11.

1321 Words
Ele não me seguiu. Enquanto eu subia desesperada as escadas para o andar superior, eu sabia, que ele tinha ficado ali, me dando espaço para analisar cada palavra dele. Ele ainda não estava me seguindo quando entrei no banheiro e me tranquei no reservado. Eu sabia que ele não seguiria. Ele viu o caos que eu era. Eu era capaz de desgraçar o mundo dele, e quando eu reagi, correndo dele, ele sabia, que não deveria vir atrás, porque depois daquelas palavras, a reação de uma pessoa normal não seria lutar e correr. A reação esperada era que eu me derretesse nos braços dele. Deixasse ele me levar para o anexo e aí eu teria a oportunidade que eu precisava. Eu não precisava colher segredos. Eu poderia consegui-los de outras formas. Eu precisava cumprir a missão, antes que eu perdesse a cabeça de vez. Era isso que estava acontecendo. Eu estava saindo do prumo, de tudo o que treinei com tanto esforço para manter. - DESGRAAÇADOOOOO! - Eu gritei e me arrependi. Alguém poderia ouvir e a minha raiva poderia ser interpretada como uma ameaça quando ele amanhecesse sem vida. Como alguém podia ver tanto de alguém que normalmente não mostrava nada. Me sentir vulnerável era inadmissível. Eu preciso ir embora. Agora! Saí do reservado e o banheiro estava vazio. Encarei o meu reflexo no espelho. Eu sentia repulsa do tanto de beleza que fui agraciada. Era como se a minha feição tivesse sido desenhada por alguma força sombrinha para atrair presas. Eu tinha um tom de pele claro, com o desenho do rosto ressaltados nos lugares certos. As maçãs do meu rosto dispensavam maquiagem, eram demarcadas de forma natural. Eu tinha olhos redondos e um tom de verde com um círculo dourado em volta. Os meus cílios e cabelo eram loiros, um misto de dourado e branco, que iam até a cintura e que compunham com perfeição a obra de arte que era. Os meus lábios eram carnudos, vermelhos e sedutores. E o meu corpo era… Completamente desenhado pelos anjos, uma cortesã me falou uma vez. Volume e curvas nos lugares certos. Vermelho era uma cor que me favorecia e naquela noite eu estava particularmente deslumbrante. Isso fez com que o Frederico se encantasse e falasse aquelas coisas. Ele apenas usou um misto de palavras bonitas, com base em percepções e fofocas. Ter me atingido em cheio, atacando um ponto vulnerável foi um golpe de sorte dele. Uma sorte que mudaria assim que eu acabasse com a vida dele. - Eu consigo. Não terei medo. - Eu repetia isso quando sentia que não era capaz de algo. Eu sou Loredana Cavalcanti, a Assassina da máfia. Existem poucas coisas que eu não consiga fazer, e a maioria delas eu posso pelo menos tentar. Levei alguns segundos para confirmar que a minha confiança e controle estavam no lugar, e caminhei para fora direto para a saída. De lá eu pegaria um táxi e mandaria buscar o meu carro no dia seguinte. Eu pensaria como me aproximar do Frederico de outra forma, que não me colocasse numa posição vulnerável de novo. As sensações em relação a ele eram confusas. Na mesma intensidade que a minha missão determinava as minhas decisões, eu sentia um misto de confusão, gerados por outras sensações. Emoções. Ele era meu amigo de infância. Tive sonhos vívidos de um futuro com ele. E ele era um alvo que precisava ser eliminado rápido, antes que eu perdesse a compostura. Cruzei o arco da saída e pedi ao segurança um táxi. Parei na saída de luxo e aguardei, ainda separando a minha missão das minhas vontades controvérsias dentro da minha cabeça. O ar frio estava intenso, mas não me incomodou. Era bom sentir algo além de confusão. O frio era seguro e conhecido. Eu deveria ter desconfiado que ele não desistiria tão fácil. E agora, ali estava ele, completamente lindo e perfeito, encostado