Entrei quase correndo no salão, avaliando o que eu estava fazendo.
Eu não iria a lugar nenhum com ele.
Procurei com os olhos entre as pessoas o Edu, sabendo que ele estando por perto, me impediria de cometer qualquer besteira. Depois de quase revirar o salão, eu não o encontrei.
Desgraçado. Não serve de nada e nunca está disponível quando eu realmente preciso.
Deve estar enfiado no meio de um par de coxas em algum lugar.
Entrei no toalete, tentando pensar o que fazer.
Eu não iria. Aquele convite era muito mais do que parecia, a diversão para ele era carnal, isso era de conhecimento de todos. Dentro do reservado, com a porta devidamente trancada eu respirei fundo, reforçando os meus instintos.
“Ele é a sua missão, atraí-lo o suficiente para que não levantem suspeitas e depois dar fim a vida dele.” Simples e rápido. Sem grandes envolvimentos, sem emoções e principalmente, sem nenhuma afeição.
Eu poderia executar o plano naquela mesma noite, afinal, ele me convidou para sair dali…
Apoiei a mão involuntariamente na pequena pistola presa na minha perna.O metal de alguma forma me fazia voltar ao tempo presente. Durante os poucos minutos que fiquei na presença dele eu voltei demais ao passado, as promessas que fiz a mim mesma e as promessas entre as nossas famílias. Um juramento silencioso que foi quebrado com sangue no final.
O que realmente me assustou, foi reconhecer o menino que um dia eu sonhei casar, debaixo de todo aquele ar conquistador dele.
E o que estava doendo, é que lá, no fundo, de alguma forma doentia, eu esperei que ele me reconhecesse… Balancei a cabeça, afastando aquele pensamento. Se ele soubesse que eu estava viva, isso poderia colocar a minha vida e os planos do Dom em risco. Afinal, eu sabia de tudo.
Decidida a ir embora imediatamente, antes do tempo que ele sugeriu acabar, eu saí do banheiro direto para a porta. Enquanto eu esperava o mordomo trazer o meu casaco eu fui dominada por um ódio fervoroso quando aquele desgraçado entrou.
César Camacho estava velho e parecia cansado enquanto conversava com algumas pessoas, que estavam ali apenas para puxar o saco dele. Ele representava tudo o que eu enterrei tão fundo no meu coração.
“Consequências do poder.” - A voz do Dom ecoava na minha cabeça, reforçando lembranças que eu lutei muito para esquecer. Anos treinando a mente, para não me abalar com coisas fúteis como emoções, vingança ou lembranças. Lembranças vívidas demais.
Ele prometeu lealdade aos meus pais, quando as coisas começaram a ficar estranhas.
Eu me lembrava de algumas coisas, nunca o todo…
Ele era uma versão do Frederico mais velho e mais branco. Ele não deveria sair muito ao sol, para estar tão pálido. Me peguei questionando os motivos do Dom para ter escolhido o herdeiro como alvo, fazia muito mais sentido acabar com a vida do pai…
- Está fugindo de mim? - Cada célula do meu corpo respondeu aquela voz, que eu novamente, não senti chegar até mim.
- Uma emergência em casa… Preciso ir, agora. - Falei, me virando para olhar o Frederico nos olhos.
- Você é uma péssima mentirosa. - Ele acusou, falando baixo, ainda muito perto de mim.
- Estou de saída. - Caminhei em direção a porta, quando o mordomo trouxe finalmente o meu casaco. Ele me seguiu, pelo corredor em direção às portas da frente.
- Loredana, acho que te assustei. - Eu quase gargalhei, enquanto descia as escadas, com ele atrás de mim. - Pode por favor me ouvir?
- Emergência Frederico, por acaso, você entende o que isso quer dizer? - O manobrista me reconheceu e saiu em disparada para buscar o meu carro.
- O seu irmão disse que você poderia ficar, que ele resolveria tudo. - Parei e encarei ele, com a minha melhor expressão de raiva.
- Irmão? - Perguntei, avaliando o quanto ele estava disposto a inventar para me convencer.
- Acabei de encontrar o Eduardo. - Ele falou. - Falei para ele que tínhamos negócios a tratar e ele quase me agradeceu. - Analisei o quanto daquilo poderia ser verdade. Ele se aproximou, sorrindo. - Acho que ele estava ansioso para se livrar da irmãzinha dele.
- Não somos irmãos. - Eu me limitei a dizer. Ele era o herdeiro, o filho do Dom, e eu era apenas a menina que perdeu a família e foi acolhida por eles.
A expressão de surpresa dele não me abalou.
- Bem, me enganei então. De qualquer forma, se tivesse mesmo uma emergência, ele estaria aqui com você, não? - Ele era um i****a.
- Não. Como todos os homens da Corleone, ele apenas faz o que quer na hora que quer, eu não tenho essa dádiva. - Parece que o sorriso dele se ampliou.
- É mágoa o que sinto nas suas palavras? - Ele me provocou, mas a minha decisão já tinha sido tomada. Eu precisava me recolher o mais rápido possível para me fortalecer e voltar para a missão, sem me sentir abalada como eu estava. O manobrista parou um carro diferente do meu na rampa de saída. - Vamos? Se é uma emergência, eu te levo…
- Frederico… Eu vou com o meu carro, para a minha casa, sozinha. - Falei com a voz quase descontrolada e ele sorriu mais.
- Tudo bem… - Ele fez um sinal para o motorista. - Mas, não vai me impedir de te seguir.