***Alerta de Gatilho para abuso s****l ***
Acordei com uma pontada na barriga. Droga, sempre que tomo a pílula do dia seguinte a cólica vem mais forte. Preciso de chocolate derretido com morango, mas não creio que possa encontrar minha iguaria favorita por essas bandas.
Levantei da cama e fui verificar a minha mochila, só três pacotes de absorventes, que droga! Se eu soubesse que seria sequestrada e vendida para um lobisomem, eu teria feito estoque igual das pílulas…
Bem, se eu soubesse de tudo, absorvente seria a última coisa que me preocuparia, eu teria comprado uma metralhadora.
Ai… eu quero um analgésico, uma almofada quente, um pote de sorvete….
Me recuso a dizer que quero aquele Alfa escroto!
Será que o Gama conseguiria algo doce para mim? Ele é meu general, eu tenho direito a um ou dois desvios de função!
Será que os lobisomens têm leis trabalhistas? Não importa, não assinei a carteira de ninguém!
Levantei e fui tomar um banho, saí após meia hora debaixo da água morna com a consciência pesada do desperdício de água. Peguei uma muda de roupas da minha mochila, não queria nada desse Alfa, vai dar presente para a “gracinha” da pick me dele! O sangramento começou, vou ficar deitada para não arriscar sujar minhas poucas roupas.
Tirei o meu walkman da mochila, a bateria estava cheia, ainda bem que é recarregável com energia solar. Um viva para as modernidades do século XX!
Botei os fones no ouvido e deixei tocar a fita, onde gravei os melhores e mais novos hits. Música triste e romântica tocando, a cara do Alfa veio em mente e meu coração doeu.
Ah, não!
Eu posso não mandar nos meus sentimentos, mas mando nas minhas ações!
Acelerei para músicas mais animadas, coloquei os pés para cima, na parede ( Tomara que manche!).
Bati as mãos nas pernas no ritmo da canção: Tututu, tututu, tututu, tututu tan
“ I Want to brake free…..(tutum)
I want to break free
I want to break free from your lies…”
Eu sabia que ELE havia entrado na casa, mas fingi não notar e continuei cantando.
A ironia da letra dessa música do Queen ser perfeita para o que estava na minha mente….
Espero que faça logo o que veio fazer e saia, não quero ver aquela cara sonsa, nem aqueles olhos que hipnotizam, nem aquela boca…
“ I want to brake free!”
— Fêmea!
“God Nows I want to brake free!”
Ele puxou o walkman da minha mão e desconectou os fones, a música tocou alta no ambiente.
— O que diabos é isso?
— É meu, devolve!
— Eu perguntei o que é isso!
— E eu mandei devolver!
Ele me entregou o MEU brinquedinho e eu decidi ser generosa e explicar para o mamute o que era aquilo.
— Isso é um walkman, um aparelho para tocar músicas. Sua mãe não te ensinou que é errado pegar as coisas dos outros sem permissão?
Ele me encarou com o olhar frio e notei que fechou as mãos em punho.
— Minha mãe morreu para eu nascer.
Oh, Dófona tinha falado isso por alto, mas eu tinha esquecido…. Em minha defesa, ela falou um monte de coisas assim que acordei na tenda do Alfa pela primeira vez.
— Eu sinto muito. — Desliguei o walkman e sentei de frente para ele. — O que você quer comigo? — Perguntei para saber logo de uma vez opo que ele tinha para falar.
Se era para eu ir embora, eu iria numa boa, aliás, adoraria voltar para o meu mundo onde os truques dos homens eram mais facies de lidar por serem clichês e repetitivos. Espero que o dinheiro que tenho ainda valha alguma coisa…
— Eu… — Ele respirou fundo e virou de costas para mim.
Ele tirou a camisa e ficou parado, sua respiração pesada e ruidosa enquanto eu estudava as suas costas, boquiaberta.
Toda a pele estava coberta por cicatrizes de diferentes tamanhos e formatos, variando até na profundidade.
Instintivamente levantei a mão e toquei a maior delas com a ponta dos dedos e ele se sobressaltou, mas manteve-se firme no mesmo lugar.
Eram tantas, como pode ter se machucado assim?
— Eu pensava que lobisomens não ficavam marcados como humanos…
— Não ficamos, exceto se for usado prata para nos ferir.
— Como isso aconteceu? Quando? Quem fez isso contigo?
— Meu pai, desde que eu consigo me lembrar…
— Mas… O seu pai?
Que tipo de pai faz isso com o filho? Não conseguia conter as lágrimas ao mentalizar os abusos que sofreu nas mãos daquele que deveria protegê-lo.
— Hermes me odiava pela morte de sua companheira e me machucar ou mandar outros me ferirem para que ele pudesse assistir era uma diversão aos seus olhos.
— Mas você disse que ela morreu quando você nasceu? Que culpa poderia ter?
Ele se virou de frente para mim, não havia frieza em seus olhos, mas vazio e cansaço.
— Ela escolheu morrer para eu nascer, se não fosso por minha culpa, ela estaria viva! Essas marcas são a minha vergonha.
— Não fala bobagem, se ela deu a vida por você, aí mesmo que ele devia ter de amar muito, ou a morte dela terá sido em vão. Sua natureza não se rebelou?
