Deixei James cuidar dos preparativos para minha conversa com Zeus antes de encontrá-lo no fim da tarde no galpão 28.
Minha refinaria contava com 27 galpões muito espaçosos. Neles, superficialmente eu possuía trabalhadores encarregados de realizar o refinamento da matéria-prima do açúcar. A cana de açúcar. E transformá-la no acucar que todo o mundo utilizava no dia a dia, porém abaixo desses 27 galpões, eu possuía mais 18. Esse, era responsável em realizar a mistura originada da folha de coca. Essa mistura que após o longo e cuidadoso processo transformava vários galões em pó branco puro. Cocaína.
No entanto, o galpão 28 era diferente de todos que eu possuía. Isso porque ele se tratava de uma sala com isolamento acústico para que eu pudesse conseguir informações de traidores ou vingança contra inimigos.
Zeus estava sentado em uma cadeira de madeira pura no meio da sala. As duas mãos fortemente amarradas para trás e o rosto todo arrebentado. Pelo que vi, William e James tinham acabado com ele.
-Boa tarde Zeus. Como tem passado? -comentei assim que entrei. Ele levantou a cabeça com dificuldade e deu uma risadinha
-Quer que eu me curve? -perguntou sarcástico.
Zeus era um rapaz de 21 anos mais ou menos. Era irmão mais novo do alemão. O antigo dono da favela e assumiu quando o mais velho levou 18 tiros da polícia. Quando cheguei para fechar negócio com ele, achei ridículo a pose de corajoso que ele tinha. Era só uma criança brincando de ser bandido. Ele nunca nem mesmo segurou num fuzil
Com os anos de parceria, vi que ele estava amadurecendo de um jeito horrível. Se tornando uma bandidinho como todos os outros. Ele costumava tentar debochar de mim, porque eu não era um bandidinho qualquer. A família Armstrong sempre foi muito organizada e discreta. Alguns nos chamam de Máfia Belga ou Máfia híbrida. Já que minha mãe é belga e meu pai americano. Porém, nos chamamos apenas de Família Armstrong.
-Acho que eu quero sim. -falei e William levantou o rapaz da cadeira e o chutou, fazendo-o cair de joelhos. -Muito bom.
-Oque você quer, p***a?!
-Soube que você anda espalhando uns boatos sobre mim, e eu não gostei nem um pouco. A reputação é algo muito importante para a minha família.
-Família? -ele riu um pouco. -Vocês compram pessoas, torturam e matam e ainda se acham melhor do que a gente? Se chamam de família? -Zeus riu e cuspiu no chão. -Não me faça rir.
Segurei seu queixo e o encarei muito perto.
-Somos muito melhores que você sim. -o encarei friamente. -Nunca estupramos uma mulher que nos disse não, nem matamos crianças pra mostrar quem tem o p*u maior. Eu não machuco inocentes pra mostrar que sou fodão.
Soltei seu rosto e deixei James colocá-lo de volta na cadeira. Enquanto isso enrolei uma corrente nos punhos e o encarei.
-Sabe o quanto eu fiquei furioso ao saber que você anda por ai me acusando de sequestro? -perguntei e acertei o primeiro soco na costela de Zeus, ele cuspiu sangue.
-Eu não acusei… Só falei que foram uns gringos.
-Então você deu a entender que era eu e eu sou um hipócrita? -falei e soquei o outro lado. Ele caiu no chão. -Eu deixei passar oque você fez com a Celina… Só porque ela me pediu.
Celina era uma recém-recrutada da família. Estava trabalhando na delegacia como informante nossa e Zeus a seduziu. Porem ela era muito nova e teve uma vida difícil, marcada por abusos do padrasto, mas Zeus não soube ouvir um não quando ela se recusou t*****r com ele. Então ele a estuprou. Ela me pediu aos prantos que não fizesse nada com ele por ela e eu a mandei para viver na Suécia com outros da família. Eu respeitei o pedido dela. Porem, agora foi a gota d'água. Aquele moleque ia aprender uma lição.
-Desculpa… -ele sussurrou babando sangue. -Me desculpa p***a!
Zeus começou a chorar, eu sabia que aquilo ali estava sendo demais para ele. Além da tortura física, James e William provavelmente o abusaram psicologicamente para deixá-lo apavorado. Ele já estava no limite.
-Tudo bem Zeus. -apoiei o braço em seu ombro. -Somos parceiros de negócios, certo? Tenho certeza que agora você não fará mais nada imprudente ou ficará falando da minha família sem saber de fato o que aconteceu.
-Sim…
-Então, eu vou ficar um tempo fora. Tenho que descobrir quem anda mexendo com as nossas crianças e dar um jeito nisso. Não fique com muita saudade. -o soltei e saí andando. -William ficará responsável enquanto eu estiver fora. E Zeus… -o encarei e sorri. -Não fique corajoso de repente. Eu não vou ser legal uma segunda vez.
No início da madrugada, James e eu junto com alguns outros membros da família estava voando direto para Detroit. Fiquei com o notebook no colo vendo as informações sobre Catarine Hardly que James conseguira para mim.
Era uma garota órfã adotada ao 11 anos por um policial que a salvou de uma família abusiva. Acabei me identificando um pouco com ela. O pai foi morto em ação durante a investigação de tráfico humano. Hm… Já entendi a motivação dela para estar atrás desses caras. Só que uma coisa me intrigava. Ela não tinha medo deles? De ser pega? Era um pouco óbvio que se foram capazes de matar o pai dela, que era um investigador. Matá-la seria apenas fichinha.
-Essa garota não pensa… -sussurrei, mas James me ouviu
-Algumas pessoas simplesmente não têm mais nada a perder.
-Ainda assim desperdiçar a vida só porque acha que não tem mais nada é bobeira.
James ficou em silêncio. Quando o conheci, era apenas um batedor de carteira, viciado em drogas. Tudo que conseguia roubar trocava por cocaína barata ou crack. Oque o deixou com uma aparecia terrível. Era magro e sujo. As pessoas o viam e desviavam dele. Até que ele tentou me roubar e assim como meu pai, eu sabia que James poderia ser muito mais do que aquilo. Mudei seu nome de Leo para James e o levei comigo para a família. Todos que eu tinha ao meu redor eram pessoas que desistiram de tudo.
-Não vamos nos envolver muito com ela. -Falei firme. James tinha tendências a recrutar pessoas para a família após se afeiçoar a elas. -Só vamos pegar as informações que precisarmos e então vamos atrás dos caras.
-Sim senhor.
Fechei o notebook e me encostei para cochilar. Sabia que não podia me aproximar de Catarine. Meus pais sempre me ensinaram que o amor prejudica os negócios. E ela era uma pessoa fora desse mundo, jamais daríamos certo mesmo eu pensando em como ela era linda e sonhando com ela a caminho de Detroit.