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Sorumbático-Man: A Ascensão do Anti-Heroi

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intro-logo
Blurb

O curso do rio da vida mundana - e aversão social - de Roeh foi abalado por uma manifestação emblemática, fazendo-o contrair capacidades flamejantes que o instigaram a amparar - ou empiorar - a vida das pessoas. Seja para fins egoístas ou inapropriados, sua trajetória tortuosa ao m*l uso, será constantemente questionada pela moral e os bons costumes.

Com o incentivo duvidoso de seu amigo Gail, rumam juntos para uma jornada enfezada de marginais, roubo de galinhas e toda a criatividade burlesca possível para tornar Roeh, um super-herói. Conjuntamente a isso, investigarão não só a origem, como também o propósito desses misteriosos poderes.

Mas essa não será uma tarefa fácil, visto o aparecimento conveniente de um inimigo de igual proporção destrutiva, criando um atrito de ideais, levando o embate para um cenário improvável, culminando num evento de dimensões, talvez épicas.

No fim, Roeh perceberá o quão importante são suas decisões, e o quanto impactam a sua volta, criando consequências inimagináveis que definirão sua personalidade para todo o sempre.

Concebida num linguajar chulo, calamitoso, de m*l gosto e humor duvidoso, Sorumbático-Man: A Ascensão do Anti-Herói, é a visão deturpada do surgimento de um herói.

Leitura simples, rápida, mas talvez, de difícil digestão.

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O ruído agudo da televisão indicava o fim da transmissão, repetitivo o suficiente para sangrar o cérebro de quase toda criatura despossa de constituição genética apropriada. - Roeh! Seu i*****l! - gritou furiosa ao pé do ouvido do dorminhoco, despertado de seu sono, cujo sonhos o levavam para lugar algum. Num sobressalto, Roeh caiu do sofá,de rosto no chão de taco, quase abatendo Brioso, ou conforme sua irmã dizia, Senhor Brioso; um belo e manhoso gato angorá laranja, que em um súbito reflexo, saltou antes de ser alvo da avalanche de carne humana. Roeh tinha estatura baixa demais para sua idade, sendo seus 1,68cm motivo de piada entre os colegas, a qual tinham em média, 1,78cm à -acreditem- dois metros de altura. Seu cabelo curto, castanho e bagunçado denotava pouco apreço pela aparência. Em teoria, deveria estar no ápice de sua condição física, mas a preguiça o realocava numa categoria inferior, precisamente, no chão, aos pés de sua irmã. - Qual é teu problema, garoto? São quatro da madrugada e você fica com essa droga de televisão ligada, sem nada passando? Lá do meu quarto eu ouço esse chiado terrível! - Ah, Syl. Dá um tempo. Eu estava dormindo e a esqueci ligada. Não precisava me assustar deste jeito. - esclareceu Roeh com voz embriagada de sonolência,levantando-se sacudindo a roupa. - Acontece que você faz isso quase todos os dias! - afirmou Syl. Roeh torceu o nariz. - Ah, e por que não vejo você vir aqui me elogiar quando eu NÃO faço isso? Maldição! Você e a mãe só sabem ver meu lado negativo. - Isso porque seu lado positivo também é negativo, irmãozinho. - respondeu a garota. Syl não era irmã perfeita, entretanto, por ser primogênita, havia criado consciência dos deveres de cada um, e tão logo iniciou os estudos no ensino médio, tratou de arrumar um trabalho de meio período para ajudar a sustentar sua futura faculdade, destino esse a qual sequer passou pela mente de Roeh e sua sedentária vida frente à televisão. A garota era admirável. Tinha invejáveis 1,76cm-Roeh detestava isso- e peso belamente distribuído pelo seu bronzeado corpo. Seus cabelos eram uma cachoeira n***a escorrendo por uma sinuosa montanha. Apesar de estarem soltos, na maioria das vezes, Syl ocupava-se em fazer uma longa trança. Com