Por dentro o Casarão era ainda mais exuberante. Com uma decoração fina, adornada por tecidos vermelhos nas paredes. Era um ambiente romântico, com cabines dedicadas à privacidade de clientes específicos. O que deveria ser o nosso caso.
Seguranças da família Cavalcanti estavam a postos em todas as saídas, o que justifica a dispensa do Frederico por guardas pessoais. O maître parecia estar nos esperando quando entramos e nos conduziu a uma das salas exclusivas.
- Achei que íamos nos divertir. - Eu falei baixinho, apertando o braço dele com a mão que estava enlaçada nos braços dele.
- E vamos, mas te prometi um bom vinho. - Ele me olhou, com uma expressão encantadora, a que ele reservava para seduzir mulheres por toda a Itália. - Prometo que será divertido.
Eu não questionei mais nada. Eu teria a possibilidade de investigar um pouco mais na privacidade de uma das salas, depois, se necessário, poderíamos jogar algo nos porões.
O vinho foi servido assim que eu sentei e em seguida ficamos sozinhos.
- Qual o seu vinho favorito? - Ele perguntou, segurando a taça entre os dedos.
- O que está disponível na minha taça. - Eu respondi sentindo o aroma cítrico do vinho branco que ali estava. Ele sorriu em resposta.
- Eu concordo. Mas, confesso que os brancos me atraem mais que os tintos. - Ele estendeu a taça para mim.- A paz mundial. - Ele brindou e uma onda de surpresa atravessou os meus nervos. Ele percebeu a dúvida na minha expressão, quando usou um brinde tão familiar.
- Eu brindo a isso desde que me lembro. - Eu sei exatamente quando foi a primeira vez que aquele brinde foi feito. Brinde esse que eu também usava até hoje. E eu teria dito as palavras se ele não tivesse brindado primeiro. Talvez revelando quem eu era. - Eu tive uma amiga na infância que dizia que a paz mundial era mais importante que a saúde. Ficamos horas discutindo sobre isso depois de um jantar entre as nossas famílias. - Eu sorri diante da lembrança, que se tornou imediatamente vivida na minha memória, e na dele também. - Depois de muito discordarmos, ficou decidido que iríamos brindar pela paz mundial, e faço isso até hoje. - Depois do pequeno discurso dele eu finalmente bebi o vinho, buscando relaxar os meus nervos.
Eu fui, sim, importante para ele, a ponto dele levar os meus ideais infantis para a vida adulta.
Ele degustou o vinho sorridente, mas nenhuma covinha apareceu. Aquele sorriso era uma máscara.
- E a sua amiga? Por onde anda? - Eu perguntei, sem conseguir me refrear. A tristeza atravessou o olhar dele, intensa e visível agora. - Desculpe estou sendo intrometida…
- Não… Tudo bem perguntar. - Ele começou. - Ela morreu. - Ele falou e eu esperei, que ele me desse qualquer explicação, mas ele não o fez.
Bebi o meu vinho em silêncio, esperando que ele se recuperasse e quando ele demorou demais a falar eu tomei a iniciativa.
- Sinto muito. - Ele me olhou. - Pela sua amiga. - Ele assentiu e encarou a própria taça.
Aquela menina, sonhadora e sorridente tinha realmente morrido, ela morreu na noite em que todos foram tirados dela. E sim, eu sentia muito por isso. A vida teria sido completamente diferente. Talvez, esse encontro não fosse para me aproximar para matá-lo, talvez fosse um encontro para amá-lo. Eu suspirei e ele sorriu.
- Desculpe o assunto indigesto. - Ele falou. - Falemos do que você gosta de fazer.
- Eu não tenho muitos passatempos. - Pelo menos nenhum que eu poderia dizer. - Livros, gosto muito de ler.
- O que você costuma ler? - Ele perguntou, grato pela mudança de assunto.
Discorremos sobre alguns temas, e ele compartilhou alguns livros que gosta também, percebi que tínhamos muito em comum.
- Agora, podemos parar com essa conversa afiada. - Eu provoquei. - Vamos nos divertir.
Ele fez um biquinho, o i****a.
- Achei que eu estava te distraindo o suficiente. - Eu me esforcei para não virar os olhos.
- A sua companhia é agradável, mas estou animada para tirar todo o seu dinheiro no póquer. - Ele ergueu as sobrancelhas, nitidamente surpreso. - O que foi? Está com medo?
Um sorriso surgiu nos lábios dele, enquanto me olhava nos olhos. Um brilho provocante passou ali e o meu coração acelerou em resposta. Ele sabia manipular o charme dele para envolver as suas companhias, e mesmo que o meu corpo estivesse respondendo a forma que ele me olhava eu não cederia. Eu tinha uma missão, descobrir o máximo de informações possíveis e depois acabar com ele.
O meu coração acelerou com esse pensamento. Eu deveria fazer isso logo, quanto mais tempo de proximidade com ele, maior era o risco dele me envolver no charme dele, e não existia espaço para isso. Não na minha vida, e muito menos no meu coração.
Levantei quebrando o encanto que ele tentava jogar em mim e sorri para ele.
- Vai deixar uma dama desacompanhada no meio de um monte de homens violentos da Corleone? - Ele sorriu e segurou a minha mão.
- Fique tranquila, vou te proteger. - O meu sorriso foi honesto. Ele nem imaginava que sozinha eu poderia derrubar até 10 homens. Ainda assim, achei galante da parte dele afirmar que me protegeria.
Caminhamos pelo salão e as pessoas pararam para nos observar. Eu normalmente não recebia tanta atenção, até porque dificilmente saia por tanto tempo em público, mas nesse momento senti muitos olhos em mim.
- Você está deslumbrante… - Ele falou perto do meu ouvido. - Por isso todos estão te admirando.
- Discordo. - Respondi, focando na porta de frente, que eu sabia que levava ao segundo ambiente.
- Confie em mim, eu nunca estive com uma companhia tão maravilhosamente linda. - Eu dei uma risada baixa, sabendo que era uma mentira deslavada. - Juro, pela minha vida. - Eu senti os nervos tencionarem com o impacto das palavras dele.
- Nunca jure pela sua vida. - Eu o repreendi. - Somos herdeiros da máfia, a vida é o que temos de mais precioso. - Ele me encarou, perdendo as palavras por um momento.
Eu mordi a minha língua, sabendo que falei demais. Ele se aproximou de mim, com uma agilidade que me surpreendeu.
- Pela minha vida, você é a mulher mais linda e teimosa que eu já tive como companhia. - Parei de frente para a porta, que levava a um par de escadarias, uma que levava ao terraço e outra que levava ao porão. Me virei para encará-lo, sentindo a adrenalina subir pelo meu corpo.
- Você não parece ter apreço pela sua vida. - Ele se limitou a sorrir.