Encarei Aspen que estava sentado a mesa de madeira contando algumas poucas moedas, bastante concentrados em cada uma delas.
Suspirei e rodei os olhos pelo lugar. A casa era simples, tinham alguns bancos acolchoados para que as pessoas pudessem se sentar na sala apertada, que dispunha de uma mesa velha de madeira, algumas cadeiras e alguns objetos de costura. Além disso, outras três portas simples, tampadas por retalhos costurados. Uma delas, a que a mãe de Aspen havia entrado a pouco.
— Porquê está contando moedas? - perguntei, puxando um fio da blusa velha e listrada.
— Para comermos. - murmurou, sem tirar a atenção do que fazia.
— Do que você trabalha? - perguntei, tentando me entreter.
— Trabalho com carpintaria. - murmurou, jogando outra moeda no saco.
— E seu pai? - perguntei novamente.
— Doente..
— O que ele tem?
— Meu Deus, fique quieta. - Aspen disse bruto, jogando uma moeda no chão. Olhei para ele assustada, enquanto Aspen respirava fundo, passou a mão no rosto e depois nos cabelos castanhos. Seu olhar recaiu sobre mim, agora tranquilos. - Olha, me desculpa, tá legal?
— Tudo bem.. - murmurei baixo, me encolhendo no lugar.
— Droga... - murmurou. - eu fui um i****a, eu estou de cabeça cheia hoje, me desculpa. - ele se levantou e tocou minha mão.
— Tá tudo bem.. - disse e seus olhos cor de mel continuaram me encarando. - mesmo.
— Tudo bem. - suspirou aliviado e sorriu.
A mãe de Aspen apareceu com uma pequena tábua de madeira, equilibrando duas canecas munidas de um líquido quente e cheio de vapor.
— Aqui está o chá. - disse, apoiando na mesa.
— Oh, céus! - exclamei, pulando de uma cadeira para outra rapidamente. Peguei uma das canecas e assoprei o líquido que se mantinha dentro. O cheiro delicioso que invadia meu nariz, provava que o líquido era feito de Erva doce. - muito obrigada.
— Aspen, beba. - ela mandou, fazendo o garoto bufar e pegar uma das canecas.
— Aspen não gosta de chá? - perguntei, olhando-o divertida, e beberiquei um pouco do meu chá.
— Não! - ele respondeu, fazendo uma careta após engolir um grande gole de chá. - eu acho horrível, ainda mais sem açúcar.
— Eu bebo sem açúcar. - dei de ombros. - minha mãe me criou dessa forma, e é difícil desacostumar. - mas, porque você não põe um pouco de açúcar?
— Não temos. - Aspen murmurou, encarando a janela. - acabou essa semana e estou tentando juntar dinheiro para compramos mais comida. Acho que a que temos não durará muito tempo.
— Aspen.. - a mãe brigou.- não fiquei falando isso para ela.
— não, eu preciso saber, senhora. - disse, levantando uma das mãos em protesto. - logo, eu vou ser rainha. Preciso saber como vive o meu povo.
— Não se preocupe agora, princesa. - sorriu, meiga. - e não me chame de senhora, meu nome é melissa.
— Obrigada, dona melissa. - disse, colocando a caneca vazia em cima da mesa novamente.

O sino tocou mais uma vez, antes de eu conseguir chegar a parte traseira do palco.
— Foi ótimo passar o dia como você, Aspen. - o abracei levemente.
— Foi ótimo para mim também. - sorriu, e colocou as mãos no bolso.
— Bom, até logo. - suspirei e olhei para os guardas que estavam entretidos em um jogo de cartas.
— Até.. - murmurou, e levantou uma mão.
— Irei chamar você qualquer dia para passar o dia comigo no palácio. - sorri. - você pode tomar chá com açúcar.
— Obrigado, princesa. - ele deu um sorriso de lado, antes de encarar os pés. - Ore para que eu consiga ser selecionado. Se eu vencer, serei nobre e nós vamos nos ver sempre.
— Você se voluntáriou? - perguntei, descrente.
— Sim, minha família precisa de dinheiro. - sorriu. Apenas assenti, sentindo meu rosto esquentar e a vontade de chorar aumentar aos poucos.
— Bom, até mais, Aspen. - murmurei, e corri para onde os guardas estavam.
Eles levantaram para me deter, mas me reconheceram e não moveram sequer um músculo.
Senti meu coração doer pela segunda vez naquele mesmo dia, e jurei para mim mesma que não iria me deixar atingir por isso. Aspen não era meu problema agora, eu tinha que dar um jeito de acabar com essa maldita competição. Cortar o m*l pela raiz.
***
Suspirei, enquanto a criada alhinhava a coroa na minha cabeça novamente. Eu havia sumido o dia inteiro, alegando m*l estar aos meus pais. Eu tinha de voltar ao palácio o mais rápido possível.
— Chame a carruagem. - pedi. - voltarei para o palácio.
Ela apenas assentiu com a cabeça, antes de sumir na imensidão de tecidos.
— Alteza, já estão te esperando. - disse, vermelha como um pimentão.
Fui o mais rápido que pude, e entrei na parte traseira. A porta se fechou, e eu suspirei e encostei a cabeça na madeira.
A carruagem balançou um pouco, antes de finalmente, pegar a trilha para o castelo. Fechei os olhos e esperei que aquela viajem passasse o mais rápido possível.
***
Subi para o meu quarto e me joguei na cama, jogando os meus sapatos em algum canto. Retirei o vestido e me sentei na cama, e puxei os prendedores que prendiam duas mechas do meu cabelo atrás da minha cabeça.
Não queria ver Allie e nem Mary, queria dormir apenas.
Me joguei na cama, seminua e me cobri com o coberto grosso. Fechei os olhos, e me permiti ver a lua posta no céu estrelado. Encarando aquela imensidão, acabei adormecendo.
Amanhã seria um longo dia.