9.

1190 Words
O salão de jogos me era familiar. Eu vim aqui algumas vezes, e sabia que fortunas eram feitas e perdidas ali. A maioria esmagadora dos jogadores presentes eram homens. Mulheres só estavam ali para servi-los. A única mulher jogando, era sempre a mesma. Gertrudes Quimera era velha o suficiente para não ser considerada atraente. E ela normalmente provocava bastante confusão sendo a chefe da própria família, se recusado a casar e assumindo os negócios ainda jovem, depois do falecimento precoce do pai. Depois de muitas provações, apenas por ser mulher, ela merecia um lugar naquelas mesas. Ela piscou algumas vezes quando me viu e eu assenti para ela, como quem encontra uma companheira. Essa era a nossa dinâmica de sempre, em qualquer evento. Eu era a renegada, herdeira sem herança. E ela era o Dom de uma família que deveria ter acabado. Cada uma na sua bolha, com as suas dificuldades. Ela voltou a atenção ao seu jogo e eu continuei caminhando para a mesa dos fundos, o Frederico bem perto, mas em silêncio. Me coloquei em um dos lugares e ele se sentou ao meu lado. O dealer me olhou. Ele já me conhecia e nos incluiu no jogo. Na mesa tinham mais dois homens que não se deram o trabalho de me encarar, apenas disseram "olá" ao Frederico. Assim era aquela sociedade sombria. Se as mulheres não estivessem servindo elas eram invisíveis. Joguei em silêncio, apostando em mãos conservadoras, como eu aprendi a muito tempo atrás, apenas para distrair os meus adversários. Eliminei o senhor à minha frente que pareceu me ver pela primeira vez quando eu ganhei dele uma mão que o fez zerar o seu estoque de fichas. Não demorou muito para o Frederico eliminar o outro, até que ficamos os dois na mesa. Jogamos por um tempo em silêncio, ganhei algumas, perdi outras, mas eu sabia que ele estava confiante pela forma que olhava as próprias cartas. Um par de Ás veio na minha mão e eu agi despreocupada. Apenas pagando o valor mínimo para a jogada. Percebi um sorrisinho nascer na feição dele e o dealer virou as 3 primeiras cartas. Outro par de Ás bateu na mesa e eu soube que aquilo estava ganho. Continuei conservadora, apenas pagando a aposta dele. Quando a 4 carta virou, ele apostou tudo. E eu olhei para ele, fingindo um olhar inseguro. - Vai fugir? - Mantive a expressão de dúvida. - Não vou te julgar se fugir. - Na verdade… - Olhei ele nos olhos, a expectativa dele crescendo. - Quero pagar a sua aposta e incluir mais uma coisa. - Ele piscou surpreso. Percebi pelo canto de olho o dealer sorrindo, aquilo era comum. Troca de favores e informações importantes eram negociadas ali. - Faça a sua aposta. - Respirei fundo e sorri. - Se eu ganhar, você me responde 3 perguntas. - Ele piscou. - Sem limitar o tema ou qual informação me dará. - A curiosidade brilhou nos olhos dele. - E se eu ganhar? - A minha aposta era um preço baixo para jogar. - Eu farei o que falou agora na escada, te pedirei o que você quer que eu peça.- Ele ergueu as sobrancelhas. Um beijo, eu pediria um beijo, deixando ele atingir a vitória que ele tanto queria. Um beijo era nada perto do que ele poderia me dar de informação. E ele era um macho alfa buscando uma presa que tinha o dom de escapar dele. Ele pensou por 5 segundos. - Feito. - Empurrei todas as minhas fichas, sabendo que eu tinha muito mais que ele. Que mesmo se ele ganhasse, eu ainda estaria no jogo. - Prontos? - O Dealer perguntou. Assentimos juntos, olhando um para o outro. Ele virou a última carta e era um 5. O 4 ases ainda eram os mais fortes, sem possibilidade dele bater. Ele piscou duas vezes e virou as cartas. Ele tinha apenas um par de reis. Triunfante, eu sorri e virei a minha mão. Pude ver a cor sumir do rosto dele quando ele se deu conta que perdeu feio para mim. - As pessoas normalmente me subestimam, por eu ser mulher. - Ele sorriu. - Você me manipulou. - Ele afirmou. - Talvez um pouco. - Admiti e me despedi do dealer. - Jo, foi bom te ver. - Digo mesmo Lore, bom retorno. - A risada do Frederico me fez rir. - Você sabia que ela ia acabar comigo? - O dealer assentiu sorrindo enquanto ele levantava. - Ele nunca me viu perder. - Admiti e caminhei até o bar, com o Frederico ainda incrédulo atrás de mim. - Como você fez aquilo? - O tom dele era divertido. - Eu apenas usei o meu charme a meu favor. Normalmente parecer uma donzela em perigo e confusa faz com que vocês, homens, achem que estão em vantagem. - Esperto… - Sentamos no bar e nos servimos de vinho. - Vamos ao meu prêmio! - Falei, animada e ele virou os olhos. - Temos um acordo, Frederico. - Eu sei. Responderei às suas perguntas. - Ele parecia decepcionado. - Você nunca perdeu uma aposta no pôquer? - Perguntei sorrindo. - Eu não vou te perguntar nada muito íntimo, fique tranquilo. - Eu só estou decepcionado, que o meu prêmio era tentador. - Ahhh o macho alfa. - Vamos lá, estou pronto para responder, seja lá o que você tem para me perguntar. Eu dei um gole longo no vinho, satisfeita por não precisar tocá-lo mais do que o necessário. Duas perguntas inocentes e uma pecaminosa, todas me trariam informações que eu poderia usar a meu favor. - Qual o seu problema com seguranças? - Ele piscou, duas vezes, enquanto analisava a minha pergunta. - Fiquei curiosa, de você andar tão livremente por aí, sendo quem é. - Eu nunca pensei muito nisso. - Ele começou. - Na verdade, dificilmente levo homens em encontros com mulheres lindas como você. E tenho autonomia e conhecimento para me defender por conta própria. - Ele era um herdeiro da máfia, se não tivesse o mínimo de treinamento ele seria uma isca fácil. - Próxima pergunta? - Ele parecia desinteressado, como eu precisava. - Você falou que as mulheres se surpreendem com o anexo… - Ele estreitou o olhar. - Você as leva pela porta da frente, para dentro da sua fortaleza? - Joguei o cabelo, tornando o meu movimento uma distração. - Sei lá, elas não tem medo de serem descobertas entregando a pureza delas para você? - Ele deu um sorriso largo. - Existe uma coisa chamada entrada dos fundos. Ninguém as vê entrando ou saindo. Eu normalmente esvazio o anexo dos funcionários, para garantir essa confidencialidade. - Ele deu um gole no próprio vinho e eu sorri. Uma entrada sem ninguém por perto, seria perfeito. Ele morreria dentro de casa, e isso não levantaria nenhuma suspeita para nós. - Sua última pergunta, pense com carinho. - Ele falou brincando. - Certo, Senhor Frederico. - Eu inclinei o corpo na direção dele, deixando o decote visível o suficiente para ele se distrair. - Qual o maior segredo da sua família?
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