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Passado um período considerável de tempo os dois elfos recuperaram toda sua vitalidade e seguiram de volta para a carruagem. Por sorte ou simples destino às chamas da fornalha não se apagaram completamente e o elfo conseguiu manipular as restantes, multiplicando-as e fazendo-os novamente andar pela estrada de terra batida que ligava às duas tribos.
Desde quando era um jovem o elfo Leiziel, acompanhado principalmente de seu falecido pai, gostava dos passeios que fizera em sua tribo natal. Visitando parentes e indo até a grande praia a fim de se banhar no Mar Salgado. De ciclo em ciclo, ele fazia essa viagem a fim de descansar de suas tarefas como conselheiro do rei Neven.
Rei Neven assumiu sua coroa com apenas vinte e três ciclos. Seu pai, o então rei Rever, foi acometido com uma doença desconhecida e muito grave. Nenhum elfo curandeiro conseguiu explicar o que de fato estava ocorrendo com o rei. Até as fadas,que tem propriedades mágicas próprias capazes de trazer a cura em questão de curtíssimo período de tempo, também não conseguiram fazer nada para que o rei voltasse a possuir a saúde que sempre usufruiu.
Então tudo foi rápido de mais. Porém, o filho escolhido para assumir o reino não era seu primogênito – o elfo Ignis; e sim o filho mais novo que assumira todo o poder tornando-se rei. E a pedido do próprio Rever, de quem Leiziel era amigo íntimo, assumiu um novo dever como conselheiro do novo rei.
Logo depois da posse do filho caçula. Rever veio a falecer sem o verdadeiro motivo de sua morte ser revelado. Muitos elfos não concordaram com o que aconteceu. Muitos julgaram que a atitude do rei em escolher o segundo filho como novo rei devia a – provável –perda de sanidade por causa da recente doença. Mas, de nada adiantou protestar, e Neven assumiu o poder e tornou-se um rei melhor do que seu pai chegou a ser.
Mesmo que muitos elfos ainda estão ao lado do primeiro filho de Rever, todos acataram as novas ordens do jovem rei. A não ser... Eve.
–– Vamos filho, precisamos chegar o quanto antes em Aeris. Preciso chegar à presença do rei.
–– Sim senhor –– disse o elfo Ignis multiplicando mais as chamas que queimavam dentro da fornalha. Fazendo a carruagem mover-se ainda mais rápida.
O elfo louro voltou seus pensamentos para a profecia das fadas. Aquilo só significava uma coisa.
–– A guerra está por vir...
E ele precisava avisar ao rei sobre os possíveis planos do irmão. Era seu dever como conselheiro.
–– Senhor... –– chamou o elfo sua atenção depois de um tempo pela estrada. Há pouco eles saíram dos limites da floresta do norte e estavam cada vez mais próximos da tribo Aeris.
–– Sim. Pode falar –– Leiziel viu o olhar ansioso do elfo.
–– Do que a fada estava falando senhor? –– perguntou ele de maneira tímida.
As chamas ainda queimavam fortemente.
Leiziel via o olhar apreensivo do elfo Ignis.
–– Acredito que você tenha entendido partes. Porém não tudo, assim como eu.
–– Então haverá mesmo uma guerra?
–– Sinto que, de fato, uma guerra está por vir.
Leiziel respirou fundo.
–– As fadas não erram em suas profecias. Elas sabem de coisas que elfos nunca hão de saber. Um dom raro que somente elas têm.
O elfo Ignis assentiu e continuou manipulando o fogo fazendo a carruagem atravessar os montes verdes seguindo direto para a tribo Aeris. Aos poucos, as montanhas que compunham toda a tribo cresciam na visão do elfo louro, e, ele sabia que mais próximo de casa ele chegara, em pouco tempo ele conseguiria avisar ao rei Neven da tentativa de seu irmão em tomar o poder.
Eles iriam precisar se organizar para a suposta investida que poderia acontecer a qualquer momento. Isso era urgente.
Cada vez mais eles se aproximavam da tribo e logo chegariam às colinas. Para enfim, atravessar o grande rio e finalmente subir até o palácio real.