Parte quatro
O AVISO A LEIZIEL
Floresta Do Norte
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13
Acarruagem cortava a floresta do norte na tribo Aqua, indo direto para Aeris. Leiziel Noah que voltara da rápida viagem que fizera pela tribo da água a fim de descansar por algum período de tempo antes de iniciar sua nova função a pedido do rei. Ele estava acompanhado de um elfo Ignis que fazia a carruagem movimentar de forma lenta pela estrada que ligava as duas tribos.
–– Poderíamos parar por um instante filho –– disse o elfo.
Os longos cabelos louros do elfo – que iam até o final das costas estavam presos na tradicional trança que ele usava desde sua juventude – balançaram rapidamente. Uma brisa fria soprava na estrada de terra batida o que fez a pele do elfo se eriçar. Leiziel deu alguns passos para o lado, indo em direção à floresta fechada.
A Floresta do Norte da tribo Aqua era conhecida por possuir árvores de longos troncos e muito unidas umas às outras. Às vezes por engano da visão, parecia que duas ou três árvores compunham somente uma, de tão unidas que eram. Mas ele poderia jurar ao divino que avistara um rápido movimento entre aquelas árvores.
Talvez seus olhos o enganassem, porém era preciso averiguar. Já que algo ou alguém chamara sua atenção.
Ele entrou na floresta saindo da estrada. Ainda conseguia ouvir o fogo crepitando da carruagem dando mais alguns passos para dentro da floresta.
Então ele parou bruscamente. Ouvira um movimento perto de onde ele estava. O som de galhos se quebrando também chegara a seus ouvidos. Então ele se virou e viu o elfo Ignis que o acompanhava parado a seu lado.
Seu olhar era de espanto. A cor deixou seu rosto, tornando-o mais branco que já era. Por trás dos cabelos muito negros e bagunçados suas pupilas estavam dilatadas.
–– O que houve? –– apressou-se Leiziel em perguntar.
–– Poderia jurar que vira alguma coisa parada próximo ao Senhor.
–– E o que seria? Explique –– exigiu o elfo louro.
O elfo deu mais alguns passos à frente.
–– Não sei. Foi muito rápido –– ele não olhava nos olhos de Leiziel e sim além dele, como se estivesse encarando o que vira há pouco.
Exatamente como acontecera com Leiziel. Um rápido movimento que chamara sua atenção. Que não saberia explicar quem era, na verdade o que seria a principal questão. Uma dúvida tomou conta do coração de Leiziel.
Qual deveria ser sua posição no momento? Continuar investigando ou voltar a seguir seu caminho. Ele precisava chegar à tribo Aeris o quanto antes. Já era para ele estar lá.
Leiziel olhou para baixo e viu que o elfo carregava algumas chamas em suas mãos. Ele estava preparado para qualquer investida que poderia ocorrer; o que fez Leiziel ficar ainda mais tenso. O que será que o elfo avistara para tomar uma atitude inesperada e impulsiva dessas?
–– Acho melhor você apagar suas chamas. Certamente nossas visões estão nos enganando –– disse ele ao elfo. Porém em nenhum momento acreditava no que seus lábios pronunciavam.
O elfo Ignis não reparara que estava manipulando as chamas em suas mãos. Seguindo o olhar do elfo Aeris ele se deu conta que em seu rápido movimento da carruagem até onde se encontrava Leiziel, ele começou a manipulá-las pronto para qualquer embate.
–– Eu não entendo como isso aconteceu. Foi um reflexo, eu acho –– falou ele firme, porém uma incerteza percorria seu coração.
–– Então já pode apagá-las –– sugeriu Leiziel sério.
–– Tudo bem.
Mas antes que o elfo se concentrasse para por fim na manipulação do fogo outro movimento atrás deles fez os dois darem uma volta brusca para descobrirem qual era a origem daquele som. As chamas do elfo Ignis apagaram-se sem ao menos ele se dar conta. Leiziel não conseguia sequer piscar para o que seus olhos contemplavam. Este só ouviu o elfo Ignis pronunciar uma palavra em um sussurro quase inaudível, que só fora possível por causa do silêncio que tomara toda a floresta:
–– Uma fada.
Nenhuma brisa soprava naquela direção. Nem mesmo um pássaro ou animal fazia qualquer tipo de barulho. O fogo que crepitava timidamente na pequena fornalha da carruagem não fez som algum. Até a respiração dos dois elfos estava contida.
