Quando um dos seguranças abriu as portas. Percebi uma troca de olhares entre eles. Ele deveria levar meninas inocentes por aquelas escadas escuras sempre, e os seguranças devem manter outras pessoas afastadas.
As escadas tinham claridade suficiente para que eu não caísse, mas fora isso, a luz era bem baixa.
- Aqui que você normalmente seduz mulheres inocentes? - Perguntei, para ele saber que eu estava sempre um passo à frente.
- Nem sempre. - Ele admitiu. - Gosto de levá-las ao meu anexo na Mansão, lá, elas se abrem muito mais do que aqui. - Eu dei uma risada, surpreendendo até a mim mesma.
- Quantas mulheres você já desgraçou? - Percebi um misto de curiosidade e um sentimento mais denso no meu coração. Me arrependi de perguntar na mesma hora.
- É isso que pensa sobre mim? - O tom dele era de brincadeira com a pergunta.
- Só estou confirmando informações de domínio público. - Respondi, brincando.
Ele se moveu com uma velocidade graciosa, desceu no degrau a minha frente e parou de frente para mim.
- Essa informação é relevante para você? - Ele perguntou, agora um pouco mais sério. A voz dele era provocante e senti o meu estômago contrair. - Quer saber o tamanho da concorrência? - Ele percebeu o choque na minha voz quando respondi.
- Isso não me interessa. - Ele deu um sorriso torto e pareceu se aproximar. Cada célula do meu corpo entrou em alerta com aquela proximidade, e avaliei se era melhor virar e ir embora.
- Caso, em algum momento interesse… - A voz dele era pouco mais que um sussurro. - Para você, não existe nenhuma concorrência. - Eu pisquei algumas vezes, processando aquelas palavras. Ele estava tentando flertar comigo? E infelizmente para ele, esse tipo de proximidade não tinha efeito em mim, pelo menos normalmente não tinha.
- Eu não ligo para as suas aventuras amorosas. - Eu estava sendo honesta, em partes, senti o sentimento denso de antes apertar a minha garganta.
- A forma que você está me olhando agora diz outra coisa. - i****a.
- Então me diga, Frederico, como exatamente eu estou te olhando? - Eu era mais um jogo para ele, e se para conseguir cumprir a minha missão fosse necessário, eu jogaria.
- A forma que morde o lábio, quando pergunta algo sobre mulheres que se perderam nas minhas mãos, me diz que talvez você queira se perder também. - O ar fugiu de dentro dos meus pulmões e o meu coração falhou uma batida. Levei alguns segundos para me recuperar, mas ele já sorria triunfante. Eu não tinha uma boa réplica para aquilo. Eu não pensei em nenhum momento sobre aquilo. Seduzi-lo poderia ou não fazer parte da minha missão, mas eu ainda estava estudando a situação, e ele estava tomando conclusões sobre ações minhas que eu não tinha premeditado. Eu estava perdendo o controle da situação, e fui tola, completamente tola, ao me enganar achando que eu tinha o controle.
- A sua língua, normalmente é mais afiada que isso. - Ele falou baixinho. - Um silêncio prolongado é uma atitude nova.
- Eu sou imprevisível. - Falei, com pouca convicção, considerando ir embora agora.
- Eu espero mesmo que seja. - Ele segurou o meu pulso, como se tivesse previsto que eu ia correr escadas acima. Se aproximou de mim e eu prendi a respiração quando o cheiro marcante dele me envolveu, fazendo o mundo girar mais rápido. - Eu deveria te beijar agora. - Ele falou, quase tocando os lábios na minha orelha. Eu pisquei devagar. - Mas, se diz que é imprevisível, vou esperar até você pedir. - A reação do meu corpo foi descontrolada, respondendo à provocação. Eu queria puxar ele para mais perto, sentir os lábios firmes dele, saber como era me perder nas mãos dele…
PARE COM ISSO! - O pensamento me tirou do torpor. Era o treinamento falando, a memória muscular soltando um choque nos meus nervos, para que eu colocasse os pés no chão.
Eu era uma arma, criada para executar e destruir obstáculos. Ele era o meu alvo. Qualquer que fosse o envolvimento que ele me convidasse a ter, era impossível. Eram limites demais para serem ultrapassados.
Alvo.
Ele ia morrer, no final de tudo isso.
Eu não podia me envolver.
Emoções eram fraquezas, e eu não tinha fraquezas.
Dei um passo para trás, tomando uma distância segura dele, ele não se assustou e não avançou. Me concentrei, movendo a máscara rapidamente para cobrir qualquer tentação que ele pudesse reconhecer nas minhas feições.
Senti a pistola quase queimar na minha perna. E respirei fundo. Isso durou dois segundos.
- Acredite quando eu digo, você irá se decepcionar com as suas expectativas em relação a mim. - Ele me observou, enquanto tentava entender o que fez de errado. Como a provocação dele não deu resultado. Ele deveria fazer aquilo com todas, até que elas implorassem para ele as beijar. O plano dele nunca falhou, percebi na forma que ele estudou a minha mudança de humor. Ele ficou confuso, surpreso…
Mulher errada.
Eu desci as escadas, deixando de sentir e quase de existir, enquanto me afastava dele.