— Alguém deu uma medicação a ela e Patrícia teve reações, passou muito m*l e agora terá que ser monitorada pelos aparelhos. — Respiro fundo encarando o rosto abatido da minha mulher, provavelmente ela terá que ficar uns dias a mais no hospital depois disso.
— Eu sinto muito, meu irmão, eu saí por um instante para ir até a cantina mas ela estava dormindo, não achei que teria problema sair por uns minutos... Eu não devia ter saído. — Conta em um tom choroso e com certeza ela está se culpando assim como eu.
— Fica calma, maninha, ela vai ficar bem e o meu filho também. — Abraço a sua cintura puxando-a para mais perto e ela vem de bom grado.
—Então ela está mesmo grávida? Ela já estava desconfiada mas disse que faria um teste durante a lua de mel, ela queria te fazer uma surpresa e acontece tudo isso... Ela não se lembrou de mim também... Não acredito que isso esteja acontecendo, Miguel... A minha amiga, minha cunhada não se lembra de ninguém, mesmo mostrando fotos nossas a ela, Patrícia não se lembrou de ninguém. — Minha irmã chora me abraçando apertado, nesse momento Bruno entra com a minha filha chorando em seus colo.
— Me desculpe, irmão, ela não quer ficar em lugar algum, ela quer ficar ao lado da mãe e não sei se vou conseguir levá-la pra casa chorando desse jeito. — Meu irmão se aproxima e minha filha se joga para o meu lado, eu pego ela no colo.
— Obrigado, Bruno, todos vocês tem sido muito compreensivos comigo me apoiando tanto, valeu cara. — Abraço-o brevemente mas solto-o ao ouvir alguém reclamar.
— Ahhh... Dói... Está doendo... — Ouço a voz fraca da minha mulher e me aproximo novamente da sua cama.
— Onde está doendo, meu amor? O que está sentindo? Você consegue falar, Patrícia? — Toco o seu rosto pálido e ela murmura ainda de olhos fechados.
— Costela... A minha... Costela dói... — Diz em um tom cansado e finalmente abre os olhos, encarando Olívia.
— Porque você estava chorando, mamãe? O tio Bruno disse que você estava passando m*l, mas que vai melhorar, não vai? — Olivia pergunta entre soluços encarando a mãe que estende a mão para ela.
— Sim... Filha... A mamãe vai ficar... Bem, meu amor... Não se preocupe, está bem? — Diz com dificuldade mas faz sinal para colocar Olívia na cama.
— Com cuidado, meu amor, a mamãe ainda precisa descansar ouviu? — Aviso pondo-a sentada na cama e ela se deita ao lado da mãe.
— Me deixa ficar com você, mamãe? Eu não quero dormir sem você de novo, eu já fiquei um tempão sem você e o papai. — Pede ainda chorosa e Patrícia vira o rosto tentando encará-la.
— Me desculpe, filha... A mamãe ainda não pode sair do hospital, e... Os médicos não vão deixar você ficar, meu amor... Mas eu prometo sair logo daqui para ficar com você, combinado...? Eu vou ficar feliz se você for dormir em casa, em segurança com a vovó e a tia Allana... Ela me mostrou as nossas fotos juntas... Estou ansiosa para brincar com você, mas vou precisar ficar de repouso um pouco mais, para me recuperar e não perder o bebê, o seu irmãozinho que está aqui, na minha barriga... Eu vou precisar da sua ajuda... Você promete que vai me ajudar...? Você vai cuidar de mim, filha? — Ela explica ainda fraquinha e nossa filha a encara atenta, parando de chorar.
— Sim, mamãe! Eu vou cuidar de você pra você melhorar logo, está bem? Eu posso pedir pro médico deixar eu ficar com você, eu não quero ir embora. — Ela se senta beijando o rosto da mãe e eu me emociono com esse carinho delas, mesmo Patrícia não se lembrando dela.
— Você vai ficar triste, se a mamãe pedir pra você me esperar em casa...? Eu vou ficar mais tranquila sabendo que você está em casa com a vovó... O médico não vai deixar você ficar comigo, mas eu vou me recuperar logo e eu vou pra casa logo também, pra ficar com a minha princesa. — Diz calmamente erguendo a sua mão para acariciar o rostinho de Olívia, que a encara pensativa.
