Takeji já não se sentia mais sozinho. A solidão que sentia tanto na faculdade quanto no trabalho se fora desde que Yushiro chegara. Apesar de apaixonado por Coda, Takeji sabia que a relação era mantida em segredo dos amigos do mais alto, o que tornava impossível ficarem juntos no campus. Se não houvesse Coda em seu lado, não haveria mais ninguém para lhe fazer companhia.
No bar em que trabalhava tinha seus colegas, porém não era o suficiente. Não podia lhes contar segredos, pois nenhum deles parecia confiável. Queria conversar sobre seu namorado, e como tinha sorte de tê-lo. Da mesma forma queria ser confidente de alguém, ouvir histórias de outra pessoa.
Eis que o vice-diretor lhe avisara sobre a vinda de um colega de quarto.
Aguardou ansiosamente a chegada de Yushiro. Queria saber mais sobre ele. Imaginava que finalmente teria um amigo. E lá estava ele com seu calouro o chamando de senpai e lhe olhando como se fosse um super herói.
Ah guardaria aquelas sensações eternamente em sua alma.
Após as aulas acabarem, Takeji levou Yushiro para fora do campus onde saíram secretamente. Caminhando pelas ruas seguindo para a avenida principal, o bar era no final do bairro e o mais perto da universidade.
Ali era conhecido pelas casas de s**o e bares, principalmente por serem frequentados pelos casais homoafetivos. O bar, cujo nome era Saturnus, continha uma fachada simples e nada chamativa.
Os garotos adentraram ao local seguindo um corredor escuro guiado por luzes de led. Ao final do trajeto, a decoração de estilo cabaré antigo com um imenso lustre ao centro se mostravam. Cadeiras de veludo vermelha e mesas postas estavam espalhadas pelo imenso salão. À direita um imenso palco com cortinas vermelhas com bordados em dourado, à esquerda o balcão onde ficava o bar, mais ao centro uma grandiosa pista de dança.
Takeji seguiu para a pista de dança onde havia duas pessoas consideravelmente altas. Pareciam ser jovens e tinham cabelos castanhos assim como os olhos. Eles olhavam para o palco, tendo ali um mini balcão onde um rapaz operava o som que se ouvia.
O veterano abraçou aqueles dois que se viraram surpresos com o menor, não demorando em retribuir e logo a música se cessou.
— Filho, como tem estado? E as aulas?
— Estou bem e não temos aula à tarde — Takeji estendeu a mão chamando pelo colega de quarto que se aproximou timidamente — Mãe, Pai esse é o colega de quarto que eu falei. Yushiro esses são meus pais, Yukiko e Kurata Seiho.
— Muito prazer sou Yushiro, colega de quarto de seu filho.
Fazendo de uma reverência formal, constatou que os pais de seu amigo eram muitos bonitos.
O rapaz que perava o som também descera do palco e se aproximara para conversar com os pais de Takeji. O que de longe parecia ser uma silhueta de um rapaz forte, agora se confirmava com uma mistura perfeita de feições juvenis.
A forma como o suposto rapaz gesticulava e conversava parecendo pensativo, proporcionou um ligeiro arrepio em Yushiro.
Takeji sorrira em cumplicidade com o seu calouro demonstrando tamanha animação.
— Mãe, Yuki quer um emprego, pensei que seria legal ele ser garçom junto comigo.
— Oh garçom? — Yushiro recebia o intenso olhar da mulher, ela tinha feições delicadas e os olhos pareciam um mar em uma noite bela. — Por quê?
— Não quero incomodar meus pais — Yushiro sussurrou levemente corado. — E acho que seria legal para eu aprender a me virar sozinho.
— Tudo bem — A mulher sorrira e então olhou pensativo para o rapaz do som que observava tudo apenas sorrindo — Mitsui ajude ele com o uniforme no bar, irá começar essa noite. Durante as tardes Takeji irá lhe ensinar a servir e então poderá começar.
— Muito obrigado senhora, obrigado mesmo.
Fazendo de sua reverência, causou risadas envergonhadas por parte dos pais do veterano. O rapaz do som se aproximou de Yushiro, abriu o seu melhor sorriso e estendeu a mão, sendo apertada pelo menor que mantinha o rosto avermelhado.
— Sou Mitsui, sou o DJ no período da noite.
Enquanto se apresentava, Mitsui levara Yushiro por detrás do bar onde havia uma porta preta. Atrás dela um estreito corredor branco se estendia, levando a uma sala cheia de armários.
— Aqui deve ter um uniforme para o seu tamanho. Se troque que eu te ensinarei algumas coisas.
— Desculpa atrapalhar de seu trabalho — Yushiro voltava a se reverenciar diante do garoto, que apenas ria e negava com a cabeça enquanto mexia nos armários.
Assim que o uniforme fora encontrado percebeu o menor que corou levemente.
— Te espero lá fora.
As roupas não eram constrangedoras, a calça preta era levemente apertada, uma camisa social branca que tinha por cima um colete vermelho com a logo do bar estampado. No final das contas aquele uniforme parecia ser mais simples do que poderia imaginar.
Após se despir e vestir a roupa, pegou seus trajes os dobrando colocando dentro do armário à sua frente, o fechando e pegando da chave a guardando no bolso da calça. Saiu do pequeno quarto e foi até o DJ que estava no balcão do bar, o mesmo o observara atentamente.
— Uau está bonito — Mitsui sorrira vendo o menor corar — Fique tranquilo, enquanto trabalhar aqui será paquerado por vários homens. Ainda mais com esse cheiro.
— Cheiro? — Yushiro inclinava a cabeça, novamente o seu cheiro vinha à tona, mas logo riu baixo. Deveria pedir a seu pai para vender os perfumes, parece que faziam um extremo sucesso — Tudo bem... por onde devo começar?
— Por hoje focaremos só no bar, vou te ensinar a preparar algumas bebidas.
Aquela tarde se passara incrivelmente rápida, principalmente para Yushiro que aprendia as bebidas mais pedidas com facilidade.
Observando o amigo e trocando mensagens com o namorado, Takeji começava a ficar preocupado. Coda já o avisara sobre o súbito interesse de Kai sobre Yushiro, e levando em consideração que seu calouro desconhecia sobre a vida dos híbridos, essa aproximação não seria coisa boa.
Guardando o celular no bolso, observara Yushiro receber os primeiros clientes da noite e ajeitar as mesas. Mitsui estava próximo e instruía o calouro, tendo uma comunicação boa. Takeji sorria diante da amizade daqueles dois.
— Tem certeza que ele é um ômega? – Takeji se assustara com seu pai sussurrando em seu ouvido, os dois riram e voltaram a olhar Yushiro que misturava as bebidas — Ele tem cheiro diferente...
— É um perfume — Takeji rira olhando para o pai que parecia tão confuso quanto si — Nem ele sabe quem é. E pelo jeito alguém não quer que saiba, por isso ele passa perfume.
— Que interessante.
— Eu disse, esse ano vai ser muito legal.
დ
A noite já havia chegado com toda a pressa possível, Takeji e Yushiro terminavam seus horários e já se direcionavam para os fundos do bar, onde o pai do veterano os esperava no carro.
O mais novo dali estava em uma completa animação pelo seu primeiro dia. Tudo o que viu dentro do bar lhe encantava, sem falar nas risadas das brincadeiras de Mitsui que lhe deixou à vontade. Estava quebrando tantos paradigmas que ficou se perguntando sobre sua demora em viver aquilo.
Durante todo o trajeto, Yukiko e Takeji escutavam Yushiro contar sobre sua família, tudo o que dizia eram suas brincadeiras e rotinas na cidade de Shiroimura e suas paisagens belas. Olhando para o celular vira uma mensagem dos pais ocasionando um sorriso largo e saudoso no menor. Seus dedos passavam rapidamente pela tela do aparelho, digitando uma resposta aos mais velhos.
— Mas me diga Yushiro, seus pais poderiam vir morar aqui — Comentou Takeji pensativo — Se eles estão preocupados...
— Ah meu pai não gosta muito da ideia de cidades grandes — O menor voltou a guardar o aparelho no bolso e olhou para o colega de quarto — Ele é ciumento, e minha mãe chama muita atenção pela aparência.
— Os seus pais são aqueles da foto? — Yushiro assentia vendo o amigo corar levemente, acabava de dizer que viu os objetos particulares do menor. — Sério, achei que fossem seus amigos, aparentam ser tão novos...
— Parece que nossos corpos demoram à envelhecer.
