5- Patrícia

3319 Words
Miguel sai me deixando sozinha e eu pego o tal celular para ver o que tem nele, ligo o aparelho e assim que o mesmo acende vejo uma foto minha com aquele cara e também com Olívia, somos mesmo uma família como ele e sua irmã insistem em dizer. Allana chegou depois que Miguel saiu e ela foi mais uma a se decepcionar com a minha falta de memória, ela chorou enquanto me mostrava fotos nossas no seu celular e também nas redes sociais, fotos minhas beijando Miguel e até mesmo fotos do nosso casamento que Allana havia postado, estávamos lindos de noivos e parecíamos muito felizes, não acredito que me casei a poucos dias e não me lembro disso, aparentemente eu tenho uma vida feliz e eu queria muito me lembrar disso, mas não consigo. — Porque isso tinha que acontecer comigo? Não me lembro de ninguém? Não me lembro da minha vida e nem de já ter amado essas pessoas. — Questiono a minha mesma pensativa e encaro o telefone em minhas mãos. Passo algumas fotos e depois da quinta eu desligo o aparelho colocando-o de volta no lugar, me sinto tonta de tanto pensar e forçar a minha mente para me lembrar de todos, não aguento mais isso então vou ter que começar do zero, não vou quebrar a minha cabeça tentando fazer algo que não consigo, vou aceitar voltar com aquele homem para sua casa já que somos casados, mas vou fazer isso apenas pela menina e pela senhora que se disse ser minha mãe, não vou viver com esse homem como marido e mulher se eu não me lembrar dele e da nossa vida juntos, para mim ele é um estranho e não vai passar disso, a menos que ele queira a minha amizade, não posso oferecê-lo mais nada além disso. Depois de alguns poucos minutos sozinha, Miguel entra acompanhado de uma enfermeira, eles vem até a mim e Miguel mais uma vez me pega no colo me tirando da cama, ele me leva até o banho mais uma vez e me deixa sozinha com a enfermeira que me ajuda no banho. Até que ela é bem atenciosa e teve todo cuidado do mundo comigo, mas quando termino o banho e me visto, eu saio do banheiro em uma cadeira de rodas para não me cansar tanto. Miguel me ajuda mais uma vez me colocando de volta na cama pois não consigo subir sozinha sentindo tanta dor na costela. A noite foi passando e vejo Miguel sentado ao lado da minha cama com a sua atenção no celular, não digo nada mas vejo que ele está insatisfeito com alguma coisa, a vida é dele e os problemas também, eu não tenho nada a ver com isso então tento dormir e descansar um pouco. Na manhã seguinte acordo com um carinho gostoso no rosto e uma voz bem baixinho me chamando de filha, tento abrir os olhos mas minhas pálpebras estão pesadas, esfrego os olhos e abro-os me deparando com aquela senhora ao meu lado, ela tem um sorriso gentil em seu rosto e me encara com ternura. — Bom dia, querida, como você está se sentindo hoje? Está melhor? Eu não aguento mais te ver nesse hospital filha. — Ela abre mais o seu sorriso mas vejo-a ficar triste quando fala do tempo que estou aqui. — Bom dia... Estou melhorando aos poucos... — Encaro-a atenta mas vejo também a mesma senhora de antes junto com o seu marido conversando com Miguel e o médico que me atendeu ontem. — Que bom, querida, estou muito feliz porque você terá alta até o fim do dia, o médico trouxe os seus novos exames e aparentemente está tudo bem com você, os exames não apresentaram nenhuma alteração grave, apenas um inchaço no cérebro mas isso vai melhorar com o passar dos dias, depois o seu marido te explica melhor sobre isso porque eu só quero ver você sair logo daqui. — Conta calmante enquanto segura a minha mão com carinho, mas eu tenho a minha atenção nas pessoas do outro lado do quarto. — É bom saber que finalmente vou sair daqui... Moramos perto uma da outra? Você me visita com frequência? Pode passar algum tempo comigo para me contar sobre a minha vida? — Pergunto na esperança dela ficar comigo e assim me ajudar a evitar que me cobrem as minhas obrigações de esposa. Não vou ceder a Miguel sem me lembrar dele, se um dia eu me apaixonar por ele, com certeza viveremos a nossa vida juntos se assim ele ainda quiser, mas nesse momento para mim ele é só um completo estranho. — Mas é claro que eu fico com você, filha, o seu marido já conversou comigo e me pediu para ficar com você até que se sinta melhor, e é claro que eu aceitei, o seu marido sempre foi muito gentil comigo. — A sua revelação me pega de surpresa com essa novidade, não esperava que ele fosse pedir que ela