6.

1202 Words
Dentro do carro ele não se moveu, e eu esperei que ele dissesse alguma coisa. Ele não o fez, e eu não tinha nervos para ser paciente. - Onde vamos? - Perguntei, tirando ele de um tipo de tr4nse. - Vamos até a Taberna de um amigo, tomar um bom vinho e conversar. - Olhei para ele, disfarçando a minha expressão de surpresa. - Poderíamos ter feito isso aqui.- Afirmei e ele sorriu. - Vamos evitar fofocas desnecessárias. - Ele falou simplesmente e eu me limitei a assentir. Ele ainda não se moveu, e eu esperei, um pouco mais paciente agora, enquanto ele refletia profundamente, o olhar perdido a frente… A surpresa foi grande, quando ele virou na minha direção. - Você já teve a sensação de conhecer alguém e parecer que você já conhecia? - Essa era a hora que eu deveria saltar do carro, e ir embora. - Na verdade, não. - Eu respondi e ele piscou, ainda preso nos meus olhos. - Bem, eu tive essa sensação com você. - Eu dei um sorriso para ele, pronta para mudar de assunto. - Você parece ter conhecido muitas… variedades de pessoas, talvez seja só impressão sua. - Ele mordeu o lábio de novo, e o segurou entre os dentes. Ele tinha lábios vermelhos e fortes, que deveriam ter um sabor que remete a pecado, lábios ágeis que sabiam como levar alguém à loucura… Pisquei para afastar o pensamento, e virei o rosto, com o máximo de força que encontrei. Eu precisava ser mais cuidadosa. Ele dirigiu em silêncio, e eu percebi que ele estava animado, pela expressão dele. A expressão familiar de menino travesso beirando as feições dele. A covinha funda na bochecha direita me dizia que ele estava triunfante de ter conseguido me enfiar em um carro. Idiotaa, lindo e idiotaa. Olhei para as árvores passando ao redor e listei o que eu precisava tirar de informações dele naquela noite. 1 - Quais eram os planos dos Camacho para o futuro. Quando ele se tornasse o chefe da família. 2 - Ele tinha uma pretendente? 3 - Qual era a maior fonte de lucro deles, além é claro, das drogas. Eram informações valiosas e que eu sabia que seriam muito bem recompensadas pelo Carlo. - Você é sempre tão silenciosa assim? - Ele perguntou, um tom divertido na voz, e me tirou dos meus pensamentos. - Não vejo necessidade de preencher o ambiente com assuntos sem fundamento. - Respondi honestamente. Era parte do treinamento. Falar quando necessário com o alvo. - A sua voz é muito bonita para não ser ouvida. - Olhei na direção dele e ali estava, o olhar de vitória naquela cara ridícula e linda. - Você precisa admitir que eu tenho razão. - Eu não concordo. - Falei por fim. - A beleza da voz de alguém não deveria autorizar uma tagarelice desnecessária. - Ele ponderou o meu comentário, ainda sorrindo. - Então, falemos de algo que não seja considerado tagarelice. - Eu esperei. - Você vai casar com o Eduardo? - O gelo caiu na minha corrente sanguínea e respirei fundo antes de responder. - É o plano. - Respondi, sem me estender. - Vocês foram criados como irmãos. - Ele falou, parecendo incomodado. - Essa é a sua opinião? - Perguntei e ele negou com a cabeça. - Isso é o que toda a Corleone sabe. - Ele arriscou olhar de novo para mim, a covinha tinha sumido. Não era um assunto divertido. - A Corleone não sabe de nada. - Falei. - Somos qualquer coisa, menos irmãos. - Percebi a verdade naquela afirmação. Eu e o Eduardo nunca fomos próximos, não desse jeito. Enquanto ele estava confortável e amado, na segurança dos muros da mansão Cavalcanti eu estava em qualquer outro lugar, me preparando para me tornar quem eu era. Quando finalmente finalizei o treinamento e passei a ter residência fixa lá, ele sempre me tratou como uma concorrente, como se eu fosse capaz de tirar tudo o que ele tinha. - Então, vocês são amantes? - A pergunta me pegou de surpresa de novo. Um dia poderíamos ser, mas não hoje, nem em um futuro próximo. - Não. - E não expliquei. O tom da minha negativa deixou claro que era um assunto desconfortável, e pelo que observei ele não iria falar mais disso, pelo menos não essa noite. - Qual o seu interesse nisso tudo? - Perguntei, esperando ter uma resposta honesta. Eu desconfiava que ele estava apenas confirmando se poderia me levar para a cama sem começar uma guerra entre as famílias. - Fiquei curioso. O desinteresse dele e depois o seu não condizem com o que as pessoas dizem. - Eu não tinha certeza se ele estava falando a verdade. - De qualquer forma, você é prometida a ele, mas ainda não tem um contrato, certo? - Eu assenti. - De novo, qual o seu interesse nisso? - Ele apertou os lábios quando olhou para mim de novo. - Eu estava apenas curioso. - Estreitei os olhos analisando se ele estava sendo honesto. - Não será isso que me impedirá de ir para cama com você. - Falei por fim, era melhor que eu esclarecesse as coisas o quanto antes. - Eu sei. - E a resposta dele me surpreendeu. - Você é o tipo de mulher que faz apenas o que quer. - Olhei para frente, incomodada com a resposta dele. Ele estava errado. Em partes, pelo menos. A promessa de pureza, não se aplicava a mim, por isso o Eduardo insistia tanto nisso antes do tema casamento se tornar real. Eu poderia ir para cama com qualquer um. Eu não era uma herdeira de sangue da máfia, pelo menos não de uma família que ainda existia. O que me impedia de pensar em atividades carnais era o meu foco, as inúmeras missões que eu cumpria em nome do Dom. Isso me esgotava. Sem contar, que fiquei 1 ano em uma das casas de praz3r em Nápoles, para aprender a seduzir e dominar os homens. Justamente para aprender a manipulá-los, com a arma mais poderosa que alguém pode ostentar. O desejo. Pensando na afirmação dele, eu tinha autonomia para fazer o que eu queria, mas ainda assim, não tinha. Uma sensação de tristeza ameaçou me atingir e eu a calei antes que fosse tarde demais. Sentir algo assim era inadmissível. - Falta muito? - Perguntei apenas para mudar de assunto. Eu simplesmente não tinha resposta para a afirmação dele. - É logo ali. - Dois minutos depois, ele parou o carro em frente a um casarão. E esse era o nome do lugar. Casarão. Uma propriedade com as paredes brancas, que lembrava a casa branca. A taberna não era de um amigo, era da família Camacho. Era uma das propriedades mais caras da Corleone e abrigava um restaurante como fachada, e uma casa de jogos nos porões. Eu senti um sorriso abrir nos meus lábios. - Conhece esse lugar? - Eu conhecia. Matei 3 homens ali dentro nos últimos dois anos. - Vim aqui, duas vezes, com o Eduardo. - Menti. - Para jantar? - Ele arriscou. - Claro… - Uma luz animada brilhou nos olhos dele.
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