O homem saiu de seu carro após estacioná-lo na vaga costumeira. Olhou para o céu nublado lhe deixando mais ansioso por cada passo que dava nas pedras escuras. Caminhou para dentro da casa esbranquiçada, enquanto olhava em volta suspirando baixo em encontrar os barulhos rotineiros da máquina.
Seria aquilo um sinal de que nada havia mudado desde a última vez que estivera ali?
Abrindo a porta encontrou o alfa e a delta olhando para a cápsula com os braços cruzados. Deveria deixar um pequeno aviso para que não ultrapassem o tempo estipulado para visitas. Todavia, no final das contas era culpa sua por eles estarem tão saudosos assim. Eles mereciam dar aquela atenção especial para a capsula.
Soltando um segundo suspiro o rapaz ajeitou os cabelos, e então se direcionou a eles tentando dar o melhor sorriso.
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Após se despedir de Takeji, Yushiro entrou na sua sala de aula ganhando os olhares curiosos dos alunos que já estavam sentados em seus devidos lugares. Encolheu os ombros baixando um pouco da cabeça, caminhou para a fileira da janela, olhando as carteiras que tinha um adesivo com os nomes dos alunos.
Parecia algo do colegial, entretanto facilitou seu trabalho de evitar confusão por se sentar em um lugar onde poderia pertencer a alguém. Sendo assim, se sentou na penúltima carteira disponível.
Colocou a mochila sobre a mesa tirando o celular de um dos bolsos, olhou as mensagens que seus pais haviam mandando para si na noite anterior. Uma pena ter ido dormir sem responder.
Sorriu saudoso com a foto de seus pais, eles a tiraram mostrando que teriam chegado em casa. Mas Yushiro estava com seus amigos andando pelo dormitório, sequer sentira o celular vibrar em seu bolso. Digitou rapidamente uma mensagem contando sobre o ocorrido daquela manhã, apesar de acreditar não se importar muito, admitiu que aquilo mexeu com sua curiosidade.
“Yuki: (...) O que achei mais estranho foi o meu colega ter dito sobre meu cheiro. Devo ter me acostumado com ele e passado demais...”
Guardou o celular pensando ser cedo demais para que seus pais visualizassem a mensagem, porém se assustou com o vibrar do aparelho sobre a mesa.
“Pai: É a inveja de você por ter um pai que faz um perfume mega cheiroso e exclusivo para ti”.
Soltando uma risada baixa, Yushiro apenas digitava uma resposta, logo voltando a guardar o aparelho na mochila quando o professor se fez presente. Apenas se apresentou ao mentor e o mesmo não fez nenhuma menção em lhe chamar para falar diante da turma. O que o deixou aliviado, já que não gostava de tamanha atenção sobre si.
Abriu seu caderno e começou a copiar a matéria, por mais que queria ir para a prática e pintar quadros, era necessário compreender a história da arte em seus diversos aspectos. Esperava que a teoria aumentasse sua criatividade futuramente.
Enquanto Yushiro assistia sua aula, um grupo de estudantes passava pelo pátio da universidade indo em direção ao laboratório, rumo as aulas práticas.
O costumeiro grupo de rapaz seguiam para suas respectivas salas, sobrando apenas Coda e seu amigo de cabelos descoloridos. Haviam se conhecido na faculdade realizando trabalhos juntos, e sentindo o cheiro peculiar um do outro. Com as conversas, as coincidências começaram a aparecer, e assim a amizade ia surgindo. Se davam bem e raramente discutiam. Ao contrário dos outros dois que eram agitados, Coda transmitia paz, sagacidade e, até mesmo, sinceridade.
Coda caminhava com as mãos no bolso com sua tranquilidade sem demonstrar interesse pelas conversas paralelas. Já seu colega de cabelos descoloridos parecia pensativo e até mordia os lábios em uma leve frustração.
Não queria assistir a aula, estava distraído demais para permanecer ali. Só que suas notas precisavam ser boas para que os demais alunos mantivessem o interesse em si, já que gostava tanto daquela atenção que recebia. Coçou a cabeça e resmungou ao olhar para o amigo calado. O puxou antes que adentrassem na sala o fitando curiosamente.
— Quem era ele?
— Quem? — Coda logo abriu um sorriso de lado, e então o seu interesse aumentava. — Ah o aluno novo?
— É, quem é ele? — O loiro alfa suspirava impaciente, por que raios se intrigou com aquele ômega? — Ele é tão...
— Normal? — Coda bagunçou os cabelos do amigo que rosnava para si.
— Ele não tem nada demais, só que...
— Ele é interessante — Coda movia a cabeça concordando.
O loiro olhou para o amigo surpreso, era a primeira vez que o via demonstrar interesse em alguém. Durante os três anos e meio que estava ali, era a primeira vez que via esse tipo de comportamento. Aquilo lhe deixou com um nervosismo desconhecido no estomago. Seria aquilo o resultado de não ter tomado café da manhã?
