Arrumando as camisas nos cabides, Yushiro continuava animado com o início daquela etapa. Organizou o armário com todas as roupas das quais trouxera, e em seguida retirou o notebook deixando-o sobre a mesa ao lado da cama. Um porta-retratos de sua família sorrindo belamente para a câmera o fizera sentir uma ponta de saudades de casa.
Distraído arrumando as cobertas sobre a cama, Yushiro assustou-se quando a porta fora aberta e ouvira passos se aproximando. Virando-se para ver quem teria entrado, deparara-se com dois rapazes.
Um era baixo de cabelos avermelhados e lisos, de olhos belos e brilhantes que transmitiam uma alegria imensurável. Usava calça jeans clara marcando sua cintura fina, porém a camisa preta demarcava os leves músculos de seus braços. Talvez não fosse seu estilo se preocupar com vestimenta, ou apenas usava aquilo por ser mais confortável.
O rapaz desconhecido abriu um sorriso largo se aproximando de Yushiro o olhando de forma curiosa.
— Olá! — sorrindo segurando as mãos do novo colega de quarto. — Sou Takeji Seiho, seu colega de quarto.
— Ah — O mais baixo voltou a se curvar, e sentia as bochechas avermelharem. — S-Sou Yushiro Yuki, prazer em conhecê-lo.
— O prazer é meu, ah — O mais novo colega puxava um rapaz alto que estava atrás de si. Ele tinha olhar frio e rosto sem expressão, porém semicerrou os olhos sobre Yushiro, fazendo o menor encolher os ombros. Suas roupas eram largas e deixava claro que era bem mais forte que o menor, caso ocorresse alguma briga com toda a certeza sairia perdendo — Esse é Shigekazu Coda, meu namorado.
— P-Prazer em conhecê-lo.
— Prazer. — Sussurrava o outro ainda avaliando Yushiro. Soltando de um suspiro, o mais alto voltou-se para o namorado e acariciou sua bochecha. A feição que antes estava fria agora parecia mais suave, Yushiro jurou ter visto um sorriso tímido naquela feição. — Bom tenho que ir, te vejo mais tarde.
Percebendo que o casal iria se beijar, Yushiro deu as costas envergonhado. Não havia problema algum com pessoas se beijando, já que seus pais faziam aquilo o tempo todo na sua frente. No entanto, dois rapazes jovens se beijarem o deixava encabulado.
Talvez por jamais ter permitido que alguém lhe tocasse tão intimamente fosse o motivo de sua vergonha.
Disfarçando o olhar sobre sua cama, terminando de ajeitar as cobertas, ouviu a porta se fechar. Mesmo assim mantinha os olhos nos travesseiros.
— Então, já conheceu a universidade? — Takeji se sentou na cama do mais baixo, que o olhava de forma curiosa.
— Acabei de chegar — Sussurrava o menor ainda envergonhado com a cena vista, mas logo esboçou um pequeno sorriso para o colega. — Não sei o que fazer, na verdade.
— Ah se quiser eu te mostro o dormitório. Aí amanhã eu te acompanho até sua sala. Aliás, que curso vai fazer?
— Artes plásticas.
— Oh, meu calouro! — Takeji sorrira completamente animado, o que resultou em uma risada tímida do seu novo colega de quarto. — Vamos tem muita coisa que precisa conhecer.
O mais velho puxava o menor para fora do quarto, os dois caminhavam pelos corredores enquanto Takeji tagarelava sobre as regras que já foram ouvidas anteriormente. Yushiro sequer se importava, estava começando a ficar animado em conhecer alguém, e aliviado em não ter tido problemas com o seu colega de quarto.
Em meio a conversa, Takeji notara algo diferente no garoto. O cheiro que Yushiro emanava parecia a de um ômega qualquer, contudo algo o fazia pensar que não se tratava de um qualquer.
Parados em frente a uma porta grandiosa e marrom, Takeji optara por não comentar nada. Se não tivesse sentido mais daquele aroma quando uma corrente de ar passara por eles. Estava ficando intrigado com suas suspeitas.
Jamais sentira tal cheiro.
— Ahn me desculpe, seu cheiro é assim mesmo?
— Meu cheiro? – Yushiro olhou o colega e logo sorriu. — Ah, é o meu perfume predileto. Meu pai quem faz para mim dizendo que vai fazer milagres.
— Perfume? — O garoto mais velho olhava curioso e logo soltou uma risada baixa. — Ah esse ano vai ser divertido.
Takeji abriu as portas mostrando o enorme refeitório que não havia movimento. Yushiro olhava maravilhado com a grandeza do local, parecia bem mais belo do que havia visto nas fotos. Suspirava sorrindo em ver as paredes de vidro mostrando a floresta que havia ao lado.
— Uma dica que eu te dou, venha sempre 30 minutos antes do horário da janta. Assim pode pegar comida sem nenhum problema.