seus atuais dezoito anos, a vaidade era uma religião. Todos os dias, tanto de manhã quanto antes de dormir, o ritual de embelezamento, como Roeh chamava, mantinha-se constante. Os olhos verdes, herdados de sua mãe, em conjunto à beleza, fazia Roeh considerar que tudo de bom foi usado para confecção da irmã e os restos da criação se aglomeraram, formando uma segunda forma de vida. - Trate de ir dormir numa cama feitouma pessoa normal, Roeh. - Tudo bem. Não precisa ficar esquentando a cabeça com isso. Syl desaprovou com um suspiro enquanto acompanhou a múmia voltar ao sarcófago. Rixas entre irmãos existem e podem ser bem catastróficas, mas a relação de ambos sempre foi ótima, pois o gênio sereno da menina não colidia com a mente avoada de Roeh. Terminado o sermão, Syl o seguiu silenciosa com suas pantufas de coelhos que sorriam de algo engraçado. Subiu as escadas, deslizou pelo corredor e avistou a porta entreaberta do quarto do irmão.-ele nunca se lembrava de fechá-la. - Encostou-a e seguiu para seu dormitório. Roeh sequer trocou de roupa ou ajeitou os lençóis da cama. Tombou de cara no travesseiro na esperança de dormir por horas, mas num piscar de olhos,o despertador apitou. Roeh resmungou e calou-o com um tapa desajeitado. Minutos depois, sua irmã abriu a porta e deu o primeiro dos cutucões necessários para levantá-lo do túmulo. Era fácil sobreviver ao chamado da irmã, afinal, ela tinha seus compromissos e logo não teria tempo para retornar. Sua mãe, da cozinha, podia ser ignorada devido à distância. No entanto, quando seu pai terminava de fazer a barba e vestir-se socialmente, não havia desculpas. Ou se levantava, ou sofreria as consequências. Cinco minutos, Roeh, era o jargão ameaçador do pai. Semelhantea um zumbi invocado por macumba malsucedida, Roeh desgrudou-se da cama com esforço e rastejou até a cozinha para tomar café, sendo açoitado pela inquisição familiar. Segundos depois, Anna, amiga de Syl, entrou pela cozinha cumprimentando todos. Era costume sempre vir neste horário para buscar Syl e irem juntas para a escola. Roeh notou o gato o encarando com desdém. - Esse gato me entedia! - Não fale assim com o gato, Roeh. Ele tem sentimentos! - disse sua mãe. O desprezo continuou estampando seu rosto. - Alguns países comem gatos... - Roeh! - advertiu sua mãe. - Mãe. Esse gato não tem sentimentos. É apenas um animal peludo e e******o. Não serve para nada. Só dorme, rasga os sofás, caga e espalha pelos. Tudo bem ser fofinho e amoroso, mas e daí? Texugos também são, e nem por isso temos um. - Tirando o rasgar do sofá, o comportamento do Briosonão é diferente de você, Roeh - ironizou Syl. Sua mãe chamou-lhe a atenção, sempre com os mesmos dizeres sobre os sentimento do felino. Para piorar a situação, o gato encontrava-se junto a seus pés, com olhar melancólico. - Veja só. Briosoestá triste. - lamentou a mãe. Roeh suspirou. - Gatos são seres maquiavélicos, usuários de sua bela construção física para manipular donos e conseguir mimos necessários. - comentou o garoto. O gatosabia fingir tristeza, afrontando Roeh para um duelo. Para sua infelicidade, a voz de sua mãe badalou em sua cabeça. - Peça desculpas para Brioso, Roeh. - Ãn? Sem chance. Eu não vou pedir desculpas para um gato! - disse num estado catatônico, enquanto dividia a atenção entre o animal e sua mãe. - Pode esquecer! - Ele é tão fofo, Roeh. Por que fala essas coisas horríveis? - questionou a mãe num tom tristonho. - Mãe, se é para ter um bicho peludo e fofo, troquemos por um ornitorrinco, que além de tudo, bota ovos. - Ovos? - indagou Anna. - Sim, ovos. Ornitorrincos botam ovos. - Sério? - perguntou a garota, curiosa. - Claro. E sabe por que você não sabe? Porque quando a professora estava explicando, você estava comendo