Eu preciso de ajuda

3609 Words
Roeh atravessou aos trancos uma avenida em passos frenéticos, até esconder-se num terreno baldio, local este usado como depósito de lixo dinâmico, pois bastava arremessar o dejeto por cima do muro. Deitado na beirada desmatada havia um mendigo intrometido. - Mininu! Roeh fitou de soslaio. - O que? - Mi emprexta fogo? - Fogo? Que d***o fogo? Eu não fumo e não tenho isqueiro comigo. - Comu axim? - resmungou o mendigo enquanto mascava a ponta de seu cigarro de palha. - E ixo aí na tua mão é u que? Roeh vislumbrou abismado seus dedos incandescentes. Desesperado, sacolejou a mão até extingui-lo. - Oia, bélu truqui, mininu. Mas venha, acenda a palhinha aqui pro mindingo... - Agora não! - berrou Roeh afastando-se para o fundo do matagal que clamava por uma poda. Apoiou-se no muro pichado e encarou suas mãos com receio. - Que é isso, caramba? - molhou os lábios. - Por que isso está acontecendo comigo? - uma confusão mental lhe tomou os pensamentos, alocando peça por peça de suas lembranças até formar uma linha de raciocínio coerente: a cerca na escola se soltando, o sonho estranho com o céu de fogo, o surto no ônibus, o refrigerante esquentandoe o cachorro do vizinho se transformando numa pelota de fogo. Algo havia mudado. - Será que é esse o motivo de estar cansado desde cedo? Estou morrendo? Pegando fogo? Mas... - apontou as mãos para a parede, mas nada ocorreu. Balançou para cima e para baixo durante alguns segundos, sem sucesso. - Qui doidera é exa? - perguntou o mendigo ao ver Roeh mover os braços, arremessando algo invisível. O garoto não deu atenção e continuou a gesticular, agora com gritos. - Acende! Acende, p***a! Queima! Curioso, o mendigo comentou através de sua empalhada barba esbranquiçada. - Mininu. Tu tá bêbado é? Vô chamá a puliça! - Cala a boca! - retrucou Roeh irritado não pela perturbação e sim por não conseguir replicar as chamas. Pegou do chão uma lata de refrigerante e amassou-a sob o constante espreite do mendigo. -Queima, desgraçada! Queima! QUEIMA! - berrou desvairado. Preocupado, o mendigo interferiu: - Ei mininu. U que qué queimar aí, heim? - deu um pescoção por cima do ombro de Roeh. - Me dá um poco do que você tá queimando aí. Um tirinho só pô véi... - Saia daqui! - gritava focando a lata! - Poxa, apruveita e queima a palhinha tamb... - para infelicidade do mendigo, além de não ter conseguido terminar a frase, tombou no chão devido ao urro enfezado de Roeh. Apesar da queda, sua expressão era de admiração. Não só os dedos, mas todo o braço do garoto ardia em chamas. Em segundos, a potência levou a lata ao seu estado líquido. Aquele mesmo fulgor se refletia no interior de sua íris, concedendo-lhe um aspecto dourado que sugeria sentenciar o mendigo a um julgamento eterno. - Satanás! - disse o indigente. Em seguida, o fogo apagou, retornando também a cor castanha de seus olhos. O mendigo ajoelhou aos pés de Roeh, em reverência. - Pu favô, sinhô das trevas. Perdoe meus insultos e poupe minha alma. Confuso, e com medo de ser visto, Roeh tocou a cabeça de seu adorador e em solavancos abençoou. - Seja bom e... e não, não... não roube nem mate. Amém! - fugiu deixando o mendigo de mãos em louvor aos céus. - Ó Senhô, perdoaí-me. Fui tucado pelu demonho. Purifique minha alma! Um jato de água surgiu do céu e banhou o mendigo, mas não com água benta, e sim, com chorume arremessado por cima do muro por um morador. - Se é para berrar, faça isso na igreja, seu maluco. Deus não é surdo! - advertiu. ◇◇◇ Na opinião de Roeh, aquele dia deveria acabar, e com receio da situação, decidiu procurar Gail, para juntos, tentarem entender o que estava acontecendo. - Ei, Roeh. Por que não passou em casa para pegar o rastreador térmico para seu trabalho de ciências? Roeh não deu ouvidos, visto estar preocupado fechando portas e janelas da garagem. - Roeh, você me ouviu? - questionou Gail preocupado. Roeh deixou apenas uma luminária acesa. - Você precisa me ajudar. - pediu nervoso. - O que aconteceu, cara? - Eu tô pegando fogo! - esclareceu, certificando-se