Parte três
A APRENDIZ
Tribo Ignis
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8
Sassas Higino já se encontrava cansada do treinamento. Porém ainda não estava pronta para desistir, ela ainda lutaria mais e mais. Seu adversário era um dos melhores combatentes de toda a tribo Ignis e também trazia ciclos à frente de experiência, mesmo Sassas ter recebido treino de espada antes de qualquer outro elfo Ignis e ter desenvolvido habilidades que até mesmo seu treinador duvidava por conta do longo período que já treinava.
Sassas ouviu o vento assoprar contra as folhas das árvores mais próximas. Logo sentiu a leve brisa contra seu próprio corpo. Ela sabia o que fazer. Ela sabia o ponto fraco de seu combatente, só era preciso distraí-lo para desarmá-lo e assim vencer mais essa batalha.
Foco Sassas.
A elfa Ignis deu um passo para a direita, o ponto fraco de seu inimigo era à esquerda. Era simples. Só precisava distraí-lo pelo ponto mais forte e no contra-ataque inferir um golpe pela esquerda e – enfim – desarmá-lo. Então ela correu até seu inimigo, as espadas chocaram-se no ar soltando fagulhas por causa do atrito dos metais. O som estridente fez alguns tordos voarem para longe, então a guarda dele estava baixa. Essa era sua chance.
Com um sorriso, ela deu um giro completo em volta do próprio corpo, e apontou sua espada diretamente para o antibraço de seu adversário.Com um grito seco ele deixou a própria espada cair no chão. Por sua vez Sassas apontou a sua diretamente para o coração do outro elfo fazendo-o parar de súbito.
Seu coração estava acelerado, sua respiração profunda por causa da dificuldade de aspirar o ar para seus pulmões.
O elfo esboçou um sorriso.
–– Você está de parabéns Sassas –– disse ele pausadamente, assim como ela, também estava com dificuldades para respirar. –– Está melhor que muitos elfos e elfas com mais experiência do que você. Isso julgando sua pouca idade é uma coisa rara de se ver.
Ela esboçou um sorriso.
–– Obrigada –– respondeu com uma gratidão sincera que expressava inclusive nos olhos castanhos. –– Devo muito disso a você Felef.
Eles sentaram na grama lado a lado. Sassas soltou os cabelos cor de fogo e voltou a prendê-los num coque m*l amarrado. Mesmo depois do término da batalha o suor ainda insistia em escorrer por seu rosto e costas.
–– Deve isso ao seu pai. Isso sim! Ele é um grande elfo, não só na criação dessas espadas fantásticas, como também manejando cada uma delas. E você recebeu um treinamento de primeira.
Ele estava sorrindo para ela.
–– Pode ser. Mas você me ajudou muito nos últimos tempos. Sabe disso. Antes eu não conseguia derrotar você. –– ela começou a rir. Seu riso era leve e espontâneo, assim como ela.
–– Pequena Sassas. –– disse Felef –– Você conseguiu aprender meu único ponto fraco. E conseguiu explorar minha fraqueza para me vencer. Isso eu não te ensinei. Isso foi mérito completamente seu. Isso eu não te ensinei, sequer seu pai. –– Felef aproximou a mão mais próximo de Sassas, fazendo um carinho amigo no ombro da elfa.
Ela voltou seu rosto sorrindo para o elfo. Desde o dia em que Sassas descobriu que de fato era uma elfa Ignis há um ciclo e meio, ela começou seu treinamento com Felef, um grande amigo de seu pai, que desde quando ela e seu irmão eram muito novos via-o frequentando sua casa, testando cada nova espada que seu pai produzira em sua oficina nos fundos de casa.
Felef Primo que já estava com a idade por mais de avançada era muito conservado e ainda muito habilidoso com a espada e com suas chamas. Sendo quase impossível de derrotá-lo. Ele já presenciara pequenas lutas que Sassas e seu irmão traçavam no quintal de casa, e ele mesmo já tinha dito que ela tinha grande futuro. Podendo se tornar uma treinadora do fogo no futuro. E assim que começou seu treinamento mais intensivo ele admitiu que esse momento pudesse estar mais próximo do que nunca. E isso a deixava completamente feliz.
