27.

1024 Words
Eu devo ter ouvido errado. Não é possível. Ele manteve o sorriso aberto, enquanto eu processava a última frase. Os meus pensamentos se expandiram e eu avaliei rapidamente todas as minhas possibilidades. Fingir que não entendi. Fingir que ele não disse nada. Mentir, descaradamente, dizendo que ele está maluco, que me conhece a pouco menos de uma semana. Perguntar o que ele quis dizer. Ele interrompeu os meus pensamentos, quando perguntou: - Por que você não me disse quem era? - Eu pisquei, uma, duas, três vezes. Tentando desesperadamente ganhar tempo. - Eu não estou entendendo… - Ele me interrompeu de novo. - Não minta. Não negue. Eu soube assim que vi os seus olhos quem você era. - Eu continuei piscando, sentindo cada gota do meu sangue congelar. - Eu gostaria de uma explicação, minimamente aceitável, para você esconder de mim, logo de mim, que você não só está viva, mas está aqui, nos meus braços. Você está aqui. Jordana, por que não me contou? Eu me afastei dele sem me preocupar se eu ia machucá-lo. Ele não me impediu. Um milhão de possibilidades passaram diante dos meus olhos e em todas elas o resultado final era sempre o mesmo. Agora, quem morreria, seria eu. - Fred… - Eu pensei em argumentar. Mas, como eu diria para ele que o pai dele que foi responsável por tudo o que aconteceu, e que foi por isso que o Dom me escondeu, sem levantar suspeitas? Ele saberia da minha sede de vingança assim que eu contasse tudo. Ele continuou esperando, paciente, que eu lidasse com o turbilhão de emoções que me atingiu. - Fred… - Eu tentei de novo, eu poderia contar uma meia verdade. Omitir o envolvimento do pai dele e pedir que ele guardasse o meu segredo. Se o pai dele descobrisse que eu estava viva, ele iria querer a minha cabeça. Eu poderia me tornar uma grande ameaça para os negócios dos Camachos, e o Fred, que me olhava admirado nesse momento, não tinha ideia do perigo que nós dois corríamos agora, que ele sabia quem eu era. - A Jordana morreu naquela noite. - Eu comecei, tentando não me descontrolar. - Não para mim. - Ele deu um passo na minha direção. - Não teve um só dia da minha vida que eu não pensei em você, em tudo o que deveríamos ter sido… - Eu neguei com a cabeça. - Não crie expectativas, por favor… Eu sou Loredana Cavalcanti, herdeira da família Cavalcanti, prometida ao Eduardo… - Eu olhei para o chão, por alguma razão ficou doloroso demais olhar ele nos olhos. - Nós não deveríamos ser nada. Por favor, não conte para ninguém… - Ele deu mais um passo. - Eu não pretendia divulgar o seu segredo, imagino que manteve a farsa da sua morte, como medida de segurança. - Eu assenti com a cabeça. A minha garganta queimava feito brasa e eu sabia que era uma questão de tempo até que eu desabasse em lágrimas. - Lore… - Eu olhei para ele, a minha visão estava embaçada e eu respirei fundo, tentando desesperadamente conter o choro. - Eu sempre te amei. Não diga isso. Por favor, não fale algo assim... Era apenas o que passava na minha cabeça. Aquelas poucas palavras me desmontaram completamente. Foi demais para mim. Durante a minha vida inteira, eu sempre tive uma pequena esperança de ouvir algo assim. Amor não era algo que eu merecia. Amor, não era para mim. Uma assassina treinada para não sentir. Eu tenho lembranças de antes de tudo. Do amor pelos meus pais, pelos meus amigos, pelo amor inocente que senti pelo Fred. Amores esses que morreram com a Jordana Comparini. Eu era incapaz de amar. Então, eu usei a única ferramenta que se apresentou para mim, para sair daquela situação. A negação. - Não diga isso. - Eu fui mais rude do que eu gostaria. - Aquilo era coisa de criança. Somos adultos agora… - Adultos que estão loucos um pelo outro. - Ele argumentou, se aproximando mais e eu dei um passo para trás. Eu não conseguia mais olhar para ele. - O que temos é físico e apenas físico. E é bom porque é proibido. Não vai acontecer mais. Não me procure, esqueça da minha existência, por favor. - Eu não me dei conta das lágrimas até me virar e quase correr para longe dele. Eu nem cheguei no portão quando ele me alcançou. - Por favor, me ouça… - Ele me segurou nos braços e me fez virar para ele. - Lore, olhe para mim. - Levantar o olhar era doloroso demais. Ele me reconheceu. Ele admitiu que me amava e eu ia matá-lo. Isso era injusto em muitos níveis. - Olhe para mim. - Eu levantei o olhar, sabendo que eu me perderia no tom verde dos olhos lindos dele. Ele estava abalado, assim como eu, com a ideia de me encontrar. - Eu quis a Lore antes de aceitar que você era a Jordana… - O meu coração quase gritou. - Eu quero você, não me importa o seu nome, de onde veio ou o que fez para chegar até aqui. - Você não sabe o que você está dizendo. - A minha voz não era mais do que um sussurro. - Você não tem ideia do que precisei lidar e fazer para chegar aqui. - A compreensão tomou os olhos dele. - Não, eu realmente não sei como foi, mas eu quero saber de tudo… E participar daqui para a frente. - Você me conhece faz uma semana… - Eu argumentei. - Eu te conheço a minha vida inteira. - Ele me corrigiu. - Sempre foi você. Ali, tão perto… - Ele encostou a testa na minha e eu não tinha forças para fugir. Eu passei tempo demais evitando sentir algo que não fosse raiva. E nos últimos minutos eu vivenciei um turbilhão de emoções que eu não conseguia controlar ou impedir. Então quando ele me puxou para perto, eu não recuei. E quando ele me beijou, eu retribui. E eu sabia, que se ele não parasse, eu também não pararia.
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