salsichão e não aprendeu coisa alguma. - respondeu Roeh de forma ríspida. - Filho, não exagere. - disse a mãe de Roeh enquanto pegava Briosodo chão e fazia carinho. - Mãe, a morte roça entre suas pernas e pede leite. - Que horror. - repeliu Syl com aversão. - Vamos, filho. Chega de falar bobagem e peça desculpas para Brioso. - estendeu o gato, deixando-o frente a frente com Roeh. O garoto cruzou os braços em negação e foi açoitado pelo silêncio condenatório. De soslaio, observou sua irmã passar manteiga num pedaço de pão enquanto seus olhos diziam esse não tem salvação. Do lado de Syl, Anna fitava estarrecida para cestinha de ovos, se perguntando se eles não vinham da galinha.A sua frente, Briosoparecia dizer: vamos bonitão, pois ainda tenho algumas felinas para copular. E segurando-o, sua mãe e seu cintilante sorriso dizendo: não me desaponte, filho. No fim de sua panorâmica inquisidora, encontrou a esperança.As mulheres da casa não iriam vencer esse páreo, não enquanto o homem da casa, o líder da família estivesse ali. Roeh esbanjou um sorriso confiante para com seu aliado, o qual compreenderia que pedir desculpas para um gato era absolutamente... - Peça desculpas para o gato, Roeh. - brandiu a imponência de um pai carrasco, descendo o machado da ordem até sua cabeça. Era a palavra final e contestar seria suicídio. Até sua irmã sabia disso, e por isso, riu discreta. Sentiu-se um comediante num palco prestes a fazer uma apresentação para meia dúzia de pessoas que não pagaram para estar ali. O gato aguardava em tom de deboche. Vá em frente, humano. Peça desculpas para o felpudo aqui... Miaou. Era ridículo, ser obrigado por sua família a pedir desculpas para um animal, pensou Roeh. Elevou sua posturade um grande revolucionário prestes a dar início a uma sanguinolenta guerra contra ditadura familiar, porém seu ego tropeçou no olhar de carrasco do pai, a qual dizia: cinco minutos, Roeh. Baixou os ombros em desânimo, pois a guerra havia terminado. - Desculpe. - a voz saiu inaudível, engasgada. - Eu não consegui ouvir direito. E você, pai? - provocou Syl, quase causando a explosão raivosa de Roeh. Na tentativa de acabar com aquilo rápido, desculpou-se com o gato com uma voz limpa e audível. - Me desculpe. O gato resmungou agradecido. Ao ser colocado no chão, roçou entre as pernas de Roeh e seguiu com seu andar saltitante para sua almofada. Terminado o show de horrores, Roeh pegou sobre a mesa um pedaço de bolo e comentou em tom sarcástico: - Estou indo, família. Nunca desejei tanto a escola. Adios. Retirou-se da cozinha e ignorou a carona oferecida pelo pai. Não, Roeh não aceitaria, não depois daquela traição frente às mulheres. Num minuto atrás o estava sentenciando a humilhação e segundos depois, oferecia carona? Ah, por favor. Ir a pé para escola sempre foi um dos primeiros desejos de Roeh, e o único impeditivo era a preguiça. Sua disposição ao acordar desaparecia ao pisar na rua, acompanhado de uma moleza incontrolável. Contemplou sua casa, branca com janelas quadradas e compridas. Arejava o ambiente, dizia sua mãe. Havia na frente um jardim pequeno e simples. Do lado direito existia um corredor até o quintal, onde havia um amplo gramado com arbustos e flores plantadas com tanto esmero, que Roeh se assustava com a dedicação da mãe para com as plantas. Se chovesse, lá estava a Dona Flora acudindo as pobrezinhas. Fechou o portão e caminhou numa morbidez digna de estender a mão e receber um trocado. Seu vizinho, além de um detestável morador, possuía um e******o, ignorante e faminto cão de estimação chamado Dentinho. Apesar de morar naquele bairro desde sempre, Roeh sequer teve um dia de sossego. Todo santo dia, ao passar à frente da casa, o cão resolvia aparecer, isto é, se não estivesse à