A mulher mais odiada
O enorme escritório da CSC News esbanjava elegância com os tons de dourado e marrom, mesmo assim, nem mesmo as plantas cor verde-musgo dava ao ambiente leveza; muito pelo contrário, tudo naquele ambiente deixava claro a competição e a hostilidade que todos os funcionários tinham um com o outro.
Como se não bastassem os olhares.
Desde que entrei no prédio senti as recepcionistas me encarando, em seguida quando passei o crachá na entrada e até mesmo quando apertei o botão do elevador.
“Eles devem ter visto as notícias” –pensei animada. Ritmando o som da música em meus fones com o “toc, toc” do meu salto no piso de porcelanato.
Assim que sentei em minha cadeira, uma figura masculina entrou em minha sala sem ao menos bater na porta. Ergui os olhos do meu café com tranquilidade.
-Pois não?
-Você é muito cara de p*u, não é mesmo Catarine?
Ergui a sobrancelha. –Como é?
-Como você se atreveu a lançar a matéria sobre o Advogado Parker? Sabe o quanto isso pode nos causar problemas?
-Não entendi. –Sorri levemente. –A matéria que lancei foi sobre tráfico infantil, no qual a empresa de transporte marítimo Soul está ligada diretamente. Quando foi que acusei o Advogado Parker?
-Não se faça de sonsa. –Erikson passou a mão pelos cabelos ralos. –Sabe que o Advogado Parker é a figura que representa a Soul. Você colocou na matéria que foi feita tentativa de destruição de provas e queima de arquivo? Ficou maluca?!
-Duas pessoas estão internadas na UTI. E um Pendrive foi encontrado parcialmente queimado.
-Essas pessoas sofreram um acidente de carro. ACIDENTE!
-Engraçado… Não sabia que freios cortados se caracterizava com acidente.
-Você é detetive, p***a?! –berrou fazendo gotículas de saliva voar.
-Você é mecânico... p***a? –arqueei a sobrancelha.
Erikson respirou fundo, eu sabia que ele estava a um passo de surtar e me demitir ou me bater, no entanto ele não podia. Meu pai era um influente policial que fundou a CSC News, infelizmente ele tinha falecido, mas deixou suas ações para mim.
-Catarine, eu vou te avisar só uma vez. Você vai acabar igual ao seu pai... Ou pior.
Respirei fundo encarando aquele velho gordo a minha frente. Erikson e meu pai haviam servido a polícia, juntos. Defendiam Detroit com sua alma. Quando meu pai informou que abriria uma emissora de jornal, Erikson adorou a ideia, os dois eram parceiros de negócios e na vida, até meu pai ser assassinado em uma emboscada. É impressionante o quanto Erikson mudou depois disso. Aposentou-se da polícia, assumiu a emissora e começou a aceitar subornos para publicar somente o que lhe trazia retorno financeiro.
-Erikson, se você veio aqui para reclamar de uma matéria que está sendo estouro de audiência porque seu amiguinho Parker é corrupto e está envolvido. Problema seu. Tenho mais o que fazer.
-Cat… –Ele apoiou-se na mesa. –É sério… –Olhou ao redor com receio de que estivessem ouvindo. –Você tem que parar com isso! Faça notícias sobre esportes, moda ou oque for! Não se envolva com jornalismo criminalista. Vai acabar em um caixão.
-Erik... –sussurrei também. –Eu me formei em jornalismo investigativo porque eu vou descobrir o que houve com o meu pai. Enquanto isso, vou pegar quantos corruptos eu puder.
-Não diga que eu não te avisei.
E saiu batendo a porta.
Parte de mim sabia que Erikson estava preocupado comigo, pois ele sabia que eu investigava uma rede perigosa. Eu sabia também que os bônus que nossos funcionários ganhavam todo mês era em troca de não publicar toda sujeira e por isso todo mundo ali me odiava. No entanto, eu sabia que esse esquema de tráfico humano era algo muito maior. Podia ter a ver com o grande mafioso Caleb Duncan.
