Capítulo 4 - Jorrayne

1028 Words
JORRAYNE NARRANDO Assim que entrei no barraco, a minha mãe estava sentada no sofá, com os olhos vermelhos em uma cara de cansada. — Passou a noite outra vez com Cadú? Não foi Jorrayne? — minha mãe perguntou bem séria. — Sim, ele vai realizar o meu sonho, mãe. Cadú conseguiu me botar dentro da Gaviões. — Falei sorrindo e me joguei no outro sofá. Já estou sonhando comigo vestida com aquela roupa de passista, Tomara que a minha seja dourada, com muito brilho. Quero arrasar no sambódromo. Que as câmeras foquem em mim e que o mundo me veja. Vejam a passista do Morro. Minha mãe me deu um beijo na testa e foi se deitar. Ela falou que não conseguiu dormir. Só aí percebi que o meu telefone tinha descarregado. Com certeza ela me ligou várias vezes. Minha mãe pega no serviço às duas da tarde e larga às 10 horas da noite, mas ela nunca chega. Esse horário sempre chega depois das 11 horas. Aqui no Nosso Barraco tem dois quartos O meu quarto é bem pequeno, só cabe a cama e o guarda-roupa. Fui para o meu quarto, tirei minha roupa, coloquei um pijama confortável e caí na cama. Adormeci. Cadú m*l me deixou cochilar, com ele. Assim, se a gente vai passar a noite juntos, temos que passar a noite transandø. Acordei com a minha mãe me chamando, ela já está indo trabalhar e me mandou levantar para comer. Me levantei e tomei banho para despertar. Hoje eu vou conhecer o galpão e conversar com as pessoas, praticamente já vou poder começar os ensaios. Estou tão animada. Essa é a minha chance de dar o meu nome e mostrar como é ser uma passista de verdade. Tatiana chegou na minha casa e me contou sobre a Estefane. Juro que eu nem percebi, estava tão entretida, porque comigo é assim: se tem música, eu me jogo mesmo, o resto que se dane, que eu não estou nem aí. — Amiga, juro que eu não tenho, que babado eu tô de cara — falei sorrindo. — Eu vi os moleques empurrando ela, ela tava lá toda alterada. Deve ter visto você indo para o escritório com o machø dela — Tati falou sorrindo e nós duas gargalhamos. Estefane não passa de uma iludida, e fica espalhando para geral que o Cadú é machø dela, é dela de todas. Contei a Tatiana sobre o presente que o Cadú me deu, piramos juntos e ela falou que vai dar um jeito de ir no dia do desfile. — Amiga, abriu uma vaga lá na escolinha para professora de balé, eu vim aqui para te contar isso e acabei falando da marmita chefe — minha amiga terminou de falar, uma pontinha de esperança nasceu em meu coração. Fomos na escolinha e eu acertei com a diretora. O salário não é lá essas coisas, é menos do que eu ganhava na sorveteria. Mas já está de bom tamanho, vou poder ajudar minha mãe e me sustentar. Quando eu estava voltando para casa, o Tutu parou a moto em cima da gente e me mandou subir. — Sobe aí, Jô — ele falou bem sério e eu me recusei. — Não estou precisando de carona, Tutu, obrigada — respondi encarando ele. — Cadú não quer você de bobeira no morro, ou tá querendo ver ele pipocar a cabeça de alguém novamente. Porr@, não brinca com Cadú, Jô, tu sabe que ele não é de brincadeira — eu subi e a Tati subiu também, fiquei entre os dois. Ele me deixou na porta do meu barraco e saiu pilotando igual um doido. A gente entrou, já estava quase na hora de me arrumar. — Amiga, eu tô achando que o Cadú não vai deixar você trabalhar — Tati falou com um ar de tristeza. — Amiga, tô só esperando a oportunidade certa para me livrar do Cadú e da tïrania dele. Ele mesmo joga na minha cara que não temos nada sério, mas também não me deixa viver. Já estou cansada disso — falei a verdade. A gente conversou mais um pouco, tomei banho e me arrumei, Tatiana fez a minha maquiagem, ela sabe maquiar muito bem, fiz minhas unhas e mandei mensagem pra minha mãe. O Cadú me mandou mensagem, ele estava na esquina do beco me esperando, assim que entrei no carro ele já me olhou com aquela cara de safädo No caminho ele m@l falou comigo, já me acostumei com o jeito dele, é de poucas palavras e muita ação. Quando a gente estava se aproximando do galpão, meu coração começou a acelerar. Pensei até que ele ia sair para fora do peito. Quando o Cadú parou o carro, eu vi lá a bandeira da gaviões, as lágrimas veio em meus olhos e um sorriso enorme nos lábios. Tá aí, loira. Cumpri com o que te prometi, mas não vacila comigo, Jorrayne. Nem tenta me passar para trás. Porque se pelo menos passar pela tua cabeça deixar outro homem tocar nesse teu corpinho, já sabe o que acontece. — Cadú falou, apertando o meu rosto, e levantou a camisa para mostrar a arma. Engoli seco. Ele nunca me ameaçou assim tão diretamente. Concordei com a cabeça. Respirei fundo e a gente desceu do carro. Andamos ao lado, mas sem nos tocar. Cadú estava mexendo no telefone e de repente apareceu uma mulher, e nos recebeu. Quando ouvi o primeiro batuque da bateria, minha alma flutuou. Parecia que ela estava dançando. Senti uma leveza pelo meu corpo enquanto o meu sangue corria agitado nas veias. Primeiro fomos levados para um escritório totalmente à prova de som. Conversei com o diretor da escola e algumas pessoas da comissão de frente. Depois fui levada para o salão, é lá onde a magia acontece. Vi muitas famosas, tinha muita gente assistindo ao ensaio. Fui apresentada como uma nova passista. Enquanto eu sambava, de braços abertos, algumas lágrimas desciam pelo meu rosto. Essa é a maior realização da minha vida. Não sei qual é o preço a ser p**o depois, mas juro que para viver isso aqui, eu p**o o que for preciso.
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