— Você vai ficar feliz se eu ficar com a vovó e a tia Lana? Então eu vou ficar em casa esperando você, mamãe... Mas não demora muito, tá bom? — Afirma minha filha me fazendo respirar aliviado, mesmo sem memória, Patrícia ainda sabe como lidar com ela melhor que eu.
— Está bem, princesa, eu prometo não demorar para voltar... Me deixa te dar um beijo? — Ela força um sorriso para mostrar que está tudo bem mas estou vendo que não, ela está muito pálida.
Olívia se inclina dando um beijo na mãe e vice versa, elas acariciam o rosto uma da outra e eu agradeço por minha mulher estar bem.
— Eu prometo que levo a mamãe pra casa logo, filha, mas agora que você já viu a mamãe, acho que está na hora de você ir, meu amor, a mamãe precisa descansar, ela precisa dormir um pouco e não vai poder ficar conversando para não se cansar, mas quando ela chegar em casa você vai até poder dormir com ela, está bem assim, minha vida? — Acaricio os seus cabelos e encaro Patrícia que tem os seus olhos atentos na nossa filha.
— Tá bem, papai, eu vou com o tio Bruno e a tia Lana. — Diz decidida e eu sorrio por ter uma filha tão forte e inteligente.
— Ok, amor, vem com a tia, hoje nós vamos dormir juntas até a mamãe chegar em casa, ouviu? — Allana pega ela colo e eu beijo as duas me sentindo aliviado por tê-los ao meu lado.
— Obrigado, meus irmãos, eu vou dando notícias... Cuidem bem da minha filha, por favor? Ela é um dos meus tesouros mais valiosos. — Me despeço deles com beijos e abraços e eles retribuem.
— Sai logo dessa cama, Patrícia... Sei que não se lembra de mim mas eu sou o Bruno, seu cunhado e estamos todos ansiosos para te ver fora daqui, ouviu? Me desculpe por não ficar, sei que você precisa de tempo, além de precisar descansar... Melhora logo, cunhada. — Bruno se aproxima dela que o encara atento e apenas balança a cabeça concordando.
— Obrigada. — Diz envergonhada e eu me surpreendo com isso, a tempos não a via assim.
— Se precisar é só me ligar, irmão. Não se preocupe com a sua filha, ela será bem cuidada como sempre... Fica firme, cara, vamos nessa, maninha. — Bruno pega Olívia do colo da tia e eu os levo até a porta, me despedindo mais uma vez deles e da minha filha.
Eles saem do quarto me deixando sozinho com a minha mulher e eu volto na sua direção, ela está de olhos fechados respirando fundo, paro ao seu lado encarando fixamente o seu rosto e ela abre os olhos me encarando com os olhos pequenos de sono.
— Obrigada... Por não me deixar aqui sozinha... — Ela fecha novamente os olhos e eu pego a sua mão, depositando um beijo demorado.
Ela dorme e eu me sento na poltrona ao seu lado e percebo que a faxineira já saiu, respiro fundo puxando o ar para os meus pulmões. Encaro a minha mulher mais uma vez louco para ganhar um beijo, mas vejo os seus lábios esbranquiçados e sua pele pálida, não gosto de vê-la assim, Deus sabe o quanto está sendo difícil para mim vê-la nesse estado em uma cama de hospital.
Tento não pensar muito nisso para não enlouquecer, tento descansar um pouco mais, mas não posso dormir, tenho medo dela passar m*l novamente e eu estiver dormindo pois sei que o susto será grande.
Passo um bom tempo mexendo no celular para me distrair e aproveito para responder alguns e-mails importantes do trabalho, não estou com cabeça para isso mas a minha sócia e esposa não está em condições de resolver nada, então eu preciso fazer isso por nós dois.
— Água...? Por favor...? Eu quero água...? — Ouço sua voz fraca bem distante mas me levanto rapidamente me aproximando dela.
— Eu vou te dar água, mas você precisa beber aos poucos, está bem? — Pego uma garrafinha de água que eu havia deixado ao lado da sua cama.
Seguro ela pela nuca erguendo a sua cabeça e lhe dou a água aos poucos, ela bebe ainda de olhos fechados mas logo vira o rosto quando se sente satisfeita.
