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1169 Words
27 de março de 1489, dia do décimo sétimo festival. O dia ensolarado não me animou, pelo contrário, só me deixou mais desanimada. Eu não queria levantar, eu só queria chorar mais um pouco e não sair do meu quarto. Era o meu dever, eu tinha que entreter o povo. Acabei levantando obrigada da cama e fui para o banho. Minhas criadas me ajudaram a me lavar e me vestir, colocaram um pouco de maquiagem em meu rosto e deixaram meus cabelos soltos. Levantei da cadeira, me equilibrando nos meus saltos altos. Meu vestido era azul escuro, ombro a ombro. Era justo até a cintura e se abria no quadril em uma saia rodada. O b***o, era enfeitado de Zircônia - pedras que imitam o diamante - e formavam desenhos. A coroa combinava com o vestido, mas, diferente dele, os diamantes da coroa eram reais e brilhavam quando entravam em contato com o sol. - Vamos, princesa. - Nataniel abriu a porta do meu quarto, e me encarou. - Vamos. - suspirei, alisando a saia do vestido mais uma vez. - Seu pai já está esperando. - avisou, assim que atravessei a porta do quarto. Nataniel se manteve dois passos atrás de mim, em silêncio. Os pensamentos que eu estava tendo, acabaram me deixando inquieta e a minha mente estava fervilhando com as possibilidades de acabar com essa competição. Não me agradava, e eu não queria que nossos homens fossem a caminho da morte. Eles só precisavam de ajuda, e se serem mais pobres o tornavam sem valor, eu não entendia para quem eu iria governar. - Papai, mamãe. - Cumprimentei, assim que cheguei ao salão de festas do palácio. Estava vazio, só tinhamos alguns guardas a nosso dispor e nada mais. - Querida. - meu pai sorriu. - está muito bonita. - Obrigada, pai. - Sorri fraco, encarando a sua coroa por alguns instantes. - Olá querida. - Mamãe respondeu, alisando a barra do meu vestido. - Senhor WoodWoork. - Cumprimentei o homem atrás do meu pai. - Princesa. - ele sorriu abertamente, acho que não esperava essa atitude. Durante dezessete anos de vida, minha mãe sempre me ensinou a apenas acenar para os empregados, cumprimenta-los, já era algo demais, na maioria das vezes. Após saber que o senhor WoodWoork não compactuava com a maioria dessas coisas, acabei criando uma empatia por ele. Nunca imaginei que ele pudesse ser diferente dos outros guardas, ele bateu de frente com o meu pai, para acabar com uma tradição errada do nosso povo. "Isso é necessário para mantermos a ordem." Dizia meu avô, quando eu tinha apenas 14 anos. Nessa época, comecei ajudar meu pai nas obrigações como rei, comecei a treinar para ser rainha. Eu não achava necessário, se os valores fossem equilibrados, se fosse distribuídos... teríamos menos pobreza e talvez, mais educação. Um outro ponto que me incomodava, era o fato de que somente os homens aprendiam a ler. Até mesmo os nobres proibiam as suas filhas de terem um estudo adequado. Quando meus pais se apaixonaram, minha mãe era apenas um plebéia. Minha avó foi contra o casamento, mas, não conseguiu colocar sua vontade sobre a do herdeiro, e eles acabaram se casando. Minha mãe pediu para aprender a ler, e meu pai, atendeu a seu pedido com toda sua boa vontade. Quando eu nasci, minha mãe decidiu que eu seria uma Rainha que conseguiria manter meu próprio povo, pelas minhas próprias vontades, não precisaria de um homem para me ajudar a isso. Ao chegar ao local onde seria celebrado o evento, percebi a multidão. Eram tantas pessoas aglomeradas e esperando por nós, que minha vontade de chorar veio a tona. Eu queria muito gritar para todos eles o que realmente aconteceria dentro de uma semana, mas, eu não podia. Sorri e acenei para a população que berrou assim que nós subimos ao palco improvisado. Acenei e sorri para todas aquelas pessoas. Meus pais se sentaram em seus tronos e corri para trás da cortina grossa que estava atrás do palco. Lá, tínhamos alguns criados a nosso dispor, além de frutas, sucos e água. - Precisa de algo, alteza? - a criada perguntou. - Na verdade, preciso. - Olhei para os dois lados, e puxei-a pelo braço para o reservado. Ali, tinha sido montado um pequeno banheiro para que pudéssemos fazer as nossas necessidades. - me arrume roupas. - hã? Não estou entendendo. - a mulher falou assustada. - Preciso de roupas, roupas normais. - sussurrei. - vamos, arrume-as para mim. - Sim, senhora. - E não conte a ninguém, ouviu? - mandei. A mulher correu para fora do palco, e eu sai em seguida. Fui novamente para o lado de fora, e me sentei ao lado de meus pais. Antes de a festa começar oficialmente, cantamos uma música de aniversário para mim, e os criados distribuíram um bolo de três camadas de chocolate para todos. Os nobres, porém, ficaram reservados em um canto da rua. Era como se fosse algum tipo de camarote montado para eles, e mesmo que a minha mãe sempre fosse cumprimentar as suas amigas, preferia ficar longe daquele pessoal. Quando meus pais se afastaram para cumprimentar os amigos próximos, entrei novamente atrás das grossas cortinas, atrás da criada. - Senhora. - ela Sussurrou, se escondendo atrás da porta novamente. - Consegui as roupas? - perguntei, assim que entrei novamente no banheiro apertado. - sim, senhora. - respondeu, levantando uma bolsa improvisada com um lençol. Ela me entregou as peças, uma blusa simples, uma calça comprida de pano grosso e uma capa marrom. - Obrigada. - agradeci a mulher a minha frente. - prometo que não contarei nada ao rei. - O-obrigada princesa. - agradeceu, gaguejando. - Agora, me ajude a me vestir. A mulher me ajudou a me vestir, e guardar o vestido e os saltos em um lugar seguro. Enrolei a tiara na saia do vestido e entreguei a ela. Peguei um papel qualquer e deixei um bilhete, avisando que voltei ao castelo porque senti dores de cabeça. Pedi para não ser incomodada. Sai pela saída dos funcionários, e comecei a andar devagar por entre as pessoas. Estavam animadas e bebiam vinho que estava sendo disponibilizado a metrô nas ruas do bairro. Decidi que daria uma volta pelos bairros, ver como as pessoas viviam por lá, se as situações eram tão precárias como imaginei. - Ei, tome cuidado. - a moça berrou, assim que esbarrei em seu corpo. - Desculpe. - respondi, puxei um pouco mais o capuz da capa e voltei a caminhar por mais alguns metros. - Sua louca. - berrou e puxou o capuz junto com os meus cabelos. Soltei um grito agudo com a dor e meu corpo foi puxado para trás. - Você está maluca? - perguntei, encarando seu rosto por um momento. Acaricei meu couro cabeludo e voltei a encara-la. Ela estava pálida e tremendo. - Princesa, me desculpe. - disse, se aproximando. - Não se aproxime, sua maluca. - disse, murmurando. E voltei a tampar meu rosto. - não diga que me viu. Ela apenas assentiu, estática e eu corri rápido, voando ruas a fora. A agressividade da mesma me assustou, como nosso povo podia agir como animais? Será que se atracavam a cada rua? Espero que tenham paz entre si, ou eu teria mais trabalho que o imaginável.
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