fique comigo. — Sei que você não se lembra, mas, seu marido te conquistou quando nos levou para Fernando de Noronha, em uma viagem de iate para eu sair da minha depressão, perder o seu pai me destruiu e você se preocupava muito comigo, e para não te ver triste por minha causa, ele preparou uma surpresa para nós duas, mas você não resistiu em pedir que ele ficasse e vocês acabaram se entendendo definitivamente, assumiram o compromisso durante a viagem. — Ela conta me fazendo encarar Miguel surpresa. Droga! Então os meus planos não sairão como estou planejando! — Me desculpe, mas, Miguel me disse o seu nome mas eu acabei me esquecendo... Me desculpe por não chamá-la de mãe ainda, peço que tenha um pouquinho de paciência comigo, e não se zangue se eu não souber lidar com essa situação, por favor...? Ainda é tudo muito confuso e essa dor na costela não está me ajudando. — Argumento sem jeito e ela sorrir de forma doce e gentil. — Não se preocupe, meu bem, eu terei toda a paciência do mundo com você... Meu nome é Priscila e não vou me zangar com você, filha, o mais importante para mim é que você está bem e vai sair logo daqui, isso é tudo que eu mais quero. — Ela se emociona mas não tira o sorriso do seu rosto, e mesmo assim, encaro-a sem graça. — Obrigada... Me ajeito na cama e nesse momento vejo uma senhora com a roupa de hospital entrar com o meu café da manhã, e eu agradeço por isso. Estou morrendo de fome! — Com licença, Sra. Ferrari... Trouxe o seu café da manhã. — Ela coloca na bandeja um copo de café com leite e alguns biscoitos de sal, além de um copo de suco. — Obrigada, eu estou mesmo faminta. — Sorrio encarando o copo de café enquanto ela arrasta a bandeja suspensa até a mim. Pego o copo de café para beber mas sinto o meu estômago revirar com o cheiro do café, coloco-o de volta no mesmo instante e chamo a senhora que está prestes a sair. — Espera senhora! Me desculpe, mas, tem como levar esse café daqui? O cheiro está me deixando enjoada, não quero vomitar de novo. — Peço fazendo careta pondo a mão no estômago e ela volta rapidamente. — Me desculpe senhora, tudo que eu menos quero é que a senhora passe m*l. — Se desculpa envergonhada como se isso fosse sua culpa, eu sorrio para ela. — Não precisa se desculpa, mas se puder me trazer um... Um... Droga! Eu não me lembro nem do que eu gosto de comer. — Digo ainda sorrindo mas respiro frustrada por não me lembrar de detalhes tão simples como o gosto da comida. — Omelete com presunto e vegetais, croissants de frango com cream Cheese e suco de abacaxi com hortelã... Isso não pode faltar no seu café da manhã, a nossa empregada se zanga com ela mesma quando se esquece de fazer algo que você goste. — Me surpreendo com Miguel se aproximando e ele tem aquele mesmo sorriso de ontem. — Bom, acho que eles não vão me trazer tudo isso para o meu café da manhã... Agora que disse minha boca encheu d'água de vontade de comer... Será que não liberam tudo isso para uma grávida faminta? Você abriu a boca e me deixou com desejo, agora se vira, Sr. Ferrari! — Ergo uma sobrancelha e ele abre ainda mais o seu sorriso, coçando a cabeça. Não tem como negar que ele é muito bonito, mas ainda assim não o quero tão próximo de mim. — Promete não se zanga comigo se eu não conseguir? Eu me esqueci desse lance de desejo de grávida, ou então não teria dito nada para não ficar nessa saia justa. — Miguel se aproxima mais ainda sorrindo e para ao meu lado. Porque a sua aproximação me deixa tensa se eu não me lembro dele? — Prometo não me zangar mas você tem que ir agora... E não demora muito, ou morrerei de tanta fome. — Me ajeito na cama e novamente sinto a minha costela doer e faço careta de dor. — Tente não se mexer tanto, meu amor, o ideal é que você permaneça deitada porque sentada vai comprimir o ferimento na sua costela... Não suporto ver você sentindo dor, isso dói em mim também. — Seu tom é preocupado e mais uma vez me chama de amor, me sinto estranha quando ele me chama assim. — Está bem, eu vou ficar deitada mas vai longo, estou com fome. — Encaro-o séria mas ele sorrir abertamente. — Você se esqueceu de tudo, menos desse seu jeito mandão, não é? Fico feliz por isso, pois foi esse seu jeitinho esquentado que fez eu me apaixonar por você. — Revela tocando o meu rosto em um gesto suave e sinto a minha pele se arrepiar. — Vou fazer uma ligação e vou conversar com o médico sobre esse seu desejo, não me demoro. — Ele encara a minha boca um pouco