Eu só quero que o dia acabe

3067 Words
Por volta de meio-dia, Roeh rumava para sua casa, comparando sua horrorosa manhã com o inescapável confronto com os pais, que a essa altura, graças a Syl, saberiam da reprova escolat. Imaginava a figura do pai, com um cinto na mão e a mãe, ao lado, com um semblante reprovador, além de claro, a própria Syl, rindo ao fundo junto com o encapetado gato. Porém, ao chegar em casa, não encontrou a cena apocalíptica esperada. Seu pai estava lendo na mesa de jantar. Da cozinha se ouvia os ruídos do almoço. Não havia, a princípio, sinal de Syl nem do gato. Talvez a sorte estivesse ao seu lado. Subiu as escadas e deu de cara com um fantasma. - Syl! - disse Roeh assustado. O silêncio mórbido da garota lhe gerou calafrios, pois daquela face sombria, uma sádica contagem regressiva surgiu no canto da boca. - Três... dois... um... - Roeh! - chamou o pai num tom firme. - Maldita! - Não me agradeça, bocó. - Syl desceu as escadas rindo baixo. Roeh largou a mochila na escada e desceu até onde o pai estava. Em sua mente, vislumbrou o pai abaixando o jornal, pegandoum cutelo e esquartejando-o, fritando no óleo para tirar o cheiro, e vendendo para a fábrica de adubos. - Roeh. - Sim, pai. - Após o almoço você vai até a casa de sua avó ajudá-la no mercado. - Mercado? Com a vó? - respondeu com indignação - Qual é pai. Fazer compras com ela é tedioso igual enterro de indigente. Ela leva horas observando a composição química dos produtos nas prateleiras e... -seu pai dobrou o caderno de esportes e suspirou. - Devia ter pensado nisso antes. Sua irmã me falou sobre sua prova. - Desculpe. - lamentou Roeh. - Prova que você, além de não nos avisar, foi m*l. É até irônico repreender você por não nos avisar da prova. Você mesmo não se lembrou, não é? - concluiu o pai. - Desculpe pai. Eu não vou fazer isso de novo. - Eu sei. - Prometo estudar e recuperar essa nota. - Acredito em você. - Posso ir? O pai desferiu uma visão obscura, acuando Roeh. - Claro. Para a casa de sua vó, ajudá-la com as compras. - Mas pai! - Roeh, você ouviu seu pai. - dizia sua mãe da cozinha. Era o dom das mães saber dos assuntos mesmo estando entretido nos afazeres domésticos. Talvez conversar com as vizinhas desenvolvesse algum tipo de habilidade. - Droga! - Roeh deixou o local ignorando o chamado da mãe para o almoço. Havia perdido o apetite. Queria sair daquele lugar o quanto antes. Subiu as escadas carregando consigo a mochila. Entrou no quarto, arremessou-a na cama e saiu bufando feito um cavalo selvagem. Lá de fora ouviu sua irmã gritar da janela. - Roeh. Não se esqueça de me contar depois quais as novidades do mundo fantástico das pomadas para hemorroidas! - e disparou a rir. Apesar da raiva, Roeh não se incomodou com a provocação da irmã, afinal, ela não mentia. A vó era um terror. ◇◇◇ - Para uma boa purificação anal, é imprescindível a utilização de Alegrerróidas Plus todos os dias. Sua fórmula se torna eficaz graças a presença de lidocaína, concedendo alívio imediato a sua cavidade, livrando-o do desagradável desconforto ao sentar-se. O que acha Roeh? - questionou uma simpática voz. A felicidade tirou férias da face de Roeh. Ir ao mercado era a apoteose do ódio. Debruçado sobre o carrinho como uma samambaia, Roeh observava o mundano ambiente: mães divagando sobre sabonetes e seus níveis adequados de glicerina; crianças decidindo se a melhor forma de roubar doces é enfiando na b***a, e pais empurrando carrinhos devorando a anca das mulheres. Em meio a normalidade da vida moderna, sobrou