espera, sedento por um petisco. Poderia dar a volta no quarteirão e chegar até o ponto de ônibus à uns setenta metros de sua casa, mas a morosidade era tamanha, que optou por arriscar, acreditando na mudança. Obviamente, não mudou. Dentinho avançou na direção da perna de Roeh, o qual desviou por centímetros da abocanhada, tropeçando e cambaleando, usando o impulso para se alinhar e fugir. O pior dessa fuga não era o cachorro, esim o vizinho na sacada, nu, caneca de café e um jornal na mão, apreciando a atração matinal. Roeh sempre corria até a primeira esquina, local onde o cão deixava de ir atrás, pois ali terminava seus domínios, e estando além dessa fronteira, o cachorro e o vizinho seriam animais felizes. Deixando pensamentos vagos de lado, Roeh ajeitou sua roupa, limpou o suor da testa e tomou uma postura de imperador dos mundos e... - Roeh, seu i****a. Você esqueceu sua mochila em cima do sofá. De novo! - dizia a provocativa voz de Syl ao passar ao lado com Anna, destruindo seu momento de glória. Logo, a postura de imperador deu lugar ao corcunda de Notre Dame. ◇◇◇ De posse de sua mochila -claro, após retornar para sua casa e correr outra vez do cachorro do vizinho -Roeh retornou ao ponto onde havia sido interrompido por sua irmã. - Bem,agora é me apressar para não atrasar. - dissecaminhando em passos largos. Durante o trajeto, parou para apreciar o incrível malabares de semáforo com pênis de borracha, feita por um artista de rua a troco de trocados. Os membros voavam alegres naquela paumolecência cativante. - A arte urbana é tão disruptiva! Impressionante. Esse merece um troco. Deixa ver quanto tenho no bolso... - nesse instante, o ônibus passou. - Fiá da p**a! - mesmo sealcançasse, não teria conseguido entrar, visto a face maligna do motorista demonstrando divertimento com aquilo.Não bastando isso, avistou sua irmã entrando no carona de uma outra amiga. - Boa caminhada, irmãozinho. - provocou a menina, sem ao menos um convite. Roeh se sentou na calçada e esperou. Para sua alegria, um segundo ônibus vinha em sua direção. Por ser horário de aula, existia uma frequência maior de transporte público. Levantou-se e fez sinal. Entrou, passou a catraca e pesquisou um bom lugar. Andou até um dos últimos bancos e sentou-se, colocando a mochila no colo e sorriupensativo: - Quem diria. Anos e anos pegando um ônibus num determinado horário, sem saber que vinha outro logo atrás. Posso acordar até mais tarde. Isso é magnífico. Seu devaneio é interrompido pela tortuosa aproximação de uma obesa criatura decidida a ancorar ao seu lado, esmagando-o no canto. Seu traseiro era digno de se pagar duas passagens, pensou. Desviou o olhar e cruzou a visão com um garotinho de óculos fundo de garrafa e cabelo desgrenhado. Estava sentado três bancos à frente com as mãos apoiadas no encosto. Metade do rosto escondido. Roeh acenou com sorriso amarelo-pronto, te notei. Agora sugue esse ranho do nariz e toca tua vida -,mas o garotinho não o fez. Permaneceu imóvel, vidrado em Roeh, cuja impaciência aflorava. Desviava a atenção para os lados, respirava fundo, sentia o suor e o calor lhe tomando o corpo. Queria pegar aquele moleque pela cabeça e enterrar no chão igual a um avestruz, mas ponderou tratar-se apenas de uma inocente criança... Inocente o inferno! - Perdeu algo, moleque? - disparou Roeh. -Estou olhando para você, seu biesta! - sim, o garotinho forçava a palavra b***a para biesta propositalmente. - b***a, eu? - a vontade era retrucar no ódio, mas aquele pobre garoto não deveria ter acimade oito anos, e desconheceria qualquer palavrão. - Seu tonto. - repetiu o moleque num gestoprovocativo, causando inquietação em Roeh. Odiava ser encarado. No ápice de seu agastamento, seu lado pitoresco flagelou os ouvidos da