por raiva, ou de tristeza. Chorava de alívio. Ele estava bem, no final das contas. O vento balançava a cortina da janela mascarando a chegada dele. Em passos silenciosos, chegara perto de Maybelle o suficiente para envolvê-la em seus braços e esconder seu rosto em seu peito. Ela reconhecera o cheiro no mesmo instante, cortando de seus soluços. Mas sem conseguir erguer o rosto para olhá-lo. Quantas vezes seria acalentada naquela noite? Parecia tão frágil assim para os outros? — Eu disse que ninguém deveria tocá-la. — Ah, sua voz soava gentil em seus ouvidos. Rouca e baixa, tão quente quanto seus braços e peito. Maybelle fechara os olhos ainda permitindo que as lágrimas viessem. — Devo impregná-la com meu cheiro para deixar claro que és minha. Maybelle erguera a cabeça, sem se afastar do peitoral de Gayle. — Não ouse entrar em minha vida, Gayle. Gayle inclinou-se para encostar sua testa à de Maybelle, sem desfazer do abraço quente que a envolvia. — Tarde demais, Belle. Ele sorria com tamanha facilidade que parecia um jogo de sedução. Maybelle conseguira perceber o quão fragilizada estava naquele momento. Tudo por causa da presença dele. No entanto, não lhe restava nenhuma força para afastá-lo, ou de interrogá-lo. Seus olhos pesavam com o calor que recebia, e por isso acabara por fechá-los e se entregar aquele toque. Pelo menos daquela vez, se permitiria ficar tranquila nos braços de Gayle, como se ainda tivesse quinze anos de idade. ───────•••─────── Agora estamos acostumados a ficar em lugares diferentes As lágrimas caem sobre os momentos que vivemos juntos ?
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