Uma fada se encontrava parada à frente dos dois elfos, como se sempre estivesse ali. Ela era maior que os dois elfos. Provavelmente tinha dois metros de altura ou quase isso. Suas vestes eram longas que chegavam a cobrir seus pés. Usava um tecido parecido com o cetim num tom de roxo. Seus cabelos eram louros e estavam presos num penteado colado na cabeça, seus olhos dourados olhavam imponentes para eles.
Leiziel tentava discorrer algo, mas parecia que todas as palavras fugiram de sua boca.
–– Vejo que o elfo ouviu nosso chamado... –– a voz da fada era quase cantada. Em um ritmo lento e doce. –– A fênix está para despertar... –– ela continuava com uma expressão impassível. –– A inveja sucumbirá todo o reino... muitas mortes irão ocorrer... por causa da ganância do primeiro...
Então, a cada frase, a fada soltava as palavras ao ar. Não eram endereçadas diretamente a Leiziel, nem tão pouco ao elfo Ignis. Era para todo o reino, Dizia para toda Elf Regnum.
–– Muitos elfos vão sofrer... todo o reino irá sofrer... mas a fênix logo há de despertar... será ela capaz de vencer às trevas mais uma vez... a guerra está para se iniciar... e as trevas renascerá...
Leiziel olhava diretamente para a fada, ainda sem conseguir pronunciar uma palavra sequer. Ele precisava saber de tudo o que estava para acontecer. Ele sabia que as fadas tinham o dom de profetizar sobre o futuro. Tudo o que ela estava dizendo – sobre o que falava – iria acontecer. Mas o que era preciso ele fazer?
–– Mas a fênix irá despertar... um poder há muito esquecido resurgirá... será ela capaz de livrar seu povo... será capaz de vencer o primogênito... o ódio guardado por ciclos irá se libertar... e o destino de toda Elf Regnum será traçado... mas a fênix irá despertar...
Então o silêncio voltou a tomar conta de toda a floresta. E em um estalido a fada estourou em cinzas douradas, porém Leiziel conseguiu vê-la se transformando em um pequeno ser, menor que muitos rouxinóis, saindo voando para longe dali. Indo em direção à Floresta Etérea.
Depois que perdeu o pequeno pontinho de vista, ele percebeu o que de fato ocorrera. Ele presenciou uma profecia. Talvez mais de uma profecia, contudo todas elas estavam ligadas uma na outra e poderiam ser ditas como somente uma.
Agora, com a cabeça no lugar, eles deram conta do quanto estavam ofegantes e completamente sem ar. Parecia que tinham caminhado dias sem fim; atravessado toda a Elf Regnum da tribo Aqua até Ignis. Ou então Nadado até a ilha das encantadas há uma distância quase impossível.
O elfo Ignis caiu sobre as folhas secas que estavam espalhadas por todo o chão da floresta do norte. Ele sentiu-se fraco e não sabia explicar o porquê, Leiziel abaixou-se para ajudá-lo, porém também estava demasiado fraco para qualquer esforço brusco. Então ele sentou-se ao lado do elfo. Apoiou a cabeça na árvore mais próxima e aos poucos tentou regularizar sua respiração. Depois de um curto período de tempo o elfo perguntou:
–– O que foi isso senhor? –– As veias de suas têmporas estavam dilatadas, Leiziel conseguira visualizar cada uma por de baixo da pele sem cor.
–– Isso que acabamos de presenciar, foi uma profecia. –– explicou ele com a voz rouca.
Leiziel forçava-se para respirar. Parecia que seus pulmões estavam fechados e recusassem a deixar que o ar entrasse novamente.
–– Mas nunca ouvi falar de uma profecia desse jeito.
–– Também não... Também não.
Leiziel não sabia como explicar o que ele presenciou naquele momento. Mas ele sabia que carecia voltar para casa o quanto antes. Ele precisava falar com Neven. Se o palpite dele estiver certo, o que ele temia há ciclos, estava para acontecer.
–– Por causa da ganância do primeiro...
As frases das profecias ecoavam na cabeça do elfo Aeris. Ele compreendia seu significado. Pelo menos, boa parte delas ele entendeu. Agora ele sabia o que precisava ser feito. O aviso foi lhe dado e cabia a ele prevenir o rei. Contudo, toda sua força deixou seu corpo, sua respiração ainda estava difícil de controlar. Com demasiado esforço ele levantou-se e ajudou ao elfo Ignis a se por de pé também. Este, por sua vez, m*l ficara de pé voltando a se sentar.