Depois que havia percebido a presença daquele garoto novo, m*l conseguira comer direito, o que lhe deixou mais frustrado saindo rapidamente da cafeteria.
— Quer saber? Que se dane.
Os dois garotos entraram na sala de aula e passaram o restante da manhã acompanhando o professor e sua aula. Ou pelo menos tentaria manter o foco ali.
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O sinal bateu dando indício do almoço.
Temendo que o novo amigo se perdesse no campus, Takeji saiu de sua aula alguns minutos antes e fora esperar em frente a sala de Yushiro. Quando os alunos começaram a sair, procurou pelo calouro de cabelos negros e pele leitosa, o puxando assim que o avistou.
— Como foi? — Takeji perguntava, enquanto caminhavam pelos corredores.
Seus passos eram apressados, junto aos demais estudantes que se dirigiam ao refeitório.
— Normal, sem apresentações.
— Que sorte.
Indo para o refeitório, que já se encontrava lotado, Yushiro fora direto para a fila para comprar algo. Mexendo em sua carteira, suspirou em perceber que havia pouco dinheiro. Teria o suficiente para alguns dias, mas logo acabaria.
Imaginando pedir dinheiro para seus pais o fazia se sentir envergonhado. Com certeza iriam imaginar que Yushiro estaria sendo extorquido por algum valentão, o que não era o caso.
Teria de arranjar alguma forma de ganhar dinheiro sem a ajuda dos pais.
Mordendo o lábio inferior, fitou o veterano.
— Takeji-senpai, os alunos podem trabalhar?
— Claro que podem — Takeji sorria largo e então se virou para o amigo, segurando em suas mãos — Precisa de emprego?
— Bem... meu dinheiro está acabando. — O menor coçava os cabelos ainda sentindo o rubor em suas bochechas leitosas. Takeji apenas ria e andava na fila junto ao amigo.
— Eu posso te apresentar lá no meu trabalho. — Takeji comentara em baixo tom de voz. — Só que pode ser meio estranho para você.
A risada baixa de Takeji deixara Yushiro um pouco curioso a respeito do emprego. Seria muito melhor se conseguisse no mesmo lugar que seu colega de quarto, assim não ficaria sozinho em um ambiente desconhecido.
De qualquer forma precisava trabalhar para ter seu dinheiro. Se pedisse aos pais, com certeza iriam trabalhar arduamente para enviar uma quantia de dinheiro de tempos em tempos. Yushiro não queria isso.
O casal já tinha feito demais por seu filho, e o mesmo queria que eles descansassem e tivessem tempo apenas para si mesmos. Agora eles poderiam aproveitar mais do casamento, iriam se preocupar menos com o menor por estar em um dormitório cheio de regras.
Sendo assim, não seria benéfico que fosse a procura do primeiro emprego?
Explorar o mundo além de sua cidade era um de seus sonhos. Mais cedo ou mais tarde iria arcar com despesas para conhecer o mundo. Qual era a arte que o mundo iria lhe apresentar?
Os meninos pegaram o almoço e então começaram a caminhar pelo refeitório à procura de uma mesa para se sentarem. Enquanto caminhavam, passaram pela mesa com o grupo de amigos que conversavam de forma alta e animada. Takeji olhara para o alfa que namorava, e sorriram um para o outro sem que ninguém os percebessem.
Nem Yushiro notara a presença de Coda, já que a sensação de ser observado lhe incomodava mais. O rapaz de cabelos descoloridos o fitava pela segunda vez naquele dia. Não compreendia o motivo de aquele cara lhe chamar a atenção.
Um perfume forte e sutilmente doce fora percebido por Yushiro. Sua pele chegara a arrepiar, e ele farejou o ar para buscar a sua origem.
Tal ato fora muito bem reparado pelo alfa.
Takeji percebera a demora do amigo e tratou de lhe puxar para se sentarem na mesa atrás dos garotos. O ômega veterano suspirou baixo e olhou para o namorado, que observava seu colega de classe.
Era uma teia de troca de olhares, sem que ninguém dissesse algo.
Yushiro fora desperto de seus pensamentos assim que um pedaço de pizza passava sobre seus olhos. Takeji rira com o desvio de atenção de seu calouro, e então lhe entregou a comida.
— Está perdido em pensamentos?
— Apenas... senti um perfume muito bom. — Yushiro mordia o queijo puxando do mesmo, agora sem interesse em olhar para a mesa da frente.
— Hum, vai dizer que se apaixonou por Kai?
— Senpai — Yushiro olhava o maior enquanto comia, cobrindo educadamente de sua boca. Não queria entrar em detalhes sobre o garoto do perfume. Seria cedo demais conversar sobre o amor, um assunto tão complicado quanto se podia imaginar. — O trabalho.
— Ah sim — Takeji olhava para o celular e então se endireitou na cadeira aproximando-se do menor. — Eu trabalho como garçom em uma boate gay.
— Gay? — Yushiro se engasgara com o refrigerante, o seu veterano ria baixo entregando papéis toalha para limpar os lábios do menor — E... como é?
— Não me visto como uma p**a se é isso o que pensa.
