Danilo Bernardi
— Você anda bem esquisito desde que voltou da Rússia... — O meu pai comenta. — O que aconteceu? E o que foi esse arranhão na sua cara?
— Não aconteceu nada! — Respondo dando de ombros e o faço esquecer o meu rosto aqui. — Só fui pela Melina e descobri que a Rússia é bem diferente, mas não tem nada para mim.
— Não gostou do lugar? — Mostro uma certa dúvida. — Bom, a sua sorte é que não vai precisar voltar tantas vezes... aqui é o seu lugar.
— Exatamente! — Nisso, eu me sento.
Finalmente eu estou em solo italiano e já estou feito louco com tanto trabalho. Cheguei ontem e desde então eu quase não tenho parado. O meu pai me pediu para eu tomar a frente dos lucros gerais do trimestre e estou passando em todos os pontos para coletar.
É bastante coisa!
Mesmo com a Melina casada, ele não tem conseguido se livrar do conselho e agora tem mais deles. Alef Ivanov é outro que está dentro dos encontros sigilosos e eu não faço questão de entrar ainda.
Como o casamento foi concluído, tem ainda alguns pontos a debaterem e como se era de esperar, o clima ainda é tenso entre muitos. Uma certa quantidade de pessoas não concordam com esse casamento, se sentem traídos. Principalmente o conselho e de ambos os lados. Então, o meu pai e o Alef têm ainda pontos a resolverem.
Depois de conversar com o meu pai e de entregar uma parte, eu vou saindo do seu escritório e vou para o meu. A melhor coisa que fiz foi ter um lugar para mim aqui no galpão. Olhando as horas, eu faço um planejamento mental do meu dia e acho que tenho umas horas para mim aqui.
Entrando no meu escritório, eu fecho a porta e já começo a ligar os meus aparelhos. Nisso, eu me sirvo de um conhaque. Dou uma volta na minha sala e ao me ver no espelho perto das prateleiras, eu fecho a cara ao ver um arranhão ainda evidente no meu rosto bem perto da orelha.
Irina.
Não consigo esquecer o fato de que fui atingido no rosto por uma mulher. A porrä de uma mulher que nunca tive nada e o pior, é que ela não chega perto da minha altura. Uma putä sacanagëm. Eu me sento de frente ao meu computador e entro na base de dados querendo achar algo mais dela.
Mas sei que não vai ser nada fácil e nem rápido.
Normalmente, dados e informações mais profundas de mulheres solteiras são preservadas até o casamento delas. É uma forma de protegê-las e de contribuir para que as negociações do seu casamento não sejam burladas. Aqui na Itália é assim e vou descobrir como é por lá.
“Já está no seu querido esconderijo?”
É uma mensagem do Leonardo.
“Pelo menos aqui eu tenho paz estando sozinho.”
“Detesto estragar o seu isolamento, mas nós precisamos de você! A carga que seria transportada foi violada e houve um imenso desperdício em cocaína. A outra está para chegar e isso aqui está um caos.”
“Como que isso ocorreu?”
“Não temos tempo para isso. Vem ajudar! Galpão D. Filippo já está aqui e o meu pai está vindo. A situação está feia!”
“Estou indo!”
O galpão D sempre tem problemas!
Largo o celular, mas antes de sair, eu continuo fazendo a minha busca onde leio o básico novamente. Irina Ivanov, 23 anos, é a filha mais nova e a única filha mulher. Nunca se casou e no momento não tem negociação arquivada rolando nesse momento.
Não tem mais outros dados e isso me faz pensar em invadir o sistema deles. Mas não será fácil aqui. Porém, eu acho que posso ter mais informações pelo sistema usado pelo meu pai e claro, com a senha dele.
Se ele souber, ele me mata!
Começo a fazer o login rapidamente aqui e ao entrar, eu vou diretamente ao centro de arquivos. O meu pai tem tudo sobre todo mundo. Tudo que ele descobre ele faz o arquivo montando uma bela estrutura de informações para que ele sempre saiba de algo. É raro algo acontecer e ele não estar por dentro.
— É muita coisa... — Comento vendo as informações arregarem. — Anda, porrä!
Quanto mais tempo aqui, eu tenho mais chances de ele saber que entrei.
Enquanto espero, eu tento de alguma forma usar uma camuflagem mesmo sabendo que não será tão eficaz. E a culpa é minha! No começo, eu sempre quis mostrar do que era capaz e tudo que fui programado, o meu pai foi pegando e eu dava os sistemas com gosto.
Foi a fase de querer sempre mostrar a minha capacidade.
Assim que tudo carrega, eu pesquiso o nome dela, mas nada aparece. Então, eu vou direto na fonte de tudo. Alef Ivanov! Para ser mais completo, eu junto o seu arquivo com o da esposa e os filhos e assim, eu envio para mim para poder ler depois.
Eu sei que tem alguma informação da Irina aqui!
Depois de enviado, eu saio num clique e começo a desligar tudo para sair. De alguma forma que desconheço, eu sinto que tem alguma coisa nesse meio e a minha curiosidade é maior que eu.
Só vou ficar quieto quando descobrir!
Vou andando para o meu carro e vou lendo os arquivos no caminho. Eu ainda peguei uma tabela de eventos da Rússia sobre tudo que vai ocorrer de eventos nos próximos dias e haverá um evento de apresentação de membrös. Olhando mais, eu vejo que apenas uma coisa bate com o nosso calendário que é o casamento da Lilia.
É a única coisa que vai me levar para lá.
Dou a partida no meu carro e dirijo para o galpão D que fica certa de uma hora daqui e por isso, penso num atalho para cortar caminho.
15 minutos já é algo!
— Estou chegando... — Já digo assim que atendo.
— É hoje que eu chuto essa sua bundä de madeira... — Leonardo desliga antes que eu revide.
— Imbëcil! — Piso no acelerador e vou o mais rápido que posso.
Pelo jeito, lá deve estar um infernö.
Chegando em frente ao local, eu já vejo uma certa movimentação entre os homens e saio do carro. Vejo homens agitados e outros passando com caixas e mais caixas fazendo a separação e isso bem aqui fora.
— Melhor usar isso aqui, senhor. — Um deles me entrega uma máscara reforçada e um par de luvas longas. — A situação não é boa!
Respiro fundo controlando a minha língua e vou entrando. No corredor, eu já ouço vozes e sons de materiais e entro no salão principal. A cena já me faz ver que vou passar o dia preso aqui e de brinde, amanhã também.
Isso é uma merdä total!
— Finalmente! — Leonardo vem até mim. — Antes que pense que tem um culpado, foi um acidente... e dos piores.
— Já foi feito um pedido maior? — Pergunto indo com ele e vejo o Filippo conferindo as notas e caixas ainda intactas.
— Já e vai chegar em dois dias. Temos que correr! — Concordo com ele.
Não dá para surtar, o jeito é resolver isso aqui.