— Obrigada... Você está sendo muito gentil... Apesar de ter sido um grosso mais cedo... — Ela esboça um pequeno sorriso e abre os olhos me fazendo sorrir também.
— Foi exatamente isso que você me disse quando nos conhecemos... Nos esbarramos em uma cafeteria e você derramou café em mim, e eu ainda quase apanhei por isso... Eu me desculpei e te paguei um novo café e você disse: Você está sendo muito gentil, apesar de ter sido um grosso. — Sorrio largamente e vejo-a surpresa.
— Aquela senhora que me chamou de filha... Ela está bem? Ela é a minha mãe? Quem é o meu pai? — Pergunta mudando de assunto me deixando frustrado, ela não quer falar de nós, já estou imaginando o trabalhão que terei para reconquistá-la.
— Sim, aquela senhora se chama Priscila e é a sua mãe, ela está bem, apesar da tristeza do que aconteceu conosco, principalmente com você, claro... Quanto ao seu pai. Bom, o Sr. Emiliano faleceu a dois anos e meio, depois da sua morte você assumiu o lugar dele na empresa onde trabalha comigo... Somos sócios em uma rede de concessionárias de carros importados... Não foi fácil conquistar a sua confiança e mais difícil ainda foi conquistar o seu coração, mas eu consegui... Namoramos por dois anos até nos casarmos, estávamos felizes e empolgados, tanto com o casamento quanto com a lua de mel... Não estava nos meus planos passar a nossa lua de mel em um hospital, me perdoe por isso. — Conto pensativo me lembrando do nosso casamento, ela está atenta a tudo que eu digo.
— Onde íamos passar a nossa lua de mel? Éramos muito apaixonados? — Vejo-a envergonhada e eu amo esse tom rosado nas suas bochechas.
— Não éramos, nós somos apaixonados, Patrícia, você não se lembra mas você me ama... Somos a vida um do outro, meu amor... Me desculpa, eu ainda não me acostumei com a ideia de que você não se lembra de mim... Íamos passar a nossa lua de mel em Paris, a cidade dos apaixonados e agora estamos no momento dos desmemoriados. — Comento meio inquieto mas me acalmo ao encarar os seus olhos frustrados.
— Então você é humorista? Momento dos desmemoriados foi ótimo. — Questiona sorrindo fazendo o meu coração acelerar e eu retribuo ao seu sorriso.
— Me desculpa, essa situação toda é frustrante demais... Nos casamos e eu estou louco para beijar você, mas não sei se posso fazer isso sem você virar a mão na minha cara, como você fez no nosso primeiro beijo... Você tem uma mão pesada, vai por mim. — Ergo uma sobrancelha e ela dá uma pequena gargalhada, mesmo corando violentamente.
— Ahh... Eu não posso rir muito, minha costela dói... — Reclama fazendo cara de dor e por impulso eu ponho a mão na sua barriga.
— Está sentindo mais alguma coisa? Está enjoada ou quer vomitar? — Pergunto preocupado e ela tenta se ajeitar na cama.
— Eu estou bem, não se preocupe... Me fala mais sobre o acidente...? O que aconteceu com o motorista do caminhão? Teve mais carros envolvidos? Alguém morreu? — Ela parece bastante interessada no assunto e eu fico satisfeito por isso.
— Infelizmente não fomos os únicos a sermos atingidos pelo caminhão, teve mais três carros envolvidos no acidente e infelizmente uma faminta inteira acabaram perdendo a vida, além do nosso motorista e o motorista do caminhão... Nos outros dois carros, as pessoas ficaram feridas e também estão internadas em outro hospital, entre eles um menino da idade de Olívia, graças a Deus ela não estava conosco, eu morreria se acontecesse algo com a minha filha... Olívia e você são a minha vida, Patrícia... Eu amo vocês com toda a minha alma, minha princesa. — Conto pensativo mas encaro fixamente os seus olhos me aproximando para beijá-la, mas ela vira o rosto me evitando.
— Me desculpe, eu não posso... Para mim ainda somos estranhos, eu vou precisar de mais tempo. — Se desculpa em um tom calmo e sereno e isso me surpreende.