O mais alto voltava a comer calmamente, porém corava com o olhar curioso do menor. Ele estava totalmente interessado e queria mais detalhes, fazendo o mais velho suspirar e voltar a sussurrar.
— É de meio período e o bar é da família, meus pais são os donos. Acho que eles podem te ajudar.
— S-Sério? Wah isso seria simplesmente perfeito senpai.
Na mesa da frente os amigos conversavam animadamente, mas o cheiro de Kai deixava as ômegas lhe rodearem prontas para chamar sua atenção e ter a chance de ter uma noite consigo. Talvez aquele aroma tão voraz deixasse claro que seu cio se aproximava.
No entanto, Kai ainda observava aquela aproximação entre os dois na mesa à frente. Nunca havia visto dois homens tão próximos um do outro. Ali era comum homens e mulheres aos beijos pelos corredores. Porém não era a questão s****l que lhe deixava tão curioso.
Coda suspirava baixo, parecia tão tranquilo sobre seu ômega, talvez aquela mordida tenha deixado as coisas mais simples entre a relação.
Pensando sobre isso percebera o quão amadurecido se sentia. No começo via Takeji como um ômega audacioso por lhe seduzir, mesmo que essa não tenha sido a intenção do mesmo. Porém o que viera a seguir foram sentimentos abruptos e recíprocos, sem falar na forma como os corpos se entrelaçavam durante os períodos de cio.
O que no começo era uma brincadeira, passou a ser algo necessário. Takeji era manhoso demais e se sentia inseguro com facilidade, principalmente por conta de Coda ser acompanhado por demais alfas que são desejados e ambicionados por outros alunos ômegas.
Com a mordida, sentia bem melhor, já que a ligação entre eles se fortaleceu e assim um sabia sobre os sentimentos e pensamentos do outro.
Porém, o casal parecia mais interessado no que viam diante de si. Kai em um olhar totalmente absorto sobre Yushiro, e o menor tendo mais interesse sobre o almoço e nas informações do emprego.
Os demais amigos dos dois alfas conversavam sobre coisas alheias, ignorando totalmente os olhares, ou até mesmo nem os percebendo. Coda cutucara Kai por baixo da mesa, o mesmo lhe olhava com as pupilas dilatadas.
— O quê?
— Pare com isso, aquele garoto não é o seu tipo.
— O meu tipo? — Kai sorria ladino com aquilo. Como havia pensado, Coda realmente teria algum interesse sobre o aluno novo? O problema era que o loiro não sabia que seu amigo já estava em um relacionamento sério há quase dois anos. — E qual seria o seu tipo Coda?
— O meu? Gosto de ômega, — Coda sorria e olhou por cima do ombro observando o namorado — Que curse artes plásticas e goste de me desenhar o tempo todo. Assim ele se lembrará de mim.
— Não sabia que curtia homens – Outro garoto alto do pequeno grupo abraçava o amigo, balançou os cabelos esbranquiçados rindo em escárnio – Me conte como é ser fodido?
— Não sou fodido — Coda respondeu com simplicidade, pegou a maçã de sua bandeja e olhou para o colega – Eu fodo.
O rapaz se retirou da mesa ao mesmo instante em que o sinal tocara, deixando o amigo alto totalmente surpreso consigo. Ocultava seu relacionamento com Takeji para evitar tais comentários. Takeji se irritava com facilidade e não queria vê-lo chorar tamanho nervoso.
Não via a hora de se formarem e passarem a viajar pelo mundo, onde não precisariam se preocupar com mais ninguém, a não ser com os pequenos filhotes que iriam criar dentro de casa. Havia prometido ao ômega que teriam uma vida boa e repleta de felicidade, e para isso não mediria esforços.
— Cabeção. — Kai jogara o guardanapo no amigo alto que coçava a cabeça ainda confuso. — Deixa ele, isso está ficando cada vez mais legal.
— Por que tanto interesse nele? – Koji olhava para o aluno novo se levantar junto ao veterano, os observavam sair do refeitório e então o cheiro levemente doce desaparecer por completo do ar. — Ele não tem nada demais.
— Ele tem algo – Kai olhou para os amigos — E eu acho que Coda sabe o que é.
— Vamos deixar isso interessante? — Koji se apoiou no amigo alto e sorriu de forma travessa. — Entre você e o Koda, quem conseguiria descobrir sobre o fedelho? Eu aposto que mesmo passando o cio com aquele moleque, ele não falará nada.
— Não seja trouxa — O loiro rira se encostando na cadeira em que estava sentado, baixou as mãos dentro de seu bolso e sorriu interessado. — Não é necessário o cio para que eu saiba sobre ele.
Koike abriu um largo sorriso para o amigo à sua frente
— Coda não fez nada, e está na sua frente. Eu aposto nele, já que o garotinho tem um jeito melhor a ele.
— Aposta feita.
Os garotos selavam sua aposta com um aperto de mão, e parecia que aquilo era interessante de qualquer forma. Todos sentiam que aquele ano seria o melhor.
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