Insuportavelmente irritada era pouco para como eu estava me sentindo. Eu queria acabar com a vida dele ali mesmo.
- O que você quer? - Perguntei, fechando dentro de mim a energia caótica que ameaçava me dominar.
- Eu quero me divertir, e a oportunidade de chegar tão perto de alguém como você… É impossível ignorar. - Ele percebeu a minha expressão de incredulidade. - Você deve imaginar, que em um lugar como esse, diversão, do tipo que você pode me proporcionar, é raro.
- Eu não sou como as mulheres que você está acostumado, não me jogarei aos seus pés. - Eu demonstrei uma ofensa que na verdade eu não sentia. Ele estava sendo movido pelo desafio da minha recusa, uma característica comum de homens como ele.
- Não, você não é nada como as mulheres que eu conheço. - A forma que ele disse foi séria, pela primeira vez em vários minutos. - E talvez você seja exatamente tudo o que eu preciso.
- Você é convencido em demasia! Já te disseram isso, Frederico? - O sorriso quente voltou ao rosto dele.
- Já te disseram que você é uma criaturinha bastante violenta? - Eu gargalhei com a pergunta, a raiva que eu sentia até poucos segundos começando a se dissipar. - Pelo menos eu te faço rir.
- O que quer dizer com isso? - Ele se aproximou mais e eu dei um passo para trás involuntário.
- Normalmente, depois de alguns sorrisos e palavras quentes… - Como se fosse possível, ele estava ainda mais perto. - Eu estou mergulhado entre pernas lindas. - Eu pisquei, tomando consciência que as minhas pernas e todo o meu baixo ventre queriam exatamente isso.
- As mulheres que você se relacionam são muito frágeis. - Eu constatei.
- Ou eu que sou muito sedutor e intenso? - A respiração dele era quente, e com a proximidade, eu podia ver os lábios inchados dele que me convidavam para saboreá-lo.
Eu dei mais um passo para trás e senti as minhas costas contra a parede, ele me encurralou, e perdida no conflito de sensações, eu não percebi.
- Frederico… - Eu comecei a falar quando senti as mãos dele na minha cintura, por dentro do meu casaco. A minha cabeça desenhou o movimento que eu deveria fazer, para afastá-lo, mas o meu corpo não obedeceu, não! O meu corpo traidor latejou intensamente por cada ponto quando ele colocou a ponta do nariz frio no meu, a boca a um movimento de distância e eu quase entrei em curto completo.
- Eu prometo não ser desrespeitoso, quero apenas conhecê-la. - Ele sussurrou contra a minha boca, os olhos dele brilhando de excitação. O calor do corpo dele era forte e imaginei como seria delicioso abraçá-lo e sentir ele em mim.
Seja forte! Não tenha medo!
Segurei os pulsos dele, sustentando o seu olhar, e me soltei. Depois puxei o casaco com força, sentindo a tentação presa em mim. Coloquei no rosto a minha expressão mais ameaçadora, que era uma das muitas máscaras que eu usava, quando me sentia acuada. E eu estava completamente acuada. Se ele sequer soubesse que bastava um movimento…
- Você parece… - Ele ponderou as palavras. - com todo o respeito… Selvagem. - Ergui as sobrancelhas para ele. - E normalmente, eu procuraria domá-la, com todas as ferramentas que eu tenho ao meu dispor. - De alguma forma ele parecia mais quente agora, o calor do corpo dele ainda perto, e o calor brincando graciosamente ao meu redor. - A verdade, Senhorita Cavalcanti, é que eu quero pagar pra ver, do que você é capaz, quando está livre… Quando não precisa agir como uma herdeira Cavalcanti.
Eu sou capaz de matar, desmembrar e sumir com os restos mortais, sem deixar rastros.
- Você talvez se decepcione com a sua expectativa, sobre alguém como eu. - Eu fui honesta com ele e o sorriso voltou ao seu rosto.
- Eu duvido que eu possa me decepcionar com algo tão valente e brilhante quanto você.
E o abismo de tentação abriu na minha frente de novo. Eu sentia a honestidade dele. Ele estava curioso e queria me desbravar, talvez me conduzir sobre as minhas descobertas selvagens. Ele era persistente, eu tinha que reconhecer. Eu não estava sendo apenas um desafio para ele… Eu era o primeiro desafio de verdade que esse garoto via na vida.
Alguém intocável, que nunca esteve em lugar nenhum que ele frequentou.
Que ele pouco conhecia de onde veio e nem imaginava para onde ia.
E ainda assim, tão perto, vendo tanto, ele não sabia que já me conhecia. Ele não lembrava, não entendia o que resultaria ao se aproximar de mim.
Ele esperou, e esperou enquanto eu avaliava as palavras dele. Enquanto eu pesava as consequências daquilo. E eu realmente estava fazendo isso. Essa proximidade era muito além do que eu precisava para a minha missão. Normalmente, quando um alvo pensava em algo mais comigo, ele estava a poucos minutos de morrer.
E com ele, não seria diferente. Eu não acabaria com ele essa noite, mas ele já estava no ponto para que eu o fizesse. Tão deslumbrado que nem imaginaria o perigo que corria.
O meu treinamento foi intenso e durou muitos anos. Além de aprender a lutar, atirar e controlar uma luta, eu aprendi como me moldar às necessidades na minha vida. Eu poderia me tornar o que eu precisasse para atrair as minhas vítimas.
Se ele queria alguém forte ou submissa, eu sabia ser assim. Ou se precisava de alguém burra ou que o surpreendesse, eu também me moldava. Era a primeira vez que a guarda estava baixa o suficiente para que um alvo visse o que eu era. E aquilo não foi de forma nenhuma intencional. Aquele evento foi um erro, eu deveria ter me aproximado de outras formas. Fiquei vulnerável e ele não era um alvo desconhecido.
E ele era o alvo mais importante que tive durante toda a minha carreira como assassina da máfia.
- Eu garanto que no fim, você vai se decepcionar. - Eu afirmei, devolvendo o sorriso dele. Ele segurou a minha mão e eu não recuei. Eu não o mataria naquela noite.
Eu precisava estudá-lo, para que eu pudesse pensar a melhor forma de fazer isso, sem levantar suspeitas para a minha família. Eu precisava entender o que ele queria da vida, para entregar exatamente isso, como uma confidente, para conseguir tirar segredos dele antes de finalizar a minha missão. Eu precisava deixá-lo tão envolvido que ele nunca desconfiaria que eu poderia fazer m4l para ele. E tudo isso sem me deixar envolver.
Sem dúvidas era a missão mais importante que eu já encarei.
Caminhei até a porta do passageiro do carro dele, um carro digno de um chefe da máfia. Blindado, preto e caro. Um volvo novo e brilhante.
- Sem guardas? - Perguntei, analisando o quanto ele sabia sobre qualquer perigo.
- Hoje não será necessário. - Ele respondeu antes de entrar no carro.
Ele estava facilitando demais pra mim. Senti um pequeno alerta, que aquilo poderia ser uma armadilha e o ignorei. Ele só era presunçoso demais para pensar que uma mulher como eu poderia fazer algo contra ele.
O plano dele deveria terminar me levando para a cama dele e só. Isso não ia acontecer, nem naquela noite, nem nunca.
Seria a primeira decepção dele comigo.
A decepção dele, e por algum motivo, a minha também.