Eu me mantive em silêncio e imóvel. Um erro imenso, devido às ordens diretas que recebi.
- Tenho uma proposta. Quero contratar os seus trabalhos. - Analisei as feições daquele maldit0.
- Eu não trabalho para você. - A minha voz saiu mais firme do que eu imaginava.
- Eu posso te recompensar muito bem. - Ele deu um passo para frente e eu saquei mais uma faca. - Eu pagarei muito bem.
- Eu não quero o seu dinheiro. - Afirmei, sentindo a raiva subir pelas minhas pernas.
- Eu peço, por favor, que me escute. - Ele olhou ao redor. - Vi pelas câmeras o que você fez aqui e vim pedir, que você termine o seu trabalho agora e vá embora.
- Assim que acabar com você… - Ele estalou a língua e senti as minhas entranhas revirarem. Era uma mania que ele levava pela vida inteira, aquele estalar estava presente em muitas das minhas memórias.
- Moça, eu quero apenas assegurar que o meu filho não seja ferido. - Eu senti o mundo parar de girar.
Então ele sabia? Ele sabia que o Fred corria riscos?
- O seu filho não é um alvo. - Era uma mentira, das mais baixas que eu já proferi.
- Logo ele será. Ele está a caminho, e nada poderá evitar isso. Ele está vindo com a carga que será entregue aqui e que você deve receber, em nome do seu contratante, para me prejudicar. - O meu sangue bombeou mais rápido. - Por favor, não o mate. Eu p**o o que você quiser.
- Eu não sou responsável por receber a carga, o meu trabalho aqui, termina com você. - Eu pude ver o desespero dominar o olhar dele.
- Quantos homens? - Ele perguntou.
- Eu não tenho essa informação, mas serão homens suficientes. - O Fred morreria naquela noite, por outras mãos. - Avise-o, e ele poderá se salvar.
- Moça… - Ele suspirou. - Como posso te explicar…? - Ele apertou as têmporas. Aquilo estava demorando mais do que deveria. O camburão chegaria a qualquer momento. - O meu menino é um poço de teimosia. Nada impedirá que ele venha. Me diga, o que preciso fazer? - Olhei ao redor, sentindo a adrenalina comandar as minhas ações,
- Camacho, você não poderá fazer nada. Se eu te deixar aqui, morrerá também. - Ele apertou os lábios, como se soubesse que isso era inevitável. - E a sua morte não será essa noite. Não nas mãos das pessoas que estão a caminho.
- Então eu sou um alvo do seu contratante? - Neguei com a cabeça, calculando como eu faria para tomar a pior decisão da minha vida.
- Do meu contratante não. Você é um alvo pessoal meu. - Eu pude ver a surpresa no olhar dele. - Ainda preciso de você vivo, então não morrerá essa noite.
- É a minha noite de sorte então? - Eu me aproximei mais rápido do que ele foi capaz de reagir, eu golpeei a cabeça dele e sustentei o peso dele, antes que ele desabasse no chão.
- Nem de longe é sua noite de sorte, seu filho da put4! - Coloquei ele no chão e procurei as chaves do carro. Coloquei ele, com um pouco de dificuldade no porta malas. Enviei por mensagem, a localização dos demais corpos e dirigi o carro, para fora da propriedade, sentindo um desespero imenso.
Eu vou deixar o carro por perto, depois que o camburão passar, eu vou embora.
O Frederico que se vire.
Teimoso e idiot4. Vai morrer de qualquer forma.
Parei o carro a cerca de dois quilômetros da igreja e voltei pela escuridão a pé, tentando me convencer que não era o meu trabalho salvar aquele babac4.
O César Camacho iria te dever um favor dos grandes.
Isso era algo improvável neste momento. Eu poderia conseguir dele alguma informação vital para a operação do Dom.
Eu salvaria ele para matá-lo depois?
Balancei a cabeça, confusa sobre a minha decisão.
Ouvi o barulho do Camburão perto da estrada que eu caminhava e pensei em saltar.
Uma carona não ia m4l.
Eles vinham em uma velocidade média, e havia uma curva sinuosa logo à frente. Eu poderia tentar.
Me preparei e esperei, assim que ele reduziu para entrar na curva eu me joguei, segurando no ferro preso a porta traseira do pequeno caminhão.
Se eu contasse a alguém, provavelmente ninguém acreditaria que pulei em um veículo em movimento. Mas, ficar sozinha com os meus pensamentos estava ficando insuportável, e sentir o perigo de cair de cara na estrada, em alta velocidade, era uma distração bem vinda.
E foi isso que eu fiz nos minutos seguintes. Eu me concentrei em segurar com firmeza no ferro. Encolhi as pernas, para equilibrar o peso e tentei não pensar que o Fred estaria ali daqui a poucas horas. Pensei no meu breve encontro com o César, que tinha uma feição potente pelo filho, para se colocar em perigo daquela forma. Talvez ele soubesse que tinha mais chances de sobreviver a um encontro comigo do que qualquer outro.
Além dele, apenas uma pessoa sobreviveria.
O Frederico.
Teimoso, idiot4 e doce herdeiro da máfia Camacho.
De novo, foquei nos braços que estavam começando a ficar dormentes, e tentei não pensar.
Que ele seria apagado por uma bala que não era para ele.
Que eu falharia na minha missão.
E que eu nunca mais o beijaria.