para Roeh acompanhar sua avó na difícil tarefa de escolher... - Pomada para hemorroidas com aroma de hortelã ou amêndoas? - perguntou a senhora num tom despreocupado. - Tanto faz, vó. - Não, Roeh. Você não entende nada mesmo, não é? - a velha o apreciava. - Quando for mais velho,entenderá a gravidade das escolhas. Roeh sequer prestava atenção. Quem diabos se preocuparia com a diferença entre hortelã ou amêndoas? b***a sentia cheiro, por acaso? Se fosse assim, não seria melhor comprar uma bala de eucalipto, enfiar no r**o e chupar? Castigo, diria seu pai, castigo. - Vou levar o de hortelã. - a senhora arremessou uma embalagem no carrinho e seguiu lendo o descritivo de outras duas. - Fala sobre o hortelã conceder o agradável frescor dos campos. Pelo amor de deus, pensou Roeh. Frescor dos campos? Imaginava a mente do filho da putaredigindo àquelas embalagens. - Vó, não seria melhor comprar isso na farmácia? - Ah, Roeh. Prefiro comprar na perfumaria do mercado, pois coloco tudo numa mesma conta. Além disso, aqui tenho privacidade. - explicou ao pé do ouvido. Roeh desmontou no chão de tanta repugnância. Uma senhora de setenta e dois anos, maluca por textos de embalagens, preocupada com privacidade, segurando AlegrerróidasPlus e suas letras garrafais metalizadas, digna de um sinalizador de navios. Embora fosse vergonhoso, acompanhar a velha estava sendo divertido. Dobraram a esquina, chegando aos produtos de limpeza, onde a senhora iniciou o ritual satânicode abrir e cheirar um a um até encontrar o desejado ou tombar por excesso de fungada. Roeh riu sozinho ao imaginar a vó caída e o médico ao lado perguntando: - O que ela tem? - Está dopada. - Dopada? Ela é viciada? Crack, heroína? - Não. OMO. Mas a velha era forte feito um bode e podia passar o dia todo naquela prática. Roeh passeava entre as prateleiras convidativas, acompanhando as descrições esquisitas: flores do campo, aloe-vera, jasmim eeucalipto. Engraçado como tudo tinha nome agradável. Veja macarrão instantâneo. Se no início era carne e galinha, agora se expandia para sardinha ao sugo e rosbife acebolado com molho madeira. Tudo isso naquele pozinho safado cheio de câncer. Quem compraria um negócio desses? Muita gente. É o marketing. Se no rótulo do desinfetante tivesse apenas "cheiro de saco suado", ninguém compraria. Mas pegar o mesmo produto e colocar "primavera da juventude" no rótulo dava outra roupagem, mesmo cheirando esterco. Durante a passagem pelos enlatados, deu de cara com uma promoção: tratava-se de um novo chocolate que, segundo a embalagem, prometia um adorável paladar ao mesclar o doce com o refrescante sabor de menta. Andar com sua avó estava fazendo-o pegar suas manias. O doce possuía um formato sugestivo. Um cilindro de dez centímetros. Imaginava até a propaganda:dez centímetros de brisa refrescante. Talvez devesse levar um para sua avó experimentar fosse por cima, ou por baixo. Sua face empalideceu ao notar sua vó, na ponta dos pés, estendendo o braço para pegar, não um sachê de maionese ou leite condensado, e sim, camisinhas. Roeh correu até lá e questionou constrangido: - Vó, para que está comprando camisinha? A velha, com cara sapeca revelou: - É prático, seguro e higiênico para passar a pomada de hemorroidas. - E não seria o caso de comprar luvas descartáveis? - Não preciso de tantos dedos assim. Roeh azedou e preferiu não aprofundar o assunto. Existia um termo cunhado por sua irmã, chamado de indução de pensamento. A habilidade consistia em materializar um pensamento profano na cabeça