14.

919 Words
A luz do dia nos envolveu enquanto eu me perdia nos beijos dele. A cada toque, suspiro ou leve mordida que trocamos algo caloroso aumentava entre nós, uma tensão quase palpável. Foi preciso uma força fora do comum para me afastar dele e retomar as rédeas da realidade. Pisquei com calma, tentando avaliar o tamanho do problema que eu tinha criado para mim mesma. - Preciso ir… - Eu falei, sentindo uma tristeza desconhecida em algum lugar. - Eu sei. - Ele me deu mais um beijo delicado nos lábios. - Eu te levo pra casa. - Melhor não. Vou pegar o meu carro na sua casa e volto pra minha. - Ele acariciou o meu rosto, e me olhou, de novo, como se me visse pela primeira vez. - Eu sei que dirá não… - Ele passou o dedo pelo meu lábio. - Mas, vou perguntar mesmo assim. Quer ficar comigo hoje, lá em casa? - Está me convidando para conhecer o anexo, Frederico? - O sorriso dele era como eu me lembrava, de menino, que estava prestes a aprontar alguma coisa. - Estou te convidando para passar o dia comigo. Conhecer o anexo seria apenas uma consequência boa. - De novo, eu considerei ir. De novo eu considerei me entregar para aquele misto de sensações, mas dessa vez a minha consciência estava no controle. Assim que eu saísse daquele lugar mágico, assim que eu me afastasse dele, eu subiria as minhas barreiras. - Eu vou para a minha casa. Eu preciso voltar para a minha vida. - Ele continuou acariciando o meu rosto. - Foi… - Eu não conseguia colocar em palavras o que eu estava sentindo. - Foi surpreendente, mas eu tenho os meus deveres e você tem os seus. - Antes de você assumir toda a sua bagagem de responsabilidades, quero uma promessa. - A voz dele estava por todos os lados, e eu marquei aquilo na minha memória com toda a força que consegui. - Mesmo que você cumpra os seus deveres e eu os meus, não esqueça que isso aqui. - Ele me beijou nos lábios. - Isso foi totalmente verdadeiro. - Peço o mesmo. - Era uma promessa fácil de cumprir da minha parte. Ele me olhou surpreso. - Em algum momento, você também pode duvidar. - Quando ele percebesse que a vida dele ia esvaecer pelas minhas mãos. - Foi completamente verdadeiro. Ele me beijou de novo, como se a vida dele dependesse disso, e em algum nível, dependia. Não sei quanto tempo levamos entre tomar distância, voltar para o carro e chegar na entrada da mansão Camacho. Não falamos e não nos tocamos mais. E mesmo que fosse doloroso, foi melhor assim. Caminhar até o meu carro foi mais fácil, deixando a memória do que aconteceu naquele lugar, que era mágico por uma lenda, e que passou a ser mágico para mim por causa dele. - Eu vou te ver de novo? - Ele perguntou quando eu abri a porta do carro. - Você é um Camacho e eu uma Cavalcanti, herdeiros da máfia Italiana. Seria muito difícil não nos encontrarmos. - Eu tentei parecer despreocupada. A próxima vez que eu o visse, seria para dar fim a tudo aquilo. Eu não podia correr mais o risco de ceder. Eu perdi uma oportunidade única, estando sozinha com ele naquela cachoeira. - Você entendeu a minha pergunta. - O tom dele era firme, ele queria uma resposta sobre nós. - Como nos vimos hoje, foi a primeira e única vez Fred… - Ele piscou, ele ia dizer alguma coisa, mas não disse. - Eu realmente me diverti, obrigada. - Falei entrando no carro. - Pelo que está me agradecendo? - Eu não conseguia medir. Por me ver por baixo de tudo? Por realizar por uma noite, o sonho, que eu sonhei que ele fosse. Por ser o primeiro homem que eu verdadeiramente beijei. Por me fazer sentir… - Por tudo. Obrigada por tudo. - Dei partida no carro e acelerei, sem dar oportunidade dele dizer mais nada e antes que eu enlouquecesse por deixá-lo ali. O caminho para casa era familiar, então foi fácil desligar os meus pensamentos enquanto eu dirigia. No momento que eu parasse para analisar o tanto que eu estava ferrada, eu perderia provavelmente a calma e precisaria de espaço, para quebrar algumas coisas. Quando atravessei o hall e fui para o meu quarto, eu fixei um único objetivo. Tirar do meu sistema todas aquelas emoções. E eu conhecia apenas uma forma de fazer isso. Eu me troquei mecanicamente e subi para a cobertura, ignorando os empregados que entravam e saiam pelas diversas portas da mansão Cavalcanti. Em algum momento eu teria que dar explicações ao Dom do meu sumiço daquela noite, ou não. Naquele momento eu não me importava. Eu precisava deletar dos meus pensamentos, do meu corpo, da minha alma, as últimas horas. Se eu não fizesse isso, ia afundar mais naquele poço repleto de sensações e sentimentos. Peguei o meu par de luvas e caminhei rapidamente até o saco de areia que estava preso na parte coberta do terraço. Um dos meus muitos espaços de treino. E como se fosse possível, de alguma forma, forçar tudo aquilo para fora, eu acertei o saco com toda a minha força, e a sensação foi revigorante. Uma coisa conhecida, finalmente algo que estava no meu controle. Eu soquei seguidas vezes, me agarrando a sensação familiar da fúria e das lembranças do treinamento. Não sentir, não falhar, não temer…
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