criança: - Se eu sou tonto, você é um montão assim bem grande de cocô. - as palavras de Roeh foram lâminasceifadoras de infância aos ouvidos do garoto. - Monte de cocô? - repetiu o garotinho receoso. - Sim, cocô. Merda. Bosta. Seu bostinha. E se eu prestar atenção, vejo milho, casca de feijão e até mesmo uns cogumelos nascendo. - completou Roeh em tom diabólico suficiente para aflorar o ímpeto divino de um exorcista.As lágrimas inundavama face do pimpolho na proporção do aumentoda satisfação de Roeh. - Buá! - berrou o garotinho, fazendo Roeh e todos do ônibus pularem de susto. A mulher gorda ao lado se afastou por não suportar a gritaria digna de atenção, afinal, quem poderia acreditar que o som de gralha vinha de um ser humano tão pequeno? - Paiê! Aquele bobo me chamou de bostinha com milho! - Pai? - questionou Roeh, notando um homem robustode cabelos compridos lhe direcionando a atenção, fazendo brotar um misto de pavor e arrependimento. - Quer dizer que meu filho é um monte de merda, não é?- afrontou o homem. - Err, não foi bem isso que eu quis dizer... - m*l teve tempo de terminar a frase e a campainha do ônibus tocou. O motoristaparou no ponto e abriu as portas à espera do passageiro descer. E desceu. Roeh foi arremessado feito um saco de lixo dentro de uma caçamba disque-entulho. - E agora, quem é o monte de bosta? - dizia em meio a histeria da criança, trocando o choro por urros de vitória enquanto a porta se fechava. Roeh saiu do entulho aos resmungos, removendo com desgosto a poeira, pedaço de papel higiênico, absorvente, camisinha usada e algumas cascas de fruta podre. Era incrível o m*l uso das caçambas de entulho naquele bairro. - Maldição. Quem precisa de ônibus? Posso ir a pé! Várias pessoas fazem isso! - procurou a sua volta e não havia ninguém. Por fim, o corcunda deu o ar da graça e acompanhou Roeh até a escola. A pé. ◇◇◇ O estado de conservação da escola era de caráter duvidoso, com sua fachada fantasmagórica, reflexo do descaso político com a educação municipal. Enquanto houvesse teto, água e merenda, funcionaria. E como toda boa - ou má- escola, sempre há um m*l -realmente m*l- inspetor de alunos,cuja profissão é perturbar a vida alheiados atrasados, semelhante a Roeh, que chegara ao portão vinte e cinco minutos além do permitido. - Ei, Joh! Poderia abrir o portão para mim? - disse Roeh ofegante, com as mãos apoiadas nas grades, prestes a desmaiar de cansaço por ter percorrido vários quarteirões. O inspetor ouviu o chamado e se apressou a atendê-lo. Se aproximou, retirou um molho de chaves, escolheu a responsável pela fechadura e num gesto sádico deu uma volta adicional no trinco. - Menino, o horário de entrada é às sete e meia, com uma tolerância de dez minutos. - Mas eu só atrasei... - tentou justificar, mas Joh interrompeu. - Qual parte do tolerância de dez minutos você não entendeu? - a perplexidade pairou sobre a face de Roeh. - Escuta aqui, inspetor, eu... - sua nova tentativa de diálogo foi suprimida pela rouca voz de Joh - Com licença, mas tenho outros assuntos a resolver. Volte amanhã! - Voltar amanhã? Isso aqui é uma escola e não o SUS! Volte aqui! Inspetor Joh! - o inspetor havia se distanciado, ignorando os lamentos. Roeh sacolejou a grade de raiva. Ninguém dobrava o inspetor Joh, diziam. - Não dobro, mas posso contorná-lo. - pensou. Não iria retornar para casa depois daquela humilhação. Não mesmo. Entrar tornou-se uma questão pessoal. Afastou-se do portão e percorreu a grade até dobrar a primeira esquina onde não havia ninguém. Acompanhou Joh em seu trajeto até uma sala, e assim que desapareceu, agarrou as grades e escalou igual aranha,ultrapassando a parte superior,girando por cima e caindo dentro da escola. - Volte amanhã, não é? Teu cu. - atravessou o