do usuário, de modo a impossibilitar a desassociação. Imagine sua mãe pelada pulando com os braços para o alto ou seu pai fazendo um pirocóptero em cima da mesa de jantar. Se usado num contexto certo, a associação se enraíza na cabeça da pessoa, causando ojeriza eterna. Apesar de simples, era uma artimanha perigosa, pois podia se virar contra o feiticeiro. E para infelicidade de Roeh - e sua mente fraca - o mestrado de Syl nessa técnica foi adquirido ao concretar na cabeça de Roeh a seguinte indução de pensamento: tudo que a vó fizer, sua mente vai materializar. Desolado e com sua imaginação devastada de imagens hereges, vislumbrou qual seria a expressão da moça do caixa, ao avistar uma senhora com pomada para hemorroidas, pacotes de camisinha e... - Um chocolate de menta? Deixe-me ver. -agarrou travessa o chocolate cilíndrico das mãos perdidas de Roeh. - Não vó, eu só estava... - Ah, chocolate com recheio cremoso de menta. Deve ser muito bom. Roeh não gostou da voz da vó ao dizer muito bom. - Vou levar um. Aliás, vou levar alguns. Onde foi que você os achou, Roeh? - Err, melhor não... - Ah, pare com isso moleque. Ah, encontrei. Volto logo. Atenda o carrinho. - de maneira inocente, a vó de Roeh foi até a cesta central e pegou vários mastros do doce. Roeh debruçou-se sobre o carrinho, sentindo um alívio por estar num mercado e não em um sexshop. ◇◇◇ O esfriar da rua durante o pôr do sol era um momento apreciado por Roeh, fazendo-o postergar o retorno para casa. No trajeto, lembrou que precisava falar com seu amigo, Gail. A casa parecia um acampamento m*l-acabado, tamanha eram as plantas em sua volta, mescladas a pintura a qual sugeria um camuflado sem esmero. O telhado, triangular, sustentavam antenas de rádio e parabólicas, cada qual virada para um hemisfério. A frente da garagem semiaberta existia um jipe antigo. Roeh pressionou o interfone duas vezes e aguardou. - Identifique-se! - berrou a voz. - É o Roeh. - Roeh? O que é Roeh? - Amigo do Gail. - Ah sim, ele está na garagem. Um momento. Uma sequência de cliques e claques terminou com a a******a do portão, que pedia óleo. Cruzou-o, acenou para a câmera de vigilância e caminhou até o fundo da garagem. O pai de Gail era um ex-sargento fanático por guerra, mesmo não tendo participado de nenhuma e morando num país com tradição militar zero. . Devido a isso, tentou sem sucesso transformar sua casa numa espécie de trincheira de alta tecnologia. Havia parafernálias mecânicas para todo lado. Apesar da loucura, era um homem inteligente e boa parte dos equipamentos eram de sua própria criação. Tanta obsessão teve seu preço: sua esposa o abandonou, ficando com a guarda de Gail por alguns anos, até que se mudou para o exterior permanentemente. No centro de toda a bagunça havia duas mesas compridas com variados equipamentos. Soldas, maçaricos, torneadores, prensas, esmeril e tudo o que retorcia ferro. Nas paredes, enormes prateleiras de ferramentas. Com cuidado, saltitou pelo emaranhado de cabos de energia entrelaçados. A lâmpada oscilava ao som de marteladas a qual direcionou Roeh através de um lance de armários, revelando seu amigo vergalhando um pedaço de metal aquecido por um maçarico. - Gail! - gritou Roeh. - Roeh! - respondeu o garoto com a voz abafada pela máscara de solda. Desligou o maçarico e deixou o martelo de lado. - E aí, cara, tudo bem? - Indo. - Foi fazer compras com sua vó, não é? - É um martírio. Uma face jovem se relevou ao retirar a máscara, contrastadas aos cabelos loiros desgrenhados caindo pela testa