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1686 Words
Aspen parecia animado assim que atravessei a porta pesada de madeira que separava o corredor do salão principal. Ele estava na janela, admirando o amplo jardim e conversando com uma das criadas que esfregava uma das janelas ao seu lado. - Aspen! - exclamei, tomando a sua atenção para mim. - Alteza! - disse, fazendo uma reverência. - Não é necessário referências, e me chame apenas de Alexandra ou Alê! - disse, abraçando-o. - recebeu meus presentes? - Sim, muito obrigado! - agradeceu, com um sorriso de orelha a orelha. - minha mãe nunca esteve tão realizada. - Bom, espero que tenha conseguido ajudar. - suspirei, enquanto encarava seus olhos castanhos. - E muito. - deu de ombros. - sobrará mais dinheiro para comprarmos os remédios do meu pai. - Era sobre isso que eu queria conversar com você. - disse, puxando seu braço para dentro do extenso corredor. - Eu queria conversar sobre os remédios do seu pai. - Os remédios do meu pai? - disse, franzindo o cenho. - Sim, venha comigo. - respondi, fazendo-o me seguir até a ala sul do amplo palácio. - Você sabe o que ele tem? - perguntei, abrindo uma portinha simples de madeira. - Sim. - suspirou. - é algum tipo de doença infecciosa, por isso, minha mãe toma o maior cuidado possível e nos proibiu de vermos o nosso pai por um tempo. Ela tem medo de contrair. - E você sabe mais ou menos os sintomas? - Perguntei, enquanto subia a escada longa e apertada que dava ao topo da torre. - Febre, cansaço e muitas dores na cabeça. - respondeu, vindo atrás de mim. - Bom, estou te levando ao nosso curandeiro. - murmurei, batendo três vezes na porta do homem grisalho. - Alexandra, querida. - o homem disse, vindo me abraçar. - Oi, Senhor Nabuco. - cumprimentei, dando passagem para Aspen entrar. - esse é meu amigo, o Aspen. Viemos saber se o senhor tem algum tipo de cura para a doença do pai dele. - Bom, eu tenho cura para quase tudo. - disse, animado. - O que seu pai tem? - Achamos que é aquela doença infecciosa que ocorreu na Europa a algum tempo atrás. - Aspen disse, se sentando na mesa de madeira com um livro apoiado. - Ele tem dores de cabeça, febre e muito cansaço. - Hum.. - o homem murmurou, pondo a mão no queixo e alisando o local. - Vamos procurar aqui. - disse, folheando o livro. - ele tem falta de ar, tosse e dores no peito? - Sim. - respondeu, batendo os dedos na mesa e encostando a mão no rosto. - Bom, eu tenho algo que poderá ajudar. - disse, indo atrás de alguns frascos com cores diferentes. - olhe, são remédios.. mande ele tomar duas vezes ao dia, um antes do almoço e a outra antes do jantar. dentro de uma ou duas semanas, ele estará bem. - Obrigada, senhor Nabuco. - sorri, amigavelmente e depositei um beijo em seu rosto. - você é o melhor do mundo. - logo, será meu neto em meu lugar. - ele disse, rindo um pouco. - estou ficando velho, minha querida. - Seu neto será tão bom quanto o senhor, mas eu ficarei tão triste sem você. - disse, triste com o rumo da conversa. - Bom, me diga, Aspen. - ele disse, sentando-se do lado oposto ao que Aspen se mantinha sentado. - como seu pai contraiu essa doença? - Ele fez uma viagem pela Europa a alguns meses, e quando voltou, disse que um dia antes de vir, comeu um bezerro que os donos de uma casa tinham dado a ele e aos amigos.. - ele começou, dando de ombros. - sete dias depois, ele começou a dar os primeiros sintomas e só foi piorando. - Os homens devem tomar mais cuidado com o que recebem, provavelmente, o animal estava infectado com algo. - Também acho. - Aspen disse, suspirando fundo e encarou o frasco. - espero que isso funcione. - Vai funcionar, meu filho. - ele disse, sorrindo. - Vamos, Aspen? - disse, colocando uma pequena flor branca de volta a bancada. - Obrigada mais uma vez, senhor Nabuco. - Vamos. - Aspen alisou uma das pernas e levantou, segurando com as duas mãos o vidro cheio. *** - Você sabe qual é a cor preferida da sua mãe? - perguntou, sentada em um balanço no jardim. Aspen estava sentado no chão, embaixo da árvore encarando a fachada do lugar. - Sei. - disse, desviando seu olhar para mim. - Rosa. - eu prefiro azul. - murmurei, olhando o céu. - me lembra o céu e me faz pensar em como o mundo é infinito. - Eu acho melhor eu ir. - Aspen disse, se levantando. - tenho de voltar para almoçar. - Já vai? - disse, triste. - Sim, princesa. - ele sorriu. - prometi que voltaria para tomar sopa com legumes hoje. - Parece ótimo. - sorri, pulando do balanço. - E é. - ele sorriu abertamente, com os olhos brilhando. - hoje minha mãe irá usar um pedaço da carne que você mandou para nós. - Que bom que gostou, Aspen. - eu disse, segurando sua mão e alisando-a com a outra. - obrigada por ter vindo. - Não poderia negar o seu pedido. - ele sorriu de lado. - obrigado, Alexandra. Você me ajudou muito. - Sempre a disposição. - sorri. - Vamos, eu te levo até a carruagem. - Eu posso ir andando... - ele disse, me seguindo. - Não é incomodo algum, acredite. - Não precisa mesmo.. - protestou. - É perigoso. Eu insisto. - disse, apressando o passo. Andei apressadamente até a entrada do palácio, com Aspen ao meu encalço. Pedi a uma das criadas que varria as folhas para que chamassem uma carruagem, que não tardou a chegar. - Obrigada mais uma vez. - agradeci, antes que o homem entrasse ao meio de transporte. - Obrigado você. - ele disse, dando um último sorriso e entrando na carruagem. A porta de fechou e ele pôs o rosto para fora da janela uma última vez. - Até mais. - Até. - respondi acenando. A carruagem começou a sumir pelos portões e os perdi de vista. Suspirei mais uma vez, e me sentei no segundo degrau da escada, com as mãos nas bochechas, assim como eu tinha feito a sete anos atrás, quando o meu pai saiu para viajar junto com o meu irmão, Alexandre, que nunca mais voltou para casa. Alexandre tinha o nome do nosso pai, e era o herdeiro do trono. Ele tinha apenas quinze anos e estava animado com a viagem, iria conhecer a Inglaterra. Implorei que ele ficasse, estava com uma sensação r**m. Mas, ele me disse que tudo ficaria bem e que logo estaria de volta para brincarmos. Alexandre nunca voltou e seu corpo nunca foi encontrado ao mar, e de uma noite para um dia, eu me tornei herdeira direta ao trono. Jamais superei a perda do meu irmão, e até hoje, eu olhava para o quadro com a sua imagem no corredor principal. A vontade de chorar tomou posse de mim, e eu subi o mais rápido possível para o terceiro andar. Um grande quadro da nossa família estava lá, Eu, Alexandre, meu pai e minha mãe. Ao lado, uma foto de Alexandre, embaixo, uma pequena placa dourada dizia "Alexandre II". Toquei o quadro sutilmente, enquanto imaginava Alê me deixando dormir em seu quarto nos dias de chuva. Alexandre saberia o que fazer, ele me ajudaria. Estaríamos felizes agora, estaríamos juntos. Uma lágrima escorreu sobre o meu rosto, e em seguida, outras. Dei dois passos para trás, ainda encarando o quadro a minha frente. Encostei na parede gelada, e me permiti escorrer para o chão e chorar. Tentei abafar meus soluços com as mãos e me permiti que as lembranças voltassem com toda força. "- Alê, fica! - pedi, agarrando a barra da sua calça. - Você sabe que eu não posso agora, minha pequena. - respondeu, abaixando-se a minha frente e ajeitando a tiara torta em meus cabelos. - Prometa que voltará logo. - pedi, sentindo as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. - Prometo, e nós treinaremos sua leitura, tudo bem? - perguntou, sorrindo. - Tudo bem. - disse, entre um solução. Ele secou minha lágrimas, me abraçou forte e me deu um beijo na testa. " O vi partir naquela carruagem, e nunca mais tive o privilégio de ver Alexandre, de abraça-lo ou de ler algum livro infantil para ele, enquanto ele fazia anotações em seu caderno preto. "- Alê, deixa eu ler outro livro. - disse manhosa, segurando o meu exemplar de "o patinho feio" entre os dedos. - Não gosta desse? - perguntou, tirando os olhos das suas anotações. - Não, é chato. - bufei, jogando o livro de lado e pulando para a sua cama. - O que você quer ler? - perguntou. - O seu diário. - disse travessa. - Não mesmo. - ele disse rindo, e fechando o caderno. Ele colocou na gaveta e trancou a mesma. Logo, me empurrou na cama e me encheu de cosquinha. - Eu te amo, Alexandre. - disse, enquanto o abraçava e beijava sua bochecha. - Eu te amo mais, boneca. - ele sorriu." - Alexandra. - meu pai disse, surpreso e se aproximou. - O que aconteceu? - Estou com tanta saudades dele, papai. - disse, o abraçando e me permitindo chorar muito. Senti meu corpo ficar mais leve e o andar do meu pai, enquanto mantinha meus rosto escondido em seu ombro. Algum tempo depois, meu pai me depositou em minha cama e retirou a minha tiara. - eu sinto tanta saudades dele, papai. - eu disse, sentindo a lágrima quente e solitária escorrer pelos meus olhos. - Eu também, meu amor. - ele disse, com a voz embargada. - mas, ele está te olhando lá do céu, minha boneca. Meu pai alisou meus cabelos por mais algum tempo, e eu acabei pegando no sono, cansada de tanto chorar. Eu sinto tanta saudades dele....
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