Danilo Bernardi
Coloco meu Rolex no pulso e dou uma boa olhada na minha imagem no espelho. O terno está bem alinhado, a gravata até que deu certo e a barba rala está no ponto certo. Eu tenho que confessar, a cada dia que passa eu fico mais parecido com o meu pai fisicamente.
Os cabelos no mesmo tom, o mesmo formato do rosto e claro que eu sou a versão melhorada dele. Juventude é tudo! Pode parecer muito egocentrismo, mas toda vez que eu estou em frente ao espelho, eu consigo ver um caminho longo pra mim. Só não faço ideia do que esperar, mas a certeza é que eu vou moldar muito bem.
Apesar de eu saber bem o que quero, o que posso fazer e o que eu consigo, eu devo muito a tudo que me foi ensinado. Devo muito ao meu pai e sei que ainda tenho o que aprender com ele. Desde que me entendo por gente, ele é o maior referencial de homem forte e uma coisa dele que quero muito aprender é a sua forma de saber direcionar as coisas ao seu favor.
Ele sempre consegue o que quer e por isso eu sigo na mesma linha.
— Olha só..., hoje até que não teve uma sessão longa de maquiagem de Danilo Bernardi dessa vez! — Leonardo aparece já todo arrumado. — Acho que esse é o seu recorde.
— É que a cada dia que passa eu fico mais bonito e não preciso fazer muita coisa... — Eu olho bem para ele. — Você não foi muito privilegiado com isso, meu primo.
— Eu não sei como ainda te suporto... — Ele sorrir e ainda tenta mexer nos meus cabelos, mas não deixo. — Pronto? Estamos em cima da hora.
— Pronto, mas pelo que conheço da Melina, ela ainda vai demorar um pouco. — Isso sempre acontece.
Eu pego a minha carteira e as chaves do carro. Recebo uma mensagem do meu pai avisando que já está de saída também e como eu não tenho muita noção da localização, eu vou lhe seguindo.
O carro já está no ponto no estacionamento do prédio e nós dois entramos. Eu marco de encontrar com o meu pai num ponto certo e vou dirigindo como de costume. Raramente eu sou de andar com motoristas, porque eu fico impaciente com a forma que dirigem. Gosto de estar no controle!
— O tempo está passando rápido... — Leonardo comenta. — De verdade, eu nem acredito que a Lilia vai se casar em breve. Tem noção disso? — Já sei o ponto a que ele se refere.
Lilia é a minha prima e irmã mais nova de Leonardo. Bom, ela e o Filippo são gêmeos, mas ela ainda é a mais nova. No meio de dois irmãos homens, ela é a princesa da casa e todos ali tem um ciúme absurdo dela. Filippo é um que está surtando com o fato de que ela vai se casar e vir morar aqui na Rússia.
— Vocês têm muito ciúmes dela e precisam controlar isso. — Dou uma breve olhada nele. — Eu e a Melina sempre tivemos uma boa relação, mas eu sempre soube que isso iria acontecer... deveria ter feito o mesmo. — Ele ainda é o mais controlado, porque Filippo tem um ciúme maior.
— Mas não é a mesma coisa... é claro que você não pode se apegar a muita coisa. Vai ser o Don! — Bufo em riso sem humor.
— E você o meu consiglier... sabe disso, não sabe? — Olho para ele mostrando o óbvio e sei que ele já sabe disso.
— Nossa! Você nunca falou isso abertamente..., até agora! — Leonardo gosta de se fazer de idiotä, não é possível.
— Você sabe de todas as minhas merdäs..., acha que vai escapar? — Ele pensa um pouco.
— Quase todas, não é... eu ainda sei que você tem segredos. — Não negö e continuo focado no percurso. — Quem sabe um dia eu descubra... — Não coloco fé nisso.
Qual o problema de uns segredos?
Minutos depois, nós encontramos o carro do meu pai e vamos logo atrás. Além de trocar algumas palavras com o Leonardo, eu fico observando a cidade e admito que o lugar é de atrair olhares curiosos.
Já tenho um lugar na minha lista para conhecer melhor.
Não é atoa que raramente Alef tira os seus pés daqui e com isso, os seus filhos são do mesmo jeito. A família Ivanov é literalmente dentro do seu território, até eventos mundiais eles escolhem a dedo para qual vale a pena ir. Porém, eu lembro bem de como Alef é.
Meu pai o respeita muito e pelo jeito de Alek, ele vai seguir bem cada passo de seu pai.
Nós chegamos na mansão minutos depois e já noto bem uma movimentação intensa. Essa mansão em específico fica bem fora do centro da cidade para que nada saia das paredes da mansão. Eventos internos como casamentos, festas tradicionais, mudanças internas, reuniões e outros são feitos de forma mais isolada. Apenas para os nossos! Nada do que a máfia no geral faz é visto aos olhos de pessoas normais.
É uma regra geral.
Mas, quando se tem eventos de caridade, envolvimentos com ONG’s, leilões e afins, já é algo mais aberto. Sabemos como fazer as coisas e dessa forma evitamos ter a atenção desnecessária.
— Isso vai ser grande... — Leonardo comenta. — Alek não poupou esforços.
— Ele quer mostrar poder e não está errado... — Vou entrando com o veículo. — Ele quer que todos saiam daqui falando desse casamento.
— Ainda pensa em aproveitar a noite depois daqui? — Sorrio em resposta.
— Com toda a certeza! — Procuro uma vaga e ao achar, estaciono.
As luzes e o som que vem de dentro mostra bem que prepararam uma grande noite e os meus pais entram para procurar a Melina. Já eu e o Leonardo, entramos pela entrada principal e damos uma bela olhada no lugar.
O salão está lotado e as bebidas já são servidas. Não vejo ainda ninguém conhecido e Leonardo me diz que os meus tios estão no caminho. Isso aqui é uma bela amostra de como também será o casamento da Lilia com o rapaz filho do subchefe daqui.
Eu esqueci os nomes. Andrei! Isso, com o filho do Andrei. Como são pessoas importantes, serão casamentos grandes e de aliança firmada desde cedo. Vai ser no mesmo padrão.
Espero que a Melina se acostume a isso, porque essa imagem aqui vai exigir muito dela.
{ . . . }
— Sabia que isso iria demorar! — Leonardo resmunga. — Já viu os Ivanov’s?
— Não! Nenhum fio de cabelos deles... — Eu tomo um gole de uísque. — Mas, as mulheres russas são lindas. Isso eu posso dizer!
— Cuidado, Danilo! A maioria aqui é casada e as solteiras são intactas... quer perder a cabeça? —
— Diferente de você, eu sei apreciar discretamente! — Estou tranquilo aqui. — E isso me faz ter uma noção do que posso ver fora desse lugar.
— Vocês não se desgrudam! — Filippo chega. — Se não fossem homens, eu teria certas dúvidas.
— E você é sumido, em! Só vive nos clubes agora? Nem no galpão você aparece mais e nem em lugar algum! — Comento pensativo.
— Tenho tido compromissos... — Ele dá de ombros.
Sei bem desses compromissos.
Em seguida, um som ecoado no salão mostra que irão dar início a cerimônia e assim, eu vejo Alef Ivanov surgindo ao lado da esposa. Ele continua intacto da forma como eu me lembro da última vez que o vi.
Depois, eu vejo a cara feia de Mikahel e em seguida, Alek surge e se posiciona.
É hora do casamento!