de que não estavam sendo vigiados. Gail arqueou a sobrancelha. - Qual é Roeh. Você entra aqui, fecha tudo, apaga as luzes e vem me falar que está com fogo? Roeh deu um soco na mesa. - Eu não estou brincando! - Calma. Conte o que aconteceu. - Eu estou pegando fogo! - pensou um pouco e reformulou. - Meu corpo, de vez em quando, está pegando fogo. - Tá de s*******m! - Não estou não. - Tá dizendo que pega fogo e ainda estáaqui, vivo? - Me pergunto até agora. Por isso vim até aqui. Preciso de ajuda. - Tipo? - Sei lá. Por não notar diferença alguma, Gail supôs que Roeh estivesse bêbado ou drogado, mas evitou o comentário para não o perturbar. - Me mostra. - pediu Gail. - Não posso. - Por quê? - Eu não controlo. - elucidou. - Simplesmente aconteceu. Estou desesperado. - Se eu não puder ver, não tem como ajudar. - Você está duvidando, não é? Pois bem... - Roeh tentou procurar algo na garagem para servir de demonstração, sem sucesso. - Talvez precise ficar irritado. Se me lembro bem, foi nessa condição. - Irritado? Tipo bravo? - Isso. - Bom, e eu te irrito de que forma? - Sei lá. Quando nos é requisitado o insulto, ele não vem. Mas quando brota do coração, surge tão natural quanto uma diarreia. Gail não sabia por onde iniciar, mas o desespero na face do amigo era tão comovente, que decidiu atirar no escuro. - Seu i****a! Roeh franziu a testa. - Sua mãe é uma porca imunda! Nenhuma reação. - Você é um burro e não sabe porcaria nenhuma, além de viver nas minhas custas! Roeh arqueou uma sobrancelha, em discórdia. - É para irritar e não humilhar. Gail riu constrangido. - Tenho sonhos eróticos com sua irmã! A perplexidade estampou a cara de Roeh. - Gail, qual é. Não quero saber de seus desejos pornográfico. Quero algo irritante. Sei lá, você me conhece a um tempão e deve saber de algo que... Uma pá de construção acertou a testa de Roeh, derrubando-o no chão. - Ei, você é louco? - repreendeu com a mão na testa. Gail elevou a pá e executou um segundo golpe, desmontando o corpo de Roeh. Antes da terceira pancada, rolou e engatinhou para longe. - Pare com isso Gail. Você vai acabar me matando! - o terceiro golpe zuniu em seu ouvido. Desesperado, afastou-se aos tropeços até ser encurralado. - Pode parar. Não precisa disso! - Gail parecia não dar ouvidos. - Gail, corrija-me se eu estiver errado, mas você começou isso para me ajudar e agora pegou gosto, é? A quarta pancada só não acertou a cara de Roeh, pois o instinto o fez usar os braços para se defender. E ao invés de parar, acabou por incentivar Gail nas pancadas, martelando o amigo no chão, rindo endoidecido. - Pára Gail. Pára. PÁRA! - em seu último grito, Roeh estendeu a mão e segurou o cabo da pá, interrompendo o ataque. O brilho dourado tomou frente a íris castanha, acompanhada das dançantes chamas em suas mãos. Assustado, Gail afastou-se enquanto presenciava a pá incinerar-se. - Deus é pai! - exclamou Gail. - Você pegou fogo, cara. Dolorido, Roeh resmungou: - Eu te disse. - Desculpe, mas eu precisava ver. E foi impressionante. Não machuca? - Não. - Roeh se levantou. - Cara, que doideira. Nunca vi isso. Você parece um daqueles heróis dos gibis. Roeh alisava os braços na tentativa de amenizar a dor das pazadas. - Só que não consigo controlar quando surgem. Gail sentou-se perdido em pensamentos. - O que eu faço? - requisitou Roeh. - Bom. Eu não tenho a mínima ideia. Você pega fogo sem se machucar. Isso é bizarro. Você devia procurar um canal de televisão. - Gail! - Ok, ok. Tudo bem. Vamos fazer o seguinte. Vamos até a escola. - Para quê? - Vamos falar com o professor Dani. - O professor de ciências? Ele me reprovou hoje porque não entreguei o trabalho! - Esqueça isso. Ele poderá nos dar uma explicação sobre o que aconteceu com você. - Melhor não. Se isso espalhar, irá piorar. - Não vamos contar para ele. - explicou Gail. - Vamos apenas questionar sobre um ser humano pegar fogo. Com isso conseguiremos pelo menos uma pista. - Entendo. Gail abriu a porta da garagem. - Vamos. - Antes de ir preciso de um boné e um óculos de