12.

1093 Words
A minha vida estava repleta de decisões duvidosas. E essa era sem dúvida uma das maiores. Eu não perguntei aonde iríamos. Eu não precisava saber. Na verdade, eu não queria saber. Ele era envolvente de uma forma que me fez questionar se eu era a pessoa certa para acabar com a vida dele. Enquanto eu observava ele dirigir o carro eu me peguei pensando se eu seria capaz de deixar a luz daqueles olhos se apagarem. Se eu era capaz de apagá-las com as minhas próprias mãos. Esse pensamento me deu uma sensação quase de sufocamento e eu o afastei com rapidez. Lore, você está agindo como uma adolescente mimada. Olhei para frente, lidando com aquela sequência de pensamentos. - Quase consigo ouvir as engrenagens dos seus pensamentos. - Ele estava sorrindo, eu soube pela sua voz. - Para onde vamos? - Foi bom sair um pouco de dentro da minha cabeça e prestar atenção nele. - O meu avô me contava uma história, quando ele era vivo… - Ele começou. - De um casal de amantes que viviam um amor proibido. - Eu já tinha ouvido aquela história. - Quando eles foram descobertos eles fugiram para as margens do rio San Leonardo e contra tudo e todos decidiram que ficariam juntos. - Ele fez uma pausa. - Alguns dizem que eles se amaram nas margens do rio até a vida se esvair dos corpos deles, outros dizem que eles se mataram… Eu prefiro acreditar na primeira versão. - Uma lenda, aquela história era uma lenda muito antiga. - O resultado desse sacrifício foi a Cascata delle Due Rocche, que na minha opinião é o lugar mais lindo de toda a Corleone. - Estamos indo para uma cachoeira? - Ele assentiu. - Talvez eu não esteja com os calçados certos para algo assim. - Eu te levarei nos meus braços se for necessário. - Eu dei uma risada leve. - Quero apenas testar uma teoria. - A curiosidade despontou no meu coração. O meu estômago tremeu em resposta e eu senti um quentinho no peit0. Ele era lindo, idiot4 e romântico. Ficava cada vez mais evidente como tantas se perderam no corpo dele. Os pelos do meu corpo arrepiaram, e aquilo não tinha ligação nenhuma com o frio. Pensar no corpo dele mexia com os meus sentidos. Ignorei a sensação até onde pude e olhei para ele, dirigindo em silêncio, algumas vezes pelo trajeto. Eu nunca tinha ido até a Cascata delle Due Rocche. Eu tinha visto apenas fotos, mas na minha vida nunca tive tempo para ser turista na minha própria cidade. Os lugares que eu conhecia eram na sua esmagadora maioria os caminhos obscuros da máfia, locais que eu transitava sem ser vista, após tirar informações ou a vida de alguém. O carro parou e ele olhou para mim, sorrindo. Eu sabia que aquele sorriso abria portas para ele, e ele com certeza também sabia. - Chegamos. - Uma ansiedade assombrosa ferveu dentro de mim quando ele abriu a porta e desceu, dando a volta no carro e abrindo a porta para mim. - Aqui é pavimentado, apenas se quisermos ir até a beira teremos problemas com os seus sapatos. - Ele me estendeu a mão e eu me deixei conduzir por ele. Estávamos numa espécie de mirante, e a noite estava próxima de ser tomada pela luz do dia. Era possível ver os raios do sol começarem a tomar o céu preguiçosamente. A vista era de tirar o fôlego. A queda d’água era famosa por se dividir em dois, como a lenda dizia, uma queda para cada coração apaixonado, do casal da lenda. Eu era cética o suficiente para saber que aquela lenda não era mais do que isso, uma lenda. Mas, vendo o cenário completo, com o dia nascendo, e a água brilhando conforme o dia iluminava, eu quis que fosse verdade. Eu quase acreditei que aquilo fosse verdade. Que um amor assim era possível. Que em algum lugar naquele mundo terrível duas pessoas poderiam pertencer completamente uma a outra, que sacrificariam a própria vida para eternizar esse amor. Eu não percebi que estava suspirando. - Realmente, é deslumbrante. - Ele falou perto de mim. Eu me perdi na paisagem que por um segundo quase me esqueci que ele estava ali. - Muito belo, de fato. - Apontei para o céu. - E você deve fazer isso com frequência, para saber o momento certo para potencializar a visão e deixar, como você disse, deslumbrante. - Ele deu uma risada baixa. - Eu estou um pouco preocupado com o que você pensa a meu respeito. - Ele estava parado ao meu lado, e o calor do corpo dele emanava na minha direção. - Eu não preciso de lábia, paisagens ou truques para… - Ele parou de falar, pesando as palavras. - Para que as mulheres pulem em você? - Eu sugeri, ele me deu um sorriso triste. - Exatamente. Você é a primeira mulher que eu trago aqui. - Senti a surpresa nas minhas feições. - Eu normalmente venho aqui sozinho. Gosto de olhar a água correndo e pensar que em algum lugar desse mundo de merd4 existe um amor como o deles… Para mim. - Ele parecia estar mais perto agora. Ou talvez fosse o ar mágico do lugar que estava me envolvendo mais do que deveria. Eu não sabia o que dizer, então fiquei em silêncio. Ele se aproximou, deixando a boca a centímetros do meu ouvido. - E realmente, eu estava certo na minha teoria. - Qual teoria? - A curiosidade que nasceu antes agora estava forte. - Eu venho aqui para encontrar paz e esclarecimentos. Normalmente eu não encontro, me perco nos pensamentos… Eu me torno apenas um homem comum, com emoções. - Ele fez uma pausa, olhou para a queda d’água e depois para mim, um sorriso tímido se manteve nos lábios dele. - Isso aconteceu quando te vi pela primeira vez. - Eu pisquei. - Eu me senti um homem com emoções… - Eu me virei para ele, tentando entender o que ele estava dizendo. - Então eu te trouxe aqui, porque, além de você completar perfeitamente a beleza desse lugar, isso me fez sentir, pela primeira vez, paz de verdade. As palavras dele fizeram o meu coração quase explodir no peit0. Eu senti quando um espaço caloroso abriu em algum lugar, para emoções múltiplas saírem. Afeto, gratidão, alegria, serenidade, acolhimento… Um mundo de emoções me envolveu e eu soube, que assim como antes, ele havia atingido em cheio, um catalisador dentro de mim.
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