gramado até a quadra de esportes, e de lá seguiu pela passarela interligada as salas. Caminhou com ar de superioridade, pensando em seu nome eternizado na escola, sendo conhecido como o herói que enganou o inspetor. Sim, seria lendário. Isso o tornaria um... - Moleque safado! - berrou o inspetor. - p**a que pariu! - Volte aqui! Roeh fugiu subindo um lance de escadas levando-o até o piso do ensino médio, e de lá seguiu para a biblioteca. Seu frenesi aumentava com a sensação de estar preso num filme de terror, afinal, o inspetor corria alémdo que sua idade e seus seis pinos no pé permitiam. Rastejou entre as estantes de livros e saiu pela porta oposta, escapando da perseguição, afinal, a sala de aula seria o porto seguro do dia. Recheado de egocentrismo, entrou em sua sala e deu de cara com o silêncio. A professora estava com cara de poucos amigos. - Err... presente? - Roeh. Está atrasado para a prova. - disse a professora. - Prova? - Sim, prova. Havia um sistema bem comum para avaliar o rendimento de seus alunos. Após uma jornada de aulas e trabalhos, a escola reservava uma semana toda para a execução de testes. Era uma forma de tornar as atividades regulares. A aprovação dos alunos era magnífica, exceto para os retardatários a qual Roeh fazia parte. Mesmo com os cartazes e avisos em sala de aula, havia se esquecido, e agora, em plena segunda-feira, atrasado e pós-perseguido, era obrigado a responder perguntas de sabe lá Deus de quê. - História, Roeh. - Como? - A prova é de história. - Ah, sim. Claro. Passado, presente e futuro. - concordou sem entusiasmo. - Vá para seu lugar e comece. - Tudo bem. - caminhou até sua mesa sob o flagelo da reprovação dos colegas de sala. Sentia-se num corredor da morte, caminhando para a cadeira elétrica onde teria o seu fim inevitável. Porém, ao notaro estilo de prova na mesa do vizinho, um sorriso lhe brotou a face. Provas de múltiplas escolhas eram fáceis de resolver, pois bastava chutar a questão caso não soubesse, diferente de uma dissertativa. Tirou a mochila dos ombros e pegou uma caneta. Sentou-se na cadeira, não um condenado a morte, e sim um rei em seu trono prestes a assinar tratados importantes para o bem-estar na nação. Estalou os dedos confiante e respondeu a prova com avidez, causando estranheza em todos. Da última vez que se esqueceu de uma prova, Roeh saiu correndo da sala e rolou escadaria abaixo. Escapou das provas em razãodos sete dias hospitalizado. No fim, fez as provas, mas havia ganhado uns dias de vantagem para estudar. Proposital ou não, ninguém soube. Todavia, naquele instante, Roeh estava calmo, centrado e confiante. Respondia de forma voraz e em instantes, junto com outros alunos, levantou-se de sua cadeira, pegou sua bolsa e caminhou para a mesa da professora com a aura de um guerreiro. - Aqui está, professora! - entregou a folha - Esperonão ter atrapalhado sua aula por chegar atrasado e ... - Dois. - Oi? A professora fez uma rubrica na prova e passou-a para Roeh. - Dois. - Dois? Eu respondi todas! - e antes deevoluir sua indignação, a professorarepetiu impaciente. - Apenas duas certas. As outras erradas. Nota dois. - ela sorriu - Nos vemos na recuperação, Roeh. Dessa vez, Roeh não havia sentenciando-se a morte, e sim garantido vaga no purgatório. Estava de recuperação e isso só dizia uma coisa. Sem férias, sem mesada ou qualquer outra regalia. Seus pais eram bem rígidos quanto ao aproveitamento escolar e uma notícia destas não teria boa repercussão. - Eles não precisam saber ainda. - pensou enquanto caminhava cabisbaixo pelo corredor, quando a voz irritante de Syl zuniu em seu ouvido. - Ficou de recuperação em história. O pai vai acabar com você. - zombou a garota junto aos risos de suas amigas. - De que forma ela descobre as