suada. Os olhos azuis escondiam-se por trás dos óculos embaçados. - Soube que você levou bomba na prova hoje. - Sim, mas não há problema algum. Eu me safo. - Assim espero,pois o ano está acabando e se reprovar em alguma matéria,vai à escola nas férias. Roeh pensou: sem chance, mas Gail pensou: muita chance. - O que está fazendo? - Ah, isso? - Gail estendeu a mão para a mesa e pegou o pedaço de ferro. - Isso é a lâmina de uma espada! Roeh não esbanjou o interesse esperado por Gail. - Uma espada, cara. Forjada no estilomedieval. Igual aos filmes. Roeh cruzou os braços com desprezo. - Teu pai tem toda essa tralha do exército na garagem e você fabrica espadas na pancada? - Não é apenas uma espada, Roeh. Ela é também meu trabalho de ciências. Escrevi sobre a fabricação de armas na idade média e minha apresentação vai contar com uma espada real, forjada a marretadas na bigorna. - Mas você estava batendo em cima de uma mesa de madeira. - advertiu Roeh. - O professor não precisa saber disso. - sorriu o amigo. - Que maravilha. - dizia Roeh analisando a lâmina retorcida. - Sim, uma maravilha. Mas e o seu projeto? O que vai ser? - Bom, eu vim por isso. Não tenho nada em mente, e pensei em usar alguma tranqueira daqui. - Ah, acho que tem um rastreador térmico em algum lugar. - Ótimo. - concordou Roeh. - Depois eu vejo com meu pai e levo na escola amanhã de manhã, ok? - Beleza. Valeu Gail. - De nada, cara. Agora com sua licença. - baixou a máscara, acendeu o maçarico e continuou a espancar o metal. Roeh acenou e deixou o local com um sorriso de satisfação. Havia tido problemas na prova de história, mas pelo menos, ciências estava garantido. Roeh e Gail cresceram juntos e frequentaram a mesma sala até o início do colegial, quandose separaram. Mas isso nunca foi um problema, pois um ainda ajudava o outro. A diferença era que Gail tirava boas notas e adorava os trabalhos científicos na escola, diferente de Roeh,que copiaria o manual de uso do rastreador térmico, e entregaria tudo impresso sem ao menos ler. ◇◇◇ O sol terminava de se pôr quando Roeh chegou em casa, exausto pelo dia terrível. Para sua sorte e alívio, o cachorro do vizinho estava dormindo. Ao invés de entrar pela frente, deu a volta pelo quintal, encontrando sua irmã e as amigas em torno de uma fogueira, conversando e rindo. O assunto deveria ser bom, pensou Roeh, pois sequer deram conta de sua presença. Entrou pela cozinha, abriu a geladeira, pegou um iogurte e seguiu até a sala para descansar, contudo, Brioso estava no caminho. - Qual é. Sai daí, passa, xô! O gato espreguiçou vagaroso. - Não quer sair? Para sua informação, minha mãe está no quarto e não vai te proteger! - ao esticar a mão para afastar o animal, foi impedido por uma patada que por centímetros não lhe arrancou um naco da cara. Tentou intervir, mas uma reportagem lhe chamou a atenção: um jornalista comentava sobre a passagem de um meteoropróximo à Terra, seguido de outros especialistas tentando ganhar fama com algo tão insignificante. - Bah, quem se importa. Fique com essa porcaria, seu gato e******o. Estava não só exausto, mas psicologicamente cansado e desanimado com tudo em sua vida dando errado. Convenhamos, Roeh não era nenhum exemplo vivo de bom cidadão, mas estaria Deus exagerando na dose? Abatido até mesmo para dormir, Roeh saiu pela janela de seu quarto e se apoiando no muro, subiu no telhado. um local de refúgio utilizado para os dias de tristeza. A vista era magnífica. Podia-se ver as luzes da cidade piscando igual vaga-lumes numa floresta