sol. - Para que? Roeh sorriu com certo constrangimento. - Inspetor Joh. Gail riu e ambo partiram para a escola. ◇◇◇ As aulas no colégio eram divididas manhã, tarde e noite. Dani, o professor de ciências, era um caso à parte, pois diferente dos demais,preenchia seu tempo livre no laboratório, causando estranheza até mesmo no diretor. Roeh e Gail entraram sob a vigilância desconfiada do inspetor Joh, cuja sensação era de ter visto o moleque de boné e óculos escuros, porém, a natureza chamava, e desta vez, ignorou sua intuição por conta da indigestão. - Não precisa se esconder, cara. Ele deu linha. - alertou Gail para Roeh, escondido na camiseta igual tartaruga dentro do casco. Só retirou o rosto depois de espiar por um furo e certificar da verdade. - Para onde agora? - Ué, para o laboratório, é claro. - Sim, eu sei. Mas por onde? - indagou Roeh. - Roeh. Você não sabe onde fica o laboratório? - cruzou os braços e arqueou os ombros. - Cara, você está nesta escola desde o primário. - Ah, quem se importa com o laboratório? Eu não vou ser nenhum cientista e nem físico nuclear! - Mas cara, tivemos aula lá semestre passado com o professor Dani. Ele ainda comentou sobre o trabalho valer no lugar da prova. A face de Roeh se enrijeceu. - Vamos ficar aqui discutindo bobagem? O silêncio seguinte foi suficiente para ambos saberem a resposta. ◇◇◇ Após lances de escadas e trespassar por corredores, Gail e Roeh chegaram até o laboratório da escola. O lugar era amplo, com janelas de vidro por toda a parede,semelhante a um aquário. Roeh avistou o professor caminhando de um lado para o outro,anotando e vistoriando pertences. - Ok. Como vai ser? - Não tem essa de como vai ser, Roeh. Vamos entrar e falar com ele. Deixa comigo, ok? Roeh acreditou na esperteza ímpar do amigo. - Professor Dani! Você por um acaso leu, O Quarteto Fantástico? - disse Gail adentrando ao laboratório. - Perdão? - respondeu Dani, sob um encarar perplexo pela entrada bárbara do aluno. Dani era conhecido por ser um professor avoado. Não participava com regularidade das reuniões da diretoria, dedicando-se apenas ao que lhe era interessante. O cabelo ruivo bagunçado o tornava um tanto exótico. - Leu ou não? - Gail sorria, retribuído com frieza digna de um tapa na cara. - Não! - respondeu o professor sem a mínima vontade. Desarmado, Gail atacou por outro lado. - Na verdade, estamos aqui para resolver o problema de uma aposta. - Não tenho tempo para apostas. Deveriam aproveitar melhor o tempo terminando seus trabalhos escolares à tempo. - alfinetou, se referindo a Roeh e sua recuperação em ciências. - É uma história de super-heróis. Um dos membros é o Tocha Humana, a qual consegue atear fogo em si, sem se machucar. Para Roeh, um poder assim só pode ser através da venda da alma para o d***o. Dani não deu ouvidos e Roeh esbanjou aversão. - Eu disse que havia uma explicação científica. Nenhuma reação do professor. - E sabe qual a resposta dele? - Gail sorria sabendo do impacto de suas próximas palavras. - Não há explicação científica e tudo era obra do cramunhão. Desta vez, Dani parou, ajeitou os óculos e deixou as anotações de lado. ◇◇◇ Dani decidiu responder à pergunta, mesmo lhe ocupando parte de seu tempo. - Não fico explicando teorias sobre personagens de histórias em quadrinhos, mas, neste caso, vou abrir uma exceção, afinal, acho que fará bem para a mente de vocês. Talvez incentive vocês a estudarem. - repetiu a cutucada. Roeh não conseguiu captar se era insulto ou elogio. Decidiu pelo insulto. - Estamos ouvindo! - disse Gail cutucando Roeh para prestar atenção. Dani ajeitou os óculos. - A pele humana, como quase todo o órgão celular vivo, não tem tolerância ao fogo. Isto quer dizer que, extrapolando os limites, ela queimará e derreterá. - retirou as mãos do bolso e cruzou os braços. - E um homem flamejante, se tivesse a capacidade epidérmica de suportar o calor a esse nível, não seria obra do d***o. - era visível o descontentamento com o comparativo. - Então? - incentivou Gail. - Teoricamente, as mitocôndrias, uma das