na pilastra a minha frente, escondido nas sombras, me observando. A gravata que antes estava solta tinha sumido e ele sustentava um olhar de admiração. Como se eu fosse a primeira coisa que um cego vê pela primeira vez. O meu coração bateu mais rápido e eu tentei controlar a respiração quando ele se moveu, caminhando com calma na minha direção. Entrando numa bolha imaginária que prenderia apenas nós dois. Uma bolha quente, envolvente que seria a minha perdição. Ele estava ao alcance das minhas mãos. Perto demais. Eu precisava tocá-lo. Eu precisava matá-lo. Eu queria tocá-lo, para confirmar se não era a minha imaginação. Ele parecia vindo de algum romance literário, de tão tenso que o ambiente ficava quando ele agia assim. Ele parecia despreocupado e ainda assim eu tinha toda a sua atenção. O misto de sensações voltou, correndo pela minha pele e transbordando algo quente em pontos sensíveis. Ele estava a poucos centímetros de mim. Se eu me inclinasse conseguiria encostar o corpo dele no meu. O frio que senti antes pareceu desaparecer quando a voz dele chegou até mim. - Desculpe se fui invasivo com as minhas palavras a pouco. - Ele me deu um meio sorriso. - Eu estou fascinado por você e não levei em consideração que poderia magoá-la com as minhas percepções. - Fui apenas pega se surpresa. - Eu consegui dizer. - Obrigada pela companhia, vou para casa agora. - Não vou deixar que vá sozinha. Eu te levarei. - Eu neguei com a cabeça. - Quero ir sozinha. Preciso… - A desculpa certa não veio. - Pensar. - Ele completou e eu olhei ele nos olhos. A cor deles me fez recordar de uma noite de nevasca certa vez. Claros e aconchegantes. Respirei fundo. - É uma forma de dizer. - Eu admiti, virando para a rua, esperando que o táxi não demorasse. - Eu estou honrado, de ter conseguido ocupar, mesmo que um pouco, as suas reflexões. - Ele não pareceu estar brincando. Olhei ele nos olhos de novo. - Talvez você tenha uma ideia distorcida do tamanho do poder que influencia nos meus pensamentos. - Ele sorriu. - Você é quase indomável… - Eu dei de ombro e caminhei para longe dele. - Bem… Você sabia que eu sou dono desse lugar? - Ele me acompanhou enquanto eu ia até o segurança. - Ou seja, você controla os guardas… - Eu deveria ter previsto isso. Ele não estava ali despretensiosamente me esperando. - Não terei um táxi certo? - Olhei para ele de novo e ele parecia envergonhado. Os meus sentidos e percepções ficavam confusos perto dele. - Você terá uma carona segura para onde quiser ir. - Ele deu um passo largo para perto de mim. - Tem um lugar que eu gostaria de te levar… - A voz dele me fez pensar em algo saboroso e picante. O meu baixo ventre reagiu. Lutei contra aquilo. - Frederico, acho que tivemos diversão demais por hoje. - Eu dei um passo involuntário para trás. - Não vou terminar essa noite na sua cama. - Ser direta assustava, normalmente, os homens. - Por mais que eu adoraria te ter na minha cama… Eu sei que você não aceitaria esse convite. É outro lugar...- Estreitei os olhos analisando.- Confie em mim… - Ele pediu baixinho. Eu preciso ir embora. Eu não estava sendo eu mesma naquela noite. O plano, a missão e a minha identidade estavam em jogo. Eu estava caminhando na beira de um precipício ficando tão próxima dele, passando dos limites necessários que eu mesma criava para obter o que eu queria sem me envolver, sem me afeiçoar. Eu não deveria ir em lugar nenhum com ele. Exceto se fosse para matá-lo. E não seria essa noite. - Prometo que não irá se arrepender. - Ele estendeu a mão e tudo o que lutei nos segundos anteriores se perdeu, porque eu não podia ganhar de mim mesma. - Ok, me surpreenda. - Eu pedi, segurando a mão dele.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD