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1757 Words
02 de Abril de 1489, dia da seleção. O povo tinha plena convicção de que o sorteio era real... mas era outra farsa. São duas da tarde e eu estou sentada no escritório do meu pai, enquanto repassamos mais de trezentas fichas de garotos. Teríamos de selecionar trinta e cinco rapazes para serem levados até a ilha, que ficava a poucos metros daqui.  — E então? - meu pai perguntou, colocando uma das folhas no pequeno cesto com "selecionados" escrito a mão. - Alguém que te interesse? — Por quê mesmo estou aqui? - perguntei, passando a mão atrás do meu pescoço e jogando a cabeça para trás. — Querida.. - ele disse, olhando-me nos olhos. - precisamos conversar sobre uma coisa muito importante. — O que? - perguntei, encarando seus olhos esmeralda. — Se você não arrumar um marido em poucos meses, um desses rapazes será um pretedente forte para seu noivado. - ele disse, fazendo uma pausa e suspirando. - você não tem ninguém em mente? — Pai! - reclamei, levantando e colocando a pilha que estava em meu colo na mesa. - eu não sou um prêmio! — Nunca disse que você era, Alexandra. - meu pai rebateu, cruzando os braços e se recostou na cadeira. - mas, se você não colaborar, passará a ser. — Eu acho isso tão injusto. - bati o pé, com o choro entalado na garganta. — É importante que escolha pessoas que te interessem. — Não quero escolher, pai. - bati o pé, bufando. - não quero me casar com nenhum desses homens. — Alexandra! - ele suspirou. — Eu preciso ficar sozinha. - disse, me levantando e correndo porta a fora pelo escritório. *** — Eu não acredito que eu vou ser feita de prêmio, Aspen. - reclamei, enquanto jogava uma pedrinha no mar revolto. - eu não quero me casar com ninguém, eu quero ser livre. — Olha, que sorte a minha.. - ele brincou, e empurrou meus ombros para o lado. — Como assim? - perguntei, franzindo a testa. — Se eu ganhar, poderei me casar com você, eu serei rei e você rainha, e eu não vou me meter nas coisas que você fizer.. só vou aproveitar a comida e a boa vida. - brincou, rasgando uma folha ao meio. — Você nunca seria rei.. - disse, encarando o mar. — E por que não? - ele perguntou, olhando-me profundamente. - eu não sou tão r**m assim.. — Você seria príncipe regente, você não pode ter um cargo maior que o meu. - eu dei de ombros. O sol começava a se pôr, e entramos em um silêncio aconchegante, enquanto olhavamos a lua ser refletida no mar devagar. — Aspen.. - chamei, ainda olhando para as ondas que batiam nas pedras abaixo de nós. — Hum? - murmurou, olhando para mim. — Você quer se casar comigo? - perguntei, esperançosa. — Quero! - ele disse, rindo. — Eu estou falando sério. — Por quê se casaria comigo? Está louca? — Preciso de um marido, por favor. - pedi, juntando as duas mãos e fazendo cara de cachorro sem dono. — então, eu quero. - ele disse, e riu novamente. Cheguei um pouco mais perto do mesmo e encostei minha cabeça em seu ombro, enquanto sentia suas mãos alisando levemente o meu braço. — Aspen... - disse baixinho. — oi. - murmurou, olhando em meus olhos. — obrigada. - agradeci e olhei para seus lábios que estavam a poucos centímetros do meu. Podia sentir sua respiração na minha bochecha, e os olhos do mesmo brilharem ao meu olhar. Aspen enfiou os dedos entre os fios do meu cabelo e selou nossos lábios. Um beijo lento, gostoso e apaixonado.. sim, estávamos apaixonados! Nós nos separamos por falta de ar, e ficamos nos encarando por alguns minutos, como se fossemos as únicas coisas que existissem no universo. Aspen era bonito, tinha cabelos loiros, bochechas rosadas e olhos castanhos. Era um pouco mais alto que eu, era magro e tinha braços fortes. — Aspen.. - disse, encostando nossas testas. — Oi, meu bem? - ele disse, afastando-se um pouco para falar. — Eu acho que te amo. - murmurei, dando um selinho rápido e olhando para o mar novamente. O silêncio se fez presente mais uma vez e pude sentir o olhar de Aspen queimar sobre mim. Percebi, olhando- o pelo canto do olho, abrir e fechar a boca diversas vezes, como se procurasse palavras para se expressar. — eu também.. - disse por fim, e virei o pescoço bruscamente para encara-lo. - eu também acho que te amo... Ele me abraçou de lado, e eu voltei a encostar minha cabeça em seu ombro. Eu me sentia a pessoa mais segura do mundo com ele ali, eu me sentia acolhida e amada. *** — Onde esteve? - minha mãe perguntou, assim que entrei no salão principal do palácio. — Por aí, mamãe. - murmurei e passei direto pela mesma que estava com os braços cruzados e um olhar matador. — Quem é aquele menino? - perguntou, vindo atrás de mim. - já me contaram que anda saindo dos limites do palácio para se encontrar com um rapaz pobre. — Aspen, mãe! - bufei, corrigindo-a — Um morto de fome, isso sim. - ela berrou, vindo atrás de mim. — Não se esqueça que você foi tanto quanto ele.. - falei, e olhei para trás novamente. Ela estava parada no meio da escada, com seus olhos exalando raiva. — Eu tinha classe, Alexandra. - ela disse, recompondo sua postura. - muito mais classe que você e ele jamais terão. — Ótimo! - disse, subindo as escadas batendo os saltos no chão de madeira novamente. - mas, eu sou a herdeira, não você. - berrei, frizando o "eu" — Não me interessa quem será herdeira, eu sou a rainha agora. - ela disse, chegando mais perto. — Pouco me importa. - disse, baixo para que apenas nós duas pudéssemos ouvir. - se Aspen é um morto de fome, Aisha é uma encostada. — Não fale assim de Aisha, Alexandra. - ela falou entredentes. - ela trabalha aqui. — Ela acha que ela é a princesa aqui.. - encarei fundo os seus olhos,e percebi a raiva que estava presa dentro dela. - Se eu vê-la tratando mais um funcionário com arrogância, serei obrigada a dar um castigo a ela, ensine as suas empregadas a terem classe e bondade. — Ela tem tudo isso, e ela não precisa se esforçar igual a você. — Mas, eu serei a rainha. - exclamei, apontando o dedo para o meu peito. - não você, e menos ainda Aisha. Terei mais poder que você imaginou ter em toda a sua vida. — Você irá jantar no seu quarto hoje. - ela gritou, quando eu estava prestes a subir mais um lance de escadas. Parei, virei-me e pus as mãos na cintura. — ok, mamãe. - sorri debochada, dando as costas e voltando a subir as escadas. *** Mary estava me ajudando a entrar em meu vestido para o jantar. O espartilho apertado tirava um pouco o meu ar, enquanto Mary ajustava para me deixar confortável para que eu pudesse comer a vontade. Por cima, colocamos o vestido costurado a poucos dias para mim. Era branco, e tinha mangas bufantes e um bracelete dourado costurado no próprio tecido limitava a parte comprima e solta da manga, por debaixo a manga justa continuava até os pulsos, o vestido não tinha decote, diferentemente disso, um pedaço de tecido dourado imitava um decote e no meio da gola, um belo pingente dourado com uma pedra vermelha no centro. O vestido se soltava no quadril, onde havia uma espécie de cinto costurado no próprio tecido, com pequenos quadrados feitos de ouro com pedras vermelhas no centro, e por fim, o vestido ia comprido até o chão, onde ainda sobrava um pouco de tecido. Decidi deixar meus cabelos soltos, e percebi o quão havia crescido desde o último corte que diz, já batia em meu quadril. Pra enfeitar, coloquei uma coroa de ouro, rodeada de pequenos diamantes na cabeça, e no pescoço o colar que minhas criadas tinha feito para mim, abri mais dos brincos e coloquei um anel de prata no dedo. — Você está magnífica. - Allie disse, batendo palminhas enquanto admirava meu vestido. — Obrigada. - sorri nervosa. — Vá logo, está atrasada. - Mary disse, me empurrando devagar na direção da saída do quarto. Desci devagar, tomando cuidado para não tropeçar no vestido até chegar a sala de jantar. Não queria dar o gosto de não comparecer a minha mãe, e menos ainda queria aparecer machucada no dia seguinte por cair acidentalmente, de cento e cinquenta degraus. Empurrei a porta de madeira que dava até o salão de jantar, e caminhei até a mesa com os olhos fuzilantes de minha mãe. Aisha estava posta ao lado do meu pai, de frente para a minha mãe, no lugar reservado a mim desde que nasci. — Querida, pensei que não iria descer para jantar, está melhor? - meu pai  perguntou, enquanto eu caminhava na direção da mesa. — Eu estou bem, pai. - respondi e ri baixo. - por quê não estaria? — Sua mãe disse que estava indisposta, pensei em ir te ver depois do jantar. — Ah, ela disse isso? - perguntei, encarando minha mãe que me olhava fixamente. - não era nada, eu só estava cansada. — Que bom, querida. - ele sorriu. — Aisha, será que pode me dar licença? - perguntei, parando ao lado da garota que me encarou imediatamente. — Deixe Aisha onde está, Alexandra. - minha mãe falou, com um pouco de raiva em sua voz. — Aqui é meu lugar, mamãe. - eu disse, olhando para a mesma. — Você demorou a chegar. - ela disse, apoiando os braços contra a mesa. — Ok. - eu disse, e a vi sorrir vitoriosa. Eu nunca mais daria esse gostinho a ela. - Pai, eu posso ir jantar na casa de um amigo? — Que amigo, querida? - meu pai perguntou. — Aspen, ele é plebeu. - disse, tocando os dedos na mesa. - prometo voltar cedo e levar guardas. — Não conheço esse amigo. — Posso trazer ele amanhã, se quiser. - sorri abertamente, e me virei em direção a porta grande. - nós temos uma novidade. — Pode me adiantar qual é? - ele perguntou. — Iremos nos casar. - disse, fechando a porta atrás de mim e saindo do corredor rapidamente.
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