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1101 Words
Após caminhar por mais algumas ruas, a brisa trouxe o cheiro de mar ao meu na nariz. Nosso país ficava no litoral, e mesmo assim, eu nunca tinha ido a praia para pegar sol. Assim que cheguei perto, retirei os sapatos gastos e toquei a areia com os pés. Tão deliciosa e fofa, inimaginávelmente infinitas. Eu não queria sair dali nunca mais. Por um minuto, me senti livre de tudo. Eu não precisava me preocupar com o povo, com as minhas próprias responsabilidades e nem com um futuro casamento. Eu era apenas Alexandra. Uma Alexandra sem sobrenome, sem casa e sem lugar para ir. — O que está fazendo aqui sozinha? - Um homem perguntou. Me assustei e o encarei rápido. — Nada. - disse baixo. Não queria que me reconhecessem. — Pois não deveria ficar sozinha, donzela. - O homem disse rindo e se aproximando um pouco. - tem muitas pessoas maldosas por aí. — E você é uma delas? - perguntei, receosa pela proximidade que o homem tomava de mim. — Com certeza, donzela. - ele riu. Encarei seus olhos negros, seus dentes sujos e o jeito que o homem se aproximava rápido de mim. — O que você quer? - perguntei, tomando distância. — Você vai descobrir, meu doce. - O homem respondeu, se aproximando aos poucos. Quis gritar, mas não tive certeza que alguém me escutaria. Quis correr, mas o homem já estava perto demais. Meus olhos se encheram de lágrimas e ele sorriu, segurou meus braços com força e apertou-os. — Me deixe em paz, eu ordeno. - disse, tentando manter a voz firme. — Aqui você não é uma princesa, sua c****a. - ele esbravejou, apertando mais meus pulsos. - Cadê seus guardas? Hã? Se obedecesse o seu paizinho, não encontraria pessoas como eu. Mas, olha como eu tenho sorte. - Uma lágrima desceu pelo meu rosto, quando o homem acariciou meu pescoço e puxou meus cabelos com força. — Solte-a! - Ouvi alguém gritar atrás do homem. Ele olhou rápido. — Que é, garoto? - ele sorriu. - Quer brincar com a mimadinha também? — Eu já mandei você soltar ela, James. - o rapaz disse entre os dentes. — Que é, Aspen? - o homem gritou, me jogando no chão e se aproximando do garoto. - Quem você pensa que é, em garoto? — Eu deveria ter matado você quando soube sobre a Tina.. - esbravejou, apontando uma faca enferrujada para o homem. Se não morresse de perfuração, provavelmente de tétano. - — A culpa não foi minha sobre a Tina. Eu não fiz nada. — Ela morreu por sua culpa, porque não queria viver ao lado de um abusador como você, James. — Ela fugiu por escolha própria. Ela era minha filha. - o homem disse desnorteado e encarou Aspen. — Suma, James. - ele murmurou. - antes que eu mate você aqui mesmo. O homem correu praia a fora, parecia querer chorar e seus olhos transpareciam culpa. O menina guardou a faca e se aproximou devagar. — Por favor, não faça nada comigo. - pedi. — Está tudo bem, princesa. - ele disse, sorrindo. - venha, vou te levar pra casa. — Não! - disse um pouco alto demais. - não posso ir agora, me desculpe. — Prefere ficar aqui? Sozinha? - ele me olhou perplexo. — Não.. eu só nunca vim a praia. - olhei-o por alguns segundos. — Nunca viajou, princesa? - ele me olhou incrédulo. — Meus pais preferem me deixar em casa. - disse, olhando novamente para o mar. - o mar é perigoso, as vezes.. não sabemos o que podemos encontrar. — Eu queria poder viajar, olhar para o mundo lá fora. — Meu irmão morreu quando caiu no mar. - encarei-o alguns segundos e suspirei. - e bom, acho que é por isso.. — Eu sinto muito. - ele me olhou, talvez, com pena. - vem, podemos ir até a minha casa, minha mãe adoraria recebê-la. — Tudo bem. - sorri fraco para o mesmo. De duas, uma. Ou ele ia me matar em sua casa, ou, ele realmente me ajudaria. Preferi me levar pela bondade de Aspen. — E então, Aspen.. - pensei um pouco, encarando o chão. - quem é Tina? — Tina era a minha vizinha, filha de James. - começou, encarando o nada. - o pai dela, o James, quase toda semana era acusado de cometer algum crime, e na verdade, ela aguentou até onde deu.. - ele parou de falar, pensando nas palavras que usaria. - só que, um dia.. veio o primeiro crime grave de abuso do pai dela.. - ele suspirou, com seus olhos cobertos de lágrimas. - ... e o segundo, e então, ela não aguentou. Ela não queria a pena das pessoas, e então, ela roubou um barco e fugiu... — Ela está viva? - perguntei, tendo medo da resposta. E ele negou com a cabeça. — O mar estava revoltado nesse dia, a Tina não sabia velejar e foi do mesmo jeito. Estava chovendo também, e então, ela caiu no mar. - O rosto de Aspen estava vermelho, parecia querer chorar. - Um grupo de pescadores viu, tentaram ajudá-la, mas.. só encontraram o corpo dela na praia, a alguns metros daqui, três dias depois. — Vocês nunca denunciaram isso? - perguntei. - digo, sobre o pai dela. — Sim, claro que sim. - disse, olhando para mim, seus olhos ainda cobertos de lágrimas. - mas, nunca fizeram nada a respeito. — Sinto muito. - murmurei, encarando meus pés. — Não é sua culpa se as outras pessoas não fazem o trabalho delas.. - ele disse, depois de secar os olhos. - chegamos. Estávamos em frente de uma casa simples de tijolos com uma porta de madeira gasta. A casa só tinha uma janela e algum pano remendado imitava uma cortina. Aspen foi a minha frente e empurrou a porta, que arrastou e agarrou no chão um pouco. Ele parou, e me chamou com a mão, fazendo menção para que eu entrasse. Relutante, entrei na casa. — Mãe? - Aspen gritou. — Não grite, Aspen. - a mulher disse, aparecendo em uma das portas. - seu pai está dormindo. — como ele está? - Aspen perguntou, depois de beijar a testa da mulher. — melhor que ontem, eu acho. - murmurou, e me encarou. - princesa? — olá! - cumprimentei, levantando uma das mãos. — Vossa alteza! - fez um reverência, secando as mãos na saia. — Não é necessário, senhora. - disse. - pode me chamar de Alê. Prefiro assim. — O que devo a sua ilustre visita?- perguntou, me puxando para eu me sentar em uma cadeira. — James! - Aspen murmurou. — ele tentou agarrar a princesa? - perguntou, pasma. — Sim! - ele deu os ombros e suspirou fundo. - ele não aprende nunca. — Você quer algo, princes.. digo, Alê! — vocês tem chá? - perguntei, com os olhos suplicantes. — claro, espere um pouco. - ela sorriu, e levantou, caminhando para uma porta atrás de si própria. Sentei no banco ao lado da janela, e me permiti ter devaneios enquanto esperava que o chá me trouxesse consolo. As imagens do homem vinha na minha mente o tempo todo e isso me deixava melancólica e triste.
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