mais sério e se afasta me deixando confusa. Vejo-o se aproximar do médico que ainda conversa com aquelas pessoas no canto do quarto, logo os dois saem e a senhora ao meu lado me dá aquele sorriso gentil. As outras pessoas se aproximam sorrindo para falar comigo, eles perguntam como estou e se estou sentindo alguma coisa, tento ser o mais gentil possível mas já estou farta de ficar repetindo tudo para todo mundo a toda hora, isso é cansativo demais. Mesmo assim, converso com eles que me contam acontecimentos da minha vida junto a eles, mas graças a Deus não me pedem para eu tentar me lembrar, todos estão sendo muito gentis comigo e eu gosto disso, me sinto bem com eles apesar de não me lembrar de ninguém. Alguns poucos minutos depois entram no quarto Miguel com a filha no colo e sua irmã Allana ao lado do namorado, e também o rapaz de ontem que chamou Miguel de irmão, acho que Allana me mostrou uma foto dele mas não me lembro direito, minha cabeça ainda está confusa. — Mamãe! Você não está triste, você está sorrindo. — Diz Olívia no colo do pai se jogando para o meu lado, Miguel se aproxima com receio de colocá-la na cama. — Bom dia, princesa, como você está? Dormiu bem? Tomou o café da manhã direitinho? — Sorrio estendendo a mão para ela e finalmente Miguel a coloca sentadinha ao meu lado. — Sim, mamãe, eu dormi bem porque sabia que você também está bem, o papai disse que você vai pra casa hoje, é verdade? — Comenta empolgada e se deita ao meu lado me dando um beijo carinhoso, me fazendo sorrir. — É sim, meu amor, pelo que soube, eu volto pra casa hoje e assim você vai poder ficar pertinho de mim todos os dias. — Devolvo o seu sorriso amoroso mas encaro-a pensativa. — Você já está estudando, filha? Está na creche? Me desculpe mas a mamãe não se lembra disso. — Acaricio o seu rostinho mas sinto novamente a minha costela doer. — Sim, mamãe, eu estudo na creche com os meus amiguinhos, e eu sempre faço muitos desenhos bonitos pra você... Você vai me levar na creche de novo? Você não vai mais viajar com o papai? — Conta empolgada ao falar dos amiguinhos mas me encara atenta esperando a minha resposta. — Eu ainda preciso me recuperar para levar você na creche, minha linda, a mamãe ainda não vai poder levar você, entende...? E eu e seu pai não vamos mais viajar, vamos deixar essa viagem para uma próxima ocasião, não é Miguel? — Explico calmamente mas no final, encaro Miguel que respira fundo parecendo frustrado. — Sim, Patrícia, deixaremos para próxima ocasião. O seu café da manhã já está chegando, o meu motorista está trazendo então vou até a recepção esperar por ele, com licença. — Ele olha o celular mas seu tom de voz diz claramente que ele está não só frustrado mas também incomodado com alguma coisa. Miguel sai sem dizer mais nada e eu converso com uma por uma das pessoas aqui no quarto, mas Bruno sai a procura do irmão quando reclamo que estou com fome, não entendi o porquê Miguel saiu daquele jeito mas também não quero saber de nada, seja lá o que for eu sei que ele vai resolver do jeito dele. Alguns minutos depois Bruno volta com Miguel e uma pequena bolsa térmica, mas diz que terei que comer escondido para os médicos não verem, sorrio por essa travessura e todos saem do quarto me deixando a vontade para comer, e também para não deixarem ninguém entrar, mas Miguel e Olívia ficam comigo me admirando enquanto eu como, vejo que Miguel sorrir enquanto me admira, pelo visto ele não está mais chateado seja lá com o que for. — Porque está me olhando assim...? Está me deixando constrangida por achar que estou lambuzada feito uma criança. — Questiono enquanto como e ele sorrir ainda mais. — Estou me lembrando de como você estava comendo bem alguns dias antes do casamento... Era pela gravidez... Até o seu apetite s****l aumentou consideravelmente algumas semanas atrás, você estava me deixando louco querendo fazer amor à toda hora em todo lugar. — Ele abre um sorriso malicioso e eu sinto o meu rosto queimar de vergonha. — Tem certeza que você quer falar disso na frente da sua filha? Não adianta você fazer esse tipo de comentário porque eu não vou me lembrar de nada, se esqueceu...? Não temos mais a mesma i********e de antes, eu não te conheço e não quero você falando de assuntos que me deixe constrangida. — Contesto irritada e tento descer da cama, mas desisto quando sinto a minha costela doer. — Tudo bem, me desculpa? Não precisa se alterar, fica quieta nessa cama, se ficar