Caleb não era só um mafioso conhecido. Era dono de companhias aéreas, shoppings e prédios enormes. Um velho rico e muito nojento que fazia negócios as escondidas, mas que todos da cidade sabiam. Só que acobertavam, por medo de morrer ou de perder seus entes queridos.
-Senhorita Hardly? –Ouvi a voz tímida da Anne me chamar do lado de fora da sala. Era a única quem falava comigo ainda.
-Pode entrar Anne. –ela entrou e sorriu. –Já falei que pode me chamar de Catarine ou Cat.
-Desculpe, não sou muito de i********e. –respondeu gentil e tímida. –Só vim entregar o convite para o jantar beneficente.
-Ah. –sorri levemente pegando o cartão das mãos de Anne. O Convite era nas mesmas cores do escritório. Marrom e Dourado. –O jantar beneficente. –suspirei.
-Sim, é muito importante que você esteja lá.
-Sei, sei. Obrigada Anne.
Os jantares beneficentes antigamente eram uma tradição criada por meu pai. Ele arrecadava dinheiro para o orfanato do qual me tirou. Perdi a conta de quantas crianças tiveram uma vida muito melhor do que eu graças ao coração gigante que ele tinha.
Enquanto me arrumava para o tal baile beneficente que hoje só tinha uma função: conseguir novos subornos e mascarar um pouco a corrupção, pensei em quantos homens que eu encontraria estaria envolvido em alguma atividade ilícita?
Desci do carro usando meus salto agulha preto, que combinava perfeitamente com meu vestido longo com um r***o até quase a cintura. Deixava bem a mostra minha coxa com a Leg-chain cravejada de diamantes. Ajeitei a alça do vestido que marcava bem meus s***s fartos e joguei o cabelo uma última vez antes de entrar
Enquanto eu andava para o salão de coletiva da CSC News, que fora organizado para o jantar, sentia os olhares dos homens em mim. Alguns ali me odiavam muito por eu ter desmascarado algum esquema corrupto, outros me desejam.
-Ah! –Erikson sorriu abertamente ao me ver. –Catarine! Venha cá, venha cá!
-Boa noite. –aproximei-me de um grupo de três homens e quando o terceiro se virou após pegar uma taça de champanhe a qual me ofereceu, senti os pelos do meu braço e da minha nuca se arrepiar.
-Aceita? –ofereceu e eu me perdi por um segundo naqueles olhos azuis profundos.
-Obrigada. –peguei a taça e senti um choque de estática passar por mim. Nossos olhos se encontraram novamente. –Ai. –puxei a mão e deixei a taça cair, despedaçando e jogando bebida para todo lado.
-Acho que nossas estáticas estão diferentes. –ele sorriu de forma de sedutora. Arqueei a sobrancelha.
-Está tentando mostrar que é intelectual?
-Só se estiver funcionando. –Rebateu de forma divertida. Acabei rindo um pouco com a sinceridade.
-Bom… –Erikson sorriu abertamente. –Vejo estão se dando bem logo de cara! Catarine, esse é Levi Armstrong, ele está aqui para conhecer nossa emissora e todas as caridades que fazemos.
-Ah! –Apertei a mão do homem. –Não imaginei que o senhor também se interessava por caridade!
-Eu ouvi falar que vocês ajudam jovens órfãos. Eu era um órfão.
-Entendo… –Sorri levemente. –E o senhor se interessa em ajudar alguns idosos também?
-Srta. Hardly… –Erikson sorriu nervosamente.
-Você diz ajudar asilos? –Levi perguntou um pouco confuso.
-Ah não… Se bem que seria ótimo que fossem mandados para asilos…
-Srta. Hardly… Olha oque está dizendo… –ele ria nervosamente, e eu pude ver uma gotícula de suor escorrer de sua testa.
-São os velhos ricos, donos de empresas que adoram cometer crimes e esconder por baixo de caridades. O senhor é um desses tipos?
-Catarine, já chega! –Erikson segurou meu pulso pronto para me tirar dali, mas Levi interveio.
-Sr. Erikson… Não se toca em uma mulher sem a permissão dela.