— Sim, por isso amadureci muito cedo. Tudo piorou depois do meu lobo, foi quando os abusos se tornaram mais frequentes. Cada vez que o meu lobo se revelava, Alfa Hermes usava a prata para tentar matá-lo.
— Na outra noite, quando…
— Quando estávamos fazendo amor, era mais o meu lobo do que eu, visto que é humana, ele só terá acesso a você através do corpo humano.
— Entendo… mas… Aconteceu algo mais, Alfa? — Seu rei o seu rosto entre as minhas mãos. Nós dois estávamos chorando aquela altura.
Ele continuou me encarando, sem responder, e me lembrei que Dofona falou que ele não mente. Se estava calado, a resposta era algo que ele não queria dizer.
— O seu lobo ficou bravo quando fiquei por cima e quando toquei as suas costas, o que mais o seu pai fez contigo para ele agir assim?
O Alfa piscou duas vezes, suas mãos fechadas em punho com tanta força que estava pingando sangue no chão.
Fiquei com medo das respostas que o meu cérebro estava me oferecendo por conta própria.
— Se não quiser me contar, está tudo bem…
— Eu me afastei esses dias para tomar coragem de te contar a razão da minha natureza ser assim. Na hora, quando ele segurou as suas mãos e te marcou, eu tive medo que ele te machucasse.
— Ele não me machucou…
— Fêmea… Ele não se importaria de ser violento… Porque foi assim que ele foi dominado.
Me lembrei das palavras dele, dias antes, ao explicar a punição de Amir.
“ O humano desafiou o meu general, é assim que lobos machos se resolvem na natureza, o mais forte monta o mais fraco…”
— Oh… Allah…. Quantos anos você tinha eh… qual era a sua idade?
— Meu lobo nasceu quando eu tinha doze ciclos solares.
Oh, Allah, eu não podia imaginar o sofrimento dele.
— Quando Alfa Hermes morreu? — Espero que tenha sofrido muito, o desgraçado!
— Eu o matei quando a minha Fera nasceu, aos catorze ciclos.
Dois anos…. O temido e poderoso Alfa Ares sofreu abusos do próprio pai a vida inteira e passou dois anos sofrendo outro tipo ainda pior de violência.
— Como ele pôde fazer isso com o próprio filho?
— O seu lobo estava perdido na dor da perda de sua Luna, como filho dela, eu tinha o cheiro dela na minha essência.
— E ninguém te ajudou, ninguém fez nada?
— Eu não fui a única vítima dele, ninguém no clã tinha força para derrotá-lo. Ele fazia o que bem entendia com quem quer que fosse. abusou provavelmente de muitos outros sem que ninguém soubesse.
— O seu lobo…. Deixa, não precisa me contar mais nada, eu sinto muito!
— Preciso te contar, precisa saber que sou amaldiçoado.
— Você não é nada disso, Ares!
— Eu sou, só trago dor e morte desde que nasci.
— Não é responsável pelas maldades dos outros!
Ele suspirou, nem um pouco convencido de minhas palavras.
— A minha natureza é forte, assim que nasceu, sua aura de Alfa mais forte do que Hermes foi revelada, no entanto, recém-nascido, não tinha habilidade. Eu estava trancado no porão da antiga mansão alfa e rompi as correntes. Ele ouviu os uivos e veio até mim. Assim que me viu, o seu lobo tomou o controle e se transformou. Ele me atacou, lutei o máximo que pude, mas não consegui vencer, estava muito ferido, pensei que ele finalmente me mataria, mas ele mordeu a minha nuca e montou em cima de mim. Eu queria morrer cada vez que ele descia para aquele porão. Sem me alimentar, não tinha a menor, chance, estava cada vez mais fraco….
— Como conseguiu matá-lo:
— Não demorou muito para ele enjoar de montar um lobo fraco que já não resistia mais. Então, ele teve uma ideia para me humilhar ainda mais, e ofereceu o meu cargo para o filho do Beta anterior, que já trabalhava com ele. Alaor era o meu único amigo, embora mais velho do que eu, e Hermes queria estragar até isso, dando o trono para ele. Não resisti, não me importava com mais nada, e a minha falta de reação o irritou, aí ele fez algo pior.
— O que ele fez, Ares? — Perguntei apavorada com a resposta que receberia.
— Ele decidiu me oferecer para o Beta, dizendo que se ele montasse em meu lobo, daria o trono para Alaor. Meu lobo despertou, preferindo morrer a mais essa humilhação, mas estava fraco, não tinha como se defender estando acorrentado. Quando o Beta riu e aceitou a proposta, Alaor gritou com ele, mas ele era igual ao Alfa, pervertido. Hermes agarrou Alaor pelo pescoço e disse que ele teria que assistir o pai ensinar ele como montar em mim para fazer igual quando o seu pai terminasse ou ele tomaria Estela como sua parideira e Alaor como concubina. Sem escolha, o meu único amigo parou de protestar.
Quando o Beta se transformou em lobo e veio para cima de mim, a minha Fera surgiu e matou os dois sem fazer força eeu me tornei Alfa do Clã, com Alaor e Estela como os meus Betas.