organelas celulares importante do nosso corpo, relevante para a respiração celular, poderia gerar calor suficiente para inflamar um corpo, pois é a responsável por obter energia para as células. Já houve casos de combustão espontânea em humanos, apesar de não terem sido comprovadas. Conforme falei no início, a pele humana não tem essa resistência. Aos quarenta e dois graus, as proteínas começam a cozinhar e todo o organismo entra em pane. Qualquer valor acima disso é fatal. - voltou a colocar as mãos no bolso. - E se o fogo não esquentasse a pessoa? Digo a pele? - Se o fogo não queima, qual a serventia de um tocha-humana? Iluminar o escuro? Roeh desfez o riso ao notar a indiferença de Dani. - Sim, entendo. Mas digo, e se essa chama pudesse esquentar tudo, menos quem controla? - Nesse caso, seu desejo está fora da esfera científica. O fogo é fato, uma verdade absoluta e irrevogável. Portanto, não se considera em momento algum na ciência, um fogo sem queimar. Se houver, não deve fazer parte do que conhecemos como existência. - Portanto, é impossível! - afirmou Gail. - Não diria impossível, e sim, impraticável para os nossos padrões. - Excelente. Foi esclarecedor. Obrigado, professor Dani. - Agora com licença. Tenho trabalho a fazer. - Dani esbanjou uma face azeda e deu as costas. A princípio, Gail não entendeu, mas ao tocar o ombro de Roeh para irem embora, compreendeu o motivo da irritação. Roeh estava dormindo, em pé. ◇◇◇ Roeh esfregava o rosto na tentativa de afastar sua sonolência.Areia nos olhos, dizia sua avó. - Posso te perguntar uma coisa? - questionou Roeh. - Claro. - Como conseguiu fazer o professor Dani falar com a gente? Ele não parecia disposto e de uma hora para a outra, resolveu colaborar. - Simples, Roeh. Para qualquer aficionado pela ciência, afrontar seu conhecimento é igual insultar a mãe. Após misturar religião, não me admiraria se ele tirasse a cueca pela cabeça. - Mas você falou do capeta, demônio. Isso não é religião. - Ah, e daí? É tudo loucura de mesma procedência. - E o que vamos fazer quanto ao meu problema? Eu não vi solução nenhuma. - Você estava dormindo, Roeh. - Sim, claro. Mas estaria acordado se fosse interessante. - Roeh, tecnicamente, você não pode se atear fogo sem se matar. Ou seja, se no planeta não existe essa possibilidade e nenhum ser vivo aqui pode fazê-lo, você tem algum dom alienígena. - Talvez eu tenha sido abduzido e não percebi. - Te enfiaram sondas no cu. - Gail desatou a rir. - Vá se f***r, Gail. - Labaredas anais. Houve um silêncio entre os dois, irrompido por Roeh. - Mas digamos ser algo real. - O fogo na raba? - Gail sentia-se um comediante. - Não!Sobre as chamas serem alienígena. - O que tem? - Como entrei em contato com isso? Gail coçou a cabeça. - Não tenho a mínima ideia. Deixaremos isso para depois. - Depois? - Você disse não controlar o fogo, certo? - Sim. Se manifesta sozinho. Tentei fazê-lo ativar, mas não consegui. Lembro-me de manhã,onde meu quarto estava cheio de fumaça. Até mesmo o cachorro do vizinho achou esquisito. Gail ouvia com atenção. - Cachorros sentem essas paradas. Algo mais? - Sim, no ônibus. Um babaca com um filho merda me incomodaram tanto que eu os joguei para fora num lampejo de raiva. E teve o mendigo. - Mendigo? - Sim, um indigente próximo a mim quando tentei ativar o fogo. - E conseguiu? - Não. Eu tentei, mas nada acontecia, até que o velho me aborreceu tanto que o fogo... - É isso! - concluiu Gail. - Você não o controla porque ainda está no início. É igual aprender a andar. Aos poucos o corpo vai se adaptando e se acostumando, até obter domínio. - Está me dizendo que vou conseguir controlá-lo, sem precisar fazer nada? - Quase isso. Deve ser algo em processo, e daqui a pouco, será tão mecânico quanto mover um braço. - Isso é verdade. A ocorrência desses desastres flamejantes vem aumentando durante o dia. Portanto, só nos resta esperar. - Esperar? - a face de Gail se enegreceu. - A partir de amanhã, depois da escola, iremos para minha casa. Desatou a andar enquanto Roeh, ainda imóvel, gritava. - Para sua casa? O que vamos fazer lá? Gail se virou, com olhos vidrados. ◇◇◇ Chegou em casa após o horário do jantar, a fim de minimizar a bronca por conta da segunda reprova. Entretanto, ao atravessar a sala, deu de cara com sua mãe e um homem, sentados na penumbra, frente à televisão. - Oi, Roeh. - sua mãe sorriu. - Aconteceu algo? - Por que não se senta aqui pertinho? - deu tapinhas no sofá. Roeh desviou a atenção para a visita. - Eu tô bem aqui. Pode falar. O velho cochichou. - Filho, veja bem. Só queremos conversar. Poderia por favor, vir aqui? - Quem é esse cara? Outro cochicho ao pé do ouvido. - Sente-se, e eu explicarei, filho. - Eu disse que estou bem em pé. No terceiro cochicho, Roeh se exaltou. - Vai abrir essa boca logo, ou vai ficar só tagarelando no ouvido da minha mãe? Quando pretendeu cochichar pela quarta vez, a mãe de Roeh o interrompeu, tirando de um saco plástico um lençol todo chamuscado. - Encontrei isso jogado no lixo. Roeh empalideceu. - Além disso, notei fuligem no chão do seu quarto. Quando verifiquei em baixo, descobri os mesmos queimados no colchão. As mãos do garoto suavam e as pernas, tremelicavam. - Ainda não falei com seu pai, mas a julgar pelo seu comportamento irritado de hoje de manhã, em conjunto com essas coisas, não tive opção... - Mãe, quem é esse cara? - Roeh estava cagado de medo. - Sou o reverendo Pennus, e vim em nome de nosso senhor Jesus Cristo, expurgar o demônio que se alojou nesse lar, e se encostou em você. - Mas que merda é essa? - a tensão nos ombros de Roeh suavizaram em segundos. - É isso? Só porque tem uns queimadinhos no lençol e colchão, e eu estar de m*l humor, é porque tem a bosta de um demônio dentro de casa? Faça me o favor... - Filho, não fale assim. O reverendo só quer ajudar. - Mãe, se tem um demônio aqui dentro, é o gato safado. Exorciza ele! - Mânhê! O Roeh ficou de recuperação em ciências! - berrou Syl, passando correndo, do quarto para cozinha. - p**a merda... - Roeh arqueou as costas. - Aproveita e expurga essa menina junto. - Roeh, você pegou outra recuperação? A tensão voltou. - Mãe, agora não. Estamos tratando aqui de um assunto sério! O silêncio constrangedor foi quebrado pela entrada repentina de uma repórter, ao vivo, entrevistando o malabarista peniano do semáforo. - Estamos aqui numa entrevista exclusiva com o rapaz mais "famoso" da cidade. O malabarista de consolo flamejante, Lildo. Olá, tudo bem? - Estou ótimo. - respondeu enquanto dois dos seus objetos balançavam de um lado para o outro. - O "povo" quer saber: de onde veio essa ideia tão original? - Ah, você sabe como é. Nós, artistas de rua, estamos sempre inovando. Nossa criatividade não tem limites. - Entendi. E você não pensou que esse ato pudesse ser visto como obsceno, correndo o risco de ser preso ou linchado pela população, por atentado ao pudor? - Que nada. O pessoal vem me dando apoio, pois valorizam meu trabalho. Estou nesse semáforo há 3 anos. Inclusive, venho recebendo propostas de merchandising. Aguardem novidades..., opa, com licença, preciso ir. O sinal vai fechar. Abraços! - E lá se vai mais um "artista de rua" que, curiosamente, teve sua arte estimada mais do que saneamento básico nessa cidade. Resta saber se isso é uma esquizofrenia passageira ou m*l caratismo de uma sociedade que considera malabares fálicosmais interessante que desenvolver a cultura local. No fim, sabe o que todos tem mais? Mais é que se fod... - a câmera corta para o âncora do noticiário. - Esportes! Quando a reportagem terminou, Roeh havia fugido às pressas para seu quarto, fechando a porta. - Tudo bem. Vamos devagar com ele. - salientou a mãe. - Esses demônios estão em todo lugar. - comentou Pennus, horrorizado com a televisão. Em seu quarto, Roeh deitou-se sem ao menos tomar banho, e apagou em questão de minutos, pois a única preocupação que tinha naquele instante, eram as últimas palavras do amigo: - Para sua casa? O que vamos fazer lá? Gail se virou, com olhos vidrados. - Vamos treinar!

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