Danilo Bernardi
Tento colocar a gravata pela terceira vez e desisto como sempre faço. Odeio essa merdä! Uso o meu perfume de sempre e pego as minhas chaves e carteira já pronto para sair. Bom, vou comer ainda.
Hoje o dia será bem lotado por termos algumas demandas no depósito por causa de umas mercadorias e tenho que finalizar tudo antes do casamento da minha irmã. Caralhö, eu nem acredito que ela vai se casar. Essa casa é estranha sem a Melina e depois da confusão que a levou para lá, fico apreensivo. Meu pai disse bem como Alek, estava com fúria nos olhos ao saber que Melina beijou outra pessoa e isso foi motivo suficiente para ele a levar a força.
Se eu estivesse ali naquela hora, ele não teria a levado.
— Bom dia, meu bebê. — O meu rosto é agarrado pela minha mãe e recebo um beijo na bochecha sem aviso algum. — Dormiu bem? Está tão cheiroso!
— Bom dia, mamãe e sim, dormi bem. — Olho bem para ela e noto uma coisa. — Andou chorando?
— Estou preocupada com a Melina. — Ela suspira. — Alek, quis adiantar o casamento, mas Alef não deixou e ela ficará lá já que ele não quer que ela volte. Eu não sei o que pensar. — Alef, é o Don da Rússia e pai de Alek. Aquele homem, sim, sabe intimidar alguém.
Tenho que confessar que ele faz qualquer um sentir um receio. Eu tenho, mas não chega a ser medo.
— Alek não está de brincadeira. — Comento pensando alto. — Mas ele não vai machucá-la. Sabe disso! — Tento confortá-la. — E o meu pai?
— Está no escritório. Vai lá que vou ver se a mesa está pronta. — Aceno e dou meia volta.
Normalmente, ele não fica no escritório tão cedo e deve ser algo sério ou algo que tire a paz dele. Bato na porta ao chegar e abro já entrando. Eu o vejo sentado em sua poltrona, encarando o teto fixamente e fecho a porta em seguida.
Ele não tem o hábito de ficar assim e pelo que houve, ele está surtando por dentro.
— Sabia de tudo? — Ele pergunta sem me olhar. — Faz ideia quem é a pessoa que ela beijou?
— Não! — Minto sem hesitar. — Não faço ideia. — Odeio mentir para ele.
Prometi a ela e a Leonardo que nunca contaria e para isso, eles nunca deveriam mais se aproximar. Não sei que merdä deu na cabeça deles dois, porque Melina é comprometida antes mesmo de nascer e agora, sou eu aqui mentindo para o meu pai. Mas o mais importante, é que ninguém pode sonhar que isso ocorreu.
Alek, muito menos! Ele não hesitaria em matar Leonardo e isso atingiria a aliança que nossas organizações têm. Alek, é frio como o seu pai e o estrago seria grande.
— Bom, vai ficar tudo bem e Alek é doido por ela. — Me sento e ponho os pés sob a mesa. — Ele pode ter ficado com raiva, mas é mais pelo ego ferido. Isso vai passar e com a convivência, ele vai ceder e esquecer e ela vai baixar a guarda.
— Estou torcendo por isso... — Ele me olha pensativo. — Até porque, ela não abaixaria a cabeça. Ela tem pulso firme, é esperta e sabe se cuidar.
— Exatamente! — Acredito nela.
Meu pai respira fundo e muda a postura se mostrando levemente melhor. Ele dá uma olhada no seu laptop e repassamos o dia de hoje juntos. Como eu tenho que liberar o depósito pelas mercadorias que chegaram ontem, ele vai com o meu tio Pietro para uma reunião em prol do casamento da minha irmã já que ela está em solo russo e se der, ele irá ao depósito mais tarde.
Chegou umas munições e já recebi notícias de que é de excelente qualidade. Por problemas no transporte, optamos por cargas separadas. Não queremos atenção e nem problemas fiscais que possam tomar tudo.
Quase houve uma vez e o meu pai surtou!
— É impressão minha ou você saiu na madrugada? — Mantenho a calma e a mesma postura.
— Bom, eu não tenho toque de recolher... — Fico de pé o vendo sorrir enquanto n**a lentamente. — Eu tenho que aproveitar as oportunidades e acredite, estou vendo cada uma delas e vou trabalhar hoje bem mais leve. — Sei que ele está pensando merdä. — Vamos comer?
Ele se n**a inicialmente, mas me acompanha. Estou faminto! Como sou uma pessoa muito elétrica, eu preciso comer muito e o café da manhã é a minha refeição chave. Eu monto um prato enorme com diversas opções e vou comendo sem pausa alguma. É aqui na minha casa que fico mais à vontade e esqueço até alguns leves costumes de etiqueta.
Meu pai come como quem não quer nada e nem quer ver comida. E a minha mãe não está tão diferente.
— Olha só, vocês precisam erguer a cabeça e melhorar esse humor. — Já digo com seriedade. — Parecem até que não conhecem a Melina. Liguem para ela e vão saber como ela está. Ela sabe se cuidar e nesses dias nós vamos vê-la.
— Quando tiver os seus filhos, vai entender essa sensação. — A minha mãe já me olha com aquele olhar preocupado.
— Não foi assim que planejei as coisas. — O meu pai quebra o silêncio. — Você não viu o jeito dela de medo quando a levei ao avião.
Decido não revidar. Eles não querem ouvir e não vão se conformar tão cedo.
Volto a comer em silêncio e quando finalizo, peço licença para sair. Ando em direção à porta, pego o meu carro e entro para dar a partida, mas recebo uma mensagem do meu primo Leonardo.
“Vai dar as caras só no fim do dia, futuro Don?”
“Estou a caminho. Já sei que gosta de olhar para a minha cara.”
Largo o celular e dou a partida indo ao depósito. Ele fica fora da cidade e fica a menos de uma hora daqui. O r**m desses lugares é que são longe e em lados opostos. Os depósitos são espalhados, o galpão geral fica do lado completamente oposto a tudo e gosto mais tempo dentro do carro do que no local.
Meu estresse é quando preciso ir a vários deles no mesmo dia. É um porre!
Quando chego ao depósito, já vejo Leonardo escorado em seu carro e estaciono.
— Até que enfim! Pensei que teria que te buscar e te arrastar de casa. — Ele já amanhece com um humor atacado.
— A minha cara é a mesma de ontem, mas eu sei que você não cansa de me ver. — Adoro irritá-lo mais do que já está. — Não cansa de ver a minha beleza, não é? Já sabe que nunca será tão bonito quanto eu?
— Por mim, nem a sua voz eu ouviria. — Negö na mesma hora lhe fazendo parar.
— Sabemos que é mentira. — Toco no seu ombro e retiro os seus olhos. — Você não vive sem mim e convenhamos, a sua vida seria uma merdä sem mim, porque eu sou mais divertido do que você. — Ouço um xingamento seu enquanto entramos e já me preparo para hoje.
É hora de trabalhar e depois, é noite de farra.