escura. Alguns prédios emanavam seus letreiros lembrando gigantes sacolejando lanternas. Logo abaixo, no quintal, ouvia o murmúrio das amigas de sua irmã sob a nuança avermelhada da fogueira junto a fagulhas subindo ao céu. Esse costume da fogueira veio de seu pai,durante as brincadeiras de acampamento, e hoje, Syl resgatava a tradição numa roupagem nova: a de roda de fofocas. Apesar de perigoso, Roeh adquiriu prática em andar sobre as telhas sem danificá-las. Deitou e firmou os pés na haste da antena de televisão. Assim, mesmo em declive, não escorregaria. Levou os braços atrás da cabeça simulando um travesseiro e fitou o céu estrelado que girava em torno de sua mente, livrando-o dos problemas. Gostava de contar quantos satélites enxergava numa noite. Talvez fossem óvnis, mas quem liga? E para sua surpresa, a atração da noite era a porcaria do meteoro. E estava lá. Um brilho do tamanho de uma bola de golfe e uma cauda de poucos quilômetros. Imaginava as barbaridades efetuadas, na crença de se tratar de uma manifestação divina ou alienígena. Se até sua irmã reuniu as amigas, não se admiraria se ouvisse no noticiário algo sobre fanáticos cometendo suicídio,acreditando que a bolota de fogo os levaria para casa. Para Roeh não significava nada e no dia seguinte ninguém mais se lembraria. A noite ganhou força enquanto Syl e as amigas confabulavam, ao passo que Roeh, em sua serenidade, migrou da sonolência para um cochilinho despretensioso, despertando minutos depois aos prantos, como quem acorda de um pesadelo; e na verdade era, pois, ao cair no sono, sua perna escorregou da antena, fazendo-o deslizar pelo telhado. Tentou se segurar, mas era tarde demais. Roeh despencou de uma altura de seis metros, e o pouso só não foi grave porque na porta da cozinha -conectada ao quintal-havia instalado um toldo para os dias de chuva. Aos gritos, quicou no toldo, rodopiou no ar e sob o contemplar assustado de Syl, pousou de b***a na fogueira. Ao levantar, notou fogo nas costas de sua camiseta, obrigando-o a rolar na grama na tentativa de se livrar daquelas labaredas, só atingindo o objetivo com ajuda de Syl, que foi rápida o bastante para puxar uma toalha de mesa do varal e envolvê-lo, abafando as chamas. - Roeh, você está bem? Eram raras as vezes onde Roeh sentia aquela voz de preocupação da irmã, e quando acontecia, era pouco duradouro. Dessa vez, durou até descobrir que o irmão estava bem. A garota se levantou. - Queimou a b***a, coitado. As meninas se racharam de rir. Enfezado, Roeh tirou a camiseta queimada. - Rá, rá. Muito engraçado, Syl. - Roeh seu i*****l. Uma hora você vai se quebrar todo. Não sei por que subir no telhado. Quem sobe no telhado é gata no cio! - o grupo de meninas desatou a rir. Era normal. Se alguém cai na rua, há uma comoção efêmera, e tão logo se certificam da baixa gravidade, as piadas vêm em dose alta.Roeh e sua abafada do fogo com o traseiro seria motivo de piada noite a fora. - Sua imensa b***a apagou nosso fogo, Roeh. Que tal utilizá-la para acender? Risos. Descontente, deu de ombros e entrou na casa. Não estava só cansado, mas sim irritado. Nem no seu refúgio tinha sossego. Era a gota d'água. Confrontar demais sua irmã iria levá-lo a uma nova indução de pensamento. E sabe para onde você deve ir quando seu dia está péssimo? Para a cama, dormir, porque lá, as coisas não se incendeiam. Roeh dormiu ao som histérico da irmã e as amigas, que se divertiam com criativas maneiras de usar a b***a apagador de fogueira.
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