— E isso pode?
— Claro! Quer saber, eu te acompanharei nas refeições, acho que Coda vai gostar de ter alguém para conversar.
Yushiro apenas rira novamente da animação do outro. Parece que aquele lugar era todo cheio de regras tirando a diversão dos estudantes. Entretanto, isso não seria um problema para si. O seu maior foco era aprender a pintar profissionalmente, o que viesse junto poderia ser um lucro para aprendizado.
Voltando a andar pelo dormitório, Takeji contava sobre as aulas que já teve e dava algumas dicas sobre os professores, para que o menor não se assustasse. Yushiro ficou ainda mais empolgado quando o colega disse lhe emprestar alguns livros.
Indo para o lado de fora do dormitório, seguiram para as quadras esportivas. Havia de tênis, vôlei, basquete e futsal, sendo que esta última estava mais movimentada.
Alguns alunos jogavam no campo, enquanto garotas estavam reunidas na pequena arquibancada gritando e torcendo pelos jogadores. Takeji explicara que as quadras eram muito utilizadas pelo grupo popular da faculdade.
Yushiro suspirou baixo, pois sempre imaginou que essa questão de popular e impopular acontecesse somente nos filmes. Ali já mostrava que não era o caso. Provavelmente faria parte dos rotulados impopulares. Não seria um problema, desde que pudesse estudar tranquilamente.
Os dois rapazes acabaram por assistirem ao jogo quando reconheceram Coda entre os jogadores. Ao final da partida, o mais alto fora até o namorado e lhe roubara um selar rápido. Yushiro logo se lembrou do pai quando iam para algum lugar novo, ele fazia questão de mostrar que a delta lhe pertencia. Como uma ameaça clara.
Ao anoitecer, Yushiro seguiu o casal pelo dormitório até chegarem novamente no refeitório. O casal conversava com o menor e contavam sobre suas primeiras experiências quando chegaram ali.
Os três sentaram-se em uma mesa afastada depois de pegarem o jantar. Takeji conversava com tanta empolgação, que Coda o fitou de canto com uma ponta de ciúmes. Por mais que seu pequeno artista demonstrasse muito interesse no novo colega de quarto, o que de fato era um alívio em certa parte, aquilo lhe fazia pensar na possibilidade de perder a atenção e foco do amante.
Entretanto a forma como a mão do menor estava posicionada em sua coxa já era indicativo de que aprontava algo.
— Mas me diga Yuki você é um ômega certo?
— Ômega? — O menor olhava curioso para o casal à sua frente, inclinando a cabeça para o lado de forma pensativa. — O que é isso?
— Ham? — Coda olhou para o menor surpreso, Takeji soltou uma risada baixa e fitou o namorado. Agora compreendia o motivo do outro estar tão interessado no pequeno calouro — Como assim o que é isso? De onde você veio?
— Shiroimura — Respondeu o menor, os dois assentiram ao compreenderem o motivo não saber o que era ômega. — É primeira vez que saí de lá.
— Ouvi dizer que Shiroimura tem belas paisagens — Takeji sorria passando os braços nos ombros largos do namorado, entrelaçando os dedos nos cabelos de Coda, fazendo Yushiro desviar o olhar para o prato. Comia da batata frita depressa ao encarar tamanha i********e do casal.
— E tem — Sussurrava envergonhado — Na verdade eles estão expandindo as terras e vão criar um resort e parque aquático. Quero ir com a minha família quando terminarem.
— Por que eles deixaram você vir para cá? — Coda perguntou interessado na história do menor, assim como seu companheiro de sorriso largo.
— Para estudar — Respondeu obviamente, o que causou risadas entre os três.
Assim como Takeji havia pensado anteriormente, Coda concordara aquele ano seria de fato mais interessante com a chegada daquele pequeno garoto. Principalmente em ver que ele não sabia de nada, e ao mesmo tempo parecia saber de tudo e que escondia algo.
Pobre garoto, seria esse o verdadeiro sentido de sua vinda?
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Despertava com a vibração do celular perto de seu travesseiro. Em um leve resmungo, Yushiro se levantou da cama vendo que no lado de fora sequer havia amanhecido.
Olhou para o colega de quarto que dormia abraçado ao travesseiro. Soltando um suspiro baixo, se direcionou ao banheiro onde se despira e entrava no box. Tirar o sono de si não seria um problema naquela manhã. Assim como no dia anterior, Yushiro se encontrava animado para o seu primeiro dia de aula. Claramente iria ser um pouco estranho entrar em uma nova turma quando as aulas já haviam se iniciado. Graças a algumas complicações em sua matrícula, entraria dois meses após o início das aulas.
Terminado de se banhar, vestira a roupa que havia separado na noite anterior. Colocou a calça jeans preta ajeitando a barra que era maior, assim que se perfumou colocou a camiseta social branca e sobre ela uma blusa azul marinho.