Nunca vi uma mulher tão brava como Patrícia, talvez por isso eu tenha me apaixonado por ela e sei que ela vai se apaixonar por mim outra vez, eu só preciso ser paciente.
— Tudo bem, me desculpa... Eu prometi que seria paciente e eu serei. Perder você eu não vou porque você é minha mulher, minha esposa e vamos ter um filho nosso. — Solto em um tom sério e ela está atenta a minha reação. — Precisa de mais alguma coisa? Posso te ajudar em algo? — Me afasto da cama com as mãos nos bolsos e ela permanece calada, me viro e os seus olhos estão sobre mim.
— Eu preciso ir ao banheiro, mas, é melhor chamar uma enfermeira para me ajudar. — Ela tenta se levantar mas vejo que ela fica cansada ao se movimentar.
— Eu sou o seu marido então eu vou te ajudar, uma enfermeira não vai conseguir te carregar no colo. — Me aproximo novamente dela e pego-a no colo, ela me encara envergonhada.
— Tem uma cadeira de rodas no conto do quarto... Não precisa me carregar. — Rebate enquanto levo-a para o banheiro.
— Comigo por perto você não usará uma cadeira de rodas, faço questão de carregar você para onde quer que você vá... Como eu já disse, eu sou o seu... — Me interrompe.
— Você é meu marido, é, você já disse isso, não precisa me lembrar o tempo todo... Eu perdi as minhas memórias antigas mas as novas estão sendo armazenadas direitinho, não se preocupe. — Ela se irrita e eu respiro fundo.
Coloco ela no chão e ela pede para eu sair, é melhor mesmo pois não quero acabar fazendo uma besteira, estou louco para beijar a minha mulher mas não posso porque ele não se lembra de mim. Ando pelo quarto inquieto, nervoso com essa situação e não vejo os minutos passar, quando dou por mim ouço a porta do banheiro se abrir e Patrícia se encosta no batente da porta com a respiração pesada.
— Você está bem? O que aconteceu? Está sentindo alguma coisa? — Me aproximo dela apressado mas ela balança a cabeça negando.
— Não aconteceu nada... A cada passo que dou... Eu me canso muito... — Explica respirando fundo e eu abraço o seu corpo pegando ela no colo.
— Você quer tomar um banho? Eu chamo a enfermeira para te ajudar... Talvez assim você se sinta melhor, o que acha? — Pergunto enquanto levo ela de volta pra cama e ela deita a sua cabeça em meu ombro.
— Tudo bem... Eu preciso mesmo de um banho... Chama a enfermeira, por favor? — Pede cansada e eu coloco ela de volta na cama.
— Vou deixar o seu celular ao seu alcance ao lado da cama, ele está desligado para não ficar tocando o tempo inteiro com os nossos amigos querendo saber como você está, mas se você achar que estou demorando é só você ligar o aparelho e ligar para mim, está bem? É só procurar “amor” nos contatos e eu volto imediatamente... Não vou me demorar. — Aviso indo até o armário no canto do quarto e pego o seu celular na sua bolsa.
Volto na sua direção e o coloco ao seu lado na cama antes de sair deixando ela sozinha. Sigo até a recepção e peço para que uma enfermeira vá ajudar a minha esposa no banho e logo aparece um enfermeiro ao meu lado.
— Em que quarto a paciente está? Vamos lá? — Ele pergunta encarando a recepcionista e eu o encaro atento.
— Me desculpe, mas acho que houve um m*l-entendido, eu pedi a ajuda de uma enfermeira feminina, e não de um enfermeiro homem. Se for para esse cara dar banho na minha mulher eu mesmo faço isso. — Aviso em um tom firme e rude e o cara me olha de cima abaixo, eu faço o mesmo.
— Como quiser, senhor, eu vou chamar uma das enfermeira que acabaram de chegar. — Concorda a recepcionista e eu encaro fixamente o cara a minha frente.
— Com licença. — Diz antes de se virar voltando pelo mesmo caminho de onde veio.
Nunca que eu vou deixar outro homem tocar a minha mulher ou se quer vê-la nua, só se eu fosse muito louco para permitir isso, não é porque ela não se lembra de mim que vou baixar a guarda, essa mulher é minha e não vou dar mole para outros marmanjos.