Eu me perdi completamente no sabor dele.
Ele era como uma droga, quanto mais eu provava mais intenso ficava e mais eu precisava.
Em meio ao beijo, ele me puxou para o colo dele, e a posição me deixou completamente ciente do quanto ele me queria. Ele estava duro, firme e ávido, pressionando a minha parte mais sensível.
Por alguns minutos, ou horas, eu o beijei, sentindo as mãos dele dançarem pelas minhas costas, quase se fundindo na minha pele.
Eram sensações únicas e eu nunca tinha sentido nada nem parecido.
Nem quando eu me tocava eu ficava tão sensível e liberta. E eu nunca passei de um beijo ou dois com ninguém, e sempre com um propósito, uma missão.
Essa era a primeira vez que eu estava beijando alguém apenas porque eu o desejava, e eu duvidava muito que fosse capaz de parar. Não agora, que ele colocou as mãos por dentro da minha blusa, tocando a minha pele nua.
A mágia foi interrompida quando ele passou a mão em cima da minha costela ferida, me tirando do desejo e tornando tudo doloroso.
Eu reprimi um gemid0 de dor, mas eu tremi e depois eu me afastei.
- Fiz algo que não deveria? - Ele perguntou preocupado. Eu neguei com a cabeça.
As memórias daquela sala, dos olhos loucos do Eduardo e da dor extrema me atingiram, quebrando alguma coisa dentro de mim. E talvez precisasse de um tempo para voltar a respirar.
- Eu me machuquei. - Menti. E ele me analisou. - Aqui, está dolorido. - Apontei para a costela direita e ele continuou me observando.
- Desculpe, eu não sabia… - Ele apoiou as mãos no meu rosto.
- Você não tinha como saber. Eu mesma tinha me esquecido. - Ele assentiu de novo, o clima começando a esfriar ao nosso redor.
- Como você se machucou? - A pergunta dele tinha um interesse genuíno nas palavras.
- Eu… caí, em um jardim. - Sério, Lore? Essa foi a melhor coisa que conseguiu pensar?
- Você? Caiu? - Ele não acreditou em uma única palavra minha. Eu me movi, saindo do colo dele. Sentindo a vergonha subir pelo meu pescoço. Como eu contaria a verdade para ele? Que eu fui açoitada por aquele que dormiria na mesma cama que eu para o resto da vida? Que eu fui ferida por um monstro que se sentiu livre o suficiente para fazer o que ele fez?
Ele acendeu a luz interna do carro, e eu pisquei algumas vezes, adaptando a visão.
Assim que ele viu a minha expressão, ele soube que alguma coisa estava errada. Eu pude ver pela expressão de compreensão dele.
- Deixe-me ver. - O tom dele era uma espécie de comando. Eu neguei com a cabeça. - Por favor… - Ele suavizou a voz um pouco. Eu me mantive imóvel e ele se aproximou um pouco. Segurou a minha mão com calma e puxou a minha camiseta para cima. Eu virei o rosto, sem conseguir ver enquanto ele colocava a vista os meus ferimentos. Eu estava com curativos, e imaginei que ele desistiria.
Eu estava errada. Com uma calma que eu mesmo não sentia, ele puxou as ataduras e não disse nada, enquanto observava os dois cortes longos que iam das minhas costas até quase a cintura. Com cerca de 15 cm cada um.
- Você… - Ele começou a falar, e percebi que ele lutava com as palavras, decidindo se a minha história fazia sentido. - Você caiu em uma roseira? - Uma vergonha imensa me atingiu, antes eu conseguia controlar, não agora. Ele estava tentando entender os meus ferimentos. Tentando acreditar nas minhas palavras de antes.
Ele passou os dedos na extensão dos cortes e eu estremeci de novo. Os meus músculos ainda doloridos protestaram com o toque. Enfiei o rosto no banco do carro, absorvendo o cheiro de couro, tentando não pensar na dor. Com cuidado, ele prendeu as ataduras e abaixou a minha camiseta, sentando novamente ao meu lado. Eu não ousei olhar para ele. Eu sabia o que ele viu, afinal ele era um mafioso da Corleone, ele sabia como os homens poderiam ser cruéiss, e quando ele voltou a falar, eu realmente temi.
- Me dê um nome. - Eu suspirei
- Isso não é um problema seu. - Eu falei, sentindo uma bola de choro agarrar no meio da minha garganta.
- Um nome. - Ele pediu de novo, parecendo mais ameaçador agora.
- Não. - Eu respondi, elevando o tom, deixando claro que ele não tiraria nenhuma informação minha.
Mas, nós dois sabíamos que as opções eram limitadas. Ele sabia que aquilo tinha sido feito pelo Dom ou pelo Eduardo, e eu realmente temi que ele fizesse alguma besteira. Ele ficou ali, olhando para mim, os olhos quentes de raiva e eu sustentei o seu olhar.
- Isso… - Ele começou.
- É permitido por toda a Sicília, além dela até. Eu sei, você sabe e não existe nada que possa ser feito. - Eu peguei o meu casaco e o vesti, sabendo que qualquer magia que tivesse nos envolvido antes tinha sido afugentada pela ameaça assassina nos olhos dele.
- E você não pode fazer nada. - Ele concluiu.
Eu podia. Eu poderia ter me defendido. Acabado com o Eduardo com uma lâmina no meio da garganta dele. Feito ele chorar. Mas a fúria do Dom ia ser incontrolável, e eu temia demais ele para sequer pensar em algo assim.
- Ninguém pode fazer nada. - Eu respondi. - Nem eu e nem você. - A expressão dele se contorceu com uma espécie de dor e ele negou com a cabeça.
- Ninguém, nunca mais, vai tocar em você assim. - Ele prometeu e eu quis muito acreditar. Eu queria muito aceitar que aquilo poderia ser verdade. Eu sorri, sentindo as lágrimas finalmente descerem pelos meus olhos. Ele não imaginava que aquela promessa dele era impossível.
- E aí está algo que você não pode prometer.