Não queria ser formal demais, já que não fazia ideia de como se vestir para a aula. Sem falar que não sabia como estaria o tempo assim que o sol chegasse ao pico.
Saiu do banheiro encontrando seu colega de quarto já desperto. O cumprimentou e terminou de se arrumar com um all star preto e o boné da mesma cor sob a cabeça.
Assim que pegou sua mochila e a jogou nos ombros, ouviu alguém bater na porta. Fora correndo até a mesma, e ao abri-la sorriu e cumprimentou Coda que adentrava no cômodo.
— Ansioso para o seu primeiro dia?
— Ah estou muito — Yushiro tentava manter sua voz firme, mas no final a mesma tremera o que resultou em uma risada por parte do amigo — O que temos que fazer primeiro? Aqui tem horário para o café?
— Na verdade o refeitório do dormitório só serve almoço e jantar — Coda sentou-se na cama do namorado, mantendo as mãos no bolso enquanto olhava Yushiro — Nós costumamos tomar um leite com café na lanchonete dentro da universidade, onde fazem almoço para quem tem aulas à tarde.
— Entendi. As aulas começam às sete e meia, correto?
— Não se preocupe iremos te deixar na sala vinte minutos antes.
Era tão aparente o nervosismo do mais novo, aquilo era, de fato, divertido para o casal. Assim que Takeji estava pronto, os três seguiram para os corredores e escadaria, onde iriam sair do dormitório.
No lado de fora Yushiro se surpreendeu com o movimento de estudantes. Os alunos jovens se cumprimentavam e pulavam um sobre o outro. Alguns andavam de mãos dadas, enquanto outros já se encontravam em beijos ardentes em algum canto de toda a estrada.
Não demorou para que o enorme prédio fosse visto, parecia um castelo dos desenhos animados da qual Yushiro costumava ver. Entraram no prédio e seguiu seus novos amigos para a cafeteria, que havia sido mencionada anteriormente.
Yushiro olhava em volta extremamente encantado. Era tudo fantasioso, parecendo com um castelo de bruxos, e por conta disso se sentiu cada vez mais animado com sua vinda aquele lugar.
Chegando na bancada pediu por um cappuccino, a pedido de Takeji que queria que o mais novo experimentasse. Mais uma vez mostrava aquele sorriso animado para o calouro e, se dependesse de si, o faria provar e aproveitar várias coisas.
Assim que teve o copo em mãos os três foram se sentar perto da janela. Naquele amanhecer o céu se mantinha nublado, tornando o clima um mistério. Independente disso, nada tiraria o ânimo do jovem garoto.
Seus pensamentos fluíam em apenas aproveitar aquele momento, sendo interrompido com os pequenos murmúrios que ressoavam pela cafeteria.
— O que foi? — Yushiro olhava para os amigos que observavam a porta, Coda apenas suspirou e selou os lábios do namorado que estava em seu colo. O sentou na cadeira ao seu lado e então se levantou da mesa. — O que acontece?
— Ah, é o grupo popular que eu te falei – Takeji olhava para a porta, mas logo desviou para o novo amigo que lhe olhava totalmente curioso — São quatro rapazes que são bonitos e bons em algumas atividades.
— Entendi, e por isso toda essa bagunça? Parece os filmes adolescentes — Yushiro voltou a beber do cappuccino, encantando com a bebida quente sobre seus dedos gélidos.
— Coda é um deles. — Takeji sorria largo e viu o menor inclinar a cabeça. — Eles têm algo em comum.
— E o que é?
Os murmúrios aumentavam e seu amigo parecia se perder nos pensamentos enquanto olhava para a porta. Yushiro dera de ombros e voltou a beber do cappuccino e olhar a janela. Sorria diante das árvores que balançavam, um frio gostoso de se aproveitar.
Bebendo outro gole, encarou o vidro deparando-se com um reflexo estranho. Assustou-se com o olhar que encontrara ali, e então olhou sobre os ombros.
Parado um pouco longe estava o jovem que usava um boné colorido. Até mesmo pelo reflexo poderia encontrar alguns fios lisos e descoloridos abaixo do boné perto de sua orelha. Seu corpo era esguio sem ser muito forte, algo proporcional à sua fisionomia jovial e bela. Os olhos pareciam ser negros enquanto observava Yushiro, como se algo no menor tivesse lhe prendido até a alma em uma escuridão intensa.
O menor notava o olhar e sentiu um arrepio se passar na espinha. Aquilo lhe deixava incomodado e por esse motivo, desviou o olhar para a janela, onde apoiou o rosto em sua mão e voltava a observar o vento mover as folhas das árvores.
— Eles são todos alfas — Sussurrava Takeji para o menor.
O mesmo sequer entendia o que era aquilo, e ao mesmo tempo nem queria se importar.
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