coisas? Que droga. Sua manhã estava um desastre. Perdeu o ônibus, foi jogado numa lixeira, pediu desculpas para um gato, levou bomba numa prova e por fim, estava prestes a tomar uma bronca quando chegasse em casa. Era azar demais para uma só pessoa. Pelo menos, após a prova, podia ir embora para no máximo, enfrentar os sermões dos pais. Para encerrar sua manhã, um gato remexeu dentro de seu estômago. Concentrou-se no sacode da barriga a espera de uma segunda contração,a qual veio forte, seguida de um ronco úmido de lavagem de porco sendo despencada do alto. Roeh odiava cagar fora de casa, e se fosse humanamente possível cagar para dentro, o faria. No entanto, a erupção era iminente. O carcará, dizia seu avô, estava colocando o bico para fora. Às vezes, essas cólicas horríveis eram frutos de gases, a qual um peidinho curto e controlado aliviaria a tensão. Estava longe de casa e correr não era uma opção. Mas quando as portas do olimpo se abriram, ele sentiu: o caldinho desceu. Aos prantos e suando frio, chegou ao banheiro. Seguiu em passos dolorosos até a última cabine, andando iguala um pinguim parindo uma melancia. Abriu a portinhola, entrou, fechou, desabotoou as calças, que naquela hora parecia algo tão complicado de se fazer, arriou-as, tocou a louça fria e o mundo escureceu. Uma majestosa floresta cintilavajunto a alegres borboletas rodeando uma linda rocha, cuja a******a sugestiva esguichava uma cristalina cachoeira, desaguando num paradisíaco e transparente lago, exalando um perfume de BOSTA. A floresta escureceunum marrom turvode sulcos esverdeados. As árvores, ao invés de frutas vermelhas e doces, eram escuras e azedas. A rocha sugestiva despejavaum viscoso achocolatado com flocos, desaguando numa onomatopeia pouco atraente. Sua imaginação se desfez quando o derradeiro espasmo expeliu para fora de seu corpo a última manifestação mefistofélica estomacal. O primeiro ofegar foi de alívio e satisfação, transformando-se em pânico ao notar apenas um rolo de papelão vazio. Só havia uma coisa a fazer: mudar de cabine. A complexidade estava no levantar-se, afinal, sem o coágulo da merda fresca, estaria sujeito a excesso de material orgânico escorrendo pela perna. Não podia também levantar as calças ou iria sujá-las. A única maneira era abrir a portinhola e rastejar de cócoras até a cabine ao lado, mas na metade do caminho, o terror se iniciou. A sineta do intervalo tocou junto a histeria das crianças brincalhonas, preenchendo os corredores de trevas e agonia. Roeh fez o que qualquer um em sua situação faria. Ele gritou. ◇◇◇ O diretor aguardava em sua mesa, rodando uma caneta entre os dedos. Tomou um gole de café e suspirourodopiando a cadeira para ver a paisagem através da janela. A descarga do banheiro irrompe sua meditação, seguido de Roeh e sua cara da derrota, trazendo consigo uma rabiola de papel higiênico preso no tênis. Chamou Roeh com as mãos, e quando este sugeriu sentar-se, o diretor fez um sinal de negação. - Pode... - fez uma pausa - Pode ficar em pé mesmo, Roeh, serei breve. Desajeitado, Roeh encarou o chão. Não havia nada para ser discutido. Sabia da sua responsabilidade na guerra de papel higiênico oriunda da cagada colossal, e portanto, a conversa foi rápida. - Então, Roeh. - Sim, eu sei... Silêncio. - Ok, pode ir. - Obrigado. - Roeh agradeceu e dirigiu-se para a saída. Antes defechar a porta, o diretor pigarreou apontando para o papel grudado na sola. Um alívio lhe tomou o corpo ao sair da diretoria, durando dois segundos, pois no terceiro, um berro familiar lhe chamou a atenção. - Moleque safado! - era a voz do inspetor Joh. -Deus, de novo! Para completar seu dia, Roeh saiu da escola da mesma maneira que entrou. Correndo.

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