Eu estava muito disposta. Mais disposta que o normal.
Antes que as criadas chegassem aos meus aposentos, eu já estava de pé, com as portas do guarda roupas escancaradas, tentando achar o melhor vestido para a ocasião.
Acabei optando por um vestido simples, azul escuro que batia nos joelhos e tinha uma saia rodada. Na cabeça, apenas a tiara e nos pés, um par de saltos.
Coloquei as roupas sobre a cama bagunçada, e me sentia na mesa que tínha perto da sacada do meu quarto. Peguei papel e o tinteiro ao lado, e passei a escrever com a pena de um corvo uma carta para ser enviada a Aspen.
- Já está acordada, senhora? - Mary perguntou, abrindo a porta de seu quarto.
- Sim, mas, não se preocupem. - sorri amigavelmente. - já escolhi quais as roupas de hoje.
- Alli, vá preparar o banho da princesa, enquanto arrumo a cama e as roupas jogadas no chão. - Allie assentiu e entrou para dentro do banheiro e pude ouvir o barulho da água caindo dentro da banheira.
Voltei toda a minha atenção para a convocação de Aspen ao castelo, e suspirei quando a última palavra foi escrita. Precisaria de outra pena.
Eram coisas caras, e fúteis que se desgastavam com uma semana de uso. Por isso, estavam a todo o vapor na produção das penas feitas com metais, uma ideia um pouco burra. Como iríamos carregar ferro em bolsas? Era pesado demais.
- Vamos para o banho? - Mary perguntou, assim que dobrei a folha pela terceira vez e coloquei dentro do envelope que estava em uma gaveta.
- Só mais um minuto, Mary. - Disse, procurando o sinete na bagunça da minha escrivaninha. Quando o encontrei, selei a carta com um pouco de cera vermelha e coloquei o brasão da família real sobre ela.
Corri para o banheiro, deixando a carta sobre a mesa. As criadas me ajudaram a despir e a me lavar, e por mais que a água estivesse extremamente boa, eu não queria prolongar demais.
Por isso, antes de o café ser anunciado, eu já estava com o vestido, penteando meus cabelos. Deixei-os soltos, para que a tiara de turmalinas azuis escuras se destacasse em minha cabeça. Coloquei um colar que combinava com a tiara e um par de brincos da mesma pedra, calcei os saltos e já estava pronta para sair dos aposentos.
- Está graciosa, princesa. - Allie disse, assim que peguei o envelope em mãos.
- Obrigada, Alli. - sorri, meiga. - vocês quem fizeram tudo isso. Obrigada.
- Tudo pela nossa princesa. - Mary disse, sorrindo abertamente.
- Tenho que descer para o café. - murmurei, ansiosa.
- Mas, não está cedo? - Alli perguntou, franzindo o cenho.
- Sim, mas tenho de fazer algo antes. - Suspirei, contente. - até mais tarde.
Fechei a porta pesada e encontrei outros dois guardas que faziam a vigia da porta durante a noite. Cumprimentei-os, sabia que ainda era muito cedo e que logo ocorreria a troca de guardas, mas, não queria esperar.
Os homens me seguiram, enquanto eu atravessa quatro lances de escadas. Observei algumas servas limpando as janelas do andar debaixo, e outra esfregando um pouco a cortina.
- Chame o mensageiro. - Pedi, a um dos homens que me seguiam. Ele apenas assentiu e voou dali.
Esperei mais alguns segundos parada no salão, e suspirei trocando o apoio de uma perna para a outra.
Não demorou muito para que um jovem de 20 anos aparecesse sorridente a minha frente.
- A sua disposição, Alteza. - Disse, fazendo uma reverência.
- Quero que entregue isso e mais algumas coisas na casa de um homem chamado Aspen, o conhece? - perguntei, enquanto colocava o envelope em suas mãos.
- Aspen, Aspen Park? - Perguntou, enquanto passava a mão nos cabelos negros. - O Aspen da senhora Melissa?
- Sim, o próprio. - sorri satisfeita.
- Agora, me acompanhe. - disse, enquanto ia a caminho da cozinha do palácio.
***
- Tudo certo? - Perguntei ao mensageiro.
Estávamos no pátio do palácio, e os homens carregavam algumas caixas de alimentos para a dentro da carroça que o jovem usaria para transportar aquela quantidade.
- Tome cuidado, por favor. - pedi, colocando a mão sobre um dos caixotes. - e entregue a carta na mão de Aspen, ou de Melissa. Somente.
- Claro, alteza. - O rapaz sorriu e tomou a direção dos cavalos que estavam parados a frente. Ao seu lado, dois ajudantes e um guarda estavam a postos.
Subi as escadas e parei em frente a porta principal do palácio e vi a carroça ir para longe. Entrei assim que os perdi de vista.
Eu finalmente, pude ajudar alguém de verdade. Só esperava que Aspen pudesse aceitar ao meu pedido.
***
As portas do salão do café se abriram, e eu entrei devagar para dentro. Meus pais estavam conversando sobre algo quando me sentei na mesa, mas não prestei muita atenção.
Apenas servi-me com um pouco de pão de trigo e suco de uva. Ainda conseguia sentir um pouco das sementes das uvas no meio do líquido, e para mim, era aquilo que o fazia ser mais gostoso. Quando terminei, optei por uma salada de frutas, com morango, maçã e pera, para fechar com chave de ouro.
Não conversamos, na verdade, meus pais ficaram entretidos entre si e sua conversa sobre como o evento de onde foi ótimo e como o povo adorava aquilo. Mamãe achava que deveria se repetir mais vezes, claro.. do jeito que gostava de atenção.
- Não acredito que perdeu um evento para o seu aniversário. - minha mãe disse, enfiando um morango na boca.
- É.. - desconversei. - eu estava com dor de cabeça e um pouco enjoada da viajem até lá.
- Ficou bem? - meu pai perguntou, tocando minha mão.
Quis puxa-la, tira-la dali e mostrar todo o desgosto que eu tinha em meu interior. Mas eu não podia, não ainda..
Pelo menos, eu ainda tinha Aspen para me fazer companhia.
- Com licença. - Nataniel disse, se aproximando um pouco de nós. - Alteza, há um rapaz a sua espera.
- Um rapaz? - meu pai perguntou, com a testa franzida.
- Que rapaz? - minha mãe perguntou, com os olhos brilhantes. Exalando orgulho e felicidade.
- É um amigo, pai. - Sorri. - Agora, com licença.
Assim que as portas se fecharam atrás de mim, percebi que eu não estava respirando. Suspirei fundo, recompondo minha postura, antes de caminhar para o grande salão onde Aspen estaria a minha espera.