— Como assim? — Yukiko olhava o menor ao parar em frente aos portões da universidade — Você ainda é jovem, não tem por quê se apressar a ficar cheio de rugas.
— Quantos anos acham que eu tenho — Yushiro perguntou de forma tímida, porém mantendo os olhos curiosos sobre os dois mais velhos.
— Hum... como entrou na faculdade agora eu te daria uns 17 anos. — Yukiko concordava e olhava para o filho que assentia.
— Tenho 22.
— O quê? — Takeji olhou o colega com surpresa, e então começou a rir — Waah, espera o quê? Dois anos mais novo que eu e Coda! Mas tem carinha de criança...
— Como eu disse, demoro a envelhecer — O menor formara um pequeno bico nos lábios.
Não conseguiram se manter sérios com o menor, sua manha era adorável.
Assim que os dois rapazes foram deixados no portão e passaram pelas laterais, já estava tarde e o horário do toque de recolher se aproximava tendo assim portões grandes fechados e encadeados.
Takeji já havia se acostumado em pular o muro sozinho, porém estaria acompanhado a partir de então, de tal modo ajudou o mais novo a subir o muro e se apoiar sobre ele. Apoiando os pés na parede, o mais velho se pendurou no muro para então pular novamente, ajeitando as roupas.
Os dois colegas caminhavam pela longa estrada até o dormitório.
Takeji se sentia pesado, talvez um sentimento conflituoso gerasse dentro de si que o deixava em uma leve angústia. Colocando as mãos no bolso tentou se acalmar, não queria preocupar seu alfa que poderia estar dormindo a essas horas.
Sabia que ele era atento em demasia quando o assunto era si mesmo. Coda não mediria esforços em atravessar o oceano só por sentir que algo minúsculo havia de errado com seu amante. Amava isso nele, porém queria que o mesmo tivesse seu tempo de descanso, acreditava que ficar sempre atento custava energias.
Sorriu abertamente quando pensou mais um pouco a respeito, reconhecia aquela sensação de vazio e angústia. Sentia um leve formigamento em seu baixo ventre e aquilo só poderia ser um sinal de que seu cio se aproximava.
Desviou o olhar para Yushiro que digitava no celular, provavelmente contando aos seus pais sobre seu dia sem revelar sobre o trabalho. Sorriu internamente, e então soltou um suspiro alto que chamou a atenção de seu novo colega.
— Ne, essa semana vou ficar em casa — Takeji olhava para o céu estrelado enquanto caminhava lentamente com o menor.
— Por quê? Está se sentindo m*l?
O mais velho esperava que seu cheiro denunciasse o seu atual estado, apesar de que o cio sequer havia se iniciado.
Entretanto, Yushiro não fora apresentado para essa realidade, não conhecia os cheiros e pensava que os mesmos fossem algum tipo de perfume que se vende em uma farmácia.
— Hum... como devo explicar? — Os meninos olhavam para frente evitando o contato, não por vergonha, mas apenas para dar uma liberdade maior para conversarem. — Onde você mora as pessoas devem levar uma vida mais tranquila e despreocupada, mas no restante do mundo não é bem assim que funciona.
— Como assim senpai? — Yushiro já demonstrava sua curiosidade, e olhava para o mais velho que sorria tenro, enquanto escolhia bem as palavras para se direcionar ao mais novo. — Percebi que Shiroimura é uma cidade muito conhecida, mas nunca vi estrangeiros por lá.
— Shiroimura é uma cidade proibida digamos assim. Eles não permitem que pessoas que não sejam betas entrem.
— Betas?
O menor se aproximou do mais velho com sua curiosidade cada vez mais aguçada, queria ouvir bem mais sobre aquilo.
— Estudei uma vez na escola sobre a cidade de Shiroimura, somente betas entram lá. — Mexendo no bolso encontrou o celular com uma mensagem de Coda apitando na tela, digitou uma resposta rápida e então voltou a dar atenção ao seu calouro. — Você sabe sobre a nossa existência, não é?
— Hum.... seria relacionado aos cientistas? — Yushiro formava um bico nos lábios enquanto relembrava de suas aulas na escola. — Disseram que cientistas tentavam criar híbridos.
— E eles conseguiram, não existem mais seres humanos...
Durante todo o trajeto Takeji contava ao seu colega de quarto sobre a nova humanidade de híbridos que havia sido criado e dominado aquele planeta. Aquilo deixava o mais novo surpreso, tendo uma leve dificuldade em acreditar que esse era o mundo novo que precisava ser explorado.
Afinal, nos últimos dias as pessoas na faculdade agiam igualmente aos seus vizinhos da cidade natal. Ao saber sobre os cios e mordidas suspirou e relembrou da preocupação de seus pais quando disse querer ir a outra cidade.
Agora as coisas pareciam fazer sentido.
O mais velho não contou muita coisa já que era necessária a voz da experiência para sanar as dúvidas restantes. Mas o pequeno garoto sentia-se estranho com aquilo, precisava saber mais para poder se situar novamente.
Acreditava que a humanidade teria evoluído, mas não achou que era algo mais institivo. Dúvidas e dúvidas nasciam em sua cabeça, e agora se sentia amedrontado em ir à aula no dia seguinte. Mesmo assim respirou fundo e ergueu a cabeça para poder entrar no dormitório.
Agora que havia tomado a decisão de viver ali e recompensar seus pais, o faria mesmo que eles tenham lhe omitido algo importante como aquela nova realidade.
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Alguns dias haviam se passado, Takeji comentou com Yushiro sobre sua ausência e o motivo de precisar privacidade, assim como implorou para que lhe ligasse caso algo acontecesse. Porém o mais novo se sentia ansioso com sua pequena liberdade. Como Takeji iria para casa cuidar de seu cio junto a Coda, ele poderia ter um tempo livre para pesquisar mais sobre os híbridos.
Antes que o casal se ausentasse, Yushiro perguntou tudo o que conseguia e se sentia curioso. As respostas eram baseadas na medida daquilo que o casal sabia, já que algumas informações não eram ensinadas aos mais novos.
Controlara a vontade de ligar para os pais e pedir por explicações, porém Coda o aconselhara a não fazer. Afinal de contas, o casal Yushiro deveriam ter seus motivos para jamais ter ensinado sobre os híbridos ao filho.
O casal ensinou ao menor como sentir o cheiro do cio, mais precisamente o de Takeji que estava em seu início do ciclo. O menor ficou surpreso com o arome doce. Se o cheiro era tão adocicado e totalmente atraente, precisaria tomar cuidado com as pessoas em sua volta. Elas poderiam perder o controle para terem uma noite de prazer selvagem com alguém em cio.
Assim que a semana se iniciou, Yushiro teve de se acostumar a se virar sem seus amigos. Passar o almoço afastado das pessoas, ir ao trabalho a pé sem se perder, pular o muro evitando ser pego pela câmera de segurança.
Apenas os dois primeiros dias se seguiram assim.
Seu novo amigo, Mitsui, parecia interessado em lhe ajudar o acompanhando até a faculdade e o esperando nos portões após as aulas da tarde. Com isso o menor conseguiu se abrir e expressar sua confusão sobre os híbridos, assim como perguntar algumas coisas para o mais velho que respondia de bom grado.
Na verdade, o que Mitsui tinha de conhecimento era equivalente a uma biblioteca, e aquilo encantava o menor.
Enquanto caminhavam para os portões da universidade, Mitsui acariciava os cabelos de Yushiro que, por sua vez, tinha o rosto avermelhado.
— Não pense muito a respeito, isso é algo que acontece naturalmente e não afeta muito o nosso cotidiano. E você ainda tem que aprender a fazer algumas bebidas novas.
— Ah é verdade — Yushiro coçava a nuca e sorria envergonhado, estava tão absorto em sua recém-descoberta que havia se esquecido de seu trabalho. — Obrigado por me ajudar senpai, tem sido muito mais fácil assim, e me perdoe se estou te atrapalhando.
— Fique tranquilo não atrapalha de modo algum. É legal ter alguém como você por perto. — O mais velho mordia o lábio inferior e depositou um selar na bochecha do menor, que apenas corava mais do que poderia imaginar — Entre antes que alguém te pegue.
Yushiro assentia e então escalou o muro para pular, agora já não precisava de ajuda. Assim que adentrou o campus, foi até o portão e acenou ao seu amigo DJ, que retribuiu o cumprimento para começar a andar pelas ruas.
O menor ajeitara suas vestimentas e então se virou, assustando-se com a silhueta do garoto popular de cabelos descoloridos.
— Hum... Isso é interessante.
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