Eles ficaram em silêncio por um tempo; sentindo a brisa soprar contra suas peles, permitindo refresca-se um pouco e tentando normalizar suas respirações, que se alteraram no decorrer do longo treinamento de espadas. Sassas apenas apreciava a vista de sua tribo. Mais ao longe se encontrava o Templo do fogo, cercado pelo grande lago de larvas. E o restante de sua tão amada tribo. As grandes construções de ferro, até as inúmeras casas que se perdiam de sua visão. E o vulcão mais ao longe.
–– Tome aqui, um biscoito salgado –– disse Felef entregando um pequeno biscoito.
–– Ah. Obrigada –– ela agradeceu.
Sassas era simplesmente fascinada por esses biscoitos salgados, e, sempre que ela comia um, sua memória a transportava no tempo. Esses biscoitos lembravam sua mãe; que morrera em um acidente quando ela ainda era apenas uma criança. Sua mãe fazia os melhores biscoitos salgados de toda a tribo.
Todos adoravam quando ela levava para as inúmeras festas e comemorações da tribo. As crianças de sua vizinhança sempre apareciam, quando sentiam o cheiro saindo de sua casa para poderem comer mais um daqueles biscoitos maravilhosos. Ora com Sassas ora com seu irmão mais velho.
Ela sentia saudades de sua mãe. Porém seu pai foi excelente em todos os momentos, ele ainda é e ela o ama mais que tudo. Logo depois da morte de sua tão amada mãe, ela ficou muito triste, notava um aperto no peito que nunca sentira e se não fosse pela força de seu pai, que também teve uma grande perda, talvez hoje ela não estivesse feliz novamente.
–– Sua mãe fazia os melhores biscoitos salgados não é mesmo? –– contastou Felef parecendo que estava dentro da mente de Sassas.
Ela sorriu.
–– É verdade. Os dela eram os melhores. –– ela fez uma pausa e voltou a morder um pedaço do biscoito salgado. –– Mas esses também estão muito bons.
–– Obrigado pelo elogio –– disse Felef –– E aí, já está pronta para a segunda parte do nosso treinamento? –– perguntou olhando esperançoso para Sassas.
–– Sempre –– respondeu ela sorrindo para Felef que retribuiu o sorriso.
Então Sassas deitou no chão por um tempo olhando para o céu claro sem nenhuma nuvem. O sol vermelho próximo a sua cabeça. O fato é que amanhecera há pouco tempo, eles começaram o treinamento quando ainda estava escuro, e seguiram até o amanhecer, como era de costume sempre que conseguiam parar para treinar.
Felef levantou logo depois que terminou seu biscoito salgado e seguiu a trilha. Depois de um curto período de tempo, antes mesmo de Sassas reparar sua ausência ele estava de volta com uma tocha em chamas. Agora começaria o treinamento em fogo e era preciso das chamas para iniciar a batalha. Sem armas, somente a manipulação do fogo.
–– Sassas, já podemos iniciar –– disse Felef depositando as chamas entre ele e ela.
–– Tudo bem.
Sassas continuou deitada por um momento, então quando foi se levantar decidiu fazer algo diferente. – queria tentar pegar Felef desprevenido. – Ainda deitada, ela jogou o corpo para cima da cabeça e apoiou as mãos no chão ficando de cabeça para baixo, então deu um impulso, mais forte que conseguiu, manipulando as chamas em direção ao seu adversário e caiu em pé num movimento magnífico.
Porém, Felef não se deixou distrair pelo movimento inovador de Sassas, rapidamente ele conseguiu controlar as chamas que viam rápido em sua direção movimentando-as por volta de seu corpo, jogou-as contra sua oponente. E assim iniciou o treinamento em fogo. Com movimentos cada vez mais difíceis de prever, ambos foram lutando um contra o outro. Outrora conseguiam manipular as chamas de seu inimigo, outras vezes era preciso desviar das que viam sucessivamente, para não serem atingidos por elas.
O suor voltou a brotar na testa de Sassas, suas costas já estavam toda molhada. O treinamento durara um bom tempo e nenhum dos dois queria desistir, porém o cansaço já se fazia presente e era preciso que eles parassem. O treinamento chegara ao fim quando os dois manipularam suas chamas ao mesmo tempo fazendo-as colidir uma na outra, repelindo-as por completo.
Felef estava radiante. Muito satisfeito com o progresso de sua aprendiz. Era muito difícil conseguirem vencê-lo em uma batalha e ela estava mais próxima de realizar esse feito do qual poderia se imaginar.