Danilo Bernardi
Eu tive que reforçar a minha máscara pelo cheiro forte do lugar. O galpão está em mais da sua metade dominado pelo cheiro de drogas. Não tem só cocaína desperdiçada, ela é apenas a maior quantidade! Um belo prejuízo e o meu tio está tentando ver uma saída.
As caixas novas e vazias que chegaram, estão sendo usadas para armazenar o que dá e apenas eu, Leonardo e Filippo estamos fazendo isso. É para não ter erro! Tem homens aqui com medo de serem responsabilizados e eles fariam qualquer coisa para não ter a cabeça arrancada.
Essa situação me faz perder um dia todo de trabalho. Eu tinha feito o meu cronograma, mas já era. Nem comecei ainda a programação do novo sistema do Davon.
— É, ela fez um belo estrago no seu rosto. — Leonardo comenta rindo da minha cara.
— Como é? — Eu olho ao redor e vejo que Filippo se distanciou.
— Vai mentir para mim, Danilo? Eu vi você indo atrás da filha do Don russo... você enlouqueceu. — Ele está adorando o momento.
— Nenhuma palavra sobre isso! — Peço lhe vendo se divertir mais ainda com isso.
— Ainda não... — Ele chega mais perto. — Atacou a moça?
— Vai se ferrar, porrä... eu não ataquei ninguém. — Respondo olhando ao redor. — A culpa foi dela e chega desse assunto.
— Por enquanto, porque eu quero detalhes... — Sem opção, eu me afasto dele e a raiva ainda vem sobre mim.
Eu nunca vou esquecer aquele tapa e eu posso jurar sentir o impacto toda vez que eu me lembro. Irina além de ousada, é maluca! Não sei com qual coragem ela teve para isso, mas eu vou tirar isso a limpo.
Mulher nenhuma ousou me tocar sem a minha permissão e nunca foram loucas de me atacar.
Aquela foi a primeira e única vez!
Vou trabalhando aqui fazendo de tudo para ficar mais tempo sozinho e fico remoendo isso. A raiva é tanta que perco a noção da força em certos momentos. Eu vejo o meu tio comandar alguns homens para limpar o que não dá para se recuperar e fico aqui nas caixas que são empilhadas.
Ainda faltam centenas delas.
— Vocês vão sair hoje? — Filippo me pergunta um tempo depois.
— Não tenho planos ainda..., por quê? — Conversamos enquanto arrastamos umas caixas.
— Curiosidade mesmo... — Colocamos uma ao lado da outra e nos viramos para pegar a próxima.
— Vou decidir quando sair daqui... ainda tenho que voltar para trabalhar nuns projetos que deixei. — Ele sorrir arrastando a outra mais rápido.
— Ah, é... você é o nerd da família. — Ele diz em deboche e me dá as costas sem me dar a chance de revidar.
Porém, eu vejo um pedaço mediano de madeira rala e pego na mesma hora. Miro bem nele e direciono de propósito no seu ombro e o susto dele é de imediato.
— O nerd aqui tem boa mira! — Digo a ele que apenas dá de ombros. — Desgraçadö.
Continuo o meu trabalho quieto aqui e já sou informado de que o meu pai está vindo.
É hora do surto!
{ . . . }
São 1:30h da manhã e saio do meu carro para entrar no prédio. Faço o mesmo percurso de sempre seguindo as velas no chão e chego na porta que é aberta pelo padre. Ao entrar, ele a fecha na chave e eu me sento já como sempre faço.
A garrafa de uísque na mesa é aberta para mim e ele serve uma dose bem generosa do jeito que eu gosto.
Ele aprende rápido!
— Então, meu filho... o que te traz hoje aqui? — O padre pergunta.
— Minha irmã se casou e eu conheci uma maluca na Rússia. — Ele me olha confuso. — Maluca mesmo e o pior é que ela é filha do Don Alef.
— Seja mais claro, por favor... — Ele pede me olhando sem entender nada.
Nisso, eu começo a contar os fatos da semana. Falo desde o começo e não deixo de mencionar a festa, as putäs que comi, os lugares que eu fui, o casamento e claro, chego na Irina. É aqui que a minha raiva cresce e só consigo imaginar a hora que eu a verei.
O casamento da Lilia é em algumas semanas e será o momento perfeito.
Se ela pensa que eu vou esquecer o que aconteceu, está muito enganada. Aquele tapa é impossível de esquecer e vou tirar isso a limpo. Além da raiva, eu confesso algo a mim mesmo que, eu fiquei impressionado. É um fato intrigante ela ter vindo até mim naquele salão.
Mulheres como ela não fazem isso!
Ela sabe das regras, ela sabia quem eu era e sabe que o que poderia acontecer caso algo desse outro entendimento por visões de terceiros. Mas ela foi! Estou colhendo informações sobre ela e o fato mais intrigante é de ela ainda ser solteira.
Tem algo nesse ponto que eu preciso descobrir.
Ainda não tive muito tempo de ler tudo o que peguei, porque já sai tarde do galpão D. Eu estava fedendo a drogäs e vim direto para cá depois de me banhar e trocar de roupa. Tive ouvir merdäs, os surtos do meu pai e só sai depois de tudo feito.
Pelo menos foi resolvido.
— Gostou da moça? — A pergunta parece uma afronta. — É só curiosidade... só falou dela desde que chegou.
— Porque é um fato inusitado... isso nunca acontece comigo! — Respondo o óbvio.
— Entendo... o que mais? — Ele me serve de mais uísque. — Nunca lhe vi agitado assim.
— Quero saber o motivo de ela ter feito aquilo... ela é uma maluca, mas não é só isso! Tem alguma coisa e eu adoro descobertas. — Digo pensando aqui enquanto olho um ponto fixo.
Bem aqui onde estou, a luz das velas se movimentam e dão um contraste hipnotizante. Nesse horário é assim. Tudo na base das velas no prédio pela descrição.
— Tem algo mais que a curiosidade? — Ele pergunta com cautela. — Porque para mim..., parece que gostou dela.
— Cuidado com a língua, padre... eu sempre ando com a minha faca. — Ele desiste de insistir e logo muda o assunto por completo.
Posso ser sincero em muita coisa, mas tudo tem limite e eu conheço o meu. Tem coisa que só admito para mim e isso, acontece até mentalmente.
Em breve eu terei mais respostas e vou saber bem o que fazer apesar de já ter uma noção.