se mexendo tanto isso pode agravar o ferimento na sua costela... Droga...! Eu não pedi essa situação Patrícia! Você é minha mulher e eu quero a minha mulher de volta, caramba! — Me repreende irritado e esbraveja a última parte, nesse momento os outros entram no quarto e eu me deito respirando fundo. — O que está acontecendo aqui? Vocês estão brigando? — Pergunta a senhora que conheci como mãe dele, não digo nada, apenas encaro o teto para não ter que encarar as pessoas a minha frente. — Não estamos brigando, mamãe, eu só não consigo lidar com a ideia de que eu acabei de me acabar mas não tenho mais a minha esposa, isso é frustrante! É irritante e eu não quero isso! Eu quero a minha mulher de volta! — Esbraveja irritado e sinto Olívia me abraçar apertado assustada com os gritos do pai. — Eu quero ficar sozinha! Estou enjoada e preciso descansar... Por favor eu quero ficar sozinha! Essa situação também não é fácil para mim... Imagina se fosse você no meu lugar acordando em um hospital e não se lembrasse nem de você mesmo? O que seria de mim? Como você reagiria a isso? Você aceitaria as minhas cobranças? — Esbravejo furiosa mas de um certo modo tentando fazê-lo entender como me sinto, ele apenas me encara sério atento a minha voz, assim como todos a sua volta. — Eu não conheço ninguém nessa sala e me custa acreditar que me casei com um homem tão esquentado, isso não entra na minha cabeça, eu estou cansada, estou estressada e confusa, meu corpo e a minha cabeça doem, é difícil lidar com todas essas pessoas entrando e saindo dizendo que faço parte da família de vocês, o problema é que eu não me lembro e não adianta me fazerem forçar a minha mente... Eu não consigo...! Droga eu não consigo e não aguento mais esse lugar...! Eu quero sair daqui... Não quero ter que dar explicações a todo mundo a toda hora... Eu estou cansada disso...! — Sinto minha voz embargada pelo choro e meus olhos embaçar, não resisto a tudo isso e choro, mas vejo que ele se preocupa com isso. — Não chora, mamãe...? Não fica triste por favor...? — Pede Olívia me abraçando também chorando e tento me virar para ela, mas não consigo pela dor na costela. — Se acalma, filha...? Precisamos dar um tempo a ela, muita gente no quarto só vai deixá-la mais alterada e ela não pode ficar nesse estado por causa da gravidez... Precisamos deixá-la descansar. — Pede a Sra. Priscila em um tom choroso e acaricia os meus cabelos. — Me desculpe, Patrícia...? Eu não queria deixá-la nervosa mas essa situação não está sendo difícil apenas para você, eu... Eu... Me desculpa? Eu vou me esforçar mais para tentar lidar com tudo isso... Me desculpa...? — Miguel me encara com um pesar na voz, ele fica ali por um instante mas sai do quarto em seguida e os outros se despedem saindo também. — Eu quero ficar com você mamãe...? Eu não quero ir embora, eu quero ficar com você...? Por favorzinho...? — Pede Olívia ainda chorando me encarando com as mãozinha entrelaçadas uma na outra. — Sim, princesa... Você pode ficar com a mamãe, assim eu não fico sozinha mas não chore mais, está bem? — Limpo o meu rosto atenta a ela, e ela faz o mesmo. — Está bem, mamãe, mas o papai pode ficar com a gente? Ele precisa proteger eu e você porque ele prometeu... Eu não gosto quando você e o papai brigam, eu fico triste. — Ela volta a chorar e eu abraço-a trazendo ela para mais perto de mim. — A gente não vai mais brigar, ouviu? O papai está triste porque a mamãe não consegue se lembrar dele, eu queria muito me lembrar de vocês mas eu não consigo, meu anjo... Mas nós podemos reviver tudo que fizemos antes da minha memória ir embora, o que você acha? Tudo que fizemos antes podemos fazer de novo, não é? — Tento espantar essa tristeza para longe de mim para não ver a menina ainda mais triste também. — Está bem, mamãe, a gente pode fazer muitas brincadeira e quando o meu irmãozinho nascer, a gente pode brincar com ele também. — Diz um pouco mais empolgada me fazendo sorrir. — Está bem, querida, podemos brincar muito e quando o seu irmãozinho nascer, nós também podemos brincar com ele... Você vai me ajudar a escolher o nome dele? Não sabemos se é menino ou menina, então temos que escolher dois nomes para quando soubermos o sexo do bebê... Precisamos de um nome de menino e um nome de menina. — Me empolgo no assunto na tentativa de esquecer o que aconteceu agora pouco, e vejo a Sra. Priscila ao meu lado apreensiva.
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